sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Tranquilidade

 “Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz.” Jesus (João, 16:33)

 

A palavra do Cristo está sempre fundamentada no espírito de serviço, a fim de que os discípulos não se enganem no capítulo da tranquilidade.

De maneira geral, os aprendizes do Evangelho aguardam a paz, onde a calma reinante nada significa além de estacionamento por vezes delituoso. No conceito da maioria, a segurança reside em garantia financeira, em relações prestigiosas no mundo, em salários astronômicos. Isso, no entanto, é secundário.

Tempestades da noite costumam sanear a atmosfera do dia, angústias da morte renovam a visão falsa da experiência terrestre.

Vale mais permanecer em dia com a luta que guardar-se alguém no descanso provisório e encontrá-la, amanhã, com a dolorosa surpresa de quem vive defrontado por fantasmas.

A Terra é escola de trabalho incessante.

Obstáculos e sofrimentos são orientadores da criatura.

É indispensável, portanto, renovar-se a concepção da paz, na mente do homem, para ajustá-lo à missão que foi chamado a cumprir na obra divina, em favor de si mesmo.

Conservar a paz, em Cristo, não é deter a paz do mundo. É encontrar o tesouro eterno de bênçãos nas obrigações de cada dia.

Não é fugir ao serviço; é aceitá-lo onde, como e quando determine a vontade d’Aquele que prossegue em ação redentora, junto de nós, em toda a Terra.

Muitos homens costumam buscar a tranquilidade dos cadáveres, mas o discípulo fiel sabe que possui deveres a cumprir em todos os instantes da existência.

Alcançando semelhante zona de compreensão, conhece o segredo da paz em Jesus, com o máximo de lutas na Terra. Para ele continuam batalhas, atritos, trabalho e testemunhos no Planeta, entretanto, nenhuma situação externa lhe modifica a serenidade interior, porque atingiu o luminoso caminho da tranquilidade fundamental.


Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.155

sábado, 7 de novembro de 2020

Uma águia de asas partidas

 


Ele era um jovem abastado. Herdara dos pais um palácio que se erguia na colina de Acra. Seus servos o amavam e serviam com lealdade, atendendo-lhe todos os desejos.

Habituara-se a dormir em seu leito de ébano e marfim, onde se permitia devaneios e dava vazão a muitos sonhos.

E quantos sonhos tinha! Amava as corridas de bigas, quadrigas, ansiava pela ovação do povo, que o conduzia quase ao êxtase.

Via-se, por entre a multidão, recebendo flores aos pés e seu nome aclamado repetidas vezes.

Possuía taças de rica ornamentação, nas quais bebia os vinhos gregos e latinos, louros e rubros como as auroras.

Tinha arcas abarrotadas de pedras raras, diamantes, rubis, safiras e pérolas sem conta.

Era detentor de rebanhos e de muitas vinhas. Em Betânia, possuía outro palácio, onde costumava receber amigos para festas.

Cuidava do corpo com massagens de óleos e unguentos raros. Vestia-se com tecidos de linho leve. Nele, tudo respirava juventude, beleza e glória.

Entretanto, embora parecesse nada lhe faltar, sentia sede de paz. Vazio estava o coração.

Vez ou outra, a melancolia o abraçava. É como se depois das vitórias, dos banquetes e das honrarias, o mármore, o marfim, as joias, tudo lhe soasse frio, gélido.

Ansiava pela paz. Como conquistá-la? Onde buscá-la?

Naquele cair de tarde, quase noite, em que os raios de luar já dançavam sobre a Terra, o príncipe procurou o Rabi. Jesus acabara de abençoar as crianças, quando o moço rico se aproxima.

O Encontro singular lembrava um eclipse solar ao nascer do sol. O vale prostra-se aos pés da imponente montanha e cheio de ansiedade, indaga:

Bom Mestre, que bem devo praticar para alcançar a vida eterna?

E o diálogo deve ter prosseguido mais ou menos assim:

Por que me chamas bom? Bom somente o Pai o é. À tua pergunta, respondo: cumpre os mandamentos, isto é, não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honrarás teu pai e tua mãe.

Tudo isso tenho observado em minha mocidade. No entanto, sinto que não me basta. Surdas inquietações me atormentam. Labaredas de ansiedade me consomem. Faltava-me algo!

Então – propõe-lhe a Luz -  vende tudo quanto tens, reparte-o entre os pobres. Vem, e segue-me!

A proposta o penetrou como um punhal afiado. Onde já ouvira aquela voz? Não lhe parecia desconhecida. E aquele olhar que o fitava, cujos olhos mais pareciam duas estrelas engastadas na face pálida?! Que doce magnetismo.

A ordem, a meiguice dAquele homem ecoava em seu Espírito. Ele era uma águia que desejava alcançar as alturas. E o Rabi lhe dizia como utilizar as asas para voar mais alto.

O rapaz ficou mudo por alguns instantes. Suas mãos frias revestiam-se de suor. Os lábios pareciam selados.

Por fim, vencendo a própria resistência, murmurou:

Senhor, deixa antes que eu vá competir em Cesareia. Disputarei os jogos... Colherei os louros da vitória para Israel. Voltarei depois...

Não posso esperar, foi a resposta. Hoje é o momento para ti. Esta é a hora. Nem amanhã, nem mais tarde.

Agora, o jovem parece conseguir desembaraçar as ideias e explica, num jorro de palavras:

Adquiri recentemente aos partas quatro cavalos soberbos, brancos, velozes como dardos. Paguei uma fortuna por eles, o preço de uma casa, setecentos denários! Conduzirão minha quadriga no circo, nos próximos dias, em Cesareia. Guardo a certeza que serei vencedor, porque também contratei escravos que me adestraram. Mestre, compreendes o que é tudo isto? Não temo dar o que tenho: dinheiro, ouro, gemas, propriedades, títulos.

A voz do Divino Pastor o interrompe:

Dá-me a ti próprio e eu te oferecerei a ventura sem limite.

Eu quero, mas...

Pela sua mente em turbilhão passaram as cenas das glórias que conquistaria. Os amigos confiavam nele. Tantos esperavam a sua vitória. Israel seria honrada com seu triunfo.

Sim, ele podia renunciar aos bens de família, mas ao tesouro da juventude, às riquezas da vaidade atendida, os caprichos sustentados...? Seria necessário renunciar a tudo?

A águia desejava voar, mas as asas estavam quebradas...

Recorda-se o jovem que os amigos o esperam na cidade, para um banquete previamente agendado. Num estremecimento, se ergue:

Não posso! – Murmura. Não posso agora. Perdoa-me.

E afastou-se a passos largos. Subindo a encosta, na curva do caminho, ele se deteve. Olhou para trás. Vacilou ainda uma vez.

A figura do Mestre se desenha na paisagem, aos raios do luar. Luz.

Indecisa, a alma do moço parece um pêndulo oscilante. A águia ainda tenta alçar o voo. O peso do mundo a retém no solo. Ele se decide. Com passos rápidos, quase a correr, desaparece na noite.

Os Evangelistas Mateus, Marcos e Lucas narram o episódio e dizem de como ele se retirou triste e pesaroso. Nem poderia ser diferente: fora-lhe dada a oportunidade de se precipitar no oceano do amor e ele preferira as areias vãs do mundo.

Uma semana depois, preparavam-se as bigas e quadrigas para a importante competição em Cesareia. As trompas e as fanfarras anunciam as festas públicas. Apostas são feitas sobre as mesas dos cambistas. Os ases, as preferências, as cores.

Tudo fala de triunfo, alegria. Ao sinal convencionado, sob estrondosa ovação, partem os corcéis fogosos, puxando os carros e seus condutores.

Chicotes estalam no ar, mãos firmes nas rédeas, suores, ansiedade.

E então, na tarde poeirenta, numa manobra infeliz, a quadriga vira, um corpo tomba e os cavalos, em disparada, despedaçam-no.

A corrida prossegue. O povo elege logo outro para honrar, o vencedor.

O moço sente a vida se lhe esvair. O sangue empapa o solo. Os escravos o acodem, retiram-no da pista.

Ele não mais distingue as pessoas. O vozerio da turba parece distante, inalcançável. Uma névoa o envolve. Abandona o corpo estraçalhado, sem vida.

Dois braços amigos o acolhem. Na acústica da alma, ele ainda escuta: Vem e segue-me. Hoje... Não posso esperar.

A águia demoraria um tempo maior para alçar o voo às alturas que sonhava. Os séculos se dobrariam. O moço rico retornaria muitas vezes ao cenário do mundo até conseguir o seu intento.

 

Amélia Rodrigues / Divaldo Franco – Livro Primícias do Reino

A verdadeira propriedade

 

O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. Quando alguém vai a um país distante, constitui a sua bagagem de objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali lhe seriam inúteis. Procedei do mesmo modo com relação à vida futura; aprovisionai-vos de tudo o de que lá vos possais servir.

Ao viajante que chega a um albergue, bom alojamento é dado, se o pode pagar. A outro, de parcos recursos, toca um menos agradável. Quanto ao que nada tenha de seu, vai dormir numa enxerga. O mesmo sucede ao homem à sua chegada no mundo dos Espíritos: depende dos seus haveres o lugar para onde vá. Não será, todavia, com o seu ouro que ele o pagará. Ninguém lhe perguntará: Quanto tinhas na Terra? Que posição ocupavas? Eras príncipe ou operário? Perguntar-lhe-ão: Que trazes contigo? Não se lhe avaliarão os bens, nem os títulos, mas a soma das virtudes que possua. Ora, sob esse aspecto, pode o operário ser mais rico do que o príncipe. Em vão alegará que antes de partir da Terra pagou a peso de ouro a sua entrada no outro mundo. Responder-lhe-ão: Os lugares aqui não se compram: conquistam-se por meio da prática do bem. Com a moeda terrestre, hás podido comprar campos, casas, palácios; aqui, tudo se paga com as qualidades da alma. És rico dessas qualidades? Sê bem-vindo e vai para um dos lugares da primeira categoria, onde te esperam todas as venturas. És pobre delas? Vai para um dos da última, onde serás tratado de acordo com os teus haveres. – Pascal. (Genebra, 1860.)

 

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – item 9

A visão de Eurípedes Barsanulfo - vídeo

 No dia 1º de novembro completou-se 102 anos da desencarnação de Eurípedes Barsanulfo. Vale a pena rever o encontro dele com o Cristo, neste vídeo que conta uma história emocionante vivida por este pioneiro do Espiritismo no País, em trecho extraído do livro A vida escreve, de Hilário Silva, da FEB Editora. 

Confira!


Fonte: febnet.org.br

Por que desdenhas?

                                       “Examinai tudo. Retende o bem.” Paulo (I Tessalonicenses, 5:21)


O cristão não deve perder o bom ânimo, por mais inquietantes se apresentem as perplexidades do caminho, não somente no que diz respeito à dor, mas também no que se reporta a costumes, acontecimentos, mudanças, perturbações...

Há companheiros excessivamente preocupados com a extensão dos erros alheios, sem se precatarem contra as próprias faltas.

Assinalam casas suspeitas, fogem ao movimento social, malsinam fatos ou reprovam pessoas, antes de qualquer exame sério das situações. E nesse complexo emocional que os distancia da realidade, dilatam desentendimentos com pretensas atitudes de salvadores improvisados, que apenas acentuam a esterilidade do fanatismo.

Longe de prestarem benefícios reais, constituem material neutralizante do movimento renovador.

O Evangelho do Cristo, contudo, não instituiu cubículos de isolamento; procura estabelecer, aliás, fontes de Vida Abundante, em toda parte.

Examinar com imparcialidade é buscar esclarecimento.

Por que a condenação apressada ou a crítica destrutiva? Quando Paulo dirigiu a célebre recomendação aos tessalonicenses não se reportava apenas a livros e ciências da Terra. Referia-se a tudo, incluindo os próprios impulsos da opinião popular, com alusão aos fenômenos máximos e mínimos do caminho vulgar.

Em todas as ocorrências dos povos e das personalidades, em todos os fatos e realizações humanas, o aprendiz fiel da Boa Nova deve analisar tudo e reter o bem.

Por que te afastares do trabalho e da luta em comum? Por que desencorajar os que cooperam na lide purificadora com o teu impensado desdém? Se te sentes unido ao Cristo, lembra-te de que o Senhor a ninguém abandona, nem mesmo os seres aparentemente venenosos do chão.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.154

Aconteceu a 1ª Semana Espírita do Leste de Minas


 
Venha saber mais sobre a 1ª Semana Espírita da Comissão Regional Leste de Minas Gerais que aconteceu entre os dias 26 e 31/10/2020.

Riqueza

                                   ... é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha...

A Doutrina Espírita oferece aos seus adeptos - àqueles que lhe procuram observar e sinceramente absorver as luzes santificantes - adequado conceito em torno de tão importante quão difícil aspecto da experiência humana: - a Riqueza.

Há quem enriqueça pelo esforço próprio, no trabalho honesto.

Há quem se torne milionário por efeito de heranças ou doações.

Há, contudo, os que trazem suas arcas repletas em consequência de atividades ilícitas, desonestas, espoliando aqui, enganando acolá, defraudando mais adiante.

A fortuna, todavia, em si mesma não é boa nem má.

É neutra - absolutamente neutra.

Em forma de cintilantes moedas ou expressando-se por cédulas de alto valor, conserva ela, contudo, a sua neutralidade.

O homem, pela aplicação que lhe dá, é quem a transforma em veículo do bem ou do mal, de salvação ou condenação, alterando-lhe a finalidade.

Com ela pode o homem construir soberbos monumentos de benemerência; mas, com ela, também pode cavar, diante de si, abismos de alucinação e crime.

A riqueza bem aplicada, enobrecendo quem a possui, provê de remédio, de alimento, de vestuário, o lar humilde onde, tantas vezes, a vergonha digna se oculta humilhada, retraída.

A riqueza mal aplicada, enclausurando o homem nas teias da ambição, condu-lo à miséria espiritual, à demência, à loucura.

Como se vê, podemos convertê-la em bênção ou condenação em nossa vida.

O homem esclarecido, que se desprendeu do corpo deixando valiosos recursos, econômicos ou financeiros, alegrar-se-á, sentir-se-á ditoso, se notar que tais recursos estão espalhando na Terra o perfume da Caridade, nas suas mais diversas manifestações.

No copo de leite para a criança enferma.

No prato de sopa para o necessitado.

No vestuário para o que se defronta com dificuldades.

Na intelectualização e espiritualização do seu semelhante.

Se deixou alguém no mundo largas possibilidades materiais e não se encontra, espiritualmente, em boas condições, as preces de reconhecimento de seus beneficiários alcançar-lhe-ão onde estiver, em forma de consolação e paz, bom ânimo e reconforto, felicitando, destarte, doador e legatários.

Há um tipo de riqueza que constitui, invariavelmente, uma brasa na consciência de quem a deixou no mundo, embora possam os herdeiros, aplicando-a cristãmente, suavizar-lhe o sofrimento, abrandar-lhe o remorso.

É a que se adquire por meios excusos, por inconfessáveis empreendimentos, apoiados na exploração dos semelhantes.

Riqueza abençoada é aquela que, obtida no trabalho digno, expande-se, fraternal e operosamente, criando o trabalho e favorecendo a prosperidade.

A que estimula realizações superiores, nos diversos setores da atividade humana, convertendo-se em rosas de luz para o Espírito Eterno nos divinos Jardins do Infinito.

Esse tipo de riqueza e essa forma de aplicá-la favorecem a ascensão do homem, uma vez que, possuindo-a, não é por ela possuído.

A riqueza mal adquirida e mal aplicada conservará o seu detentor em consecutivas repetições de dramas expiatórios, nos caminhos terrestres e nas sombrias regiões da vida espiritual.

Asseverando ser “mais fácil passar um camelo no fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus”, não quis o Mestre menosprezar a prosperidade, que é um bem da vida.

Nem condenar, irremissivelmente, o companheiro afortunado.

O que o Mestre pretendeu, decerto, foi advertir-nos quanto aos perigos do excesso, do supérfluo, porque nossas mãos invigilantes estão habituadas ao abuso.

Temos sido, no decurso dos milênios, campeões da extravagância.

Reconhecia Jesus que a fortuna em poder de criaturas que estagiam, ainda, no clima do egoísmo, nas estações da avareza, imersas na insensibilidade, é sempre porta aberta - diríamos melhor - escancarada para o abismo.

A única riqueza, em verdade, que não oferece margem de perigo, é a riqueza espiritual, os tesouros morais que o homem venha a adquirir.

É a riqueza que se não manifesta, exclusivamente, por meio de cofres recheados, nem de palacetes suntuosos e patrimônios incalculáveis, afrontando a indigência.

É a que se traduz na posse, singela e humilde, dos sentimentos elevados.

Por esse tipo de riqueza, imperecível e eterna, podemos e devemos lutar, denodada e valentemente.

Com toda a força do nosso coração.


Martins Peralva – Livro: Estudando o Evangelho