Médico exemplar, espírita dedicado, político íntegro, homem de
bem. Bezerra de Menezes sintetiza virtudes grandiosas sem perder os traços de
uma comovente humanidade. (...)
Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti nasceu na Freguesia do Riacho
do Sangue, hoje Jaguaretama (CE), em 29 de agosto de 1831.
Educado dentro de padrões morais rígidos, formou-se em 1856 pela
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e tornou-se mais que médico: missionário.
“Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe
ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta”, escreveu.
Para ele, o doente representava o anjo da caridade que lhe vinha
fazer uma visita e lhe trazia a única moeda que podia saciar a sede de riqueza
do Espírito. Seus gestos de bondade e sua infatigável compaixão tornaram-se
lendários.
A carreira política de Bezerra de Menezes iniciou-se em 1861, quando
foi eleito vereador municipal pelo Partido Liberal. Na Câmara Municipal da
Corte desenvolveu amplo trabalho em favor dos mais pobres. Foi reeleito para o
período 1864-1868 e elegeu-se deputado geral em 1867. Novamente foi eleito
vereador em 1873.
Ocupou o cargo de presidente da Câmara, que atualmente
corresponde ao de prefeito do Rio de Janeiro, de julho de 1878 a janeiro de
1881. Nessa época, a intensificação da luta abolicionista teve a adesão de
Bezerra, que usou de extrema prudência no trato do assunto.
No dia 16 de agosto de 1886, o público de duas mil pessoas que lotava
a sala de honra da Guarda Velha, no Rio de Janeiro, ouviu, silencioso e
atônito, o famoso médico e político anunciar sua conversão ao Espiritismo.
(...)
O contato com a Doutrina Espírita ocorrera dez anos antes,
quando Joaquim Carlos Travassos, que fez a primeira tradução das obras de Allan
Kardec, presenteou Bezerra com um exemplar de O Livro dos Espíritos. O episódio
foi narrado pelo próprio Bezerra: “[...] disse comigo: ora, adeus! Não hei de
ir para o inferno por ler isto [...] depois, é ridículo confessar-me ignorante
desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando
assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia, mas
não encontrava nada que fosse novo para meu espírito, entretanto tudo aquilo
era novo para mim! Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se acha em O Livro dos
Espíritos [...]. Preocupei-me seriamente com este fato que me era maravilhoso e
a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, como se diz
vulgarmente, de nascença [...]”.
Desde então, sua vida foi dedicada ao Espiritismo. Escritor
refinado, passou a assinar artigos com temas espíritas. Aos domingos, escrevia
no jornal então mais lido do Brasil: O Paiz. Sob o pseudônimo Max, assinava a
série “Espiritismo-Estudos Filosóficos”, que escreveu ininterruptamente de
novembro de 1886 até dezembro de 1896. Seus textos, inclusive os publicados no
Reformador, marcaram época pela dignidade e coragem com que defendia seus pontos
de vista e o Espiritismo.
Em 1889 assumiu pela primeira vez a presidência da FEB e iniciou
o estudo metódico, semanal, de O Livro dos Espíritos. Entre os diversos livros
que escreveu, constam trabalhos doutrinários, políticos e históricos. Todos
deixam transparecer a preocupação com os desfavorecidos. Traduziu Obras Póstumas,
de Allan Kardec.
As divergências se multiplicavam entre os espíritas brasileiros.
De um lado os chamados “místicos” e de outro os “científicos”. Em
1895, Bezerra de Menezes foi lembrado como o único nome capaz de unir os
espíritas. Em 3 de agosto daquele ano, assumiu pela segunda vez a presidência
da FEB, cargo que ocupou até a sua desencarnação.
À frente da Casa, imprimiu uma orientação acentuadamente evangélica
aos trabalhos e recomeçou o estudo de O Livro dos Espíritos.
No início de 1900, Bezerra de Menezes foi acometido por uma congestão
cerebral. Grande número de visitantes de todas as classes sociais acorria à sua
casa diariamente.
Em 11 de abril de 1900, às 11h30, desencarnou, no Rio de
Janeiro. (...).
Como Espírito, prossegue na vivência plena da caridade e da
humildade: levantando os abatidos, consolando os curvados sob as provas
terrenas, orientando Espíritos endurecidos, inspirando indulgência.
Sua assistência bondosa pode ser sentida nos livros e mensagens
que ditou a Francisco Cândido Xavier, Yvonne Pereira e outros médiuns.
Tradicionalmente, durante a reunião anual do Conselho Federativo Nacional da FEB,
pelo médium Divaldo Pereira Franco, ele fala ao Movimento Espírita: continua a
convidar os espíritas à união fraterna, perfumando as almas com seus exemplos de
mansidão, devotamento, benevolência e perdão.
Sônia Zagueto – Revista Reformador