Às
vezes, dizes, coração amigo:
—
“Como guardar-me em paz, na agitação do mundo?
Tanto
fel ao redor!… Tanta gente em perigo!…
Tantas
tribulações sem que se saiba, a fundo,
De
que modo evitar a invasão desmedida
Das
nuvens de aflição que atormentam a vida!…”
E
contigo outras almas no caminho
Padecem
sob o impacto violento
Das
lâminas brutais do sofrimento
Que
lhes ferem o ser, desolado e sozinho…
Aqui,
alguém lastima um coração querido
Que
ficou para trás, exânime e caído
Em
trágicos enganos;
Ali
tombam, a golpes desumanos
Dos
chamados engenhos do progresso,
Existências
repletas de esperança,
Ante
as brechas de sombra em que a morte se lança
Entre
o ouro e o sucesso…
Dos
recursos plebeus aos valores mais altos,
Sobram
as provações que chegam, de imprevisto,
No
clamoroso misto
De
sequestros e assaltos.
Nos
lares em geral, sob múltiplos níveis,
As
desvinculações de pessoas amadas
São
lesões e feridas desatadas
Para
as almas sensíveis.
Assemelha-se
a Terra à nave firme e atenta,
Sob
rude tormenta.
Entretanto,
alma boa,
Em
plena luta que te aperfeiçoa,
Podes
deter a paz contigo, estrada afora,
Prendendo-te
ao dever que em tudo nos melhora.
Todo
trabalho são é lúcido recanto
Que
se nos faz refúgio aprazível e santo.
Um
lar para servir,
Um
filho a proteger,
A
nobre preleção enviada ao porvir,
A
página a escrever,
Um
doente a zelar,
O
trecho musical que se tem a compor,
O
campo a cultivar
E o
serviço do bem que é mensagem de amor…
Tudo
isso, na terra, é cobertura,
Sustentando
o equilíbrio da criatura.
Se
buscas, em verdade, a paz, no dia a dia,
Coloca
a tua fonte de alegria
E
todos os impulsos que são teus
No
trabalho que o mundo te confia
Porque
o trabalho é sempre uma Bênção de Deus.
Maria Dolores / Chico
Xavier
Livro: Caminhos do
amor