quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Dívida de amor

 “Portanto, dai a cada um o que deveis; a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.” Paulo (Romanos, 13:7)

 

Todos nós guardamos a dívida geral de amor uns para com os outros, mas esse amor e esse débito se subdividem, através de inúmeras manifestações.

A cada ser, a cada coisa, paisagem, circunstância e situação, devemos algo de amor em expressão diferente.

A criatura que desconhece semelhante impositivo não encontrou ainda a verdadeira noção de equilíbrio espiritual.

Valiosas oportunidades iluminativas são relegadas, pelas almas invigilantes, à obscuridade e à perturbação.

Que prodigioso éden seria a Terra se cada homem concedesse ao próximo o que lhe deve por justiça!

O homem comum, todavia, gravitando em torno do próprio “eu”, em clima de egoísmo feroz, cerra os olhos às necessidades dos outros. Esquece-se de que respira no oxigênio do mundo, que se alimenta do mundo e dele recebe o material imprescindível ao aperfeiçoamento e à redenção. A qualquer exigência do campo externo, agasta-se e irrita-se, acreditando-se o credor de todos.

Muitos sabem receber, raros sabem dar.

Por que esquivar-se alguém aos petitórios do fragmento de terra que nos acolhe o espírito? Por que negar respeito ao que comanda, ou atenção ao que necessita?

Resgata os títulos de amor que te prendem a todos os seres e coisas do caminho.

Quanto maior a compreensão de um homem, mais alto é o débito dele para com a Humanidade; quanto mais sábio, mais rico para satisfazer aos impositivos de cooperação no progresso universal.

Não te iludas. Deves sempre alguma coisa ao companheiro de luta, tanto quanto à estrada que pisas despreocupadamente. E quando resgatares as tuas obrigações, caminharás na Terra recebendo o amor e a recompensa de todos.

 Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.150

sábado, 3 de outubro de 2020

Aniversário de Allan Kardec


Em homenagem a Kardec


A Cultura atingira o apogeu da descrença,
Imergira-se o Templo em fumo de vanglória
E, embora fosse o Cristo a eterna luz da História,
Afligia-se a Terra em sombra espessa e imensa.

A Civilização padecia a presença
De soberano caos em púrpura irrisória,
Sob a pompa do verbo esfervilhava a escória
Da cegueira e do escárnio a erguer-se em treva densa.

Mas Kardec domina a enorme noite humana
E traz no Espiritismo a Fé que se engalana,
Ao fulgor da Razão generosa e sincera...

O Evangelho ressurge. O Céu brilha de novo.
E Jesus, retornado ao coração do povo,
Acende para o mundo o Sol da Nova Era.

Amaral Ornelas

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Examinando Kardec


Não que outros missionários não tivessem aportado antes dele: ases do conhecimento que dilataram os imensos horizontes do saber; místicos que se embrenharam nos dédalos do "eu", aprendendo vitória sobre si mesmos; santos que rasgaram sendas luminosas no matagal das aflições; apóstolos que fizeram da renúncia e da humildade os baluartes da própria força; filósofos que ensejaram à razão o campo da investigação; cientistas corajosos e audazes que ofereceram a vida em prol de pesquisas inapreciáveis na preservação de milhões de vidas... E heróis, missionários do amor, sacerdotes da fraternidade - operários sublimes, todos eles, do Pai Construtor - encarregados de impulsionar o progresso da Terra conjugado à felicidade dos homens.
Ele, entretanto, guardadas as proporções, fez-se nauta de uma experiência antes não tentada nos mares ignotos da Verdade: auscultou o insondável além-da-morte, inquirindo e estudando, selecionando e fazendo triagem das informações recebidas dos Imortais, de modo a edificar o colossal edifício do Espiritismo.
Nem um só momento se deixou empolgar pela vitória conseguida ao peso das lágrimas, nem jamais se quedou desanimado sob o fardo das incompreensões, quando crivado pelas farpas da inveja e da calúnia.
Não se permitiu o luxo dos triunfos fáceis, nem aceitou a coroa da consagração.
A própria vida celeremente se lhe extinguiu no corpo somático, logo se permitiu conquistar o país do conhecimento, demandando a Imortalidade antes que os lauréis da gratidão ou de qualquer glória lhe pesassem sobre a cabeça veneranda.
Antes, outros Espíritos de escol também velejaram pelas regiões desconhecidas do após o túmulo, tomando apontamentos, registrando observações.
Muitos se embrenharam pelas veredas da vida além da vida e se detiveram deslumbrados no pórtico da revelação.
Os que se atreveram a adentrar-se pelos recônditos da Imortalidade, procuraram explicações mirabolantes, formulando hipóteses rocambolescas ou, fortemente impressionados, se recolheram à meditação profunda, ao flagício, à oração.
Os que facultaram apresentar o resultado do descobrimento, experimentaram a zombaria dos contemporâneos e, não raro, desencantados, refugiaram-se no silêncio ou arderam em piras crepitantes...
Ele, não!
Não se deteve a observar somente, nem se aquietou a experimentar emoções.
Após o meticuloso exame do mediunismo, patenteada a veracidade da vida incessante mesmo depois da disjunção celular, entregou-se ao conhecimento libertador.
Do fenômeno extraiu a doutrina.
Do informe puro e simples conseguiu o fato comprovado.
Enfrentando os Imortais não os temeu, não os exaltou. Inquiriu-os e analisou a todos quantos passaram suas informações pelo crivo da discussão, do debate franco, do exame rigoroso.
Compulsou os alfarrábios dos tempos e aprofundou-se na cultura da época.
Armado de equilíbrio invulgar, esteve a todo instante à altura da investidura e, quando o rebuliço da aventura cedeu lugar ao marasmo e à monotonia, ele apresentou o resultado dos seus estudos sérios, apoiados na razão e no bom senso.
Kardec foi, sem dúvida, o magnífico missionário da Humanidade, precursor do Mundo Novo.
Em sua obra recendem os aromas específicos da tríade perfeita do conhecimento: Ciência, Filosofia e Religião. São o esquema ímpar da sabedoria em todos os seus ângulos e faces.
Transcorrido o primeiro século da Codificação Kardequiana, mais se fazem atuais os seus ensinos e conclusões, ensejando elucidações valiosas para os enigmas que surgem no momento em que ruem os tabus e os preconceitos, em que necessidades aparecem para substituir as manifestações místicas da ignorância e da falsa pudicícia da fé, que se esboroam.
Por essa razão é que se faz imperioso estudar o Espiritismo, trazendo, não só os informes destes dias para examiná-los à luz meridiana da Doutrina, clareando as nebulosas informações de psiquistas e parapsicólogos, como também os problemas morais ao estudo sistemático da moral espírita e as conclusões da ciência ao ensinamento doutrinário. Não olvidar, no entanto, que os descobrimentos e as informações de caráter eminentemente revelador no campo do mundo, aos homens do mundo competem, sendo a Doutrina mesma o guia moral e espiritual para todos nós, não pretendendo, como não o fez o Codificador, resolver ou realizar as tarefas que ao homem cabem, como medidas imperiosas de crescimento e evolução.
Estudemos mais e analisemos melhor o Espiritismo, porquanto com as suas lições no coração e na mente encontraremos o pão e a luz, o instrumento e a rota, para levar-nos à harmonia e à paz real.

Viana de Carvalho / Divaldo Franco – Livro: À Luz do Espiritismo

Kardec e vida


Jesus nos trouxe a verdade.
Kardec, porém, nos trouxe a interpretação.
Daí o nosso dever de comunicar Allan Kardec a todos os setores da vida individual e coletiva, razão pela qual nos reconhecemos na obrigação de reafirmar:
Kardequizar é a legenda de agora.

Sintetizemos em linhas rápidas o que entendemos por Kardequização e seus resultados:

- Kardequização do sentimento: equilíbrio.

- Kardequização do raciocínio: visão.

- Kardequização da ciência: humanidade.

- Kardequização da filosofia: discernimento.

- Kardequização da fé: racionalidade.

- Kardequização da inteligência: orientação.

- Kardequização do estudo: esclarecimento.

- Kardequização do trabalho: organização.

- Kardequização do serviço: eficiência.

- Kardequização das relações: sinceridade.

- Kardequização do progresso: elevação.

- Kardequização da liberdade: disciplina.

- Kardequização do lar: harmonia.

- Kardequização do debate: proveito.

- Kardequização do sexo: responsabilidade.

- Kardequização da personalidade: autocrítica.

- Kardequização da corrigenda: compreensão.

- Kardequização da existência: caridade.

Kardequizemos para evoluir com acerto à frente do Cristo de Deus.

A Terra é a nossa escola milenária e, em suas classes múltiplas, somos companheiros uns dos outros. Kardequizarmo-nos na carteira de obrigações a que estamos transitoriamente jungidos é a fórmula ideal de ascensão.

Estudemos e trabalhemos sempre.

Bezerra de Menezes / Chico Xavier – Livro: Vereda de Luz

Escamas


“E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista.” (Atos, 9:18)

A visita de Ananias a Paulo de Tarso, na aflitiva situação de Damasco, sugere elevadas considerações.
Que temos sido nas sombras do pretérito senão criaturas recobertas de escamas pesadas sob todos os pontos de vista? Não somente os olhos se cobriram de semelhantes excrescências. Todas as possibilidades confiadas a nós outros hão sido eclipsadas pela nossa incúria, através dos séculos. Mãos, pés, língua, ouvidos, todos os poderes da criatura, desde milênios permanecem sob o venenoso revestimento da preguiça, do egoísmo, do orgulho, da idolatria e da insensatez.
O socorro concedido a Paulo de Tarso oferece, porém, ensinamento profundo. Antes de recebê-lo, o ex-perseguidor rende-se incondicionalmente ao Cristo; penetra a cidade, em obediência à recomendação divina, derrotado e sozinho, revelando extrema renúncia, onde fora aplaudido triunfador. Acolhido em hospedaria singela, abandonado de todos os companheiros, confiou em Jesus e recebeu-lhe a sublime cooperação.
É importante notar, contudo, que o Senhor, utilizando a instrumentalidade de Ananias, não lhe cura senão os olhos, restituindo-lhe o dom de ver. Paulo sente que lhe caem escamas dos órgãos visuais e, desde então, oferecendo-se ao trabalho do Cristo, entra no caminho do sacrifício, a fim de extrair, por si mesmo, as demais escamas que lhe obscureciam as outras zonas do ser.
Quanto lutou e sofreu Paulo, a fim de purificar os pés, as mãos, a mente e o coração? Trata-se de pergunta digna de ser meditada em todos os tempos.
Não te esqueças, pois, de que na luta diária poderás encontrar os Ananias da fraternidade, em nome do Mestre; aproximar-se-ão, compassivos, de tuas necessidades, mas não olvides que o Senhor apenas permite que te devolvam os olhos, a fim de que, vendo claramente, retifiques a vida por ti mesmo.

Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.149

O homem no mundo

Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purificai, pois, os vossos corações; não consintais que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil. Elevai o vosso espírito àqueles por quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as necessárias disposições, possam lançar em profusão a semente que é preciso germine em vossas almas e dê frutos de caridade e justiça.
Não julgueis, todavia, que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais condenados a viver. Não; vivei com os homens da vossa época, como devem viver os homens. Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa santificar.
Sois chamados a estar em contato com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes. Sede joviais, sede ditosos, mas seja a vossa jovialidade a que provém de uma consciência limpa, seja a vossa ventura a do herdeiro do Céu que conta os dias que faltam para entrar na posse da sua herança.
Não consiste a virtude em assumirdes severo e lúgubre aspecto, em repelirdes os prazeres que as vossas condições humanas vos permitem. Basta reporteis todos os atos da vossa vida ao Criador que vo-la deu; basta que, quando começardes ou acabardes uma obra, eleveis o pensamento a esse Criador e lhe peçais, num arroubo de alma, ou a sua proteção para que obtenhais êxito, ou a sua bênção para ela, se a concluístes. Em tudo o que fizerdes, remontai à Fonte de todas as coisas, para que nenhuma de vossas ações deixe de ser purificada e santificada pela lembrança de Deus.
A perfeição está toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior. Nenhuma caridade teria a praticar o homem que vivesse insulado. Unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele, pois, que se isola priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta. (Cap. V, item 26.)
Não imagineis, portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis e cubrais de cinzas. Não, não, ainda uma vez vos dizemos. Ditosos sede, segundo as necessidades da Humanidade; mas que jamais na vossa felicidade entre um pensamento ou um ato que o possa ofender, ou fazer se vele o semblante dos que vos amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam santamente Ele os abençoa. – Um Espírito protetor. (Bordeaux, 1863.)

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XVII – Sede perfeitos – item 10