sábado, 19 de dezembro de 2020

Filhos da luz

 

“Andai como filhos da luz.” Paulo (Efésios, 5:8)


Cada criatura dá sempre notícias da própria origem espiritual.

Os atos, palavras e pensamentos constituem informações vivas da zona mental de que procedemos.

Os filhos da inquietude costumam abafar quem os ouve, em mantos escuros de aflição.

Os rebentos da tristeza espalham o nevoeiro do desânimo.

Os cultivadores da irritação fulminam o espírito da gentileza com os raios da cólera.

Os portadores de interesses mesquinhos ensombram a estrada em que transitam, estabelecendo escuro clima nas mentes alheias.

Os corações endurecidos geram nuvens de desconfiança, por onde passam.

Os afeiçoados à calúnia e à maledicência distribuem venenosos quinhões de trevas com que se improvisam grandes males e grandes crimes.

Os cristãos, todavia, são filhos da luz.

E a missão da luz é uniforme e insofismável.

Beneficia a todos sem distinção.

Não formula exigências para dar.

Afasta as sombras sem alarde.

Espalha alegria e revelação crescentes.

Semeia renovadas esperanças.

Esclarece, ensina, ampara e irradia-se.

Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap. 160


sábado, 12 de dezembro de 2020

Reflexões de dezembro - II

 


Mais um ano que finda, no calendário humano, mais um período de variadas experiências na trajetória de cada um, convidando-nos a levantar os olhos para o mais além.

Para muitos é hora apropriada para refletir sobre o passado e planejar o futuro imediato, na busca do crescimento espiritual. Para outros é tão somente a hora da continuação das ilusões dominantes na maioria dos habitantes deste Planeta.

Quantos acontecimentos ocorridos no mundo, neste pequeno período!

Quantos deles afetaram-nos diretamente, influindo sobre nosso círculo de relações ou sobre o meio social em que vivemos!

Quantas palavras ouvimos, lemos e dissemos, quantos pensamentos e ações, justos e injustos, partiram de nós, ou passaram por nossa apreciação.

Impossível realizar um inventário de tudo o que aconteceu no mundo, conosco ou ao redor de nós, nesse lapso de tempo.

Para o espírita, que já tem um rumo certo a seguir, que já aprendeu o que é essencial no seu comportamento, que sabe distinguir entre o primordial e o secundário, não mais se deixando dominar pelas ilusões que levam à perda de tempo e às inutilidades, um ano de vida pode representar um bom avanço ou um desagradável atraso em sua trajetória evolutiva.

Precisamos esquecer as experiências negativas e aproveitar quantas nos mostrem os deveres e obrigações que engrandecem a existência.

Nesse balancete permanente de pensamentos, palavras e ações, precisamos não só reter o ensino sintético do Cristo sobre o Amor soberano, compreendendo toda a lei – amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo – mas aplicá-lo nas experiências de cada dia.

Os espíritas temos consciência de nossa inferioridade e de nossas imperfeições, como habitantes de um mundo atrasado, de provas e expiações.

Por isso mesmo a Doutrina Consoladora não exige de nós a perfeição, mas induz-nos ao esforço para que nos aperfeiçoemos moral e intelectualmente, tornando-nos sempre melhores.

O que não se coaduna com o caráter e a índole da Doutrina é a preocupação do adepto em apenas conhecê-la, enriquecendo-se intelectualmente, mas sem esforçar-se por vivenciá-la, acordando para a luz e para o bem, no cultivo dos sentimentos que enobrecem o coração.

Nunca será demasiado repetir que o objetivo final do Espiritismo é a transformação interior, espiritual, do indivíduo. O conhecimento da Doutrina é o passo inicial do processo educativo, ou reeducativo, de cada seguidor.

É uma ilusão julgar-se o adepto quite com seu dever pelo fato de estudar a Doutrina e aprofundar-se no seu conhecimento, sem preocupar-se com as consequências morais que daí advêm, a primeira das quais é justamente a vivência dos princípios ensinados por Jesus, em sua Mensagem.

Não há como dizer-se espírita, cristão, ou espírita-cristão se não houver esforço para viver de conformidade com o preceito evangélico do “amai-vos uns aos outros”.

Que dizer-se dos irmãos e companheiros espíritas que não se entendem, que preferem a divisão do Movimento, que acusam, digladiam, polemizam e esquecem totalmente o mandamento essencial do amor ao próximo?

“Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a sua língua, antes enganando o próprio coração, a sua religião é vã”. (Epístola de Tiago, cap. I, v. 26).

Se substituída a palavra religioso pela palavra espírita, a advertência do apóstolo é proveitosa e correta, mesmo para os adeptos que não aceitam o Espiritismo como religião, mas como doutrina moral.

Palavras...

Quantos adeptos da Doutrina Consoladora colocam-se como seus seguidores entusiastas baseados em interpretações verbais, esquecendo-se de que a legítima vinculação com os princípios renovadores não é problema de simples palavras, mas de esforço permanente na prática do amor!

*

Os aspectos morais da Doutrina Espírita fundem-se totalmente nas diretrizes contidas no Evangelho de Jesus. Os ensinos do Espiritismo, na interpretação da Espiritualidade Superior, sobre a Justiça, o Amor e a Caridade, que sintetizam todas as leis morais, são os mesmos do Mestre Incomparável.

Todos concordamos que não é fácil, para criaturas imperfeitas que somos todos os habitantes deste Orbe, o cumprimento de deveres morais para consigo mesmas, para com seus semelhantes mais próximos, para com toda a Humanidade e para com a Natureza que nos cerca.

A sincera adesão à Doutrina e ao Evangelho induz o aprendiz a aplicar sua vontade na eliminação de arestas e inclinações infelizes do próprio temperamento, a retificar conceitos e eliminar preconceitos arraigados, buscando assim melhor equilíbrio.

No que concerne a todos os seus semelhantes, na vida de relação, o esforço há que concentrar-se na prática do amor, que é a caridade tal como Jesus a conceituava: benevolência para com todos, indulgência para com as ações alheias e perdão das ofensas, sem limitações.

Convenhamos que o caminho indicado pelo Cristo para a redenção humana requer de criaturas imperfeitas muito esforço, persistência, firmeza, convicção e predisposição para repetir as experiências que não produziram os efeitos desejados.

O aprendiz sincero sabe que a Lei Divina é justa, equânime e misericordiosa. O que não se consegue hoje poderá ser realizado amanhã. O proveito está na razão direta do esforço e do sacrifício. A reencarnação é um dos mecanismos da lei. A dor e o sofrimento ajustam-se às vidas sucessivas. A toda ação, no bem ou no mal, corresponde uma reação.

O espírita, sabendo de todas essas regras da lei e de inúmeras outras que a Doutrina lhe proporciona, não é um privilegiado, mas uma criatura responsável pelo conhecimento que já detém.

Compete-lhe, pois, carregar a cruz simbólica dos testemunhos no Bem, renovando-se sempre, sem se deixar enganar pelas ilusões, pelo personalismo sustentado por vaidades, inveja, ciúmes, revoltas e fugas.

*

A renovação interior de cada um baseia-se no conhecimento das verdades evangélicas, sintetizadas no Amor, e na aplicação da própria vontade na busca dessas verdades.

A convicção, a fé, a esperança, como a perseverança, a humildade e todas as virtudes cristãs auxiliam a renovação.

Aquele que se dispõe a renovar-se intimamente, atendendo ao apelo da própria razão e ao incitamento do “amai-vos uns aos outros”, começa por abandonar, pouco a pouco, as paixões de que se tornou portador.

Aprender sempre, ajudar e servir seus semelhantes substituem seus interesses anteriores. Servir, eis a fórmula infalível de nos ajustar à Lei Divina e de repelir as tentações e os impulsos resultantes do egoísmo e do personalismo exagerado.

Para cada qual, será sempre melhor ajudar e auxiliar hoje, agora, nas circunstâncias que a vida oferece a todos, que necessitar de auxílio amanhã, pela própria incúria.

Nós, espíritas, como grande parte da Humanidade, aceitamos as vidas sucessivas, renascimentos na carne como um dos mecanismos da evolução individual. É a reencarnação lei divina.

Entretanto, por que não renascer continuamente, a cada dia e a cada hora, superando-se a si mesma nas imperfeições de que seja portadora a criatura?

Quem já conhece o caminho, aquele que é indicado pela luz da Doutrina Consoladora, dependendo de seu empenho e vontade firme, pode renovar-se sempre, na corrente do bem, em seus pensamentos e ações. É questão de aplicação e perseverança.

Todos sabemos, por experiência própria, quão difícil é reverter os sentimentos inferiores a respeito daqueles que nos ofendem ou ferem, às vezes injustamente.

Entretanto, contrariando frontalmente tradições milenares que precederam sua presença no Mundo, o Cristo de Deus sentenciou:

“Tendes ouvido que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos odeiam; orai pelos que vos perseguem e caluniam” (Mateus, 5:43-44).

A Doutrina Espírita sanciona integralmente o ensino do Cristo.

Não há outro caminho a seguir para terminar com as aversões, ódios, malquerenças, incompreensões senão o do amor e da compreensão, o do perdão e da indulgência para com aqueles que nos odeiam. A sabedoria do Cristo não só ensinou essa verdade como também a exemplificou.

*

O tempo flui sempre. Os homens o dividem, contam, convencionam: dias, horas, minutos; anos, séculos, milênios. Pura convenção, mas útil a todos nós.

Um ano que finda e outro que começa é ensejo para a renovação do ser e do fazer.

Para alcançar o grande ideal de nossa renovação, no campo da inteligência e dos sentimentos, não podemos dispensar o esforço de cada dia e de cada hora, num processo contínuo.


Juvanir Borges de Souza– Revista Reformador – dezembro/1998

Brilhar

 

“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.” Jesus (Mateus, 5:16)


 Admitem muitos aprendizes que brilhar será adquirir destacada posição em serviços de inteligência, no campo da fé.

Realmente, excluir a cultura espiritual, em seus diversos ângulos, da posição luminosa a que todos devemos aspirar, seria rematada insensatez.

Aprender sempre para melhor conhecer e servir é a destinação de quem se consagra fielmente ao Mestre Divino.

Urge, no entanto, compreender, no imediatismo da experiência humana, que se o Salvador recomendou aos discípulos brilhassem, à frente dos homens, não se esqueceu de acrescentar que essa claridade deveria resplandecer, de tal maneira, que eles nos vejam as boas obras, rendendo graças ao Pai, em forma de alegria com a nossa presença.

Ninguém se iluda com os fogos fátuos do intelectualismo artificioso.

Ensinemos o caminho da redenção, tracemos programas salvadores onde estivermos; brilhe a luz do Evangelho em nossa boca ou em nossa frase escrita, mas permaneçamos convencidos de que se esses clarões não descortinam as nossas boas obras, seremos invariavelmente recebidos no ouvido alheio e no alheio entendimento, entre a expectação e a desconfiança, porque somente em fundido pensamento, verbo e ação, no ensinamento do Cristo Jesus, haverá em torno de nós glorificação construtiva ao Nosso Pai que está nos Céus.

 Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.159

Remuneração espiritual

         

 "O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos." Paulo - II Timóteo, 2:6

 

Além do salário amoedado o trabalho se faz invariavelmente, seguido de remuneração espiritual respectiva, da qual salientamos alguns dos itens mais significativos: acende a luz da experiência; ensina-nos a conhecer as dificuldades e problemas do próximo, induzindo-nos, por isso mesmo, a respeitá-lo; promove a autoeducação; desenvolve a criatividade e a noção de valor do tempo; imuniza contra os perigos da aventura e do tédio; estabelece apreço em nossa área de ação; dilata o entendimento; amplia-nos o campo das relações afetivas; atrai simpatia e colaboração; extingue, a pouco e pouco, as tendências inferiores que ainda estejamos trazendo de existências passadas.

 Quando o trabalho, no entanto, se transforma em prazer de servir, surge o ponto mais importante da remuneração espiritual: toda vez que a Justiça Divina nos procura no endereço exato para execução das sentenças que lavramos contra nós próprios, segundo as leis de causa e efeito, se nos encontra em serviço ao próximo, manda a Divina Misericórdia que a execução seja suspensa, por tempo indeterminado.

 E, quando ocorre, em momento oportuno, o nosso contato indispensável com os mecanismos da Justiça Terrena, eis que a influência de todos aqueles a quem, porventura, tenhamos prestado algum benefício aparece em nosso auxílio, já que semelhantes companheiros se convertem espontaneamente em advogados naturais de nossa causa, amenizando as penalidades em que estejamos incursos ou suprimindo-as, de todo, se já tivermos resgatado em amor aquilo que devíamos em provação ou sofrimento, para a retificação e tranquilidade em nós mesmos.

 Reflitamos nisso e concluamos que trabalhar e servir, em qualquer parte, ser-nos-ão sempre apoio constante e promoção à Vida Melhor.

 

Emanuel / Chico Xavier – Livro: Perante Jesus

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Reflexões de dezembro

 


O mês de dezembro é, talvez, o mais propício para uma espécie de balanço de nossas realizações, de nossas aspirações e experiências de todo um período que se finda.

O último mês do ano é a época preferida para as avaliações das atividades individuais e coletivas, para que se firmem diretrizes ou se busquem novos caminhos.

Coincidentemente, é o mês em que se comemora a vinda do Cristo de Deus à Terra, trazendo sua Mensagem de Luz aos homens. Seu Natal é um convite à reflexão do que Ele representa para a Humanidade, do que é verdadeiramente essa Mensagem e o que significa para nós.

Os espíritas, que convivemos com os irmãos de diferentes credos e concepções de vida, aprendemos a respeitá-los, sem, contudo, aderir a usos e costumes que não se coadunam com os princípios da Doutrina Libertadora.

Somos todos regidos pela lei de evolução.

Cada um se encontra em determinado estágio evolutivo. Nesse caso, não podemos desprezar ou condenar nosso companheiro de jornada que ainda se prende a interesses puramente materiais, a representações grosseiras das quais já nos libertamos.

Cumpre-nos entender que o estado de ignorância é transitório para todos, sendo necessariamente um estágio evolutivo em cada criatura, mas não um mal em si mesmo.

No mundo de provas e expiações em que vivemos, somos todos imperfeitos, sujeitos a erros, provações e sofrimentos.

Sem embargo das próprias imperfeições, compete a todos utilizar a inteligência e a razão no esforço constante para a elevação, através da autoeducação.

A busca da felicidade de cada um é uma lenta ascensão, já que, por ignorância ou por comodismo, escolhemos os caminhos ilusórios das miragens, só reconhecidos como tais quando aparecem os erros e as decepções.

Entretanto, os sofrimentos e dores, os enganos e desilusões são experiências e lições duras que nos ensinam a necessidade de procurar as sendas corretas que conduzem à felicidade.

Cedo ou tarde aprendemos que as coisas materiais e seus interesses - bens e riquezas da Terra - são transitórios e mutáveis, destinados à satisfação das necessidades da vida material.

O despertamento do Espírito acontece quando descobre que a perfeição moral é sua meta e seu destino e que seus erros e as consequências deles constituem experiências e lições aproveitáveis no descobrimento da verdade e do roteiro certo.

No Universo os seres se ligam e se influenciam reciprocamente. Não somente as galáxias e os sistemas planetários são solidários entre si, mas nas diversas manifestações da vida, a solidariedade está presente em toda parte.

Basta um olhar pelos reinos da Natureza para se constatar a solidariedade entre eles. O reino mineral sustenta os seres vegetais; os animais, por sua vez, sustentam-se de elementos vegetais, minerais e animais que lhes asseguram a vida. Com a morte, os elementos materiais voltam ao reino mineral e o princípio espiritual continua sua trajetória.

Nós, os Espíritos eternos, qualquer que seja o estágio em que nos encontramos, devemos ter presente a solidariedade existente entre todos determinada pela semelhança do seu destino e da sua natureza.

Todos começam num estádio de simplicidade e ignorância. Passam pela inferioridade, sujeitos às mesmas leis divinas e eternas que determinam sua ascensão, de conformidade com o esforço de cada um.

Por isso, a solidariedade deve estar presente entre todas as criaturas de Deus, independentemente do grau evolutivo em que se encontre cada uma.

O amor ao próximo, como ensinou Jesus, é a expressão mais pura da lei de solidariedade.

O dever de amar o próximo é a mais bela expressão da lei Divina, ensinada pelo Cristo, que a coloca junto e após o imperativo de amar a Deus, o Criador de todas as coisas. Não há exceção nessa lei geral. Precisamos aprender a amar a todos, a nos solidarizar com todos.

Assim como somos auxiliados e socorridos pelos seres superiores, que já alcançaram poderes e graus acima dos nossos, assim também nos cumpre ajudar e auxiliar, sob múltiplas formas, os que se encontram à retaguarda.

O exemplo maior vem-nos do Cristo. Sua mensagem, seu sacrifício e sua renúncia são lições permanentes e indeléveis convocando à solidariedade com os semelhantes, especialmente os que se encontram abaixo de sua posição evolutiva. Quando Jesus, o Cristo, guia e governador espiritual da Humanidade; o modelo perfeito que o Pai Celestial oferece aos homens, resume no amor toda a lei divina, está mostrando que a solidariedade é a grande corrente que liga todas as almas.

Se deixamos de amar nosso semelhante, seja qual for sua condição, se odiamos, se desprezamos, se desejamos o mal até mesmo aos inimigos e adversários, essa atitude é a quebra de um elo da grande cadeia da solidariedade.

Manifestações patentes da lei de solidariedade entre os seres são as revelações que sempre fluíram da Espiritualidade Superior para todos os povos e nações da Terra, em todos os tempos.

São também as intuições e as inspirações captadas pelos gênios e pelos missionários encarregados pelo Plano Superior de trazer aos homens novas ideias e novas concepções de vida mais abundante, à medida que sua capacidade se torna apta a entendê-las e assimilá-las.

O Espírito encarnado sofre a poderosa influência da matéria. O mundo que o cerca é o império da vida material. Seu corpo material, suas necessidades físicas, seus sentidos físicos induzem o Espírito a só cuidar dos interesses imediatos do mundo material, fazendo-o esquecer sua condição de essência espiritual. Essa é uma característica peculiar dos mundos materiais atrasados como o nosso.

A Providência Divina não permite que prevaleça absoluta a influência exclusiva da materialidade. O Espírito guarda sempre a intuição de sua natureza, de sua origem e de seu destino, auxiliado, em todas as épocas, a cultivar suas qualidades latentes, suas aspirações adormecidas. As revelações superiores, os missionários e enviados do Alto são os agentes incumbidos de despertar no homem o interesse pelas coisas espirituais, contrabalançando a poderosa influência da matéria.

As grandes religiões da Humanidade tiveram e têm esse papel de extrema importância, que é o de despertar na criatura a consciência da existência de um Ser Supremo, criador do Universo e da essência da vida.

Como diz Emmanuel ("A Caminho da Luz"), "as tradições religiosas da antiguidade guardam, entre si, a mais estreita unidade substancial. As revelações evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento".

Através das revelações e das religiões o homem se furta à exclusiva influência da materialidade, lembrando-se de sua condição de essência espiritual. É, pois, de extrema importância o papel das religiões ao contrabalançar a influência do materialismo, mesmo considerando-se que elas "evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento".

As revelações do Mundo Espiritual Superior são sucessivas e gradativas.

Sendo o Cristo o Governador Espiritual da Terra, desde sua formação, como executor da vontade de Deus, torna-se evidente que todas as Revelações obedeceram à sua orientação e por isso mantém uma unidade substancial.

"A história da China, da Pérsia, do Egito, da Índia, dos árabes, dos israelitas, dos celtas, dos gregos e dos romanos está alumiada pela luz dos seus poderosos emissários." ("A Caminho da Luz", pág. 83, 22ª ed. FEB.)

Mas é lógico que as Revelações haveriam de atender às possibilidades de percepção de cada raça, de cada povo e às condições de adiantamento de cada época.

O próprio Cristo viria, em pessoa, trazer orientações e conhecimentos de extrema importância para a Humanidade. Sabendo, entretanto, das limitações dos homens e dos entraves que iriam atingir sua Mensagem, por desvios no entendimento e na prática de seus ensinamentos, prometeu a vinda posterior do que Ele denominou "O Consolador", destinado a ensinar todas as coisas e a recordar tudo o que já ensinara. (João, 14:15-17 e 26.)

O Consolador veio e está entre nós. É a Doutrina dos Espíritos, esclarecedora e consoladora por sua natureza, que nos ensina as coisas transcendentes de que necessitamos no atual estágio da Humanidade, que recorda os ensinos do Cristo para o correto comportamento dos homens perante as leis divinas e que retifica os transvios das religiões nas suas práticas através dos séculos.

Mas o Espiritismo não esclarece somente o transcendente, oferecendo-nos noções mais realistas a respeito de Deus, a Inteligência Suprema e sobre o Cristo, o Filho de Deus.

Dá-nos a conhecer muitas das leis divinas que já podemos compreender - a evolução contínua, as vidas sucessivas em mundos materiais como o nosso, a lei de causa e efeito, a eternidade da vida do Espírito - leis que mostram ao ser humano suas próprias possibilidades de crescimento, na proporção da aplicação de sua vontade, de sua inteligência e da liberdade de que goza.

O homem, Espírito encarnado neste mundo atrasado, vem, há milênios, cumprindo seu destino, aprendendo as coisas rudimentares da vida, aperfeiçoando-se através de trabalhos rudes, repetitivos, através das reencarnações.

Por vezes alça altos voos, impelido por ideais elevados resultantes de aprendizado adquirido no núcleo substancial das religiões.

Agora, com a Revelação Nova, encontra recursos para desenvolver os valores que jazem no recôndito de seu ser.

Sua fé e esperança fundam-se em realidades que ele conhece. Seu futuro torna-se mais claro, na certeza de que é a continuação da vida em outra dimensão, longe da ideia asfixiante do nada ou da ilusão de um céu indefinido, ou de uma condenação eterna.

Cumpre-lhe, com a certeza dessa realidade, preparar o porvir, através dos pensamentos e ações presentes, que dizem respeito à sua vida íntima e à sua vida de relações com seus semelhantes.

Agora o viajor eterno não anda a esmo. Tem um roteiro a seguir, que lhe é conhecido. Amar e servir resumem esse roteiro.

 Juvanir Borges de Souza – Revista Reformador – dezembro/1997


Transformação

 

“Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados.” Paulo (I Coríntios, 15:51)

 Refere-se o apóstolo dos gentios a uma das mais belas realidades da vida espiritual.

Nos problemas da morte, as escolas cristãs, trabalhadas pelas cogitações teológicas de todos os tempos, erigiram teorias diversas, definindo a situação da criatura, após o desprendimento carnal. É justo que semelhante situação seja a mais diversificada possível.

Ninguém penetra o círculo da vida terrena em processo absolutamente uniforme, como não existem fenômenos de desencarnação com analogia integral.

Cada alma possui a sua porta de “entrada” e “saída”, conforme as conquistas próprias.

Fala-se demasiadamente em zonas purgatoriais, em trevas exteriores, em regiões de sono psíquico.

Tudo isso efetivamente existe em plano grandioso e sublime que, por enquanto, transcende o limitado entendimento humano.

Todos os que se abeberam nas fontes puras da verdade, com o Cristo, devem guardar sempre o otimismo e a confiança.

“Nem todos dormiremos” — diz Paulo. Isto significa que nem todas as criaturas caminharão às tontas, nas regiões mentais da semi-inconsciência, nem todas serão arrebatadas a esferas purgatoriais e, ainda que tais ocorrências sucedessem, ouçamos, ainda, o abnegado amigo do Evangelho, quando nos assevera — “mas todos seremos transformados”.

Paulo não promete sofrimento inesgotável nem repouso sem fim.

Promete transformação.

Ninguém parte ao chamado da Vida Eterna senão para transformar-se.

Morte do corpo é crescimento espiritual.

O túmulo numa esfera é berço em outra.

E como a função da vida é renovar para a perfeição, transformemo-nos para o bem, desde hoje.

Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.158

Jesus, o Mestre

 

Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu sou.

João, 13:13

A vida tem nuance que só com observação muito detida para ver com clareza.

Muitos homens encarnaram para fazer muitos trabalhos dos Céus na Terra, com muitas chances de vitória.

Muitos filhos de Deus renasceram para serem mártires no mundo, muitos têm estofo para aguentar o mundo com as suas manias de perseguir. Por exemplo, Gandhi – Mohandas K. Gandhi – o Mahatma.  Viveu para fazer que os irmãos da Índia vivessem a glória fraternal. Morreu entre a Índia hindu e o Paquistão muçulmano. Mártir da fraternidade...

Padre Maximiliano Maria Kolbe foi preso num campo de concentração na Polônia, num búnquer, até ao fim da vida do corpo.  Ele queria trocar a sua vida pela dum civil que tinha mulher e filhos, por isso, condoído com a situação, falou ao chefe do pelotão... O chefe assentiu.

Foi o mártir de Auschwitz...

A cientista Madame Curie – Marie Sklodowska – nascida na Polônia e tendo mudado para a França, montou um pequeno laboratório para suas pesquisas.  Marie, muito afervoradamente, foi descobrindo o mundo do urânio – pechblenda – (óxido de urânio).

Madame Curie caiu doente. Longas hospitalizações...

O câncer...

Mártir da Ciência...

São mártires no mundo que muita gente não sabe aquilatar.

Esses mártires tiveram um pacto, firmado com o Mundo Espiritual Superior, para que suas vidas valiosas mexessem com os valores da Humanidade, desde que eles tinham débitos com as sociedades terrestres...

Jesus é o Grande Estandarte de Deus na Nave Terra.  Ele tem muito condoimento do rebanho e muita paciência com ele.  Jesus quer que todos aprendam a servir ao invés de ser orgulhosos... que aprendam a ser afáveis ao invés de fazerem intrigas contra o próximo.

Muitos homens encarnaram para fazer o trabalho de Deus, na Terra, com as Ciências, para ajudar a Humanidade a viver neste mundo.

Muitos cientistas colaboraram com o mundo e que as sociedades não conheceram.  Eles renasceram para fazer luz nas trevas da ignorância humana, como por exemplo:

O francês Foucault construiu o telescópio com espelho coberto de prata...

O sueco Nobel inventa a dinamite...

Broca localiza vários centros cerebrais...

Flourens mostra o papel do cerebelo no equilíbrio e na coordenação dos movimentos...

O alemão von Siemens estabelece a teoria dos condensadores...

Brown-Séquard estudou a fisiologia da medula espinhal...

Pasteur descobriu os micróbios...

O alemão Kekulé estabelece a quadrivalência do carbono...

Emil Kraepelin classificou as doenças mentais.  Estudou a psicose maníaco-depressiva e a demência precoce...

Richard von Krafft-Ebing estudou o sadismo, o masoquismo, o fetichismo e outras perversões sexuais...

Dmitri Mendeleiev, químico russo, foi autor da classificação periódica dos elementos químicos conforme seus pesos específicos...

Johann Mendel, botânico austríaco, realizou experiências sobre hereditariedade nos vegetais...

São bandeirantes das ciências que muita gente não conhece.

Esses bandeirantes tiveram um contrato firmado com a Espiritualidade Maior, da Terra, para pôr seus cérebros valorosos a serviço da Humanidade, desde que eles tinham dívidas com as sociedades terrestres...

Jesus é o Grande Governador da Nau Terra.  Ele tem muita comiseração do rebanho e muita doçura com ele. Por isso, quer que todos aprendam a servir ao invés de fazer guerras... que aprendam a amar ao invés de fazer sofrer ao próximo.

Jesus é o nosso Mestre no Mundo, à luz das questões espirituais.  Mestre não é bem aquele que detém conhecimento superlativo acerca de algum assunto da Terra.  Não é bem aquele que domina vastas tecnologias, liderando muitos grupos de indivíduos. Não é bem aquele que se exprime por meio de diversos idiomas, contatando e entendendo incontáveis povos humanos.

Nessa situação, não é bem aquele que detém largo poder de persuasão, capaz de induzir grupos enormes de pessoas a seguir suas ideias. Não é bem aquele que dirige importantes empresas, tendo suas ideias como roteiro para vários países do mundo.  Não é bem aquele que inventa máquinas e utensílios que facilitem a vida das sociedades.  Não é bem aquele que se mostra detentor de grande sagacidade, silenciando todo e qualquer opositor com sua argumentação, quase sempre sofista, dando a falsa ideia de triunfo.

Para alcançar essa notável condição de ser Mestre, tornam-se indispensáveis características mais especiais no campo das conquistas gerais.

Para ser Mestre, como Jesus, a alma deve compreender as outras almas.

Uma capacidade de sensibilizar-se com as outras irmãs, com a alegria ou com a dor alheias.

Para ser Mestre, é necessário haver conquistado a habilidade de auto-oferecimento, de autodoação, não se sentindo enfarado com as limitações e incapacidades dos irmãos do caminho.

Para ser Mestre exige, ainda, a taxa de humildade, que não se subverta em pieguice, que não se transforme em tolice, mas que permita a expressão de simplicidade, lúcida e consciente.

Para ser Mestre é preciso saber dizer sim e dizer não, sempre que o momento exija definições do caráter.  É por isso que a condição de Mestre se faz tão exigente, que Jesus afirma-se Mestre, aliás, o Mestre, uma vez que, consoante a palavra do Mundo Superior, Ele detém em si a condição mais alta, a fim de ser o Modelo e Guia para todos nós.

A vida tem nuances para cada filho de Deus.

Muitos líderes políticos que foram mártires no orbe, tiveram êxito com as suas vidas, com os seus valores...  Não obstante, muitos, não... Muitos tornaram-se trápolas.  Fizeram da mentira o seu mantra, fizeram-se mãozudos e fizeram do crime um estado natural.

Muitos religiosos, que foram mártires no mundo, triunfaram com as suas vidas, com os seus valores...  Todavia, muitos, não...  Muitos descaíram pela vala da vaidade, pelo labirinto do orgulho e pelo esgoto do crime...

Muitos cientistas, que foram mártires na Terra, vitoriaram com suas vidas, com os seus valores... Porém, muitos, não...  Muitos fraquejaram com o álcool, com as drogas e com o crime...

Só Jesus, nosso Mestre, para dar o tento para a vida.

Todos precisam de Jesus, para que nossos dias sejam um cântico de louvor a Ele.

Só Jesus, com o coração divino, para nos livrar de nós mesmos.

Muito obrigado, Senhor Jesus!

Camilo

Psicografia de Raul Teixeira, em 30.4.2020, em Niterói/RJ. Prefácio do livro Vida e Valores

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

 


Em matéria de mediunidade, não nos esqueçamos do pensamento.

Nossa alma vive onde se lhe situa o coração.

Caminharemos, ao influxo de nossas próprias criações, seja onde for.

A gravitação no campo mental é tão incisiva, quanto na esfera da experiência física.

Servindo ao progresso geral, move-se a alma na glória do bem. Emparedando-se no egoísmo, arrasta-se, em desequilíbrio, sob as trevas do mal.

A Lei Divina é o Bem de Todos.

Colaborar na execução de seus propósitos sábios é iluminar a mente e clarear a vida. Opor-lhe entraves, a pretexto de acalentar caprichos perniciosos, é obscurecer o raciocínio e coagular a sombra ao redor de nós mesmos.

É indispensável ajuizar quanto à direção dos próprios passos, de modo a evitarmos o nevoeiro da perturbação e a dor do arrependimento.

Nos domínios do espírito não existe a neutralidade.

Evoluímos com a luz eterna, segundo os desígnios de Deus, ou estacionamos na treva, conforme a indébita determinação de nosso “eu”.

Não vale encarnar-se ou desencarnar-se simplesmente. Todos os dias, as formas se fazem e se desfazem.

Vale a renovação interior com acréscimo de visão, a fim de seguirmos à frente, com a verdadeira noção da eternidade em que nos deslocamos no tempo.

Consciência pesada de propósitos malignos, revestida de remorsos, referta de ambições desvairadas ou denegrida de aflições não pode senão atrair forças semelhantes que a encadeiam a torvelinhos infernais.

A obsessão é sinistro conúbio da mente com o desequilíbrio comum às trevas.

Pensamos, e imprimimos existência ao objeto idealizado.

A resultante visível de nossas cogitações mais íntimas denuncia a condição espiritual que nos é própria, e quantos se afinam com a natureza de nossas inclinações e desejos aproximam-se de nós, pelas amostras de nossos pensamentos.

Se persistimos nas esferas mais baixas da experiência humana, os que ainda jornadeiam nas linhas da animalidade nos procuram, atraídos pelo tipo de nossos impulsos inferiores, absorvendo as substâncias mentais que emitimos e projetando sobre nós os elementos de que se fazem portadores.

Imaginar é criar.

E toda criação tem vida e movimento, ainda que ligeiros, impondo responsabilidade à consciência que a manifesta. E como a vida e o movimento se vinculam aos princípios de permuta, é indispensável analisar o que damos, a fim de ajuizar quanto àquilo que devamos receber.

Quem apenas mentalize angústia e crime, miséria e perturbação, poderá refletir no espelho da própria alma outras imagens que não sejam as da desarmonia e do sofrimento?

Um viciado entre os santos não lhes reconheceria a pureza, de vez que, em se alimentando das próprias emanações, nada conseguiria enxergar senão as próprias sombras.

Quem vive a procurar pedras na estrada, certamente não encontrará apenas calhaus subservientes.

Quem se detenha indefinidamente na medição de lama está ameaçado de afogamento no lodo.

O viajante fascinado pelos sarçais, à beira do caminho, sofre o risco de enlouquecer entre os espinheiros do mato inculto.

Vigiemos o pensamento, purificando-o no trabalho incessante do bem, para que arrojemos de nós a grilheta capaz de acorrentar-nos a obscuros processos de vida inferior.

É da forja viva da ideia que saem as asas dos anjos e as algemas dos condenados.

Pelo pensamento, escravizamo-nos a troncos de suplício infernal, sentenciando-nos, por vezes, a séculos de peregrinação nos trilhos da dor e da morte.

A mediunidade torturada não é senão o enlace de almas comprometidas em aflitivas provações, nos lances do reajuste.

E, para abreviar o tormento que flagela de mil modos a consciência reencarnada ou desencarnada, quando nas grades expiatórias, é imprescindível atender à renovação mental, único meio de recuperação da harmonia.

Satisfazer-se alguém com o rótulo, em matéria religiosa, sem qualquer esforço de sublimação interior, é tão perigoso para a alma quanto deter uma designação honorífica entre os homens com menosprezo pela responsabilidade que ela impõe.

Títulos de fé não constituem meras palavras, acobertando-nos deficiências e fraquezas. Expressam deveres de melhoria a que não nos será lícito fugir, sem agravo de obrigações.

Em nossos círculos de trabalho, desse modo, não nos bastará o ato de crer e convencer.

Ninguém é realmente espírita à altura desse nome, tão só porque haja conseguido a cura de uma escabiose renitente, com o amparo de entidades amigas, e se decida, por isso, a aceitar a intervenção do Além-Túmulo na sua existência; e ninguém é médium, na elevada conceituação do termo, somente porque se faça órgão de comunicação entre criaturas visíveis e invisíveis.

Para conquistar a posição de trabalho a que nos destinamos, de conformidade com os princípios superiores que nos enaltecem o roteiro, é necessário concretizar-lhes a essência em nossa estrada, por intermédio do testemunho de nossa conversão ao amor santificante.

Não bastará, portanto, meditar a grandeza de nosso idealismo superior. É preciso substancializar-lhe a excelsitude em nossas manifestações de cada dia.

Os grandes artistas sabem colocar a centelha do gênio numa simples pincelada, num reduzido bloco de mármore ou na mais ingênua composição musical. As almas realmente convertidas ao Cristo lhe refletem a beleza nos mínimos gestos de cada hora, seja na emissão de uma frase curta, na ignorada cooperação em favor dos semelhantes ou na renúncia silenciosa que a apreciação terrestre não chega a conhecer.

Nossos pensamentos geram nossos atos e nossos atos geram pensamentos nos outros.

Inspiremos simpatia e elevação, nobreza e bondade, junto de nós, para que não nos falte amanhã o precioso pão da alegria.

Convicção de imortalidade, sem altura de espírito que lhe corresponda, será projeção de luz no deserto.

Mediação entre dois planos diferentes, sem elevação de nível moral, é estagnação na inutilidade.

O pensamento é tão significativo na mediunidade, quanto o leito é importante para o rio. Ponde as águas puras sobre um leito de lama pútrida e não tereis senão a escura corrente da viciação.

Indubitavelmente, divinas mensagens descerão do Céu à Terra.

Entretanto, para isso, é imperioso construir canalização adequada.

Jesus espera pela formação de mensageiros humanos capazes de projetar no mundo as maravilhas do seu Reino.

Para atingir esse aprimoramento ideal é imprescindível que o detentor de faculdades psíquicas não se detenha no simples intercâmbio.

Ser-lhe-á indispensável a consagração de suas forças às mais altas formas de vida, buscando na educação de si mesmo e no serviço desinteressado a favor do próximo o material de pavimentação de sua própria senda.

A comunhão com os orientadores do progresso espiritual do mundo, através do livro, nos enriquece de conhecimento, acentuando-nos o valor mental; e a plantação de bondade constante traz consigo a colheita de simpatia, sem a qual o celeiro da existência se reduz a furna de desespero e desânimo.

Não basta ver, ouvir ou incorporar Espíritos desencarnados, para que alguém seja conduzido à respeitabilidade.

Irmãos ignorantes ou irresponsáveis enxameiam, como é natural, todos os departamentos da Terra, em vista da posição evolutiva deficitária em que ainda se encontram as coletividades do Planeta e, muita vez, sem qualquer raiz de perversidade propriamente dita, milhares de almas, despidas do envoltório denso, praticam o vampirismo junto dos encarnados invigilantes, simplesmente no intuito de prosseguirem coladas às sensações do campo físico das quais não se sentem com suficiente coragem para se desvencilharem.

Toda tarefa, para crescer, exige trabalhadores que se dediquem ao crescimento, à elevação de si mesmos.

Isso é demasiado claro em todos os planos da Natureza.

Não há frutos na árvore nascente.

A madeira não desbastada é incapaz de servir, com eficiência, ao santuário doméstico.

A areia movediça não garante a sustentação.

Não se faz luz na candeia sem óleo.

O carro não transita com êxito onde a picareta ainda não estruturou a estrada conveniente.

Como esperardes o pensamento divino, onde o pensamento humano se perde nas mais baixas cogitações da vida?

Que mensageiro do Céu fará fulgir a mensagem celestial em nosso entendimento, quando o espelho de nossa alma jaz denegrido pelos mais inferiores dos interesses?

Em vão buscaria a estrela retratar-se na lama de um charco.

Amigos, pensemos no bem e executemo-lo.

Tudo o que existe dentro da Natureza é a ideia exteriorizada.

Universo é a projeção da Mente Divina e a Terra, qual a conheceis em seu conteúdo político e social, é produto da Mente Humana.

Civilizações e povos, culturas e experiências constituem formas de pensamento, através das quais evolvemos, incessantemente, para esferas mais altas.

Atentemos, pois, para a obrigação de autoaperfeiçoamento.

Sem compreensão e sem bondade, irmanar-nos-emos aos filhos desventurados da rebeldia. Sem estudo e sem observação, demorar-nos-emos indefinidamente entre os infortunados expoentes da ignorância.

Amor e sabedoria são as asas com que faremos nosso voo definitivo, no rumo da perfeita comunhão com o Pai Celestial.

Escalemos o plano superior, instilando pensamentos de sublimação naqueles que nos cercam.

A palavra esclarece.

O exemplo arrebata.

Ajustemo-nos ao Evangelho Redentor.

Cristo é a meta de nossa renovação.

Regenerando a nossa existência pelos padrões d'Ele, reestruturaremos a vida íntima daqueles que nos rodeiam.

Meus amigos, crede!...

O pensamento puro e operante é a força que nos arroja do ódio ao amor, da dor à alegria, da Terra ao Céu...

Procuremos a consciência de Jesus para que a nossa consciência lhe retrate a perfeição e a beleza!...

Saibamos refletir-lhe a glória e o amor, a fim de que a luz celeste se espelhe sobre as almas, como o esplendor solar se estende sobre o mundo.

Comecemos nosso esforço de soerguimento espiritual desde hoje e, amanhã, teremos avançado consideravelmente no grande caminho!...

Um Benfeitor

André Luiz / Chico Xavier – Livro: Nos domínios da mediunidade – Capítulo 13