Ao término de cada ano,
damos guarida à ideia de que o novo ano será melhor, mais luminoso, mais
profícuo. Novo Ano tivemos ontem, temo-lo agora, tê-lo-emos amanhã e depois,
depois e sempre.
Novo Ano diz respeito à
sequência natural da vida, ocasião de nos reorganizarmos, raciocinarmos sobre
novas e atuais posições, como, por exemplo, melhor aproveitamento do tempo -
esse mercado de oportunidades que nos foi concedido para a construção do bem,
ótimo ensejo de semearmos o que iremos colher num futuro próximo. A hora que
passa é preciosa demais para que lhe percamos a grandeza. Elaboremos, pois, o
nosso calendário e aproveitemos os dias, as horas e os minutos para fazermos
o máximo que nos for possível na sementeira do bem. O tempo é irreversível,
não volta mais. Talvez, por isso mesmo, nos mundos felizes ou nos espaços
siderais o tempo seja inexistente e os Espíritos vivam num eterno presente.
O tempo diz respeito a
quem está em marcha e percebe que as coisas não são fixas ou permanentes. Eis
porque no ser inteligente há ânsia, há busca, há desejo de refazer,
recomeçar, repensar, esclarecer dúvidas ou incertezas. Vive-se ao sabor das
surpresas do caminho. Somos felizes ou infelizes, até o instante em que
percebemos a insatisfação ou por ela somos surpreendidos, ou despertamos para
a realidade do que efetivamente somos.
Julgamos então ser
nosso o equívoco quanto à felicidade que pensávamos haver alcançado, ou
concluímos que não éramos tão infelizes quanto supúnhamos, e, nesse sentido,
quanto mais imperfeito é o indivíduo, maior é a soma de suas insatisfações e
menos estável é a sua felicidade, que é algo que construímos dentro de nós e
que nada tem a ver com os bens materiais que são passageiros. A perfeição que
buscamos alcançar pelo exercício diuturno do Evangelho conduz-nos direta e
ininterruptamente aos gozos eternos e inconspurcáveis do Espírito. Perder
tempo é, pois, obstacular a caminhada no roteiro da Luz.
Ano Novo significa mais
um trecho que temos a percorrer em nossa caminhada na Crosta Planetária, uma
ótima oportunidade para um balanço total de nossa vida. Isso sugere a ideia
de viagem... Quando pensamos viajar, cogitamos logo de preparar a bagagem,
pondo tudo em ordem, separando as coisas necessárias para levar. Prevenimos o
numerário suficiente para as despesas, enfim, tomamos todas as medidas
cabíveis para nos assegurar uma ida e uma volta isentas de embaraços. O
Espiritismo, quando penetra em nossa intimidade, convida-nos a realizar duas
grandes viagens:
- a primeira, para
dentro de nós mesmos, em busca do autodescobrimento, através do qual
conheceremos os equívocos a serem corrigidos e as conquistas salutares a
serem ampliadas;
- a segunda, para fora
de nós, em busca do outro, dos carentes e necessitados de nosso amor e
compreensão que surgem com campo propício para a semeadura das descobertas
anteriores.
Diante do ano que
findou e de um que se inicia deve ser o bem, o amor a nossa meta. A
transformação moral definitiva começa no desejo íntimo e concretiza-se na
ação renovadora. Ninguém espere encontrar na vida um mar de rosas; necessário
se faz aprendermos a lidar com as nossas emoções e sentimentos.
O desafio, porém,
precisa ser enfrentado, mesmo à custa de lágrimas. A “boa luta”, a que Jesus
se referiu, começa na coragem de mergulharmos no imo de nós mesmos, para
alcançarmos o nosso propósito: vencer do princípio ao fim, do primeiro ao
último dia do Ano Novo, observando uma conduta reta e a mais elevada
possível, pensando tão somente no Bem que elegeremos para luz de nosso
caminho. O que importa, em essência, não é propriamente a passagem de um ano
para outro, coisa que sempre se deu e se dará à nossa revelia, e sim as condições
da bagagem espiritual com que entramos no Ano Novo: para que ele seja
realmente bom como o concebemos, precisamos renovar-nos.
Muita paz e um Ano Novo
repleto de realizações.
|
Jurá Rodrigues - Revista
Reformador - janeiro/1999