quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Socorro Maior

 


Senhor Jesus, Amigo Excelente:

Chegamos cansados dos caminhos percorridos, trazendo poeira transformada em lama nos pés da alma, sedentos e feridos, de mãos vazias e dilaceradas;

Tombada, a nossa fronte não se levanta para olhar o amanhã;

Os ombros arriados não suportam o fardo das próprias dissipações.

Socorre-nos, Celeste Benfeitor!

Não é a primeira vez que te esquecemos, envolvendo-nos no crime.

Não é a primeira tentativa que fazemos com insucesso.

Não é a primeira oportunidade que perdemos, acoimados pela loucura do «eu».

Apiada-te ainda mais de nós!

Fitamos o céu e nossos olhos não veem as estrelas, olhamos o dia e o sol nos enceguece, seguimos a rota e tropeçamos sem a visão do solo...

Pensamos em ti e brilha em nosso espírito a Tua luz.

Ampara-nos, Construtor da Vida! Amanhece o dia do novo ensejo e logo mais mergulharemos no caudaloso rio da reencarnação.

Reencontraremos as dívidas chamando por nós e as dores reclamando-nos;

Defrontaremos o ódio ultrajando nossas aquisições de amor e o sofrimento dificultando nosso avanço.

Dá-nos a Tua mão protetora!

Somos o que fomos, ajuda-nos a ser o que devemos!

A Ti entregamos nossas vidas:

Salva-nos, Jesus, através do trabalho redentor!

Glaucus

Manoel Philomeno de Miranda / Divaldo Franco – Livro: Nos bastidores da obsessão

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Mais Luz - Edição 564 – Nº 06

 Confira neste Boletim:

 

Ø O homem novo

Ø Ante o Evangelho: O mal e o remédio

Ø Poema: Agradecimento

Ø Se soubéssemos – Fonte Viva

Ø Oração – Santo Agostinho

 

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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

O homem novo

 


“Digo-vos, portanto, e peço-vos, em nome do Senhor, que não torneis a proceder com a futilidade dos gentios, eles que estão alheios à vida de Deus, por causa da ignorância em que se encontram e do endurecimento de seus corações. Perdido todo senso de honestidade, entregaram-se à desenfreada busca de prazeres, lançando-se com ardor a toda sorte de impurezas.

Vós, porém, foi bem outra coisa que aprendeste com Cristo, se é que de fato O tendes ouvido e n’Ele vos instruístes. Aprendestes a trabalhar pela própria renovação, despojando-vos do homem velho, que se corrompe ao sabor das paixões enganadoras, para serdes o homem novo, criado à imagem de Deus, em justiça e retidão procedentes da Verdade”. (Efésios, 4: 17-24)

-o-

O homem comum, em todos os tempos, quando procura as atividades religiosas, tem estado atento apenas aos aspectos exteriores - presença física, ritos e rezas - acalentando a pretensão de que esse tipo de participação, aliado à crença superficial nos poderes espirituais que governam o Mundo, seja suficiente para garantir-lhe paz na terra e felicidade no Céu.

Não obstante os esforços respeitáveis de líderes religiosos mais lúcidos, que divulgam incansavelmente a necessidade de uma vivência autêntica do Evangelho, as igrejas permanecem repletas dos cristãos de hora certa - aqueles que aceitam o Cristo, que falam do Cristo, que procuram o Cristo, apenas quando comparecem ao culto, movidos muito mais pelo condicionamento social do que pelo propósito de buscar inspiração para um comportamento mais nobre e puro, o que significaria estar com Jesus em todos os momentos.

Essa presença nas igrejas, marcada pela ausência do esforço íntimo de comunhão com o Cristo, tem mantido considerável parcela das comunidades religiosas muito próximo da intemperança dos gentios, que se empolgam exclusivamente por interesses e prazeres imediatistas.

Sendo a Doutrina Espírita a mensagem nova que revive o Cristianismo com a linguagem da razão, alertando-nos quanto à extensão de nossas responsabilidades diante da Vida, seria de esperar-se dos espíritas um comportamento diferente. É preciso considerar, entretanto, que fomos os cristãos distraídos de ontem e, lembrando André Luiz, contra a pálida réstia de luz que há em nós hoje, representada pelo conhecimento da Terceira Revelação, há montanhas de trevas acumuladas no passado inconsequente.

Por isso, revivem os Centros Espíritas os mesmos dramas do Cristianismo de sempre, com a participação de velhos cristãos de hora certa, que fazem das reuniões doutrinárias e mediúnicas um novo culto exterior, marcado pela procura de favores da Espiritualidade, totalmente desligados de qualquer propósito mais edificante.

Semelhantes males atingem até mesmo os que participam ativamente das instituições espíritas, os quais, não obstante dispostos ao trabalho, andam distraídos de suas responsabilidades, criando variados problemas com um comportamento distanciado da ética espírita, que prevê para o servidor o cumprimento das virtudes evangélicas como roteiro indispensável, a fim de que valorize o serviço e desempenhe com proveito suas tarefas.

E quando chamados à razão, convocados à reformulação de suas atitudes, estes companheiros usam o velho e surrado argumento: “Não esperem muito de mim!

Estou apenas tentando ser espírita! Ainda sou fraco e pecador”!

Assim o colaborador da obra assistencial explica a agressividade com que fere os beneficiários de seu trabalho e complica o relacionamento com os companheiros...

Assim o expositor doutrinário justifica vícios e mazelas que invalidam sua mensagem...

Assim o diretor de instituição espírita desculpa seus deslizes morais e falhas de comportamento, que o situam no lamentável farisaísmo religioso.

Talvez estes companheiros amem a Doutrina Espírita, o Consolador prometido por Jesus, a luz bendita que explica a Vida e lhe empresta objetivo e significado, mas, no fundo, amam muito mais a si mesmos. Assim, comprometem-se e comprometem as tarefas a que foram chamados, invertendo a recomendação evangélica: ao invés de renunciar a si mesmos para seguir o Cristo, renunciam ao Cristo para seguir a si mesmos.

Somente superaremos semelhantes males na medida em que nos conscientizarmos de que a jornada na Terra tem objetivos inadiáveis, que poderiam ser resumidos numa única palavra: RENOVAÇÃO.

É para vencer milenárias tendências inferiores, impulsos primitivos de animalidade que se manifestam na forma de agressividade e violência, sensualidade e vício, inconsequência e desatino, que estamos na carne, lutando e sofrendo, enfrentando, em regime de pagamento compulsório, velhas dívidas; reencontrando velhos desafetos para ensaiar perdão; revivendo velhas situações que marcaram nossas quedas no pretérito, a se apresentarem como testes de nossas aquisições morais.

O roteiro de nossa vitória é exatamente esse empenho de reformulação, a derrubada do homem velho, eivado de imperfeições, para o nascimento do homem novo a que se refere Paulo, “criado à imagem de Deus, em justiça e retidão procedentes da Verdade”.

Se não buscarmos essa renovação, pouco produziremos, por melhores que sejam nossas intenções, porquanto faltará amor e integridade em nós. A nossa vida será uma mentira, a nossa virtude recenderá a mistificação, a nossa procura redundará em decepção, a nossa palavra soará sem eco, sem que jamais consigamos edificar os corações e, o que é pior, sem que jamais nos sintamos realizados e felizes.

 

Richard Simonetti – Livro: Em busca do Homem Novo

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Se soubéssemos

 “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Jesus (Lucas, 23 :34)

 

Se o homicida conhecesse, de antemão, o tributo de dor que a vida lhe cobrará, no reajuste do seu destino, preferiria não ter braços para desferir qualquer golpe.

Se o caluniador pudesse eliminar a crosta de sombra que lhe enlouquece a visão, observando o sofrimento que o espera no acerto de contas com a verdade, paralisaria as cordas vocais ou imobilizaria a pena, a fim de não se confiar à acusação descabida.

Se o desertor do bem conseguisse enxergar as perigosas ciladas com que as trevas lhe furtarão o contentamento de viver, deter-se-ia feliz, sob as algemas santificantes dos mais pesados deveres.

Se o ingrato percebesse o fel de amargura que lhe invadirá, mais tarde, o coração, não perpetraria o delito da indiferença.

Se o egoísta contemplasse a solidão infernal que o aguarda, nunca se apartaria da prática infatigável da fraternidade e da cooperação.

Se o glutão enxergasse os desequilíbrios para os quais encaminha o próprio corpo, apressando a marcha para a morte, renderia culto invariável à frugalidade e à harmonia.

Se soubéssemos quão terrível é o resultado de nosso desrespeito às Leis Divinas, jamais nos afastaríamos do caminho reto.

Perdoa, pois, a quem te fere e calunia...

Em verdade, quantos se rendem às sugestões perturbadoras do mal, não sabem o que fazem.

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 038

Oração - Santo Agostinho

 



Ouvi, Senhor, minha oração, para que não desfaleça minha alma sob a tua lei, nem me canse em confessar tuas misericórdias, com as quais me arrancaste de meus perversos caminhos; que tua doçura sobrepuje todas as doçuras que segui, e assim te ame fortissimamente, e abrace tua mão com toda minha alma, e me livres de toda a tentação até o fim dos meus dias.

Pois é, Senhor, meu rei e meu Deus, e a ti consagro quanto falo, escrevo, leio e conto, pois quando aprendia aquelas futilidades, tu eras o que me davas a verdadeira disciplina, e já me perdoaste os pecados de deleite cometidos naquelas vaidades. Muitas palavras úteis aprendi nelas, é verdade; porém, estas também se podem aprender em estudos sérios, e este é o caminho seguro pelo qual deveriam encaminhar as crianças.

Santo Agostinho – Livro: Confissões – Capítulo XV

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Retorno presencial da evangelização infantojuvenil

 


Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos


 Introdução

A rapidez com que se propagaram, em todas as partes do mundo, os estranhos fenômenos das manifestações espíritas é uma prova evidente do interesse que despertam. A princípio simples objeto de curiosidade, não tardaram a chamar a atenção de homens sérios que neles vislumbraram, desde o início, a influência inevitável que viriam a ter sobre o estado moral da sociedade. As novas ideias que surgem desses fenômenos popularizam-se cada dia mais, e nada lhes pode deter o progresso, pela simples razão de que estão ao alcance de todos, ou de quase todos, e nenhum poder humano lhes impedirá que se manifestem. Se os abafam aqui, reaparecem em cem outros pontos. Aqueles, pois, que neles vissem um inconveniente qualquer, seriam constrangidos, pela própria força dos fatos, a sofrer-lhes as consequências, como sói acontecer às indústrias novas que, em sua origem, ferem interesses particulares, logo absorvidos, pois não poderia ser de outro modo. O que já não se fez e disse contra o magnetismo! Entretanto, todos os raios lançados contra ele, todas as armas com que foi ferido, mesmo o ridículo, esboroaram-se ante a realidade e apenas serviram para colocá-lo ainda mais em evidência.

É que o magnetismo é uma força natural e, perante as forças da Natureza, o homem é um pigmeu, semelhante a cachorrinhos que ladram inutilmente contra tudo que os possa amedrontar.

Dá-se com as manifestações espíritas a mesma coisa que se dá com o sonambulismo: se não se produzirem à luz do dia e publicamente, ninguém impedirá que ocorram na intimidade, pois cada família pode descobrir um médium entre seus membros, das crianças aos velhos, assim como pode encontrar um sonâmbulo.

Quem, pois, poderá impedir que a primeira pessoa que encontremos seja médium e sonâmbula? Sem dúvida, os que o combatem não refletiram nisto. Insistimos: quando uma força está na Natureza, pode-se detê-la por um instante, porém, jamais aniquilá-la! Seu curso apenas poderá ser desviado. Ora, a força que se revela no fenômeno das manifestações, seja qual for a sua causa, está na Natureza, da mesma forma que o magnetismo, e não poderá ser exterminada, como a força elétrica também não o será. O que importa é que seja observada e estudada em todas as suas fases, a fim de se deduzirem as leis que a regem. Se for um erro, uma ilusão, o tempo fará justiça; se, porém, for verdadeira, a verdade é como o vapor: quanto mais se o comprime, tanto maior será a sua força de expansão.

Causa justa admiração que, enquanto na América, somente os Estados Unidos possuem dezessete jornais consagrados a esse assunto, sem contar um sem número de escritos não periódicos, a França, o país da Europa onde tais ideias mais rapidamente se aclimataram, não possui nenhum.  Não se pode contestar a utilidade de um órgão especial, que ponha o público a par do progresso desta nova Ciência e o previna contra os excessos da credulidade, bem como do cepticismo. É essa lacuna que nos propomos preencher com a publicação desta Revista, visando a oferecer um meio de comunicação a todos quantos se interessam por estas questões, ligando, através de um laço comum, os que compreendem a Doutrina Espírita sob o seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade evangélica para com todos.

Se não se tratasse senão de uma coleta de fatos, a tarefa seria fácil; eles se multiplicam em toda parte com tal rapidez que não faltaria matéria; mas os fatos, por si mesmos, tornam-se monótonos pela repetição e, sobretudo, pela similitude. O que é necessário ao homem racional é algo que lhe fale à inteligência.

Poucos anos se passaram desde o surgimento dos primeiros fenômenos, e já estamos longe da época das mesas girantes e falantes, que foram suas manifestações iniciais. Hoje, é uma ciência que revela todo um mundo de mistérios, tornando patentes as verdades eternas que apenas pelo nosso espírito eram pressentidas; é uma doutrina sublime, que mostra ao homem o caminho do dever, abrindo o mais vasto campo até então jamais apresentado à observação filosófica. Nossa obra seria, pois, incompleta e estéril se nos mantivéssemos nos estreitos limites de uma revista anedótica, cujo interesse rapidamente se esgotasse.

Talvez nos contestem a qualificação de ciência, que damos ao Espiritismo. Certamente não teria ele, em nenhum caso, as características de uma ciência exata, e é precisamente aí que reside o erro dos que o pretendem julgar e experimentar como uma análise química ou um problema matemático; já é bastante que seja uma ciência filosófica.

Toda ciência deve basear-se em fatos, mas os fatos, por si sós, não constituem a ciência; ela nasce da coordenação e da dedução lógica dos fatos: é o conjunto de leis que os regem. Chegou o Espiritismo ao estado de ciência? Se por isto se entende uma ciência acabada, seria sem dúvida prematuro responder afirmativamente; entretanto, as observações já são hoje bastante numerosas para nos permitirem deduzir, pelo menos, os princípios gerais, onde começa a ciência.

O exame raciocinado dos fatos e das consequências que deles decorrem é, pois, um complemento sem o qual nossa publicação seria de medíocre utilidade, não oferecendo senão um interesse muito secundário para quem quer que reflita e queira inteirar-se daquilo que vê. Todavia, como nosso fim é chegar à verdade, acolheremos todas as observações que nos forem dirigidas e tentaremos, tanto quanto no-lo permita o estado dos conhecimentos adquiridos, dirimir as dúvidas e esclarecer os pontos ainda obscuros. Nossa Revista será, assim, uma tribuna livre, em que a discussão jamais se afastará das normas da mais estrita conveniência. Numa palavra: discutiremos, mas não disputaremos. As inconveniências de linguagem nunca foram boas razões aos olhos de pessoas sensatas; é a arma dos que não possuem algo melhor, voltando-se contra aqueles que dela se servem.

Embora os fenômenos de que nos ocupamos se tenham produzido, nos últimos tempos, de maneira mais geral, tudo prova que têm ocorrido desde as eras mais recuadas. Não há fenômenos naturais nas invenções que acompanham o progresso do espírito humano; desde que estejam na ordem das coisas, sua causa é tão velha quanto o mundo e os seus efeitos devem ter-se produzido em todas as épocas. O que testemunhamos, hoje, portanto, não é uma descoberta moderna: é o despertar da Antiguidade, desembaraçada do envoltório místico que engendrou as superstições; da Antiguidade esclarecida pela civilização e pelo progresso nas coisas positivas.

A consequência capital que ressalta desses fenômenos é a comunicação que os homens podem estabelecer com os seres do mundo incorpóreo e, dentro de certos limites, o conhecimento que podem adquirir sobre o seu estado futuro. O fato das comunicações com o mundo invisível encontra-se, em termos inequívocos, nos livros bíblicos; mas, de um lado, para certos céticos, a Bíblia não tem autoridade suficiente; por outro lado, para os crentes, são fatos sobrenaturais, suscitados por um favor especial da Divindade. Não haveria aí, para todo o mundo, uma prova da generalidade dessas manifestações, se não as encontrássemos em milhares de outras fontes diferentes. A existência dos Espíritos, e sua intervenção no mundo corpóreo, está atestada e demonstrada não mais como um fato excepcional, mas como um princípio geral, em Santo Agostinho, São Jerônimo, São João Crisóstomo, São Gregório Nazianzeno e tantos outros Pais da Igreja. Essa crença forma, além disso, a base de todos os sistemas religiosos. Admitiram-na os mais sábios filósofos da Antiguidade: Platão, Zoroastro, Confúcio, Apuleio, Pitágoras, Apolônio de Tiana e tantos outros. (...)

Sejam quais forem os absurdos que cercam essa crença e a desfiguram segundo os tempos e os lugares, não se pode discordar de que ela parte de um mesmo princípio, mais ou menos deturpado.

Ora, uma doutrina não se torna universal, não sobrevive a milhares de gerações, não se implanta de um polo a outro, entre os povos mais diversificados, pertencentes a todos os graus da escala social, se não estiver fundada em algo de positivo. O que será esse algo? É o que nos demonstram as recentes manifestações. Procurar as relações que possam existir entre tais manifestações e todas essas crenças, é buscar a verdade. A história da Doutrina Espírita, de certo modo, é a história do espírito humano; teremos que estudá-la em todas as fontes, que nos fornecerão uma mina inesgotável de observações tão instrutivas quão interessantes, sobre fatos geralmente pouco conhecidos. Essa parte nos dará oportunidade de explicar a origem de uma porção de lendas e de crenças populares, delas destacando o que toca a verdade, a alegoria e a superstição.

No que concerne às manifestações atuais, daremos explicação de todos os fenômenos patentes que testemunharmos ou que chegarem ao nosso conhecimento, quando nos parecerem merecer a atenção de nossos leitores. De igual modo o faremos em relação aos efeitos espontâneos que por vezes se produzem entre pessoas alheias às práticas espíritas e que revelam, seja a ação de um poder oculto, seja a emancipação da alma; tais são as visões, as aparições, a dupla vista, os pressentimentos, os avisos íntimos, as vozes secretas, etc. À narração dos fatos acrescentaremos a explicação, tal como ressalta do conjunto dos princípios. A respeito faremos notar que esses princípios decorrem do próprio ensinamento dado pelos Espíritos, fazendo sempre abstração de nossas próprias ideias. Não será, pois, uma teoria pessoal que exporemos, mas a que nos tiver sido comunicada e da qual não seremos senão meros intérpretes.

Um grande espaço será igualmente reservado às comunicações escritas ou verbais dos Espíritos, sempre que tiverem um fim útil, assim como às evocações de personagens antigas ou modernas, conhecidas ou obscuras, sem negligenciar as evocações íntimas que, muitas vezes, não são menos instrutivas; numa palavra: abarcaremos todas as fases das manifestações materiais e inteligentes do mundo incorpóreo.

A Doutrina Espírita nos oferece, enfim, a única solução possível e racional de uma multidão de fenômenos morais e antropológicos, dos quais somos testemunhas diariamente e para os quais se procuraria, inutilmente, a explicação em todas as doutrinas conhecidas. Nesta categoria classificaremos, por exemplo, a simultaneidade de pensamentos, a anomalia de certos caracteres, as simpatias e antipatias, os conhecimentos intuitivos, as aptidões, as propensões, os destinos que parecem marcados pela fatalidade e, num quadro mais geral, o caráter distintivo dos povos, seu progresso ou sua degenerescência, etc. À citação dos fatos acrescentaremos a pesquisa das causas que os poderiam ter produzido. Da apreciação desses fatos ressaltarão, naturalmente, ensinamentos úteis quanto à linha de conduta mais conforme à sã moral. Em suas instruções, os Espíritos Superiores têm sempre por objetivo despertar nos homens o amor do bem, através dos preceitos evangélicos; por isso mesmo eles nos traçam o pensamento que deve presidir à redação dessa coletânea.

Nosso quadro, como se vê, compreende tudo quanto se liga ao conhecimento da parte metafísica do homem; estudá-la-emos em seu estado presente e no futuro, porquanto estudar a natureza dos Espíritos é estudar o homem, tendo em vista que ele deverá fazer parte, um dia, do mundo dos Espíritos. Eis por que acrescentamos, ao nosso título principal, o de jornal de estudos psicológicos, a fim de fazer compreender toda a sua importância. (...)

 

Allan Kardec- Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - janeiro/1858

 

01 de janeiro de 1858 – lançamento da Revue Spirite

Na obra regenerativa

 “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, orientai-o com espírito de mansidão, velando por vós mesmos para que não sejais igualmente tentados”. Paulo (Gálatas, 6:1)

 

Se tentamos orientar o irmão perdido nos cipoais do erro, com aguilhões de cólera, nada mais fazemos que lhe despertar a ira contra nós mesmos.

Se lhe impusermos golpes, revidará com outros tantos.

Se lhe destacamos as falhas, poderá salientar os nossos gestos menos felizes.

Se opinamos para que sofra o mesmo mal com que feriu a outrem, apenas aumentamos a percentagem do mal, em derredor de nós.

Se lhe aplaudimos a conduta errônea, aprovamos o crime.

Se permanecemos indiferentes, sustentamos a perturbação.

Mas se tratarmos o erro do semelhante, como quem cogita de afastar a enfermidade de um amigo doente, estamos, na realidade, concretizando a obra regenerativa.

Nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio.

Se não é justo atirar petróleo às chamas, com o propósito de apagar a fogueira, ninguém cura chagas com a projeção de perfume.

Sejamos humanos, antes de tudo.

Abeiremo-nos do companheiro infeliz, com os valores da compreensão e da fraternidade.

Ninguém perderá, exercendo o respeito que devemos a todas as criaturas e a todas as coisas.

Situemo-nos na posição do acusado e reflitamos se, nas condições dele, teríamos resistido às sugestões do mal. Relacionemos as nossas vantagens e os prejuízos do próximo, com imparcialidade e boa intenção.

Toda vez que assim procedermos, o quadro se modifica nos mínimos aspectos.

De outro modo será sempre fácil zurzir e condenar, para cairmos, com certeza, nos mesmos delitos, quando formos, por nossa vez, visitados pela tentação.

 Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 037

Prece da mocidade cristã

 

Senhor!

Ensina-me a servir ao próximo para que eu aprenda a servir-Te.

Não me abandones à vontade das experiências inferiores, nem me confies aos meus próprios desejos.

Venho hoje ao encontro do Teu Evangelho de Luz, mas trago no coração a sombra em que respirei até ontem.

Mestre, querer é poder, todavia, induz-me a querer o Bem para que o mal não me inutilize.

Fazei-me sentir que somente os meios retos conduzem aos fins corretos.

Dá-me a cultura da inteligência e do coração.

Não me deixe vaguear na razão da força para que a força da razão me auxilie a discernir.

Guia-me os propósitos para que a minha coragem não seja petulância e para que a minha humildade não seja abjeção.

Fortalece-me o pensamento no estudo e guarda minhas mãos no trabalho digno.

Mostra-me o amor que brilha no espírito, acima do nevoeiro da carne, a fim de que não me precipite na voragem da ilusão.

Inspira-me o respeito aos companheiros mais velhos que me dirigem os passos, para que a irreverência não me conduza ao escárnio de meu próprio caminho.

Inspira-me a compreensão, a diligência e a fraternidade!

Ampara-me na conquista do prêmio do dever bem cumprido.

Sustenta-me para que eu seja fiel ao Bem e ensina-me que, à claridade da Tua Bênção, depende apenas de mim que eu seja pior ou melhor, hoje e amanhã!

Auxilia, perdoa, trabalha, ama e serve, gastando sensatamente os recursos que o Céu te situou no caminho e nas mãos, como quem sabe que a Contabilidade Divina a todos nos procura no grave instante do acerto justo.

Bezerra de Menezes / Chico Xavier – Livro: Mentores e seareiros