sábado, 12 de março de 2022

A lenda da guerra

Quando o primeiro pastor de almas se elevou da Terra, no carro da morte, o Senhor esperou-o no Trono de Justiça e Misericórdia, de modo a ouvir-lhe o relatório alusivo às ovelhas do mundo.
Nos céus, aves felizes entoavam cânticos à paz, enquanto serafins tangiam harmoniosas citaras ao longe...

Tudo era esperança e júbilo no paraíso; no entanto, o pastor, que fora também no Planeta Terrestre o primeiro homem bom, trazia consigo dolorosa expressão de amargura. Os cabelos brancos caíam-lhe em desalinho, seus pés e mãos tinham marcas sangrentas e de seus olhos fluíam lágrimas abundantes.

O Todo-Poderoso recebeu-o, surpreendido.

O ancião inclinou-se, reverente; saudou-o, respeitoso, e manteve-se em profundo silêncio.

As interrogações paternais, todavia, explodiram afetuosas.

Como seguia o rebanho da Terra? Observa-se o regulamento da Natureza? Atendia-se ao caminho traçado? Havia suficiente respeito na vida de todos? Bastante compreensão no serviço individual?

– Conforme o desdobramento dos negócios terrestres, abriria novos horizontes ao progresso dos homens. O dever bem vivido conferiria mais extenso direito às criaturas.

O velhinho, contudo, ouvia e chorava.

Mais austeramente inquirido, respondeu, soluçando:

- Ai de mim, Senhor! As ovelhas que me confiastes, segundo me parece, trazem corações de animais cruéis. A maioria tem gestos de lobos, algumas revelam a dureza do tigre e outros a peçonha de víboras ingratas...

- Oh!... Oh!...

Gritos de admiração partiam de todos os lados.

De fisionomia severa, embora serena, o Senhor perguntou:

- Não têm as ovelhas a dádiva do corpo para o sublime aprendizado na escola terrestre?

- Sim – suspirou o ancião -, mas desprezam-no e insultam-no, todos os dias, através do relaxamento e da viciação.

- Não possuem a casa, o ninho doce que lhes dei?

- Mas fazem do campo doméstico verdadeiro reduto de hostilidades cordiais, no qual se combatem mutuamente, a distância do entendimento e do perdão.

- Não guardam a bênção do parentesco entre si?

- Transformam os elos consanguíneos em telas grossas de egoísmo, dentro das quais se escarneceram.

- E os filhinhos? Não conservam o sorriso das crianças?

- Convertem as ovelhinhas em pequenos demônios de vaidade, que perturbam todo o rebanho no curso do tempo.

- A pátria? Não lhes concedi o grande lar para a expansão coletiva?

- Cristalizam a ideia de pátria em absurdo propósito de dominação, espalhando em seu nome a miséria e a morte.

- E o amor? Determinei que o amor lhes constituísse sagrada lâmpada no caminho da vida...

- Perfeitamente – prosseguiu o pastor, desalentado -; entretanto, o amor para eles representa máquina de gozar na esfera física; quando levemente contrariados em seus jogos de ilusão, odeiam e ferem...

- A verdade? – Tornou o Senhor, compassivo.

- Somente acreditam nela e aceitam-na, se os seus interesses imediatos, mesmo quando criminosos, não são prejudicados.

- E não te ouvem os ensinos, inspirados por meu coração?

O velhinho sorriu pela primeira vez, em meio da infinita amargura a lhe transparecer do rosto, e acentuou:

- De modo algum. Recebem-me com indisfarçável sarcasmo. Preferem aprender em queda espetacular no despenhadeiro, que ouvir minha voz.

- Mas, não combinam entre si, quanto aos interesses de todos?

- Não. Muita vez se mordem uns aos outros.

- Não estabelecem acordos pacíficos com os vizinhos?

- Intensificam as discórdias, atiram pedras ao próximo e o crime costuma ser o juiz de suas disputas.

- Todavia – continuou o Misericordioso -, e a Natureza que os cerca? Porventura, não lhes falam ao coração a claridade do Sol, a bênção do ar, a bondade da água, a carícia do vento, a cooperação dos animais, a proteção do arvoredo, o perfume das flores, a sabedoria da semente e a dádiva dos frutos?!...

- Infelizmente – esclareceu o ancião -, vagueiam como cegos e surdos, ante o concerto harmonioso de vossas graças, e oprimem a Natureza simbolizando gênios do mal, destruidores e despóticos.

- E a morte? – Indagou o Altíssimo – não temem a justiça do fim?

- Parecem ignorá-la; peregrinam na Crosta do Planeta como duendes loucos, embriagados de ilusão, indiferentes ao vosso amor, endurecidos para com vossa orientação, despreocupados de vossa justiça...

Nesse momento, o Senhor Todo-Poderoso mostrou-se igualmente entristecido. Após meditar alguns minutos, falou ao pastor em pranto:

- Não chores, nem te desespere. Volta à Terra e retoma o teu trabalho. Outros companheiros contribuirão em teu ministério, encaminhando, corrigindo, refazendo e amando em meu nome...

Alguém, contudo, estará presente no mundo, colaborando contigo e com os demais para que as minhas ovelhas infelizes compreendam a estrada do aprisco pela dor.

Em seguida, cumprindo ordens divinas, alguns anjos desceram aos infernos e libertaram perigoso monstro sem olhos e sem ouvidos, mas com milhões de garras e bocas.

Foi então que, desde esse dia, o monstro cego e surdo da guerra acompanha os pastores do bem, a fim de exterminar, em tormentas de suor e lágrimas, tudo o que, na Terra, constitua obra de vaidade e orgulho, egoísmo e tirania dos homens, contrários aos sublimes desígnios de Deus.

 

Irmão X / Chico Xavier – Livro Estante da Vida

Linguagem

 “Linguagem sã e irrepreensível para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós”. Paulo (Tito, 2:8)

 

Através da linguagem, o homem ajuda-se ou se desajuda.

Ainda mesmo que o nosso íntimo permaneça nevoado de problemas, não é aconselhável que a nossa palavra se faça turva ou desequilibrada para os outros.

Cada qual tem o seu enigma, a sua necessidade e a sua dor e não é justo aumentar as aflições do vizinho com a carga de nossas inquietações.

A exteriorização da queixa desencoraja, o verbo da aspereza vergasta, a observação do maldizente confunde...

Pela nossa manifestação mal conduzida para com os erros dos outros, afastamos a verdade de nós.

Pela nossa expressão verbalista menos enobrecida, repelimos a bênção do amor que nos encheria do contentamento de viver.

Tenhamos a precisa coragem de eliminar, por nós mesmos, os raios de nossos sentimentos e desejos descontrolados.

A palavra é canal do "eu".

Pela válvula da língua, nossas paixões explodem ou nossas virtudes se estendem.

Cada vez que arrojamos para fora de nós o vocabulário que nos é próprio, emitimos forças que destroem ou edificam, que solapam ou restauram, que ferem ou balsamizam.

Linguagem, a nosso entender, se constitui de três elementos essenciais: expressão, maneira e voz.

Se não aclaramos a frase, se não apuramos o modo e se não educamos a voz, de acordo com as situações, somos suscetíveis de perder as nossas melhores oportunidades de melhoria, entendimento e elevação.

Paulo de Tarso fornece a receita adequada aos aprendizes do Evangelho.

Nem linguagem doce demais, nem amarga em excesso. Nem branda em demasia, afugentando a confiança, nem áspera ou contundente, quebrando a simpatia, mas sim "linguagem sã e irrepreensível para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós".

 

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 043

sábado, 5 de março de 2022

Mais Luz - Edição 568 - 06/03/2022

 Confira nesta edição: 

  • Inquebrantável fibra
  • Ante o Evangelho: Os infortúnios ocultos
  • Poema: A mulher brasileira
  • Por um pouco – Fonte Viva
  • Oração da mulher – Meimei

 Clique:

https://mailchi.mp/f1c938b907be/inquebrantvel-fibra

Inquebrantável fibra

 


A sua vida foi uma trajetória de formidáveis realizações, constelada de belezas, capazes de deixar para o mundo o que há de mais sazonado, em termos de exemplo de enfibratura moral e talento intelectual, tudo isto, associado a uma sensibilidade expressiva.

Nascida num lar de poucos recursos, na cidade de Varsóvia, em 1867, na velha Polônia, abrigava na alma o anseio de estudar, de avançar e de ser útil à ciência e às criaturas humanas, suas irmãs da lida comum.

Após as oportunidades de estudar, que concedeu às irmãs mais jovens do que ela, que era a primogênita, seguiu para Paris, a fim de formar-se em ciências físicas, químicas e em matemática, o que logrou em pouco tempo, exitosamente.

Consorciada com o celebrado professor Pierre Curie, Marya Klodowska passará à história como a excelente Marie Curie, ou, simplesmente, Madame Curie.

Não obstante as condições de vida nada fáceis, desenvolveu-se como mulher, esposa, mãe e cientista, sem relegar nenhuma tarefa, sem abastardar-se, sem encharcar-se de materialismo, apaixonada pela vida, entusiasmada por tudo o que realizava.

Estudou, pesquisou, amou e converteu-se no único cientista a receber por duas vezes o prêmio Nobel, o que jamais ocorrera, até então.

Tendo sido a primeira mulher a tornar-se professora na Sorbonne, após a morte do marido, permaneceu vibrante e simples, compreendendo que a missão que Deus delega à mulher é sempre de caráter especial e sublime, para que ela se perca nos vales de ilusões e sombras do mundo.

Após anos de ingentes lutas por alcançar os seus objetivos, após ser alvo das homenagens de inumeráveis instituições universitárias e científicas pelo mundo, conclui seus dias na reencarnação, assinalada pela grave enfermidade que o excesso de radiações, oriundas dos minérios que examinava, sem os necessários cuidados, hoje existentes, lhe impusera.

Do hospital suíço de Sancellemoz, Marie Curie pode contemplar, ainda no corpo físico, os resultados maravilhosos do seu labor em prol do crescimento da Humanidade inteira.

Para que a mulher estude, não precisa negligenciar o lar.

Para que se desenvolva intelectualmente, não necessita rechaçar os filhos.

Para que seja independente e se faça grandiosa, não carecerá de abrir mão do seu valor moral, estribado na ética do bem e do amor.

Se se levantarem, em toda parte, valores femininos com essa inquebrantável fibra de Madame Curie, e de outras mulheres excelentíssimas, com certeza a ciência será tocada pela sensibilidade da alma, os filhos não serão relegados para a realização profissional de suas progenitoras, e, com a mente mais voltada para a sua função mais alta, a mulher não se deixará explorar tanto, pela indústria da prostituição e da loucura, que toma conta da Terra, nesses tempos definidores dos verdadeiros valores da alma.

Francisco de Paula Vitor / José Raul Teixeira – Livro: Vida e Mensagem

 

Nota da Equipe de Divulgação:

À guisa de informação, foi Madame Curie quem desenvolveu a teoria da "radioatividade" (um termo que ela cunhou), técnicas para isolar isótopos radioativos.

Marie e Pierre Curie apresentam ao mundo científico a descoberta de dois novos elementos químicos, o polônio e o rádio. Com essas pesquisas, Pierre, em particular, verificou que a radiação podia matar células de tecido doente, ou seja, iniciou o estudo da radioterapia. Sob a direção de Madame Curie, foram conduzidos os primeiros estudos para o tratamento de neoplasias usando isótopos radioativos. (Fonte: Google)

quinta-feira, 3 de março de 2022

Por um pouco

 

“Escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado”. Paulo (Hebreus, 11:25)


Nesta passagem refere-se Paulo à atitude de Moisés, abstendo-se de gozar por um pouco de tempo das suntuosidades da casa do Faraó, a fim de consagrar-se à libertação dos companheiros cativos, criando imagem sublime para definir a posição do espírito encarnado na Terra.

"Por um pouco", o administrador dirige os interesses do povo.

"Por um pouco", o servidor obedece na subalternidade.

"Por um pouco", o usurário retém o dinheiro.

"Por um pouco", o infeliz padece privações.

Ah! Se o homem reparasse a brevidade dos dias de que dispõe na Terra! Se visse a exiguidade dos recursos com que pode contar no vaso de carne em que se movimenta...

Certamente, semelhante percepção, diante da eternidade, dar-lhe-ia novo conceito da bendita oportunidade, preciosa e rápida, que lhe foi concedida no mundo.

Tudo favorece ou aflige a criatura terrestre, simplesmente por um pouco de tempo.

Muita gente, contudo, vale-se dessa pequenina fração de horas para complicar-se por muitos anos.

É indispensável fixar o cérebro e o coração no exemplo de quantos souberam glorificar a romagem apressada no caminho comum.

Moisés não se deteve a gozar, "por um pouco", no clima faraônico, a fim de deixar-nos a legislação justiceira.

Jesus não se abalançou a disputar, nem mesmo "por um pouco", em face da crueldade de quantos o perseguiam, de modo a ensinar-nos o segredo divino da Cruz com Ressurreição Eterna.

Paulo não se animou a descansar "por um pouco", depois de encontrar o Mestre às portas de Damasco, de maneira a legar-nos seu exemplo de trabalho e fé viva.

Meu amigo, onde estiveres, lembra-te de que aí permaneces "por um pouco" de tempo. Modera-te na alegria e conforma-te na tristeza, trabalhando sem cessar, na extensão do bem, porque é na demonstração do "pouco" que caminharás para o "muito" de felicidade ou de sofrimento.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 042

Oração da mulher


Missionária da vida! 

Ampara o homem para que o homem te ampare!

Não te corrompas no prazer e nem te mergulhes no vício.

A felicidade da Terra depende de ti, como o fruto depende da árvore.

Mãe – sê o anjo do lar.

Esposa – auxilia sempre.

Companheira – acende o lume da esperança.

Irmã – sacrifica-te e ajuda.

Mestra – ilumina o caminho.

Enfermeira – compadece-te.

Fonte sublime, se as feras do mal te poluírem as águas, imita a corrente cristalina que, no serviço infatigável a todos, expulsa do próprio seio a lama que lhe atiram.

Por mais que te aflijam as dificuldades, não te entregues à tristeza ou ao desânimo.

Lembra os órfãos, os doentes, os velhos e os desvalidos da estrada, que esperam por teus braços; e sorri com serenidade para a luta.

Deixa que o trabalho tanja as cordas celestes do teu sentimento para que não falte a música da harmonia aos pedregosos trilhos da existência terrestre.

Teu coração é uma estrela encarcerada.

Não lhe apague a luz, para que o amor resplandeça sobre as trevas.

- Eleva-te, elevando-nos...

Não te esqueças de que trazes nas mãos a chave da vida, porque a chave da vida é a glória de Deus!

 

Meimei / Chico Xavier – Livro: Mãe

Os Pacificadores | Mahatma Gandhi