Não
que outros missionários não tivessem aportado antes dele: ases do conhecimento
que dilataram os imensos horizontes do saber; místicos que se embrenharam nos
dédalos do "eu", aprendendo vitória sobre si mesmos; santos que
rasgaram sendas luminosas no matagal das aflições; apóstolos que fizeram da renúncia
e da humildade os baluartes da própria força; filósofos que ensejaram à razão o
campo da investigação; cientistas corajosos e audazes que ofereceram a vida em
prol de pesquisas inapreciáveis na preservação de milhões de vidas... E heróis,
missionários do amor, sacerdotes da fraternidade - operários sublimes, todos
eles, do Pai Construtor - encarregados de impulsionar o progresso da Terra conjugado
à felicidade dos homens.
Ele,
entretanto, guardadas as proporções, fez-se nauta de uma experiência antes não
tentada nos mares ignotos da Verdade: auscultou o insondável além-da-morte, inquirindo
e estudando, selecionando e fazendo triagem das informações recebidas dos
Imortais, de modo a edificar o colossal edifício do Espiritismo.
Nem
um só momento se deixou empolgar pela vitória conseguida ao peso das lágrimas,
nem jamais se quedou desanimado sob o fardo das incompreensões, quando crivado
pelas farpas da inveja e da calúnia.
Não
se permitiu o luxo dos triunfos fáceis, nem aceitou a coroa da consagração.
A
própria vida celeremente se lhe extinguiu no corpo somático, logo se permitiu conquistar
o país do conhecimento, demandando a Imortalidade antes que os lauréis da
gratidão ou de qualquer glória lhe pesassem sobre a cabeça veneranda.
Antes,
outros Espíritos de escol também velejaram pelas regiões desconhecidas do após o
túmulo, tomando apontamentos, registrando observações.
Muitos
se embrenharam pelas veredas da vida além da vida e se detiveram deslumbrados
no pórtico da revelação.
Os
que se atreveram a adentrar-se pelos recônditos da Imortalidade, procuraram explicações
mirabolantes, formulando hipóteses rocambolescas ou, fortemente impressionados,
se recolheram à meditação profunda, ao flagício, à oração.
Os
que facultaram apresentar o resultado do descobrimento, experimentaram a zombaria
dos contemporâneos e, não raro, desencantados, refugiaram-se no silêncio ou
arderam em piras crepitantes...
Ele,
não!
Não
se deteve a observar somente, nem se aquietou a experimentar emoções.
Após
o meticuloso exame do mediunismo, patenteada a veracidade da vida incessante
mesmo depois da disjunção celular, entregou-se ao conhecimento libertador.
Do
fenômeno extraiu a doutrina.
Do
informe puro e simples conseguiu o fato comprovado.
Enfrentando
os Imortais não os temeu, não os exaltou. Inquiriu-os e analisou a todos
quantos passaram suas informações pelo crivo da discussão, do debate franco, do
exame rigoroso.
Compulsou
os alfarrábios dos tempos e aprofundou-se na cultura da época.
Armado
de equilíbrio invulgar, esteve a todo instante à altura da investidura e, quando
o rebuliço da aventura cedeu lugar ao marasmo e à monotonia, ele apresentou o
resultado dos seus estudos sérios, apoiados na razão e no bom senso.
Kardec
foi, sem dúvida, o magnífico missionário da Humanidade, precursor do Mundo
Novo.
Em
sua obra recendem os aromas específicos da tríade perfeita do conhecimento:
Ciência, Filosofia e Religião. São o esquema ímpar da sabedoria em todos os
seus ângulos e faces.
Transcorrido
o primeiro século da Codificação Kardequiana, mais se fazem atuais os seus
ensinos e conclusões, ensejando elucidações valiosas para os enigmas que surgem
no momento em que ruem os tabus e os preconceitos, em que necessidades aparecem
para substituir as manifestações místicas da ignorância e da falsa pudicícia da
fé, que se esboroam.
Por
essa razão é que se faz imperioso estudar o Espiritismo, trazendo, não só os informes
destes dias para examiná-los à luz meridiana da Doutrina, clareando as nebulosas
informações de psiquistas e parapsicólogos, como também os problemas morais ao
estudo sistemático da moral espírita e as conclusões da ciência ao ensinamento
doutrinário. Não olvidar, no entanto, que os descobrimentos e as informações de
caráter eminentemente revelador no campo do mundo, aos homens do mundo
competem, sendo a Doutrina mesma o guia moral e espiritual para todos nós, não
pretendendo, como não o fez o Codificador, resolver ou realizar as tarefas que
ao homem cabem, como medidas imperiosas de crescimento e evolução.
Estudemos
mais e analisemos melhor o Espiritismo, porquanto com as suas lições no coração
e na mente encontraremos o pão e a luz, o instrumento e a rota, para levar-nos
à harmonia e à paz real.
Viana
de Carvalho / Divaldo Franco – Livro: À Luz do Espiritismo