sábado, 19 de junho de 2021

Em paz e paciência

 


Quando te rendes à revolta e à tristeza e varas algum tempo sem olhos para contemplar a Natureza, sem ouvidos para escutar o trilo dos pássaros e sem tato para sentir, num aperto de mão, as palmas calosas dos prisioneiros da adversidade, perdes a eficiência pessoal na ação cotidiana por te distanciares da realidade fundamental. É aí, não raro, que estrepita a insatisfação rouquejante e se desenfreia a violência explosiva em forma de cólera.

E quando o nosso coração intumescido cabriola ao ritmo espasmódico da cólera, resvalamos invariavelmente na voragem da obsessão, seja obsessão para cinco minutos, cinco horas, cinco dias ou cinco anos.

Existem a cólera convulsiva e gritante e a cólera íntima e surda.

Ambas, definindo causas de efeitos diversos, por trás de outros acontecimentos, têm reconduzido, antes da hora demarcada, multidões de Espíritos encarnados à Espiritualidade, através de mortes repentinas e inexplicadas, crises cardíacas e nervosas, paralisias e mudezes, acidentes e delitos de toda ordem.

Ninguém renasce na carne para revestir-se de sombras, e a morte é a ressuscitadora das culpas mais disfarçadas pelas aparências do homem ou mais absconsas nas profundezas do espírito.

Por isso, ante as catástrofes da consciência geradas nos desvarios coléricos, vemos fardões brasonados a se transfigurarem em armaduras ignescentes; coroas, cujas pedrarias espelharam frontes outrora respeitáveis, se tornarem espinhos de tortura; colares a se entremostrarem baraços asfixiantes; medalhas que enfeitaram antigos peitos orgulhosos a se exibirem quais ferretes queimantes; luvas que fulgiram no comando de legiões transformarem-se, trágicas, em manoplas de fogo, e anéis que rebrilharam entre dedos aristocráticos se metamorfosearem, medonhos, em brasas vivas...

Horresco referens! O próprio Dante não conseguiria dizer as repercussões do mal nos vales do horror.

Cólera! Por essa ebriez de loucura, muitos de nós temos experimentado e milhares experimentam, no imo do próprio ser, as comichões endoidecedoras do remorso.

Nela observamos, no sangue efervescente da tez, nas expressões contorcidas do rosto, nas trepidações nevróticas das mãos e nas descargas terríveis da palavra desgovernada, a volta da personalidade à zona inferior do espírito, aos porões da alma, ao fragor dos instintos tempestuados.

Para ela, a nossa vigilância e a nossa prece.

Semelhante expulsão do bom-senso carreia apenas prejuízos de estarrecer. Ela, em si, humilha e ridiculariza muito mais a criatura do que qualquer pretexto invocado para motivá-la.

Transporta as cruzes pequeninas das dificuldades de cada dia, em paz e paciência.

Desenruga a face nos sorrisos de bondade constante.

Reprime o gesto de precipitação e abençoa sempre.

Mergulha o próprio pensamento no pensamento cintilante da atualidade espírita e, se contrariado, perdoa... se perseguido, perdoa... se humilhado, perdoa... para compores o clima cada vez mais puro da confraternidade entre os homens, com esforços e lutas, serviços desinteressados e iniciativas redentoras, junto aos Vanguardeiros da Verdade e do Amor.

Manuel Quintão / Waldo Vieira – Livro: Seareiros de volta

Consegues ir?

 

“Vinde a mim..." Jesus (Mateus, 11 :28)

 

O crente escuta o apelo do Mestre, anotando abençoadas consolações. O doutrinador repete-o para comunicar vibrações de conforto espiritual aos ouvintes.

Todos ouvem as palavras do Cristo, as quais insistem para que a mente inquieta e o coração atormentado lhe procurem o regaço refrigerante...

Contudo, se é fácil ouvir e repetir o "vinde a mim" do Senhor, quão difícil é “ir para Ele”!

Aqui, as palavras do Mestre se derramam por vitalizante bálsamo, entretanto, os laços da conveniência imediatista são demasiado fortes; além, assinala-se o convite divino, entre promessas de renovação para a jornada redentora, todavia, o cárcere do desânimo isola o espírito, através de grades resistentes; acolá, o chamamento do Alto ameniza as penas da alma desiludida, mas é quase impraticável a libertação dos impedimentos constituídos por pessoas e coisas, situações e interesses individuais, aparentemente inadiáveis.

Jesus, o nosso Salvador, estende-nos os braços amoráveis e compassivos.

Com ele, a vida enriquecer-se-á de valores imperecíveis e à sombra dos seus ensinamentos celestes seguiremos, pelo trabalho santificante, na direção da Pátria Universal...

Todos os crentes registram-lhe o apelo consolador, mas raros se revelam suficientemente valorosos na fé para lhe buscarem a companhia. Em suma, é muito doce escutar o “vinde a mim”...

Entretanto, para falar com verdade, já consegues ir?

 

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 005

Prece do pão

 


Senhor!

Entre aqueles que te pedem proteção, estou eu também, servo humilde a quem mandaste extinguir o flagelo da fome.

Partilhando o movimento daqueles que te servem, fiz hoje igualmente o meu giro. Vi-me frequentemente detido, em lares faustosos, cooperando nas alegrias da mesa farta, mas vi pobres mulheres que me estendiam, debalde, as mãos!...

Vi crianças esquálidas que me olhavam ansiosas, como se estivessem fitando um tesouro perdido.

Encontrei homens tristes, transpirando suor, que me contemplavam agoniados, rogando em silêncio para que lhes socorresse os filhinhos largados ao extremo infortúnio...

Escutei doentes que não precisavam tanto de remédio, mas de mim, para que pudessem atender ao estômago torturado!

Vi a penúria cansada de pranto e reparei, em muitos corações desvalidos, mudo desespero por minha causa.

Entretanto, Senhor, quase sempre estou encarcerado por aquelas mesmas criaturas que te dizem honrar.

Falam em teu nome, confortadas e distraídas na moldura do supérfluo, esquecendo que caminhaste no mundo, sem reter uma pedra em que repousar a cabeça.

Elogiam-te a bondade e exaltam-te a glória, sem perceberem junto delas, seus próprios irmãos fatigados e desnutridos.

E, muitas vezes, depois de formosas dissertações em torno de teus ensinos, aprisionam-me em gavetas e armários, quando não me trancam sob a tela colorida de vitrines custosas ou no recinto escuro dos armazéns.

Ensina-lhes, Senhor, nas lições da caridade, a dividir-me por amor, para que eu não seja motivo à delinquência.

E, se possível, multiplica-me, por misericórdia, outra vez, a fim de que eu possa aliviar todos os famintos da Terra, porque um dia, Senhor, quando ensinavas o homem a orar, incluíste-me entre as necessidades mais justas da vida, suplicando também a Deus:

“O pão nosso de cada dia dai-nos hoje”.

Meimei / Chico Xavier – Livro: O Espírito da Verdade

sexta-feira, 11 de junho de 2021

GRATIDÃO: um novo olhar sobre a vida

 


Vida, natureza, família, semelhante, trabalho, chefe, prova, expiação, dor, sofrimento, enfermidade, saúde, amigo, inimigo, alegria, tristeza, situação financeira são alguns exemplos dos motivos de gratidão ou reclamação de nossa parte.

Qualquer coisa pode ser razão para agradecer ou reclamar, a depender do ponto de vista.

A gente costuma reclamar de tudo. Quando chove, reclamamos do mau tempo; quando faz sol, reclamamos porque está quente; quando é noite, gostaríamos que fosse dia; quando é dia, nos incomodamos pelo desejo de que a noite chegue logo; se o tempo passa depressa, reclamamos sugerindo a ampliação do dia para 36h; se o tempo é vagaroso, lamentamos pela lerdeza do deus Cronos. Tudo, sem exceção, parece ser motivo para reclamar. Poderíamos continuar escrevendo uma página ou um livro inteiro elencando motivos de reclamação ou exemplos práticos de sua ocorrência.

Vamos fazer o contrário? Agradeçamos por tudo. Até pela dor que nos atinge profundamente. “Bendita a dor, ela é a grande sinfonia que acorda os corações humanos para a Vida Eterna”, já dizia meu pai e continua dizendo até hoje nos seus 85 anos de idade, como informação colhida de fonte oral. Segundo Emmanuel, guia espiritual do cândido Chico Xavier, “a dor é um constante convite da vida, a fim de que aceitemos uma entrevista com Deus”.

Quando tudo está bem, tendemos a nos esquecer do agradecimento. Mas, a Misericórdia Divina, reconhecendo nossas necessidades, oferece-nos “a dor-expiação, a dor-evolução, a dor-auxílio” para que, humildemente, nos coloquemos diante do Senhor da Vida e, em definitivo, consigamos nos libertar de nosso passado infeliz, acordando o homem renovado para o novo mundo de regeneração.

Joanna de Ângelis, a psicóloga espiritual e guia do médium Divaldo Franco, alerta que a “reclamação é perda de tempo”. Realmente, quem reclama está perdendo a oportunidade de agradecer, de fazer algo útil na existência. Aquele momento de reclamação não nos leva a resultado efetivo, então, poderia ser absolutamente dispensado sem que fizesse falta alguma. Não estamos aqui cogitando da avaliação serena e necessária para determinadas situações, ocorrências e circunstâncias que vivenciamos, fruto da nossa iniciativa ou decorrente da ação de terceiros. É importante, sim, avaliarmos para melhorar o que for indispensável à caminhada evolutiva.

A reclamação, pelo contrário, não tem propósito útil. Apenas o da lamentação, que deixa transparecer nosso azedume. Seria melhor que nos silenciássemos, pois, o silêncio na maioria das vezes se traduz na melhor das respostas. É como aquela expressão do ditado popular que nos exorta, quando não fomos felizes em alguma afirmação: “você perdeu uma boa oportunidade de ficar calado”.

Vamos exercitar o silêncio quando a vontade de reclamar visitar os escaninhos da mente, provocando-nos para ações menos recomendáveis. Reclamar é feio, denota falta de educação, e, dependendo de como a atitude é manifestada, ausência de respeito para com o semelhante e, sobretudo, ingratidão para com Deus.

Gostaria de fazer um trato e assinar tacitamente um contrato com o prezado leitor. No dia, temos três períodos claramente delimitados: manhã, tarde e noite. Vamos assumir o compromisso de agradecer pelo menos uma vez em cada período do dia. Agradeceremos: pela manhã ao acordar – cada dia é como se fosse uma nova encarnação; à tarde, quando almoçarmos ou olharmos o crepúsculo ou, ainda, estivermos no trânsito que nos oferece o ensejo de desenvolver várias virtudes, tais como a paciência, a tolerância e a indulgência; e agradeçamos ao final da noite por mais um dia, repleto de oportunidades e desafios para o aprendizado constante.  Amanhã, depois de amanhã, e depois… A atitude deverá ser mantida ao longo de todo o mês. Quando este findar, na noite do derradeiro dia, o número de agradecimentos chegará a pelo menos 90 vezes!

Acredito que, após esse período, já teremos adquirido o hábito do agradecimento. A partir daí o comportamento será espontâneo, assegurando que começamos a exercitar um novo olhar sobre a vida.

A reclamação reflete postura de orgulho, ao passo que a gratidão é resultado de atitude humilde.

A reclamação nos fecha para a sintonia com o auxílio superior; a gratidão facilita a sinergia com aqueles que aspiram à harmonia e ao equilíbrio dela decorrente.

A gratidão é um ato que transparece a divindade existente em cada um de nós. Já a reclamação é de nossa responsabilidade, sobre a qual deveremos prestar as devidas contas no momento em que a lei de causa e efeito nos requisitar para uma entrevista com Deus.

Se analisarmos detidamente, chegaremos à conclusão de que a vida nos oferece muito mais motivos para agradecer do que para reclamar.

Agradecer faz bem à saúde integral do indivíduo, que se sente mais aberto à sintonia com o Plano Superior da Vida, em contato com os amigos espirituais que podem ter o trabalho de inspiração facilitado pelas vias da nossa intuição a ser colocada, gradativamente, à disposição do serviço no bem.

Agradecer nos torna felizes, pois aprendemos a enxergar novos horizontes. Os nossos olhos brilham mais, identificando-se com o belo, o bom, o útil.

Agradeçamos pelo bem e pela oportunidade de melhoria, pela prova e pela expiação, pela benção do trabalho e da libertação.

Na vida, é recomendável aprendermos a agradecer mais e a reclamar menos.

 

Geraldo Campetti Sobrinho / Vice-presidente da Federação Espírita Brasileira – Fonte: febnet.org.br




quinta-feira, 10 de junho de 2021

Oração do discípulo

 


Senhor Jesus!

Do pesado madeiro de minha inconsciência, em que as minhas fraquezas Te crucificaram, ouve-me os rogos e não me negues Teu socorro constante.

Vidente Divino, dá-me a graça de ver os favores com que me enriqueces, em forma de lutas e sofrimentos.

Benfeitor Eterno, faze-me sentir a alegria do Céu, em minhas dores terrestres.

Oleiro Paciente, aquece a argila do meu frágil coração para que se transforme em vaso proveitoso ao Teu serviço.

Sábio Juiz, infunde-me respeito às leis divinas que esperam a minha regeneração para a eternidade.

Companheiro Atencioso, auxilia-me a ser irmão de todas as criaturas.

Médico infalível, cura-me as chagas íntimas, alimentadas por minha própria imprevidência.

Amigo Admirável, sela meus lábios para o mal e inspira-me o amor infatigável ao bem.

Mestre Abnegado, não me faltes com as Tuas lições de cada dia.

Semeador Celeste, protege a Terra de minh’alma contra os vermes da má vontade e da preguiça para que eu Te encontre incessantemente no trabalho que me concedeste.

Senhor das Bênçãos, não me relegues aos inconscientes desejos que nascem de mim e sustenta-me abençoado caminho da vida reta em que devo negar a mim mesmo, tomar a cruz salvadora de minhas próprias obrigações e marchar ao Teu encontro, hoje e sempre.

Assim seja.

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: À Luz da Oração

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Cada qual

 

“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”. Paulo (I Coríntios, 12:4)

 

Em todos os lugares e posições, cada qual pode revelar qualidades divinas para a edificação de quantos com ele convivem.

Aprender e ensinar constituem tarefas de cada hora, para que colaboremos no engrandecimento do tesouro comum de sabedoria e de amor.

Quem administra, mais frequentemente pode expressar a justiça e a magnanimidade.

Quem obedece, dispõe de recursos mais amplos para demonstrar o dever bem cumprido.

O rico, mais que os outros, pode multiplicar o trabalho e dividir as bênçãos.

O pobre, com mais largueza, pode amealhar a fortuna da esperança e da dignidade.

O forte, mais facilmente, pode ser generoso, a todo instante.

O fraco, sem maiores embaraços, pode mostrar-se humilde, em quaisquer ocasiões.

O sábio, com dilatados cabedais, pode ajudar a todos, renovando o pensamento geral para o bem.

O aprendiz, com oportunidades multiplicadas, pode distribuir sempre a riqueza da boa vontade.

O são, comumente, pode projetar a caridade em todas as direções.

O doente, com mais segurança, pode plasmar as lições da paciência no ânimo geral.

Os dons diferem, a inteligência se caracteriza por diversos graus, o merecimento apresenta valores múltiplos, a capacidade é fruto do esforço de cada um, mas o Espírito Divino que sustenta as criaturas é substancialmente o mesmo.

Todos somos suscetíveis de realizar muito, na esfera de trabalho em que nos encontramos.

Repara a posição em que te situas e atende aos imperativos do Infinito Bem. Coloca a Vontade Divina acima de teus desejos, e a Vontade Divina te aproveitará.

 Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 004

sábado, 5 de junho de 2021

Almoço beneficente - Centro Espírita Irmã Scheilla

 


Instrução dos espíritos sobre a regeneração da humanidade

 


(Paris, abril de 1866 – Médium: Srs. M. e T., em sonambulismo)

Os acontecimentos se precipitam com rapidez, de modo que não vos dizemos mais, como outrora: “Os tempos estão próximos”; agora dizemos: “Os tempos são chegados”.

Por estas palavras não entendais um novo dilúvio, nem um cataclismo, nem uma perturbação geral. Convulsões parciais do globo ocorreram em todas as épocas e ainda se produzem, porque inerentes à sua constituição, mas são sinais dos tempos.

Entretanto, tudo quanto está predito no Evangelho deve realizar-se e se cumpre neste momento, como reconhecereis mais tarde. Mas não tomeis os sinais anunciados senão como figuras, dos quais é preciso captar o espírito, e não a letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades sob o véu da alegoria, e é porque os exegetas se apegaram à letra que se extraviaram.

Faltou-lhes a chave para a compreensão de seu verdadeiro sentido. (...)

Tudo segue a ordem natural das coisas e as leis imutáveis de Deus não serão alteradas. Assim, não vereis milagres, nem prodígios, nem nada de sobrenatural, no sentido vulgar ligado a estas palavras.

Não olheis o céu para aí buscar sinais precursores, pois não os vereis e os que vo-los anunciam vos enganarão; mas olhai em torno de vós, entre os homens; é aí que os encontrareis.

Não sentis como um vento que sopra na Terra e agita todos os Espíritos? O mundo está à espera e como tomado por um vago pressentimento à aproximação da tempestade.

Contudo, não acrediteis no fim do mundo material; a Terra progrediu desde a sua transformação; deve progredir ainda, e não será destruída. Mas a Humanidade chegou a um de seus períodos de transformação e a Terra vai elevar-se na hierarquia dos mundos. (...)

Para que os homens sejam felizes na Terra, é necessário que esta só seja povoada de Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que não quererão senão o bem. Sendo chegado esse tempo, uma grande emigração se realiza neste momento entre os que a habitam; os que fazem o mal pelo mal e não são tocados pelo sentimento do bem por não serem dignos da Terra transformada, dela serão excluídos, porque aí trariam novamente a perturbação e a confusão e seriam um obstáculo ao progresso. Irão expiar seu endurecimento nos mundos inferiores, para onde levarão os conhecimentos adquiridos e terão por missão fazê-los progredir. Serão substituídos na Terra por Espíritos melhores, que farão reinar entre eles a justiça, a paz e a fraternidade.

A época atual é de transição; os elementos das duas gerações se confundem. Colocados em ponto intermediário, assistis à partida de uma e à chegada da outra, e cada um já se assinala no mundo pelos caracteres que lhes são próprios.

As duas gerações que sucedem uma à outra têm ideias e pontos de vista opostos. Pela natureza das disposições morais, mas, sobretudo, das disposições intuitivas e inatas, é fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo.

Devendo fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, aliadas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal indubitável de certo grau de progresso anterior. Não será composta exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas daqueles que, tendo já progredido, estão predispostos a assimilar todas as ideias progressivas, e aptos a secundar o movimento regenerador. (...)

Ao contrário, o que distingue os Espíritos atrasados é, primeiro, a revolta contra Deus pela negação da Providência e de todo poder superior à Humanidade; depois, a propensão instintiva às paixões degradantes, aos sentimentos antifraternos do egoísmo, do orgulho, do ódio, do ciúme, da cupidez, enfim, a predominância do apego a tudo o que é material. (...)

Tais os vícios de que a Terra deve ser expurgada pelo afastamento dos que se recusam a emendar-se, porque são incompatíveis com o reinado da fraternidade e porque os homens de bem sempre sofrerão com o seu contato. A Terra ficará livre deles e os homens marcharão sem entraves para o futuro melhor, que lhes está reservado aqui, como prêmio por seus esforços e por sua perseverança, esperando que uma depuração ainda mais completa lhes abra a entrada dos mundos superiores.

Por esta emigração de Espíritos não se deve entender que todos os Espíritos retardatários serão expulsos da Terra e relegados a mundos inferiores. Muitos, ao contrário, a ela voltarão, porque muitos cederam ao arrastamento das circunstâncias e do exemplo; neles a casca era pior que a essência. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos preconceitos do mundo corporal, a maioria verá as coisas de maneira completamente diferente do que quando vivos, do que tendes numerosos exemplos. Nisto são ajudados pelos Espíritos benevolentes, que por eles se interessam e que se desvelam em os esclarecer e em lhes mostrar o falso caminho que seguiram. Por vossas preces e exortações, vós mesmos podeis contribuir para sua melhoria, porque há solidariedade perpétua entre os mortos e os vivos. (...)

Assim, só haverá uma exclusão definitiva para os Espíritos rebeldes por natureza, aqueles que o orgulho e o egoísmo, mais que a ignorância, tornam-se surdos à voz do bem e da razão.

Mas, mesmo estes não estão votados a uma inferioridade perpétua, e dia virá em que repudiarão o seu passado e abrirão os olhos à luz.

Orai, pois, por esses endurecidos, a fim de que se emendem enquanto é tempo, pois o dia da expiação está próximo.

Infelizmente, por desconhecer a voz de Deus, a maioria persistirá em sua cegueira e sua resistência marcará o fim de seu reino por lutas terríveis. Em seu desvario, eles próprios cavarão a sua ruína; impelirão à destruição, que engendrará uma porção de flagelos e calamidades, de sorte que, sem o querer, apressarão o advento da era da renovação. (...)

Um dos caracteres distintivos da nova geração será a fé inata; não a fé exclusiva e cega, que divide os homens, mas a fé raciocinada, que esclarece e fortifica, que os une e os confunde num comum sentimento de amor a Deus e ao próximo. Com a geração que se extingue desaparecerão os últimos vestígios da incredulidade e do fanatismo, igualmente contrários ao progresso moral e social.

O Espiritismo é o caminho que conduz à renovação, porque destrói os dois maiores obstáculos que a ela se opõem: a incredulidade e o fanatismo. Dá uma fé sólida e esclarecida; desenvolve todos os sentimentos e todas as ideias que correspondem às vistas da nova geração. Por isto é como que inato e em estado de intuição no coração de seus representantes. A era nova vê-lo-á, pois, crescer e prosperar pela força mesma das coisas.

Tornar-se-á a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições.

Mas, daqui até lá, quantas lutas terá ainda de sustentar contra os seus dois maiores inimigos: a incredulidade e o fanatismo, que, coisa bizarra, se dão as mãos para o abater! Eles pressentem seu futuro e sua ruína, razão por que o temem, pois já o veem plantar, sobre as ruínas do velho mundo egoísta, a bandeira que deve unir todos os povos. Na divina máxima: Fora da caridade não há salvação, leem sua própria condenação, porque é o símbolo da nova aliança fraternal proclamada pelo Cristo. Ela se lhes mostra como as palavras fatais do festim de Baltazar. E, contudo, deviam bendizer esta máxima, porque os garante contra todas as represálias da parte dos que perseguem. Mas não, uma força cega os impele a rejeitar a única coisa que os poderia salvar!

Que poderão eles contra o ascendente da opinião que os repudia? O Espiritismo sairá triunfante da luta, não o duvideis, porque, estando nas leis da Natureza é, por isto mesmo, imperecível. Vede por que multidão de meios a ideia se espalha e penetra em toda parte; crede bem que esses meios não são fortuitos, mas providenciais; aquilo que, à primeira vista, pareceria dever prejudicá-lo, é precisamente o que ajuda a sua propagação. (...)

Espíritas, o futuro é vosso e de todos os homens de coração e devotamento. Não vos assusteis com os obstáculos, pois nenhum deles poderá entravar os desígnios da Providência.

Trabalhai sem descanso e agradecei a Deus por vos ter colocado na vanguarda da nova falange. É um posto de honra que vós mesmos pedistes, e do qual vos deveis tornar dignos por vossa coragem, perseverança e devotamento. Ditosos os que sucumbirem nesta luta contra a força; mas a vergonha será, no mundo dos Espíritos, para os que sucumbirem pela fraqueza ou pela pusilanimidade. Aliás, as lutas são necessárias para fortificar a alma; o contato do mal faz apreciar melhor as vantagens do bem.

Sem as lutas que estimulam as faculdades, o Espírito deixar-se-ia arrastar por uma indiferença funesta ao seu adiantamento. As lutas contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência; as lutas contra o mal desenvolvem as forças morais.

 

Fragmentos extraídos da Revista Espírita – outubro / 1866

Oração diante da palavra

 


Senhor!

Deste-me a palavra por semente de luz.

Auxilia-me a cultivá-la.

Não me permitas envolvê-la na sombra que projeto.

Ensina-me a falar para que se faça o melhor.

Ajuda-me a lembrar o que deve ser dito e a lavar da memória tudo aquilo que a tua bondade espera se lance no esquecimento.

Onde a irritação me procure, induze-me ao silêncio, e, onde lavre o incêndio da incompreensão ou do ódio, dá que eu pronuncie a frase calmante que possa apagar o fogo da ira.

Em qualquer conversação, inspira-me o conceito certo que se ajuste à edificação do bem, no momento exato, e faze-me vigilante para que o mal não me use, em louvor da perturbação.

Não me deixes emudecer, diante da verdade, mas conserva-me em tua prudência, a fim de que eu saiba dosar a verdade em amor, para que a compaixão e a esperança não esmoreçam, junto de mim.

Traze-me o coração ao raciocínio, sincero sem aspereza, brando sem preguiça, fraterno sem exigência e deixa, Senhor, que a minha palavra te obedeça à vontade, hoje e sempre. 

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: À Luz da Oração

Na grande romagem

 

“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia...” Paulo (Hebreus, 11:8)

Pela fé, o aprendiz do Evangelho é chamado, como Abraão, à sublime herança que lhe é destinada.

A conscrição atinge a todos.

O grande patriarca hebreu saiu sem saber para onde ia...

E nós, por nossa vez, devemos erguer o coração e partir igualmente.

Ignoramos as estações de contato na caminhada enorme, mas estamos informados de que o nosso objetivo é Cristo Jesus.

Quantas vezes seremos constrangidos a pisar sobre espinheiros da calúnia?

Quantas vezes transitaremos pelo trilho escabroso da incompreensão? Quantos aguaceiros de lágrimas nos alcançarão o espírito? Quantas nuvens estarão interpostas, entre o nosso pensamento e o Céu, em largos trechos da senda?

Insolúvel a resposta. Importa, contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria redenção, sem esmorecimento.

Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade; depois, é o sofrimento e, em seguida, é a solidão...

Ainda assim, é indispensável seguir sem desânimo.

Quando não seja possível avançar dois passos por dia, desloquemo-nos para diante, pelo menos, alguns milímetros...

Abre-se a vanguarda em horizontes novos de entendimento e bondade, iluminação espiritual e progresso na virtude.

Subamos, sem repouso, pela montanha escarpada:

Vencendo desertos...

Superando dificuldades...

Varando nevoeiros...

Eliminando obstáculos...

Abraão obedeceu, sem saber para onde ia, e encontrou a realização da sua felicidade.

Obedeçamos, por nossa vez, conscientes de nossa destinação e convictos de que o Senhor nos espera, além da nossa cruz, nos cimos resplandecentes da eterna ressurreição.

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 003