sexta-feira, 15 de novembro de 2019

O céu e o inferno


A genialidade de Allan Kardec possibilitou a materialização da Doutrina Espírita na Terra. Originário da sabedoria dos Espíritos Superiores, o Espiritismo foi codificado pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail. Para assinar as obras básicas que revelariam a mensagem de renovação social da Humanidade, preferiu humildemente adotar o pseudônimo Allan Kardec. Este nome se deve a uma encarnação sua como druida na época de Jesus.
A nova doutrina atesta o caráter de revelação espiritual pelo registro em cinco livros. Como ocorreu com a primeira revelação da Justiça personificada em Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) e a segunda revelação do Amor personificada em Jesus (Evangelho segundo Mateus, Marcos, Lucas, João e Atos dos Apóstolos), assim também se deu com a terceira revelação da Verdade, de origem espiritual coletiva (O livro dos espíritos, O livro dos médiuns, O evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese). Todas registradas para a história em cinco livros principais, conhecidas como Torá, Pentateuco ou Obras Básicas.
A didática estruturação kardequiana da principal e primeira obra espírita, O livro dos espíritos (1. ed. 1857 e edição definitiva, a 2. ed., em 1860) deu origem aos outros quatro livros do Pentateuco kardequiano. Da segunda parte do LE surgiu O livro dos médiuns (1. ed. 1861 e edição definitiva, a 2. ed., em 1861). Da terceira parte, O evangelho segundo o espiritismo (1. ed. 1864 e edição definitiva, a 3. ed., em 1866). Da quarta, O céu e o inferno (1. ed. 1865 e edição definitiva, a 4. ed., em 1869). E a primeira parte deu origem ao livro A gênese (1. ed. 1868 e edição definitiva, a 5. ed., em 1872).
Todas as cinco obras são importantes. Entretanto, para destacar especificamente O céu e o inferno, podemos resumir assim:
É uma das cinco obras básicas da Codificação do Espiritismo. Seu principal escopo é explicar a Justiça de Deus à luz da Doutrina Espírita. Objetiva demonstrar a imortalidade do Espírito e a condição que ele usufruirá no Mundo Espiritual, como consequência de seus próprios atos. Divide-se em duas partes: A primeira estabelece um exame comparado das doutrinas religiosas sobre a vida após a morte. Mostra fatos como a morte de crianças, acidentes coletivos e uma gama de problemas que só a imortalidade da alma e a reencarnação explicam satisfatoriamente. Kardec procura elucidar temas como: anjos, céu, demônios, inferno, penas eternas, purgatório, temor da morte, a proibição mosaica sobre a evocação dos mortos, dentre outros. Apresenta, também, a explicação espírita contrária à doutrina das penas eternas. A segunda parte, resultante de um trabalho prático, reúne exemplos acerca da situação da alma durante e após a desencarnação. São depoimentos de criminosos arrependidos, de Espíritos endurecidos, de Espíritos felizes, medianos, sofredores, suicidas e em expiação terrestre.
Da primeira parte, destacamos o capítulo 7, que apresenta o Código Penal da Vida Futura, em 33 artigos. Ali, aprendemos que o sofrimento do Espírito é inerente a sua imperfeição. O uso inadequado do livre-arbítrio nos faz sofrer, mas o seu correto uso conduz-nos à felicidade como resultante de nossas escolhas acertadas. Kardec conclui o citado código com a assertiva de Jesus: “a cada um segundo as suas obras”, como prerrogativa da Justiça de Deus.
Com a palavra o Codificador no 33º artigo:
Em que pese à diversidade de gêneros e graus de sofrimentos dos Espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode resumir-se nestes três princípios: 1. O sofrimento é inerente à imperfeição. 2. Toda imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas consequências naturais e inevitáveis: assim, a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo. 3. Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade. A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra - tal é a lei da Justiça Divina.
A abertura da segunda parte traz um tratado sobre o passamento. Allan Kardec inicia com sua peculiar arguição, sensata e provocativa:
A certeza da vida futura não exclui as apreensões quanto à passagem desta para a outra vida. Há muita gente que teme não a morte, em si, mas o momento da transição. Sofremos ou não nessa passagem? Por isso se inquietam, e com razão, visto que ninguém foge à lei fatal dessa transição. Podemos dispensar-nos de uma viagem neste mundo, menos essa. Ricos e pobres, devem todos fazê-la, e, por dolorosa que seja a franquia, nem posição nem fortuna poderiam suavizá-la.
O estudo das obras de Allan Kardec nos dão segurança para o conhecimento da Doutrina Espírita em seus fundamentos. A leitura de O céu e o inferno possibilita-nos conhecer qual será a nossa situação no Mundo Espiritual após a desencarnação, e como nos preparar para a transição do fenômeno natural e inevitável da morte, que é o passaporte para a verdadeira Vida.

             Geraldo Campetti Sobrinho - vice-presidente da Federação Espírita Brasileira
Fonte: www.febnet.org.br




sábado, 9 de novembro de 2019

“Mecanismos da Mediunidade” - Entrevista com Ruth Salgado







A coordenadora da Área
de Orientação Mediúnica (AOM) da União Espírita Mineira, Ruth Salgado
Magalhães, fala sobre o livro “Mecanismos da Mediunidade”, de autoria de
André Luiz e psicografias de Chico Xavier e Waldo Vieira.
A obra completa 59 anos
de lançamento em 2019 e é a décima primeira abordada pela Microcampanha “A
Vida no Mundo Espiritual” - realizada pela União Espírita Mineira e Conselho
Federativo Espírita de Minas Gerais (COFEMG).


Desculpismo


E todos a uma vez começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: comprei um campo e importa ir vê-lo; rogo-te que haja escusado.” Jesus – ( LUCAS, 14:18)

Desculpismo sempre foi a porta de escape dos que abandonam as próprias obrigações.
Irmãos nossos que tiveram a infelicidade de escorregar na delinquência costumam justificar-se com vigoroso poder de persuasão, mas isso não lhes exonera a consciência do resgate preciso.
Companheiros que arruínam o corpo em hábitos viciosos arquitetam largo sistema de escusas, tentando legitimar as atitudes infelizes que adotam, comovendo a quem os ouve, entretanto, acabam suportando em si mesmos as consequências das responsabilidades a que se afeiçoam.
E, ainda agora, quando a Doutrina Espírita revive o Evangelho, concitando os homens à construção do bem na Terra, surgem às pencas desculpas disfarçando deserções:
- Estou muito jovem ainda...
- Sou velho demais...
- Assumi compromissos de monta e não posso atender...
- Minhas atribulações são enormes...
- Obrigações de família estão crescendo...
- Os negócios não me permitem qualquer atividade espiritual...
- Empenhei-me a débitos que me afligem...
- Os filhos tomam tempo...
- Problemas são muitos...
Tantas são as evasivas e tão veementes aparecem que os ouvintes mais argutos terminam convencidos de que se encontram à frente de grandes sofredores ou de criaturas francamente incapazes, passando até mesmo a sustentá-los na fuga.
Os convidados para a lavoura de luz, no entanto, engodados por si próprios, acordam para a verdade no momento oportuno e, atados às ruinosas consequências da própria leviandade, não encontram outra providência restauradora senão a de esperarem por outras reencarnações.

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Palavras de vida eterna

Atribulados e perplexos

“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.” Paulo (II Coríntios, 4:8)

Desde os primeiros tempos do Evangelho, os leais seguidores de Jesus conhecem tribulações e perplexidades, por permanecerem na fé.
Quando se reuniam em Jerusalém, recordando o Mestre nos serviços do Reino Divino, conheceram a lapidação, a tortura, o exílio e o confisco dos bens; quando instituíram os trabalhos apostólicos de Roma, ensinando a verdade e o amor fraterno, foram confiados aos leões do circo, aos espetáculos sangrentos e aos postes de martírio.
Desde então, experimentam dolorosas surpresas em todas as partes do mundo.
A idade medieval, envolvida em sombras, tentou desconhecer a missão do Cristo e acendeu-lhes fogueiras, conduzindo-os, além disso, a tormentos inesperados e desconhecidos, através dos tribunais políticos e religiosos da Inquisição.
E, ainda hoje, enquanto oram confiantes, exemplificando o amor evangélico, reparam o progresso dos ímpios e sofrem a dominação dos vaidosos de todos os matizes. Enquanto triunfam os maus e os indiferentes, nas facilidades terrestres, são eles relegados a dificuldades e tropeços, à frente das situações mais simples.
Apesar da evolução inegável do direito no mundo, ainda são chamados a contas pelo bem que fazem e vigiados, com rudeza, devido à verdade consoladora que ensinam.
Mas todos os discípulos fiéis sabem, com Paulo de Tarso, que “em tudo serão atribulados e perplexos”, todavia, jamais se entregarão à angústia e ao desânimo. Sabem que o Mestre Divino foi o Grande Atribulado e aprenderam com Ele que da perplexidade, da aflição, do martírio e da morte, transfere-se a alma para a Ressurreição Eterna.

Livro Vinha de Luz – Emmanuel por Chico Xavier – Lição 102

A regeneração


“Naquele tempo não haverá mais gritos, nem luto, nem trabalho, porque o que era antes terá passado.”

Esta predição do Apocalipse foi ditada há dezoito séculos, e ainda se espera que tais palavras se realizem, porque sempre se encaram os acontecimentos quando se passaram, e não quando se desdobram aos nossos olhos.
Todavia, esta época predita chegou. Não há mais dores para aquele que soube colocar-se à margem da estrada, a fim de deixar passar as mesquinharias da vida, sem as deter para delas fazer uma arma ofensiva contra a sociedade.
Estais em meio a estes tempos como a espiga dourada está na colheita; vivei sob o olhar de Deus e sua irradiação vos ilumina! Por que vos inquietais com a marcha dos acontecimentos, que foram previstos por Deus, quando não passáveis de crianças da geração de que falava Jesus, quando dizia: “Antes que esta geração passe acontecerá grandes coisas?”
O que sois, Deus o sabia; o que sereis Deus o vê! Cabe a vós bem vos compenetrardes do caminho que vos é traçado, porque vossa tarefa é de vos submeterdes a tudo o que Deus decidiu. Vossa resignação, e sobretudo a vossa amenidade, não são senão testemunhos de vossa inteligência e de vossa fé na eternidade.
Acima de vós, neste Universo onde se move o vosso mundo, planam os Espíritos mensageiros, que receberam a missão de vos guiar. Eles sabem quando se realizarão os acontecimentos preditos. Eis por que vos dizem: “Não haverá mais gritos, nem luto, nem trabalho.”
Sem dúvida não pode mais haver grito para aquele que se submete às vontades de Deus, e que aceita as suas provas. Não há mais luto, visto que sabeis que os Espíritos que vos precederam não estão perdidos para vós, mas estão em viagem. Ora, não se veste luto quando um amigo se ausenta.
O próprio trabalho se torna um favor, pois se sabe que é um concurso à obra harmônica que Deus dirige; então, executa-se a sua parte de trabalho com a solicitude do escultor que se põe a polir a sua estátua. É uma recompensa infinita que Deus vos concede.
Entretanto, ainda encontrareis entraves em vossas tentativas para chegar ao melhoramento social. É que jamais se chega ao resultado sem que a luta venha firmar os seus esforços. O artista é obrigado a vencer os obstáculos que se opõem à irradiação de seu pensamento; não se torna vitorioso senão quando soube elevar-se acima das privações e dos vapores brumosos que envolvem seu gênio, ao nascer.
A ideia que surge foi semeada pelos Espíritos quando Deus lhes disse: “Ide e instruí as nações; ide e espalhai a luz.” Essa ideia, que cresceu com a rapidez de uma inundação, naturalmente deve ter encontrado contraditores, opositores e incrédulos. Ela não seria a fonte da vida, se tivesse sucumbido sob as zombarias que a acolheram em seu começo. Mas o próprio Deus guiava este pensamento através da imensidade; ele a fecundava na terra e ninguém a destruirá! Seria inútil que procurassem extirpar suas raízes; trabalhariam em vão para aniquilá-la nos corações; as crianças trazem-na ao nascer, e dir-se-ia que um sopro de Deus a incrusta em seu berço, como outrora a Estrela do Oriente iluminava os que vinham perante Jesus, trazendo ele mesmo a ideia regeneradora do Cristianismo.
Bem vedes, pois, que esta geração não passará sem que aconteçam grandes coisas, pois que com a ideia, a fé se eleva e a esperança irradia... Coragem! O que foi predito pelo Cristo deve realizar-se. Nestes tempos de aspiração à verdade, a luz que ilumina todo homem que vem a este mundo brilha de novo sobre vós.
Perseverai na luta, sede firmes e desconfiai das armadilhas que vos estendem; permanecei ligados a essa bandeira em que inscrevestes: Fora da caridade não há salvação, e depois esperai, porque aquele que recebeu a missão de vos regenerar volta, e ele disse: Bem-aventurados os que conhecerem meu nome de novo!

Um Espírito – Revista Espírita – março/1868