quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A festa de Momo


Todo ano as festividades em homenagem a Momo se reprisam.
O carnaval se constitui em uma série de folguedos populares, promovidos, habitualmente, nos três dias que antecedem o início da quaresma, em torno do mesmo centro de interesse: o disfarce, a dança.
O canto e o gozo de certas liberdades de comunicação humana, inexistentes ou muito refreadas durante o resto do ano, a folia carnavalesca se apresenta com características distintas, nos diferentes lugares em que se popularizou.
Perdendo-se nos períodos mais antigos, as origens do carnaval podem ser encontradas nas bacanalia da Grécia. Era uma festa que homenageava o deus Dionísio.
Antes disso, os trácios se entregavam aos prazeres coletivos, como quase todos os povos antigos.
Mais tarde, vamos encontrar essas festas em Roma, como saturnalia, quando se imolava uma vítima humana. Era uma festa de infeliz caráter pagão.
Na Idade Média começou a se aceitar, com naturalidade, o enlouquecimento lícito uma vez por ano.
A festa tem vestígios bárbaros e do primitivismo reinantes ainda na Terra.
No Brasil colonial e monárquico a forma mais generalizada de brincar o carnaval era o entrudo português.
Consistia em atirar contra as pessoas, não apenas água, mas provisões de pós ou cal.
Mais tarde, água perfumada com limões, vinagre, groselha ou vinho. O objetivo sempre era sujar o passante desprevenido.
Como se vê, uma brincadeira perigosa e grosseira.
A morte definitiva do entrudo se deu com o aparecimento do confete, a serpentina e o lança-perfume.
O que se observa nesses três dias de loucura, em que a carne nada vale, é o afloramento das paixões.
Observam-se foliões que se afadigam por longos meses na confecção das fantasias. Tudo para viver a psicosfera da ilusão.
Perseguem vitórias vazias, que esperam alcançar nesses dias.
Diversos se mostram exaustos, física e emocionalmente.
Alguns recorrem a fortes estimulantes para o instante definitivo do desfile.
Consomem tempo e dinheiro, que poderiam ser aplicados na manutenção da vida e salvação de muitas vidas.
Mergulham em um mundo de sonhos fantástico. Anseiam por dar autenticidade a cada gesto, a toda atitude.
Usando vestimentas de reis e rainhas, nobres e conquistadores, personagens de contos, artistas, fariam inveja a todos a quem copiam.
Isso se as vestes e as coroas, os cetros, os mantos e as posturas não fossem todos falsos. Exatamente como falsas são as expressões e vitórias que ostentam.
Diversos desses foliões nem se dão conta que poderão estar a representar a própria personalidade de vidas passadas.
Uma grande perda de tempo pois, de um modo geral, conquistadores, reis, rainhas e generais que foram, se ainda permanecem na Terra é porque naquelas vidas faliram. E faliram feio.
Em toda essa festa de loucura, que deixa marcas profundas, pergunta-se se será mesmo manifestação de alegria, de descontração.
Se necessito me fantasiar, embriagar para desfrutar alegria, onde a autenticidade?
Sem falar nos graves problemas gerados a partir desses três dias dedicados a Momo: gravidez, uso de drogas, abuso do álcool, acidentes por irresponsabilidades.
A vida é um bem por demais precioso. Precioso também é o tempo. Talentos dados por Deus.
Bom se aprendêssemos a escolher a boa parte, aquela que não nos será tirada, conforme o ensino do Mestre, no diálogo mantido com Marta, no abençoado lar de Betânia.
Em vez do palco da mentira, da glória ligeira, dos confetes da triste e enganosa noite de carnaval, quantas bênçãos se pode semear nos feriados momescos.
A escolha é pessoal. Porque sempre a semeadura é livre. Somente a colheita é obrigatória.
Pense nisso!
Redação do Momento Espírita, com base nos caps. 6 e 15 do livro
Nas fronteiras da loucura, pelo  Espírito Manoel Philomeno de Miranda,
psicografia de  Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL e no verbete 
Carnaval,
 da Enciclopédia Mirador Internacional, v. 5, ed. Encyclopaedia Britannica
do Brasil.
Em 28.2.2017.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

160 anos de "O livro dos Espíritos"


Algumas considerações sobre a escravidão no Brasil à luz da Doutrina Espírita


"— As sociedades brasileiras, meus caros discípulos, sofrem hoje e sofrerão ainda, por  espaço de tempo que estará ao seu alcance o dilatar ou reprimir, as consequências das iniquidades que em pleno domínio da era cristã permitiram fossem cometidas em seu seio. Refiro-­me, como  bem percebeis, à escravização de seres humanos, tratados por elas com maior rigor do que o eram os próprios animais inferiores, para a extração de posses e haveres que lhes facultassem o gozo e o  império das paixões! Se não foi crime individual e sim coletivo, será a coletividade que expiará e reparará o grande opróbrio, o grande martírio infligido a uma raça carecedora do amparo fraternal da civilização cristã, a fim de que, por sua vez, também se gloriasse às alvíssaras da educação  fornecida através da Boa­ Nova do Reino de Deus! Sob os céus assinalados pelo símbolo augusto  da Iniciação  como do Cristianismo  —  a Cruz —, ressoam ainda, ecoando aflitivamente na Espiritualidade, os brados angustiosos de milhares de corações torturados que durante o dobar dos decênios se compungiram ante a infâmia de que eram vítimas! Não deixaram de repercutir ainda nas ondas delicadas do éter, onde se assentam as esferas de proteção às sociedades humanas, os rumores trágicos dos látegos sanhudos dos capatazes diabólicos, a vergastarem homens e mulheres indefesos, cujas lágrimas, recolhidas uma a uma pela Incorruptível Justiça do Todo ­Poderoso, foram, por lei, espalhadas, em seguida, sobre essa mesma coletividade criminosa, para que, por sua vez, as sorvesse em pelejas posteriores, a se purificarem do acervo de maldades e infâmias praticadas! Por isso, eis a grande Pátria sul-americana debatendo-­se contra problemas complexos, suas sociedades em pelejas dolorosas consigo próprias, vitimadas por um acúmulo de agravos que as desorientam, ocupando postos mais bem bafejados aqueles que ontem se viram oprimidos, e vergados sob aflições coletivas, relegados à indiferença das classes favorecidas, os orgulhosos e imprevidentes do passado, os quais a tempo não se abeberaram dos exemplos do Celeste Enviado, renegando a cordura da fraternidade para com os seus semelhantes, a cautela de semearem amor a fim de colherem misericórdia no  dia do Supremo Juízo!  E assim prosseguirão até que a Voz Celeste dos Missionários do Senhor as oriente para finalidade apaziguadora, no trabalho sublime da reconciliação individual por amor do Cristo de Deus! (...) Sabei que entre os escravos que, sob os céus do Cruzeiro  Sublime, choraram, vergados sob o trabalho excessivo, famintos, rotos, doentes, tristes, saudosos, desesperados frente à opressão, à fadiga, à maldade, nem todos traziam os característicos íntimos da inferioridade, como  bastas vezes foi comprovado por testemunhas idôneas; nem todos apresentavam caracteres primitivos!  Grandes falanges de romanos ilustres, do império dos Césares; de patrícios orgulhosos, de guerreiros altivos, autoridades das hostes de Diocleciano, como de Adriano e Maxêncio, dolorosamente arrependidas das monstruosas séries de arbitrariedades cometidas em nome da Força e do Poder contra pacíficos adeptos do Cordeiro  Imaculado, pediram reencarnações na África infeliz e desolada, a fim de testemunharem novos propósitos ao contato de expiações decisivas, fustigando, assim, o desmedido orgulho que a raça poderosa dos romanos adquirira com as mentirosas glórias do extermínio da dignidade e dos direitos alheios! Suplicaram, ainda e sempre corajosos e fortes, novas conquistas! Mas, agora, nas pelejas contra si próprios, no combate ao  orgulho daninho que os perdera! Suplicaram disfarce carnal qual armadura redentora, em envoltórios negros, onde peadas fossem suas possibilidades de reação, e arvorada em suas consciências a branca bandeira da paz, flâmula augusta concedida pela reparação do mal! E os escravizadores de tantos povos e tantas gerações dignas! Os desumanos senhores do mundo terráqueo, que gargalhavam enquanto gemiam os oprimidos! Que faziam seus regalos sobre o martírio e o sangue inocente dos cristãos, expungiram sob o cativeiro africano a mancha que lhes enodoava o Espírito! 
Daí, meus discípulos queridos, a doce, mesmo sublime resignação dessa raça africana digna, por todos os motivos, da nossa admiração e do nosso respeito, a passividade heroica que nem sempre se estribou  na ignorância e na incapacidade oriunda de um estado inferior, mas também no desejo ardente e sublime da própria reabilitação espiritual!”


Palavras do orientador espiritual Epaminondas de Vigo no livro “Memórias de um suicida” de Camilo Cândido Botelho, psicografia de Yvonne A. Pereira.