(Paris,
abril de 1866 – Médium: Srs. M. e T., em sonambulismo)
Os acontecimentos se precipitam com rapidez, de modo que
não vos dizemos mais, como outrora: “Os tempos estão próximos”; agora dizemos:
“Os tempos são chegados”.
Por estas palavras não entendais um novo dilúvio, nem um
cataclismo, nem uma perturbação geral. Convulsões parciais do globo ocorreram
em todas as épocas e ainda se produzem, porque inerentes à sua constituição,
mas são sinais dos tempos.
Entretanto, tudo quanto está predito no Evangelho deve
realizar-se e se cumpre neste momento, como reconhecereis mais tarde. Mas não
tomeis os sinais anunciados senão como figuras, dos quais é preciso captar o
espírito, e não a letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades sob o
véu da alegoria, e é porque os exegetas se apegaram à letra que se extraviaram.
Faltou-lhes a chave para a compreensão de seu verdadeiro
sentido. (...)
Tudo segue a ordem natural das coisas e as leis imutáveis
de Deus não serão alteradas. Assim, não vereis milagres, nem prodígios, nem
nada de sobrenatural, no sentido vulgar ligado a estas palavras.
Não olheis o céu para aí buscar sinais precursores, pois não
os vereis e os que vo-los anunciam vos enganarão; mas olhai em torno de vós,
entre os homens; é aí que os encontrareis.
Não sentis como um vento que sopra na Terra e agita todos
os Espíritos? O mundo está à espera e como tomado por um vago pressentimento à
aproximação da tempestade.
Contudo, não acrediteis no fim do mundo material; a Terra
progrediu desde a sua transformação; deve progredir ainda, e não será
destruída. Mas a Humanidade chegou a um de seus períodos de transformação e a
Terra vai elevar-se na hierarquia dos mundos. (...)
Para que os homens sejam felizes na Terra, é necessário que
esta só seja povoada de Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que não
quererão senão o bem. Sendo chegado esse tempo, uma grande emigração se realiza
neste momento entre os que a habitam; os que fazem o mal pelo mal e não são
tocados pelo sentimento do bem por não serem dignos da Terra transformada, dela
serão excluídos, porque aí trariam novamente a perturbação e a confusão e
seriam um obstáculo ao progresso. Irão expiar seu endurecimento nos mundos
inferiores, para onde levarão os conhecimentos adquiridos e terão por missão
fazê-los progredir. Serão substituídos na Terra por Espíritos melhores, que farão
reinar entre eles a justiça, a paz e a fraternidade.
A época atual é de transição; os elementos das duas gerações
se confundem. Colocados em ponto intermediário, assistis à partida de uma e à
chegada da outra, e cada um já se assinala no mundo pelos caracteres que lhes
são próprios.
As duas gerações que sucedem uma à outra têm ideias e
pontos de vista opostos. Pela natureza das disposições morais, mas, sobretudo,
das disposições intuitivas e inatas, é fácil distinguir a qual das duas
pertence cada indivíduo.
Devendo fundar a era do progresso moral, a nova geração
se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, aliadas ao
sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal
indubitável de certo grau de progresso anterior. Não será composta
exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas daqueles que, tendo
já progredido, estão predispostos a assimilar todas as ideias progressivas, e
aptos a secundar o movimento regenerador. (...)
Ao contrário, o que distingue os Espíritos atrasados é, primeiro,
a revolta contra Deus pela negação da Providência e de todo poder superior à
Humanidade; depois, a propensão instintiva às paixões degradantes, aos
sentimentos antifraternos do egoísmo, do orgulho, do ódio, do ciúme, da
cupidez, enfim, a predominância do apego a tudo o que é material. (...)
Tais os vícios de que a Terra deve ser expurgada pelo afastamento
dos que se recusam a emendar-se, porque são incompatíveis com o reinado da
fraternidade e porque os homens de bem sempre sofrerão com o seu contato. A
Terra ficará livre deles e os homens marcharão sem entraves para o futuro
melhor, que lhes está reservado aqui, como prêmio por seus esforços e por sua
perseverança, esperando que uma depuração ainda mais completa lhes abra a
entrada dos mundos superiores.
Por esta emigração de Espíritos não se deve entender que
todos os Espíritos retardatários serão expulsos da Terra e relegados a mundos
inferiores. Muitos, ao contrário, a ela voltarão, porque muitos cederam ao
arrastamento das circunstâncias e do exemplo; neles a casca era pior que a
essência. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos preconceitos do
mundo corporal, a maioria verá as coisas de maneira completamente diferente do
que quando vivos, do que tendes numerosos exemplos. Nisto são ajudados pelos
Espíritos benevolentes, que por eles se interessam e que se desvelam em os
esclarecer e em lhes mostrar o falso caminho que seguiram. Por vossas preces e
exortações, vós mesmos podeis contribuir para sua melhoria, porque há solidariedade
perpétua entre os mortos e os vivos. (...)
Assim, só haverá uma exclusão definitiva para os Espíritos
rebeldes por natureza, aqueles que o orgulho e o egoísmo, mais que a
ignorância, tornam-se surdos à voz do bem e da razão.
Mas, mesmo estes não estão votados a uma inferioridade
perpétua, e dia virá em que repudiarão o seu passado e abrirão os olhos à luz.
Orai, pois, por esses endurecidos, a fim de que se emendem
enquanto é tempo, pois o dia da expiação está próximo.
Infelizmente, por desconhecer a voz de Deus, a maioria persistirá
em sua cegueira e sua resistência marcará o fim de seu reino por lutas
terríveis. Em seu desvario, eles próprios cavarão a sua ruína; impelirão à
destruição, que engendrará uma porção de flagelos e calamidades, de sorte que,
sem o querer, apressarão o advento da era da renovação. (...)
Um dos caracteres distintivos da nova geração será a fé inata;
não a fé exclusiva e cega, que divide os homens, mas a fé raciocinada, que
esclarece e fortifica, que os une e os confunde num comum sentimento de amor a
Deus e ao próximo. Com a geração que se extingue desaparecerão os últimos
vestígios da incredulidade e do fanatismo, igualmente contrários ao progresso moral
e social.
O Espiritismo é o caminho que conduz à renovação, porque
destrói os dois maiores obstáculos que a ela se opõem: a incredulidade e o
fanatismo. Dá uma fé sólida e esclarecida; desenvolve todos os sentimentos e
todas as ideias que correspondem às vistas da nova geração. Por isto é como que
inato e em estado de intuição no coração de seus representantes. A era nova
vê-lo-á, pois, crescer e prosperar pela força mesma das coisas.
Tornar-se-á a base de todas as crenças, o ponto de apoio
de todas as instituições.
Mas, daqui até lá, quantas lutas terá ainda de sustentar contra
os seus dois maiores inimigos: a incredulidade e o fanatismo, que, coisa
bizarra, se dão as mãos para o abater! Eles pressentem seu futuro e sua ruína,
razão por que o temem, pois já o veem plantar, sobre as ruínas do velho mundo
egoísta, a bandeira que deve unir todos os povos. Na divina máxima: Fora da caridade
não há salvação, leem sua própria condenação, porque é o símbolo da nova
aliança fraternal proclamada pelo Cristo. Ela se lhes mostra como as palavras
fatais do festim de Baltazar. E, contudo, deviam bendizer esta máxima, porque
os garante contra todas as represálias da parte dos que perseguem. Mas não, uma
força cega os impele a rejeitar a única coisa que os poderia salvar!
Que poderão eles contra o ascendente da opinião que os
repudia? O Espiritismo sairá triunfante da luta, não o duvideis, porque,
estando nas leis da Natureza é, por isto mesmo, imperecível. Vede por que
multidão de meios a ideia se espalha e penetra em toda parte; crede bem que
esses meios não são fortuitos, mas providenciais; aquilo que, à primeira vista,
pareceria dever prejudicá-lo, é precisamente o que ajuda a sua propagação.
(...)
Espíritas, o futuro é vosso e de todos os homens de coração
e devotamento. Não vos assusteis com os obstáculos, pois nenhum deles poderá
entravar os desígnios da Providência.
Trabalhai sem descanso e agradecei a Deus por vos ter colocado
na vanguarda da nova falange. É um posto de honra que vós mesmos pedistes, e do
qual vos deveis tornar dignos por vossa coragem, perseverança e devotamento.
Ditosos os que sucumbirem nesta luta contra a força; mas a vergonha será, no mundo
dos Espíritos, para os que sucumbirem pela fraqueza ou pela pusilanimidade.
Aliás, as lutas são necessárias para fortificar a alma; o contato do mal faz
apreciar melhor as vantagens do bem.
Sem as lutas que estimulam as faculdades, o Espírito
deixar-se-ia arrastar por uma indiferença funesta ao seu adiantamento. As lutas
contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência; as lutas
contra o mal desenvolvem as forças morais.
Fragmentos
extraídos da Revista Espírita – outubro / 1866