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sábado, 4 de janeiro de 2025

Você conhece a história de Scheilla?

 

Conta-se que em 1948, durante uma reunião de materialização, pelo médium Peixotinho, materializou-se (de corpo inteiro) um espírito de extraordinário fulgor. 

Apresentava-se como uma mulher loira, cabelos longos em tranças, olhos azuis esverdeados muito brilhantes e que exalava forte perfume de rosas (característica sempre presente desse espírito tão iluminado). Mostrou-se ser muito inteligente e com ricos sentimentos. 

Era a Irmã Scheilla.

Daquele momento em diante, ela passou a atuar nas reuniões espíritas do grupo de Peixotinho no atendimento aos doentes que procuravam a ajuda do médium.

Scheilla, sempre cuidadosa e amorosa, materializava (com o apoio da mediunidade de Peixotinho, Chico Xavier e outros) muitos elementos em matéria concreta e outros em matéria sutil (instrumentos e aparatos médicos). Divaldo Franco conta detalhadamente uma intervenção que ela fez em sua garganta, na casa de Chico Xavier, curando-o de um grave problema. (Veja aqui o relato).

Através destas experiências com Peixotinho e seu grupo, com Chico Xavier, com Divaldo Franco – que ofereceram sua mediunidade e trabalharam e foram tratados por ela, sabe-se de pelo menos duas de suas reencarnações.

Na França, foi Joana Francisca Frémio. Casou-se aos vinte anos com o Barão de Chantal, passando a se chamar Baronesa de Chantal. Tiveram quatro filhos. Seu marido desencarnou muito jovem e ela então, dedicou-se as orações, a cuidar dos filhos e dos necessitados. Em 1604, submeteu-se ao Bispo de Genebra (S. Francisco de Salles) e juntos fundaram a Congregação de Visitação de Maria, criando 87 conventos. Mais tarde São Vicente de Paulo se juntou a ordem, que era mantida com muitas dificuldades. Desencarnou em 1641 e foi canonizada pela igreja católica em 1767 com o nome de Santa Joana de Chantal.

Na Alemanha do século XX, foi Scheilla Fritz. Enfermeira na segunda guerra mundial que desencarnou em 1943 na cidade de Hamburgo, durante um bombardeio aéreo.

Conta-se que na atualidade, continua seu trabalho fraternal como coordenadora numa determinada colônia espiritual, nas regiões próximas ao Brasil.

Além disso, Chico Xavier e João Nunes Maia psicografaram muitas obras de Scheilla, assim como outros médiuns por ela eleitos.

Espírito de grande luz, dedicada ao trabalho de Jesus na terra, deixou muitas mensagens de orientação e conforto para todos nós.                      

Texto extraído (e adaptado) do site da Associação Espírita Luz e Paz.





sábado, 30 de novembro de 2024

Você conhece a história de Meimei?

 

Seu nome, quando encarnada na Terra, era Irma de Castro. Viveu de 22 de outubro de 1922 a 1º de outubro de 1946. Nasceu na cidade mineira de Mateus Leme e desencarnou em Belo Horizonte.

 Manifestou precocemente acentuada inteligência, meiguice, modéstia e amor às letras. Era de beleza invulgar.

Tinha quatro irmãos: Ruth, Alaíde, Danilo e Carmem e ficou órfã de pai (Adolfo Castro) com apenas 5 anos. Sua mãe era D. Mariana de Castro.

 Apesar de seu enorme amor aos estudos, por motivos de saúde, teve de abandonar o Curso Normal no segundo ano (Escola Normal de Itaúna).

 Mais tarde, com sua irmã Alaíde, transferiu-se para Belo Horizonte para trabalhar e lá conheceu Arnaldo Rocha, com quem se casou aos 22 anos de idade. Apesar de muito querer um filhinho que lhe viesse abençoar o lar, isto não foi possível.

 Tendo lido um romance, onde o personagem chinês tratava sua companheira pelo nome de Meimei (quer dizer "amor puro"), passou a tratar assim o marido e este também assim a tratava na intimidade.

 O problema que muitas vezes antes se manifestara nos rins (nefrite) irrompeu com muita força, a ponto de lhe cegar uma das vistas e ela desencarnou, dois anos após o enlace.

 O esposo, bastante abatido, procurou Francisco Cândido Xavier, e este, que morava na cidade de Pedro Leopoldo, recebeu uma mensagem dela em que assinava Meimei, fato que todos ignoravam, já que este nome carinhoso só era do conhecimento do casal. Arnaldo tornou-se então um colaborador do Chico e fundou o Centro Espírita Meimei.

 Muitos são os fatos narrados envolvendo a interferência amorosa de Meimei que, muitas vezes, é vista pelos médiuns vestida de noiva, com a invulgar beleza, que lhe é peculiar.

Existem muitos livros ditados por Meimei através de Chico Xavier. Entre outros: Pai Nosso, Amizade, Palavras do Coração, Cartilha do Bem, Evangelho em Casa, Deus Aguarda e Mãe.

 

Federação Espírita do Paraná


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Você conhece a história de Palminha?

 

As informações que chegaram até nós deste espírito tão querido foram trazidas pelo médium Ênio Wendling por audição mediúnica de relato feito pelo espírito de José Grosso. Palminha recebeu esse nome porque quando se manifestava em reuniões de efeitos físicos batia palmas e de suas mãos saíam raios de luz.

(...) Viemos de longe, de passadas eras e vamos falar sobre nosso irmão chamado, carinhosamente, Palminha, simplesmente Palminha. Hoje, nessa altura de sua caminhada espiritual, deseja firmemente desempenhar como vem fazendo a tarefa da fraternidade sob a égide de Jesus. Busquemos reportar marcantes épocas da vida desse querido amigo.

(...) Teve reencarnações na Tartária e, após essa existência, viveu nos Bálcãs e reencontrou um espírito muito querido na Germânia: o nosso José Grosso. Pertenceu também ao grupo dos seguidores de Alarico VIII.

Após esse período, Palminha desejava ardentemente modificações mais profundas em seu espírito. Vieram então reencarnações mais suaves, tranquilas e religiosas na França, Espanha e Brasil.

Não podemos deixar de citar a encarnação de Palminha no Brasil como Antônio da Silva, um dos nove filhos do casal Gerônimo e Francisca e irmão de José da Silva (José Grosso). Assim como o irmão, pertencia também a um dos bandos da época, na década de trinta no Nordeste que lutavam contra a miséria e a desigualdade, mas que também levavam muita dor e sofrimento às populações das cidades. Desencarnou com ferimentos no cerco policial nas imediações da cidade de Floriano, no Piauí. Consta que tentava fugir quando foi alvejado, correu sem perceber que seu corpo ficara para trás, quando voltou e constatou que havia desencarnado. Não é sabido quanto tempo levou até ser amparado pelos espíritos de Joseph, Sheilla e José Grosso. Com o passar do tempo, foi convocado a cooperar nas reuniões do grupo Sheilla, em Belo Horizonte.

Em sucessivas reencarnações, nosso Irmão Palminha experimentou derrotas, conquistas e sofrimentos atrozes. Mas hoje considera o momento um oásis de bênçãos na tarefa junto aos companheiros espíritas do Brasil e da Fraternidade.

Sua identificação espiritual com os companheiros encarnados é grande. Quer ser lembrado somente como Palminha. Seus objetivos se encontram no apostolado do bem na simplicidade consciente e responsável do espírito que deseja valorizar o atual momento que estamos vivendo, pois são marcos decisórios para a sua evolução e a de todos nós. O nosso querido Palminha é incansável trabalhador na seara do bem. 

 

Trechos de relato recebido pelo médium Ênio Wendling na Fraternidade Espírita Irmão Glacus.

Fonte: FEIG



quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Você conhece a história de José Grosso?

No ano de 1896, em território brasileiro, nos recantos áridos do Ceará, em pequeno lugarejo próximo a Crato, nasceu como José da Silva, tendo como pais Gerônimo e Francisca, pais de outros 8 filhos. No princípio da década de 1930, os rumores invadiram toda a vastidão do sofrido Nordeste. Miséria, seca, sofrimentos, falta de tudo. Nessa época alguns homens se apropriaram dos bens dos ricos para distribuí-los aos pobres, e isso empolgou muito o coração de José da Silva que em seu íntimo sonhava, como de resto todos os sertanejos nordestinos, com uma terra de paz, sem fome e com a justiça amparando também os pobres e fracos. Essa turba de homens tinha como chefe Lampião. Animado por esses anseios, se integrou ao grupo, por ocasião de sua passagem pela região de Orós (hoje município do estado do Ceará).

Mas, com a convivência com o bando, José da Silva, então conhecido como José Grosso, percebeu que eles extrapolavam nas suas aspirações. Em desacordo com as atitudes do grupo mudou seu comportamento, apesar de não delatar os companheiros de bando às autoridades policiais, passou a alertar as cidades que seriam invadidas para que as pessoas (especialmente mulheres e crianças) não fossem violentadas e assassinadas. Esse comportamento levou Lampião a perfurar-lhe os olhos com uma faca, vingando-se da traição sofrida. José Grosso perdido na mata com infecção generalizada desencarnou em 1936 aos 40 anos de idade sem ter notícia alguma de sete dos seus irmãos. Conhecia apenas o paradeiro de um único irmão, que hoje conhecemos como Palminha e que na época vivia o mesmo tipo de vida, mas pertencendo a outro grupo.

Afirma-se que após o seu desencarne esteve algum tempo vagando em cegueira no plano espiritual sendo amparado pelo espírito Nina Arueira. Ficou por longos anos sob a orientação do Espírito Sheilla e de Joseph Gleber, que tiveram vínculos com ele na Germânia, e também sob a orientação do Espírito Glacus.

Em 1949, acontece sua primeira manifestação no Centro Espírita Oriente em Belo Horizonte. Teria então afirmado ser “folha caída dos ventos do Norte”. Também levado por Scheilla e Joseph começou a manifestar-se no Grupo Espírita André Luiz, no Rio de Janeiro, através de alguns médiuns principalmente através do extraordinário médium de efeitos físicos conhecido como Peixotinho (Francisco Peixoto Lins).

Desde então o Espírito José Grosso, o “cangaceiro do bem”, vem cooperando junto a vários movimentos espíritas integrando as hostes espirituais onde transitam outros espíritos benfazejos que viveram no sofrido.


* Parte do Relato feito pelo médium Ênio Wendling intuído pelo Irmão Palminha.

Fonte: FEIG




sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Yvonne do Amaral Pereira

 


Às seis horas da manhã do dia 24 de dezembro de 1900, na pequena Vila de Santa Tereza de Valença (hoje Rio das Flores), Estado do Rio de Janeiro, renascia em lar espírita Yvonne do Amaral Pereira, primogênita do casal Manoel José Pereira Filho e Elisabeth do Amaral Pereira. Yvonne teve cinco irmãos, além de outro mais velho, filho do primeiro casamento de sua mãe.

Seu pai, pequeno comerciante, homem generoso de coração e desprendido dos bens materiais, faliu por três vezes por favorecer a clientela em prejuízo próprio. Tornou-se, pouco depois, funcionário público, de cujos modestos proventos viveu até sua desencarnação, em 1935.

Yvonne viveu em lar pobre e modesto. Aprendeu com os pais a servir os mais necessitados, pois em sua casa eram acolhidos com carinho pobres criaturas sem recursos, inclusive mendigos.

Contam seus biógrafos que, com 29 dias de nascida, depois de um acesso de tosse, sobreveio uma sufocação que a deixou como morta, em estado de catalepsia. Permaneceu nesse estado durante seis horas. O médico e o farmacêutico atestaram morte por sufocação. O velório foi preparado. A suposta defunta foi vestida com grinalda e vestido branco e azul, e o caixão encomendado. A mãe, que não acreditava que a filha estivesse morta, retirou-se para um aposento, onde orou fervorosamente a Maria de Nazaré, pedindo que a situação fosse definida. Instantes depois, a criança acordou aos prantos.

A infância de Yvonne foi povoada por fenômenos espíritas, muitos deles narrados no livro 'Recordações da Mediunidade'. Aos quatro anos, ela já se comunicava com os Espíritos, que considerava pessoas normais, encarnadas. Duas entidades lhe eram particularmente caras. O espírito Charles, que fora seu pai carnal e a quem considerava como tal - devido a lembranças vivas de uma encarnação passada -, foi seu orientador durante toda a sua vida, inclusive nas atividades mediúnicas. E o espírito Roberto de Canalejas, que fora médico espanhol em meados do século XIX, outra entidade pela qual a médium nutria profundo afeto e com quem tinha ligações espirituais de longa data.

Mais tarde, na vida adulta, manteria contatos mediúnicos regulares com outras entidades evoluídas, como o Dr. Bezerra de Menezes, Camilo Castelo Branco e Frédéric Chopin. (...)

(...) A sua mediunidade, porém, foi diversificada. Foi médium psicógrafa e receitista, assistida por entidades de grande elevação, como Bezerra de Menezes, Charles, Roberto de Canalejas e Bittencourt Sampaio. Possuía mediunidade de efeitos físicos, chegando a realizar algumas sessões de materialização, mas nunca sentiu atração por esta modalidade mediúnica. Os trabalhos que mais gostava de fazer, no campo da mediunidade, eram os de desdobramento, incorporação e receituário homeopático. Nessa última atividade trabalhou em diversos centros espíritas de várias cidades em que morou durante seus 54 anos de labor mediúnico.

Como médium psicofônica, pode entrar em contato com obsessores, obsidiados e suicidas, aos quais devotava um carinho especial, sendo que muitos deles tornaram-se espíritos amigos. Costumava ler nos periódicos e jornais nomes de suicidas e orava por eles constantemente, catalogando-os num livro de preces criado por ela. Era o que fazia como forma de reparação ao seu suicídio pretérito por afogamento. Passado algum tempo, muitos deles vinham agradecer-lhe as orações e davam-lhe fortes abraços passeando com ela de braços dados pelo casarão em que morava, sem que ela, confusa, soubesse distinguir se o visitante era encarnado ou desencarnado.

Pelo desdobramento noturno Yvonne Pereira visitava o mundo espiritual, amparada por seus orientadores, coletando as crônicas, contos e romances com os quais hoje nos deleitamos.

Deixou 20 obras de sua lavra mediúnica, entre as quais Memórias de um Suicida, considerada por Chico Xavier a que melhor retrata a profundeza do Umbral. Este livro, ditado pelo espírito Camilo Castelo Branco, que usou o pseudônimo Camilo Cândido Botelho, foi recebido em 1926, mas editado somente 30 anos depois, em 1956, pela Federação Espírita Brasileira (FEB). (...)

(...) Foi esperantista convicta e trabalhou arduamente na sua propaganda e difusão, através de correspondência que mantinha com outros esperantistas, tanto no Brasil quanto no exterior.

Yvonne Pereira serviu como médium de 1926 a 1980, quando um acidente vascular cerebral impossibilitou-a para a atividade mediúnica. Sempre humilde, terna e vivaz, morava num casarão em Piedade, subúrbio do Rio de Janeiro, em companhia de sua irmã casada, Amália Pereira Lourenço, também espírita.

Na noite de 9 de março de 1984, vitimada por trombose, desencarnou durante uma cirurgia a que se submetera no Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro. Seu corpo foi sepultado no Cemitério de Inhaúma. Tinha 83 anos e mantivera-se solteira, cumprindo dignamente o mandato mediúnico exercido com amor e total devotamento ao semelhante.


 Trechos extraídos do site da União Espírita Mineira – Leia na íntegra






sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Frederico Fígner

 

Frederico Fígner (2 de dezembro de 1866 – 19 de janeiro de 1947) nasceu em Milewko, na então Tchecoslováquia. Migrou para os Estados Unidos quando Thomas Edison lançou um aparelho que registrava e reproduzia sons por meio de cilindros giratórios. Fascinado pela novidade levou esta novidade para o Brasil em 1891. Passou por Manaus, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife e Salvador, até chegar ao Rio de Janeiro em 1892. Já falando e entendendo um pouquinho de português abriu a primeira loja, conhecida como Casa Edison, onde abriu o primeiro estúdio de gravação e varejo de discos do Brasil, em 1900. Apesar das limitações técnicas esta foi uma revolução para a música popular brasileira.

Foi apresentado à Doutrina Espírita por Pedro Sayão, filho de Antônio Luís Sayão. Trabalhou ajudando os necessitados e fez parte da Federação Espírita Brasileira, como vice-presidente, tesoureiro e membro do Conselho Fiscal.

Em 1920 perdeu a filha e, ouvindo falar da médium de efeitos físicos, Ana Prado, foi a Belém do Pará com a esposa. No dia 1º de Abril de 1921, embarcou com toda a família e participou de sessões relatadas no livro do Dr. Nogueira de Faria, intitulado “O Trabalho dos Mortos”.

O jornalista Viriato Correia (1884-1967) assim descreve Frederico Fígner: “Aos oitenta anos tinha as vibrações, os entusiasmos, as vivacidades das juventudes estouvadas. Quem o via pelas ruas, suado, chapéu atirado para a nuca, falando aqui, falando ali, numa pressa de moço de recados, pensava estar vendo um ganhador que, em cima da hora, corria para não perder a hora do negócio. No entanto, não era para ganhar que ele vivia a correr. Rico, muito rico, não precisava entregar-se à vassalagem do ganho. Corria para servir os outros, corria para ir ao encontro dos necessitados.” 

 

Fonte FEB Facebook


sábado, 18 de novembro de 2023

Amélie-Gabrielle Boudet

 


Amélie-Gabrielle Boudet (futura Sra. Kardec) nasceu em Thiais, cidade do menor e mais populoso Departamento francês – o Sena, em 23 de novembro de 1795. Filha única de Julien-Louis Boudet, proprietário e antigo tabelião, e de Julie-Louise Seigneat de Lacombe, era conhecida na intimidade familiar pelo diminutivo Gaby.

Aliando desde cedo grande vivacidade e forte interesse pelos estudos, não foi um problema para os pais, que, a par de fina educação moral, lhe proporcionaram apurados dotes intelectuais. Após cursar o colégio primário, estabeleceu-se em Paris com a família, ingressando numa Escola Normal, de onde saiu diplomada em professora de 1ª classe.

De acordo com o Dr. Canuto de Abreu, a senhorinha Amélie foi, também, professora de Letras e Belas Artes, trazendo de encarnações passadas a tendência inata, por assim dizer, para a poesia e o desenho. Culta e inteligente, chegou a dar à luz três obras: Contos Primaveris (1825); Noções de Desenho (1826), e O Essencial em Belas Artes (1828).

Vivendo em Paris, no mundo das letras e do ensino, quis o Destino que a Srta. Amélie deparasse com o Professor Hippolyte Denizard Rivail.

De estatura baixa, mas bem proporcionada, de olhos pardos e serenos, gentil e graciosa, vivaz nos gestos e na palavra, denunciando inteligência admirável, Amélie Boudet, aliando ainda a todos esses predicados um sorriso terno e bondoso, logo se fez notar pelo circunspecto Prof. Rivail, em quem reconheceu, de imediato, um homem verdadeiramente superior, culto, polido e reto.

Casaram-se, então, no dia 6 de fevereiro de 1832. Amélie tinha nove anos mais que o Prof. Rivail, mas tal era a sua jovialidade física e espiritual, que a olhos vistos aparentava a mesma idade do marido. Jamais essa diferença constituiu entrave à felicidade de ambos.

Após concluir seus estudos com Pestalozzi, o Prof. Rivail fundara em Paris um Instituto Técnico, com orientação baseada nos métodos pestalozzianos. Madame Rivail associou-se ao esposo na difícil tarefa educacional que ele vinha desempenhando no referido Instituto há mais de cinco anos.

Em 1835, o casal sofreu doloroso revés. O Instituto foi obrigado a cerrar suas portas e a entrar em liquidação. Possuindo, porém, esposa altamente compreensiva, resignada e corajosa, fácil lhe foi sobrepor-se a esses tormentosos acontecimentos. Amparando-se mutuamente, ambos se lançaram a maiores trabalhos. Durante o dia, enquanto Rivail se encarregava da contabilidade de casas comerciais, sua esposa colaborava de alguma forma na preparação dos cursos gratuitos que haviam organizado na própria residência, e que funcionaram de 1835 a 1840.

À noite, novamente juntos, não se davam a descanso justo e merecido, mas improdutivo. Além de escrever novas obras de ensino, que, aliás, tiveram grande aceitação, o Prof. Rivail realizava traduções de obras clássicas, preparava para os cursos de Lévi-Alvarès, frequentados por toda a juventude parisiense do bairro de São Germano, e se dedicava, ainda, em dias certos da semana, juntamente com sua esposa, a lecionar as matérias estatuídas para cursos gratuitos a crianças e jovens.

Amélie Boudet era dessas mulheres boas, nobres e puras, e que, despojadas das vaidades mundanas, descobrem no matrimônio missões nobilitantes a serem desempenhadas. Nos cursos públicos de Matemáticas e Astronomia que o Prof. Rivail semanalmente lecionou, de 1843 a 1848, e aos quais assistiram não só alunos, mas também professores, no “Liceu Polimático” que fundou e dirigiu até 1850, não faltou em tempo algum o auxílio eficiente e constante de sua dedicada consorte.

Todas essas realizações e outras mais, a bem do povo, se originaram das palestras costumeiras entre os dois cônjuges, mas, como salientou a Condessa de Ségur, deve-se principalmente à mulher, as inspirações que os homens concretizam. No que toca à Madame Rivail, além de conselheira, ela foi a inspiradora de vários projetos que o marido pôs em execução. Aliás, é o que confirma o Sr. P.J. Leymarie (que com ambos estivera) ao declarar que Kardec tinha em grande consideração as opiniões de sua esposa. (...)

 

Fonte: https://www.uemmg.org.br/biografias/amelie-gabrielle-boudet



sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Manoel Philomeno de Miranda

 


Manoel Philomeno de Baptista de Miranda nasceu no dia 14 de novembro de 1876, em Jangada, Município do Conde, no Estado da Bahia. Foram seus pais Manoel Baptista de Miranda e Umbelina Maria da Conceição.

Mais conhecido como Philomeno de Miranda, diplomou-se pela Escola Municipal da Bahia (hoje Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia), colando grau na turma de 1910, como ‘Bacharel em Comércio e Fazenda’.  Exerceu sua profissão com muita probidade, sendo um exemplo de operosidade no campo profissional. Ajudava sempre aqueles que o procuravam, pudessem ou não retribuir os seus serviços. Foi tão grande em sua conduta, como na modéstia.

Em 1914, foi debilitado por uma enfermidade pertinaz, e tendo recorrido a diversos médicos, sem qualquer resultado positivo, foi curado pelo médium Saturnino Favila, na cidade de Alagoinhas, com passes e água fluidificada, complementando a cura com alguns remédios da Flora Medicinal.

Nessa época, indo a Salvador, conheceu José Petitinga, que o convidou a frequentar a União Espírita Baiana. A partir daí, Philomeno de Miranda interessou-se pelo estudo e prática do Espiritismo, tornando-se um dos mais firmes adeptos de seus ensinamentos. Fiel discípulo de Petitinga, foi autêntico diplomata no trato com o Movimento Espírita da Bahia, com capacidade para resolver todos os assuntos pertinentes às Casas Espíritas. A serviço da causa, visitava periodicamente as Sociedades Espíritas, da Capital e do Interior, procurando soluções para qualquer dificuldade.

Delicado, educado, porém decidido na luta, não dava trégua aos ataques descabidos, arremetidos por religiosos e cientistas que tentavam destruir o trabalho dos espíritas. Na União Espírita Baiana (hoje Federação Espírita do Estado da Bahia), exerceu os cargos de 2º Secretário, de 1921 a 1922, e de 1º Secretário, de 1922 a 1939, juntamente com José Petitinga e uma plêiade de grandes trabalhadores.

Dedicou-se com muito carinho às reuniões mediúnicas, especialmente, às de desobsessão.  Achava imprescindível que as instituições espíritas se preparassem convenientemente para o intercâmbio espiritual, sendo de bom alvitre que os trabalhadores das atividades desobsessivas se resguardassem ao máximo, na oração, na vigilância e no trabalho superior. Salientava a importância do trabalho da caridade, para se precaverem de sofrer ataques das entidades que se sentem frustradas nos planos nefastos de perseguições. É o caso de muitas Casas Espíritas que, a título de falta de preparo, se omitem dos trabalhos mediúnicos.

Mesmo modesto, não pôde impedir que suas atividades sobressaíssem nas diversas frentes de trabalho que empreendeu em favor da Doutrina. Na literatura escreveu Resenha do Espiritismo na Bahia e Excertos que justificam o Espiritismo, que publicou omitindo o próprio nome. Em resposta ao Padre Huberto Rohden, publicou um opúsculo intitulado Por que sou Espírita.

Philomeno de Miranda foi eleito Presidente da União Espírita Baiana, em substituição a José Petitinga, quando este desencarnou, em 25 de março de 1939, em Salvador. Por mais de vinte e quatro anos consecutivos, Miranda vinha trabalhando na Federativa, em especial, na administração, no socorro espiritual como grande doutrinador, e nos serviços da caridade, zelando sempre pelo bom nome da Doutrina, com todo o desvelo de que era possuído. Sofrendo do coração, subia as escadas a fim de não faltar às sessões, sempre animado e sorrindo. Queria extinguir-se no seu cumprimento.

Seu desencarne ocorreu no dia 14 de julho de 1942. Na antevéspera, o devotado trabalhador da Seara do Cristo, impossibilitado de comparecer fisicamente à lide na Federativa Espírita Baiana, assim o disse, segundo relata A. M. Cardoso e Silva: “Agora sim! Não vou porque não posso mais. Estou satisfeito porque cumpri o meu dever. Fiz o que pude... o que me foi possível. Tome conta dos trabalhos, conforme já determinei.”

Querido de quantos o conheceram, até o último instante demonstrou a firmeza da tranquilidade dos justos, proclamando e testemunhando a grandeza imortal da Doutrina Espírita.

 

Fonte: Sítio da UEM (https://www.uemmg.org.br/biografias/manoel-philomeno-de-miranda)

 


sábado, 25 de março de 2023

Chico Xavier, quem é você?

 


AUTOBIOGRAFIA

 

P. — Chico Xavier, ao final deste Programa, que teve a pretensão de mostrar, se não toda, pelo menos parte de sua vida, nós lhe perguntamos: Chico Xavier, quem é você?

 

R. — Meu caro Tharsis, embora seja avesso às informações autobiográficas, não posso deixar de me estender um tanto na resposta à questão que a sua bondade suscita.

Antes de tudo rogo as suas desculpas de companheiro uberabense, de distinto jornalista do nosso campo cultural, se vier a parecer pretensioso ou prolixo, o que realmente não desejo.

A pergunta que você me dirige não deixa de ser um tanto estranha, porque sendo eu um cidadão como qualquer outro, pertenço ao gênero humano e não me consta seja de praxe que esta ou aquela pessoa deva explicar quem venha ser, desde que esteja sempre circulando, qual me acontece, no relacionamento comum.

Mas, satisfazendo a sua curiosidade simpática, devo esclarecer ao prezado amigo que sou uma pessoa como tantas outras, com muitos erros na vida e alguns poucos acertos, sempre alimentando o sincero desejo de cumprir as minhas obrigações.

Não tenho qualquer privilégio material ou espiritual. No setor da profissão, trabalhei 4 anos numa fábrica de tecidos, outros 4 anos num pequeno armazém, com setores anexos de cozinha e horticultura; e outros 32 anos consecutivos no Ministério da Agricultura, no qual me aposentei na condição de escriturário, somando ao todo 40 anos de trabalho profissional.

Em mediunidade, especialmente na psicografia, completei agora, em 8 de julho corrente, meio século de atividades ininterruptas.

Psicografei até agora 150 livros, em nos referindo aos livros já publicados, que entreguei, sem qualquer remuneração, às Editoras Espíritas Cristãs, com o que reconheço estar cumprindo simplesmente um dever.

Materialmente, tenho atravessado longos períodos de moléstia física. Sou portador de luxação no olho esquerdo desde muitos anos e, em verdade, tenho recebido muito auxílio dos amigos espirituais nos tratamentos de saúde a que tenho me submetido, mas já passei por cinco cirurgias de grande porte, sempre pelas mãos de médicos cirurgiões humanos e amigos, submetendo-me a instruções médicas e a regimes hospitalares, como sucede a qualquer doente comum. A mediunidade não me deu imunidades contra doenças e tentações naturais na existência humana, porque ainda agora, numa ocorrência muito natural a qualquer pessoa com 67 janeiros de idade física, sou portador de um processo de angina, que me obriga a tratamento diário muito complexo.

Segundo você mesmo, caro amigo, pode observar, sou uma pessoa demasiadamente comum, sem pretensões a qualquer destaque, que nada fiz por merecer.

Devo esclarecer a você que não tenho o privilégio de viver o tempo ao meu dispor, de vez que, como acontece a qualquer pessoa que preza os compromissos, o relógio tem muita importância em minha vida, conquanto me sinta muito feliz quando possa sustentar essa ou aquela conversação com os amigos, o que para mim não é um prazer muito acessível, em virtude das muitas tarefas a que estou vinculado.

Para clarear, tanto quanto possível, a minha resposta à sua pergunta, esclareço que em matéria de estudos tive apenas o curso primário, na cidade de Pedro Leopoldo, onde nasci. Mas, naturalmente, ouvindo instruções e escrevendo instruções com o Espírito de Emmanuel e outros Espíritos amigos, desde 1927, é impossível que a minha inteligência, mesmo estreita quanto é, não obtivesse alguma evolução e algum aprimoramento em meio século de trabalho espiritual incessante.

Esclareço ainda a você que pertenço, morfologicamente, ao sexo masculino, e qual ocorre com as pessoas que sentem e pensam muito sobre as próprias responsabilidades, psicologicamente tenho os conflitos naturais, inerentes a essas mesmas pessoas, conflitos estes que procuro asserenar, tanto quanto possível, com o apoio da religião, pois não creio que possamos vencer as nossas tendências inferiores ou animalizantes sem fé em Deus, sem a prática de uma religião que nos controle os impulsos e nos eduque os sentimentos.

Passei por muitas lutas espirituais, desde tenra idade, em matéria de faculdades mediúnicas. Mas, com a Doutrina Espírita, em que Allan Kardec explica os ensinamentos de Jesus, há precisamente meio século, encontrei nas tarefas espíritas o equilíbrio possível, de que eu necessitava, para viver e conviver com os meus irmãos em humanidade e para trabalhar como qualquer cidadão que deseja ser útil à sua família e ao seu grupo social.

Informo ainda a você que o trabalho mediúnico foi sempre muito intenso em minha vida, e que continuo solteiro, sentindo-me feliz nessa condição.

Aproveito ainda o ensejo para dizer ao bom amigo que sou muito grato aos companheiros e autoridades que se referem, com tanta generosidade e carinho, ao meio século de serviço mediúnico que completei agora, mas esclareço a você, meu caro Tharsis, que se algum apontamento elogioso aparece aqui e ali, esse apontamento pertence ao Espírito de Emmanuel, e a outros Benfeitores Espirituais que se comunicam por meu intermédio, em minha condição simples de medianeiro espírita, e que de mim mesmo não passo de um médium muito falho em tudo, precisando sempre das preces e das vibrações de apoio das pessoas amigas, espíritas ou não espíritas, que possam fazer a caridade de orar em meu favor, para que eu possa cumprir o meu dever.

A você, meu caro amigo Tharsis, muito obrigado.

 

Francisco Cândido Xavier – Livro: Entender conversando

 

 

Entrevista concedida ao jornalista e radialista Tharsis Bastos de Barros, para um Programa comemorativo dos 50 anos de atividades mediúnicas ininterruptas de Francisco C. Xavier, intitulado: “Especial com Chico Xavier”, e levado ao ar pela Rádio Sete Colinas, de Uberaba, MG, em fins de julho de 1977.

 

NASCIMENTO CHICO XAVIER – 02/04/1910




sábado, 27 de março de 2021

Biografia do Sr. Allan Kardec

 


É ainda sob o golpe da dor profunda que nos causou a prematura partida do venerável fundador da Doutrina Espírita, que nos abalançamos a uma tarefa, simples e fácil para suas mãos sábias e experientes, mas cujo peso e gravidade nos esmagariam, se não contássemos com o auxílio eficaz dos Espíritos bons e com a indulgência dos nossos leitores.

Quem, dentre nós, poderia, sem ser tachado de presunçoso, lisonjear-se de possuir o espírito de método e organização de que se mostram iluminados todos os trabalhos do mestre? Só a sua pujante inteligência podia concentrar tantos materiais diversos, triturá-los e transformá-los, para os espalhar em seguida, como orvalho benfazejo, sobre as almas desejosas de conhecer e de amar.

Incisivo, conciso, profundo, sabia agradar e fazer compreendido numa linguagem simples e elevada, ao mesmo tempo, tão distanciada do estilo familiar quanto das obscuridades da metafísica.

Multiplicando-se incessantemente, pudera até agora bastar a tudo. Entretanto, o cotidiano alargamento de suas relações e o contínuo desenvolvimento do Espiritismo lhe faziam sentir a necessidade de reunir em torno de si alguns auxiliares inteligentes e preparava simultaneamente a nova organização da Doutrina e de seus labores, quando nos deixou, para ir, num mundo melhor, receber a sanção da missão que desempenhara e coletar elementos para uma nova obra de devotamento e sacrifício.

Era sozinho!... Chamar-nos-emos legião e, por muito fracos e inexperientes que sejamos, nutrimos a convicção íntima de que nos conservaremos à altura da situação, se, partindo dos princípios estabelecidos e de incontestável evidência, nos consagrarmos a executar, tanto quanto nos seja possível e de acordo com as necessidades do momento, os projetos que ele pretendia realizar no futuro.

Enquanto nos mantivermos nas suas pegadas e todos os de boa vontade se unirem, num esforço comum pelo progresso e pela regeneração intelectual e moral da Humanidade, conosco estará o Espírito do grande filósofo a nos secundar com a sua influência poderosa, dado lhe seja possível suprir à nossa insuficiência e nos possamos mostrar dignos do seu concurso, dedicando-nos à obra com a mesma abnegação e a mesma sinceridade que ele, embora sem tanta ciência e inteligência.

Em sua bandeira, inscrevera o mestre estas palavras:

Trabalho, solidariedade, tolerância. Sejamos, como ele, infatigáveis; sejamos acordemente com os seus anseios, tolerantes e solidários e não temamos seguir-lhe o exemplo, reconsiderando, quantas vezes forem precisas, os princípios ainda controvertidos. Apelemos ao concurso e às luzes de todos. Tentemos avançar, antes com segurança e certeza, do que com rapidez, e não ficarão infrutíferos os nossos esforços se, como estamos persuadidos, e seremos os primeiros a dar disso exemplo, cada um cuidar de cumprir o seu dever, pondo de lado todas as questões pessoais, a fim de contribuir para o bem geral.

Sob auspícios mais favoráveis não poderíamos entrar na nova fase que se abre para o Espiritismo, do que dando a conhecer aos nossos leitores, num rápido escorço, o que foi, durante toda a sua vida, o homem íntegro e honrado, o sábio inteligente e fecundo, cuja memória se transmitirá aos séculos vindouros com a auréola dos benfeitores da Humanidade.

Nascido em Lyon, a 3 de outubro de 1804, de uma família antiga que se distinguiu na magistratura e na advocacia, Allan Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail) não seguiu essas carreiras. Desde a primeira juventude, sentiu-se inclinado ao estudo das ciências e da filosofia.

Educado na Escola de Pestalozzi, em Yverdun (Suíça), tornou-se um dos mais eminentes discípulos desse célebre professor e um dos zelosos propagandistas do seu sistema de educação, que tão grande influência exerceu sobre a reforma do ensino na França e na Alemanha.

Dotado de notável inteligência e atraído para o ensino, pelo seu caráter e pelas suas aptidões especiais, já aos quatorze anos ensinava o que sabia àqueles dos seus condiscípulos que haviam aprendido menos do que ele. Foi nessa escola que lhe desabrocharam as ideias que mais tarde o colocariam na classe dos homens progressistas e livres-pensadores.

Nascido sob a religião católica, mas educado num país protestante, os atos de intolerância que por isso teve de suportar, no tocante a essa circunstância, cedo o levaram a conceber a ideia de uma reforma religiosa, na qual trabalhou em silêncio durante longos anos com o intuito de alcançar a unificação das crenças.

Faltava-lhe, porém, o elemento indispensável à solução desse grande problema.

O Espiritismo veio, a seu tempo, imprimir-lhe especial direção aos trabalhos.

Concluídos seus estudos, voltou para a França.

Conhecendo a fundo a língua alemã, traduziu para a Alemanha diferentes obras de educação e de moral e, o que é muito característico, as obras de Fénelon, que o tinham seduzido de modo particular. (...)

 “Pelo ano de 1855, posta em foco a questão das manifestações dos Espíritos, Allan Kardec se entregou a observações perseverantes sobre esse fenômeno, cogitando principalmente de lhe deduzir as consequências filosóficas.

Entreviu, desde logo, o princípio de novas leis naturais: as que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível.

Reconheceu, na ação deste último, uma das forças da Natureza, cujo conhecimento haveria de lançar luz sobre uma imensidade de problemas tidos por insolúveis, e lhe compreendeu o alcance, do ponto de vista religioso.

“Suas obras principais sobre esta matéria são: O Livro dos Espíritos, referente à parte filosófica, e cuja primeira edição apareceu a 18 de abril de 1857; O Livro dos Médiuns, relativo à parte experimental e científica (janeiro de 1861); O Evangelho segundo o Espiritismo, concernente à parte moral (abril de 1864); O Céu e o Inferno, ou a Justiça de Deus segundo o Espiritismo (agosto de 1865); A Gênese, os milagres e as predições (janeiro de 1868); a Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos, periódico mensal começado a 1o de janeiro de 1858. Fundou em Paris, a 1o de abril de 1858, a primeira Sociedade espírita regularmente constituída, sob a denominação de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujo fim exclusivo era o estudo de quanto possa contribuir para o progresso da nova ciência. Allan Kardec se defendeu, com inteiro fundamento, de coisa alguma haver escrito debaixo da influência de ideias preconcebidas ou sistemáticas. Homem de caráter frio e calmo, observou os fatos e de suas observações deduziu as leis que os regem. Foi o primeiro a apresentar a teoria relativa a tais fatos e a formar com eles um corpo de doutrina, metódico e regular.

“Demonstrando que os fatos erroneamente qualificados de sobrenaturais se acham submetidos a leis, ele os incluiu na ordem dos fenômenos da Natureza, destruindo assim o último refúgio do maravilhoso e um dos elementos da superstição.

“Durante os primeiros anos em que se tratou de fenômenos espíritas, estes constituíram antes objeto de curiosidade, do que de meditações sérias. O Livro dos Espíritos fez que o assunto fosse considerado sob aspecto muito diverso.

Abandonaram-se as mesas girantes, que tinham sido apenas um prelúdio, e começou-se a atentar na doutrina, que abrange todas as questões de interesse para a Humanidade.

“Data do aparecimento de O Livro dos Espíritos a fundação do Espiritismo que, até então, só contara com elementos esparsos, sem coordenação, e cujo alcance nem toda gente pudera apreender. A partir daquele momento, a doutrina prendeu a atenção dos homens sérios e tomou rápido desenvolvimento. Em poucos anos, aquelas ideias conquistaram numerosos aderentes em todas as camadas sociais e em todos os países. Esse êxito sem precedentes decorreu sem dúvida da simpatia que tais ideias despertaram, mas também é devido, em grande parte, à clareza com que foram expostas e que é um dos característicos dos escritos de Allan Kardec.

“Evitando as fórmulas abstratas da Metafísica, ele soube fazer que todos o lessem sem fadiga, condição essencial à vulgarização de uma ideia. Sobre todos os pontos controversos, sua argumentação, de cerrada lógica, poucas ensanchas oferece à refutação e predispõe à convicção. As provas materiais que o Espiritismo apresenta da existência da alma e da vida futura tendem a destruir as ideias materialistas e panteístas. Um dos princípios mais fecundos dessa doutrina e que deriva do precedente é o da pluralidade das existências(...)

Conservara-se, todavia, em estado de hipótese e de sistema, enquanto o Espiritismo lhe demonstra a realidade e prova que nesse princípio reside um dos atributos essenciais da Humanidade. Dele promana a explicação de todas as aparentes anomalias da vida humana, de todas as desigualdades intelectuais, morais e sociais, facultando ao homem saber donde vem, para onde vai, para que fim se acha na Terra e por que aí sofre.

“As ideias inatas se explicam pelos conhecimentos adquiridos nas vidas anteriores; a marcha dos povos e a da Humanidade, pela ação dos homens dos tempos idos e que revivem, depois de terem progredido; as simpatias e antipatias, pela natureza das relações anteriores. Essas relações, que religam a grande família humana de todas as épocas, dão por base, aos grandes princípios de fraternidade, de igualdade, de liberdade e de solidariedade universal, as próprias leis da Natureza e não mais uma simples teoria.

 “Em vez do postulado: Fora da Igreja não há salvação, que alimenta a separação e a animosidade entre as diferentes seitas religiosas e que há feito correr tanto sangue, o Espiritismo tem como divisa: Fora da Caridade não há salvação, isto é, a igualdade entre os homens perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua.

“Em vez da fé cega, que anula a liberdade de pensar, ele diz: Fé inabalável só o é a que pode encarar face a face a razão, em todas as épocas da Humanidade. À fé, uma base se faz necessária e essa base é a inteligência perfeita daquilo em que se tem de crer. Para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é para este século.

É precisamente ao dogma da fé cega que se deve o ser hoje tão grande o número de incrédulos, porque ela quer impor-se e exige a abolição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio.”  (O Evangelho segundo o Espiritismo.)

Trabalhador infatigável, sempre o primeiro a tomar da obra e o último a deixá-la, Allan Kardec sucumbiu, a 31 de março de 1869, quando se preparava para uma mudança de local, imposta pela extensão considerável de suas múltiplas ocupações. Diversas obras que ele estava quase a terminar, ou que aguardavam oportunidade para vir a lume, demonstrarão um dia, ainda mais, a extensão e o poder das suas concepções.

Morreu conforme viveu: trabalhando. Sofria, desde longos anos, de uma enfermidade do coração, que só podia ser combatida por meio do repouso intelectual e pequena atividade material. Consagrado, porém, todo inteiro à sua obra, recusava-se a tudo o que pudesse absorver um só que fosse de seus instantes, à custa das suas ocupações prediletas. Deu-se com ele o que se dá com todas as almas de forte têmpera: a lâmina gastou a bainha.

O corpo se lhe entorpecia e se recusava aos serviços que o Espírito lhe reclamava, enquanto este último, cada vez mais vivo, mais enérgico, mais fecundo, ia sempre alargando o círculo de sua atividade.

Nessa luta desigual não podia a matéria resistir eternamente. Acabou sendo vencida: rompeu-se o aneurisma e Allan Kardec caiu fulminado. Um homem houve de menos na Terra; mas, um grande nome tomava lugar entre os que ilustraram este século; um grande Espírito fora retemperar-se no Infinito, onde de todos os que ele consolara e esclarecera lhe aguardavam impacientes a volta!

“A morte, dizia, faz pouco tempo, redobra os seus golpes nas fileiras ilustres!... A quem virá ela agora libertar?”

Ele foi, como tantos outros, recobrar-se no Espaço, procurar elementos novos para restaurar o seu organismo gasto por uma vida de incessantes labores. Partiu com os que serão os fanais da nova geração, para voltar em breve com eles a continuar e acabar a obra deixada em dedicadas mãos.

O homem já aqui não está; a alma, porém, permanecerá entre nós. Será um protetor seguro, uma luz a mais, um trabalhador incansável que as falanges do Espaço conquistaram. Como na Terra, sem ferir a quem quer que seja, ele fará que cada um lhe ouça os conselhos oportunos; abrandará o zelo prematuro dos ardorosos, amparará os sinceros e os desinteressados e estimulará os tíbios. Vê agora e sabe tudo o que ainda há pouco previa! Já não está sujeito às incertezas, nem aos desfalecimentos e nos fará partilhar da sua convicção, fazendo-nos tocar com o dedo a meta, apontando-nos o caminho, naquela linguagem clara, precisa, que o tornou aureolado nos anais literários.

Já não existe o homem, repetimo-lo. Entretanto, Allan Kardec é imortal e a sua memória, seus trabalhos, seu Espírito estarão sempre com os que empunharem forte e vigorosamente o estandarte que ele soube sempre fazer respeitado.

Uma individualidade pujante constituiu a obra. Era o guia e o farol de todos. Na Terra, a obra substituirá o obreiro. Os crentes não se congregarão em torno de Allan Kardec; congregar-se-ão em torno do Espiritismo, tal como ele o estruturou e, com os seus conselhos, sua influência, avançaremos, a passos firmes, para as fases ditosas prometidas à Humanidade regenerada.

Revista Espírita – maio/1869

sábado, 14 de novembro de 2020

Manoel Philomeno de Miranda

 


Manoel Philomeno de Baptista de Miranda nasceu no dia 14 de novembro de 1876, em Jangada, Município do Conde, no Estado da Bahia. Foram seus pais Manoel Baptista de Miranda e Umbelina Maria da Conceição.

Mais conhecido como Philomeno de Miranda, diplomou-se pela Escola Municipal da Bahia (hoje Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia), colando grau na turma de 1910, como ‘Bacharel em Comércio e Fazenda’.  Exerceu sua profissão com muita probidade, sendo um exemplo de operosidade no campo profissional. Ajudava sempre aqueles que o procuravam, pudessem ou não retribuir os seus serviços. Foi tão grande em sua conduta, como na modéstia.

Em 1914, foi debilitado por uma enfermidade pertinaz, e tendo recorrido a diversos médicos, sem qualquer resultado positivo, foi curado pelo médium Saturnino Favila, na cidade de Alagoinhas, com passes e água fluidificada, complementando a cura com alguns remédios da Flora Medicinal.

Nessa época, indo a Salvador, conheceu José Petitinga, que o convidou a frequentar a União Espírita Baiana. A partir daí, Philomeno de Miranda interessou-se pelo estudo e prática do Espiritismo, tornando-se um dos mais firmes adeptos de seus ensinamentos. Fiel discípulo de Petitinga, foi autêntico diplomata no trato com o Movimento Espírita da Bahia, com capacidade para resolver todos os assuntos pertinentes às Casas Espíritas. A serviço da causa, visitava periodicamente as Sociedades Espíritas, da Capital e do Interior, procurando soluções para qualquer dificuldade.

Delicado, educado, porém decidido na luta, não dava trégua aos ataques descabidos, arremetidos por religiosos e cientistas que tentavam destruir o trabalho dos espíritas. Na União Espírita Baiana (hoje Federação Espírita do Estado da Bahia), exerceu os cargos de 2º Secretário, de 1921 a 1922, e de 1º Secretário, de 1922 a 1939, juntamente com José Petitinga e uma plêiade de grandes trabalhadores.

Dedicou-se com muito carinho às reuniões mediúnicas, especialmente, às de desobsessão.  Achava imprescindível que as instituições espíritas se preparassem convenientemente para o intercâmbio espiritual, sendo de bom alvitre que os trabalhadores das atividades desobsessivas se resguardassem ao máximo, na oração, na vigilância e no trabalho superior. Salientava a importância do trabalho da caridade, para se precaverem de sofrer ataques das entidades que se sentem frustradas nos planos nefastos de perseguições. É o caso de muitas Casas Espíritas que, a título de falta de preparo, se omitem dos trabalhos mediúnicos.

Mesmo modesto, não pôde impedir que suas atividades sobressaíssem nas diversas frentes de trabalho que empreendeu em favor da Doutrina. Na literatura escreveu Resenha do Espiritismo na Bahia e Excertos que justificam o Espiritismo, que publicou omitindo o próprio nome. Em resposta ao Padre Huberto Rohden, publicou um opúsculo intitulado Por que sou Espírita.

Philomeno de Miranda foi eleito Presidente da União Espírita Baiana, em substituição a José Petitinga, quando este desencarnou, em 25 de março de 1939, em Salvador. Por mais de vinte e quatro anos consecutivos, Miranda vinha trabalhando na Federativa, em especial, na administração, no socorro espiritual como grande doutrinador, e nos serviços da caridade, zelando sempre pelo bom nome da Doutrina, com todo o desvelo de que era possuído. Sofrendo do coração, subia as escadas a fim de não faltar às sessões, sempre animado e sorrindo. Queria extinguir-se no seu cumprimento.

Seu desencarne ocorreu no dia 14 de julho de 1942. Na antevéspera, o devotado trabalhador da Seara do Cristo, impossibilitado de comparecer fisicamente à lide na Federativa Espírita Baiana, assim o disse, segundo relata A. M. Cardoso e Silva: “Agora sim! Não vou porque não posso mais. Estou satisfeito porque cumpri o meu dever. Fiz o que pude... o que me foi possível. Tome conta dos trabalhos, conforme já determinei.”

Querido de quantos o conheceram , até o último instante demonstrou a firmeza da tranquilidade dos justos, proclamando e testemunhando a grandeza imortal da Doutrina Espírita.

 

TRABALHO COM DIVALDO FRANCO

O médium Divaldo Pereira Franco relata como conheceu e conviveu com o amoroso Benfeitor, Philomeno de Miranda:

“Numa das viagens a Pedro Leopoldo, no ano de 1950, Chico Xavier psicografou para mim uma mensagem ditada pelo Espírito José Petitinga, e no próximo encontro, uma outra ditada pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Eu era muito jovem e, como é compreensível, fiquei muito sensibilizado. Guardei as mensagens, bebi nelas a inspiração, permanecendo confiante em Deus.

“No ano de 1970, no mês de janeiro, apareceu-me o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, dizendo que, na Terra, havia trabalhado na União Espírita Baiana, atual Federação, tendo exercido vários cargos, dedicando-se, especialmente à tarefa do estudo da mediunidade e da desobsessão.

“Quando chegou ao Mundo Espiritual, foi estudar em mais profundidade as alienações por obsessão e as técnicas correspondentes da desobsessão.

“Fora uma pessoa que, no mundo, se dedicava à escrituração mercantil, portanto afeito a uma área de informações de natureza geral sobre o comércio.

“Mas, tendo convivido muito com Petitinga, que foi um beletrista famoso, um grande latinista, amigo íntimo de Carneiro Ribeiro - que também se notabilizou pela réplica e tréplica com Ruy Barbosa - ele, Miranda, houvera aprimorado os conhecimentos linguísticos que levara da Terra, com vistas a uma programação de atividades para a Doutrina Espírita, pela mediunidade, no futuro.

“Convidado por Joanna de Ângelis, para trazer o seu contributo em torno da mediunidade, da obsessão e desobsessão, ele ficou quase trinta anos realizando estudos e pesquisas e elaborando trabalho que mais tarde iria enfeixar em livros.

“Ao me aparecer, então, pela primeira vez, disse-me que gostaria de escrever por meu intermédio.

“Levou-me a uma reunião, no Mundo Espiritual, onde reside, e ali mostrou-me como eram realizadas as experiências de prolongamento da vida física através de transfusão de energia utilizando-se do perispírito. Depois de uma convivência de mais de um mês, aparecendo-me diariamente para facilitar o intercâmbio psíquico entre ele e mim, começou a escrever ‘Nos Bastidores da Obsessão’, que são relatos, em torno da vida espiritual, das técnicas obsessivas e de desobsessão.”

A partir daí, seguiram-se outros livros sobre o problema obsessivo, classificado por Philomeno de Miranda como “tormentoso flagício social”. Nos seus livros, caracterizados e lidos como “romances”, encontra-se meticuloso exame da mediunidade atormentada e das patologias obsessivas, em páginas de profundo teor didático que permitem ao leitor melhor compreensão da narrativa central.

Além de Nos Bastidores da Obsessão, ditou ao médium Divaldo Pereira Franco as seguintes obras: Grilhões Partidos, Nas Fronteiras da Loucura, Loucura e Obsessão, Trilhas da Libertação, Painéis da Obsessão, Temas da Vida e da Morte, Tramas do Destino, Sexo e Obsessão, Tormentos da Obsessão e Entre os Dois Mundos.

 

Philomeno de Miranda foi amigo de Leopoldo Machado, patrocinando grandes conferências desse inesquecível trabalhador, que deixou um marco de luz em sua passagem pela Terra.

 

Extraído do site da UEM

Fontes:

- Antônio Souza Lucena, in “Reformador”, nov/1990;

- Adilton Pugliese, in “A Obsessão: Instalação e Cura”, LEAL, 1998;

- “O Espírita Mineiro”, nº 288, nov./dez./2005.