Nesta edição:
· O progresso na imortalidade
· Ante o Evangelho: Caracteres da perfeição
· Poema: Espera coração
· Na senda escabrosa – Fonte Viva
· Prece de amor - Scheilla
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· O progresso na imortalidade
· Ante o Evangelho: Caracteres da perfeição
· Poema: Espera coração
· Na senda escabrosa – Fonte Viva
· Prece de amor - Scheilla
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Embora a humanidade avance pouco a pouco na
estrada do progresso, pode-se dizer que a imensa maioria de seus membros marcha
através da vida como em meio de uma noite obscura, ignorando de onde vem, não
sabendo para onde vai, não tendo jamais sonhado com o objetivo real da
existência.
Espessas trevas dominam a razão humana; os
raios destes poderosos focos, que são a justiça e a verdade, só chegam a ela
pálidos, enfraquecidos e insuficientes para aclarar os caminhos sinuosos por
onde as inúmeras legiões seguem em marcha, para fazer brilhar a seus olhos o
objetivo ideal e distante.
Ignorante de seus destinos, indeciso entre
o preconceito e o erro, o homem maldiz, por vezes, a vida. Desfalecendo ao peso
do seu fardo, lança sobre seus semelhantes a causa das provas que ele engendra
e sofre, muitas vezes por sua imprevidência.
Revoltado contra Deus, que ele acusa de
injusto, em sua loucura e seu desespero chega mesmo, algumas vezes, a desertar
do combate salutar, da luta que só pode fortificar sua alma, aclarar seu
julgamento, prepará-lo para trabalhos de ordem mais elevada.
Por que é assim? Por que o homem desce
frágil e desarmado na grande arena onde se trava, sem tréguas e sem descanso, a
eterna e gigantesca batalha? É que esse globo terrestre é simplesmente um dos
degraus inferiores da escala dos mundos e nele moram apenas espíritos novos,
isto é, almas nascidas recentemente com a razão.
A matéria reina soberana em nosso mundo e
curva sob seu jugo até os melhores dentre nós; limita nossas faculdades,
paralisa nossos anseios para o bem e nossas aspirações para o ideal.
Assim, para discernir o porquê da vida,
para conhecer sua razão de ser, para entrever a lei suprema que rege as almas e
os mundos é preciso saber libertar-se dessas pesadas influências, liberar-se
das preocupações de ordem material, de todas essas coisas passageiras e
volúveis que acobertam nosso espírito, dificultando nossos julgamentos. Somente
nos elevando algumas vezes pelo pensamento, acima dos próprios horizontes da
vida, fazendo abstração do tempo e do espaço e planando, de certa forma, acima
dos pormenores da existência, é que perceberemos a verdade.
Com um esforço de vontade, abandonemos por
um instante a Terra e subamos essas encostas sublimes. Do alto dos cumes
intelectuais se desenrolará, para nós, o imenso panorama dos tempos sem fim e
dos espaços sem limite. Do mesmo modo que o soldado perdido na luta só vê
confusão em seu derredor, enquanto que o general, cujo olhar alcança todas as
peripécias da batalha, calcula e prevê seus resultados; da mesma forma que o
viajante, perdido nas dobras do terreno, subindo a montanha, pode vê-las se
fundir numa planície grandiosa, assim a alma humana, dos cumes onde ela plana,
longe dos ruídos da Terra, longe dos recantos obscuros, descobre a harmonia
universal. O que embaixo lhe parecia confuso, inexplicável e injusto, visto do
alto se liga e se aclara.
As sinuosidades da existência se
endireitam. Tudo se une, tudo se encadeia. Ao espírito deslumbrado aparece a
ordem majestosa que regula o curso das existências e a marcha dos universos.
Dessas alturas iluminadas, a vida não é
mais, aos nossos olhos, como aos da multidão, a busca vã de satisfações
efêmeras, porém um meio de aperfeiçoamento intelectual, de elevação moral, uma
escola onde se aprende a doçura, a paciência e o dever.
Esta vida, para ser eficaz, não pode ser
isolada. Fora de seus limites, além do nascimento e da morte, vemos, numa
espécie de penumbra, desenrolar-se uma multidão de existências através das
quais, à custa do trabalho e do sofrimento, conquistamos, peça por peça, pedaço
por pedaço, o pouco de saber e de qualidades que possuímos e pelos quais também
conquistaremos o que nos falta: uma razão perfeita, uma ciência sem limites e
um amor infinito por tudo quanto vive.
A imortalidade, semelhante a uma cadeia sem
fim, se desenrola para cada um de nós na imensidade dos tempos. Cada existência
é um elo que se liga, para trás e para frente, em uma cadeia distinta, a uma
vida diferente, porém solidária com as outras.
O futuro é a consequência do passado e, de
degrau em degrau, o ser se eleva e cresce. Artífice de seus próprios destinos,
o homem, livre e responsável, escolhe seu caminho e se essa rota é difícil, as
quedas que terá, os calhaus e os espinhos que irão dilacerá-lo terão como
efeito desenvolver sua experiência e fortificar sua razão nascente.
A lei suprema do mundo é, portanto, o
progresso incessante, a ascensão dos seres para Deus, fonte das perfeições. Das
profundezas do abismo, das mais rudimentares formas da vida, por uma rota
infinita e com o auxílio de transformações sem conta, nós nos aproximamos dele.
No fundo de cada alma o Eterno colocou o germe de todas as faculdades e de
todas as potências; cabe-nos fazê-las eclodir por nossos esforços e por nossas
lutas!
Encarado por esses aspectos novos, nosso
progresso, nossa vindoura felicidade é obra nossa e a graça não tem mais razão
de ser, pois a justiça brilha afinal sobre o mundo, porque se todos lutamos e
sofremos, todos seremos salvos.
Igualmente se revela aqui, em toda a sua
grandeza, o papel da dor e sua utilidade para o progresso dos seres. Cada globo
que rola no espaço é uma vasta oficina onde a substância das almas é incessantemente
trabalhada.
Assim como o grosseiro mineral, sob a ação
do fogo e das águas, se transforma, pouco a pouco, em um puro metal, também a
alma humana, sob os pesados martelos da dor, se transforma e se fortifica. É no
meio das provas que se forjam os grandes caracteres. A dor é a suprema purificação,
é a fornalha onde se fundem todas as escórias impuras que corrompem a alma: o orgulho,
o egoísmo e a indiferença.
É a única escola onde se afinam as
sensações delicadas, onde se aprendem a piedade e a resignação estoicas. Os
gozos sensuais, ligando-nos à matéria, retardam nossa elevação, enquanto que o
sacrifício e a abnegação nos desligam, por antecipação, dessa espessa ganga e
nos preparam para novas etapas e para uma ascensão mais alta. Assim a alma se
eleva na escalada magnífica dos mundos e percorre o campo sem limites dos
espaços e dos tempos.
A cada conquista sobre as paixões, a cada
passo à frente, engrandecida e purificada, ela vê seus horizontes se alargarem
e percebe, cada vez mais distintamente, a grande harmonia das leis e das coisas
e nela participa de uma forma bem estreita e mais efetiva.
Então para ela o tempo se apaga e os
séculos se escoam como segundos. Unida a suas irmãs, companheiras da
erraticidade, ela prossegue sua marcha eterna no seio de uma luz cada vez
maior.
De nossas buscas e de nossas meditações se
destaca assim uma grande lei: a pluralidade das existências da alma. Nós vivemos
antes do nascimento e viveremos depois da morte e esta lei nos dá a chave de
problemas até agora insolúveis, pois somente ela explica a desigualdade das
condições e a infinita variedade dos caracteres e das aptidões. Conhecemos ou conheceremos,
sucessivamente, todas as fases da vida terrestre e percorreremos todos os
meios. No passado, nós éramos como esses selvagens que povoam os continentes atrasados;
no futuro, nós nos poderemos elevar à grandeza desses gênios imortais, desses
espíritos gigantes que, semelhantes a faróis luminosos, iluminam a marcha da
humanidade.
O tempo e o trabalho são os dois elementos
de nosso progresso e a lei da reencarnação mostra, de uma forma brilhante, a
soberana justiça que reina sobre todos os seres. Passo a passo, nos forjamos e
quebramos, nós próprios, nossos grilhões. As provas terríveis, que alguns
dentre nós sofrem, são a consequência de uma conduta do passado.
O déspota renasce escravo; a mulher altiva
e vaidosa por sua beleza tomará um corpo enfermo e sofredor; o preguiçoso
voltará como servo, curvado sob uma tarefa ingrata, e aquele que fez sofrer,
por seu turno, sofrerá. É inútil procurar o inferno nas regiões desconhecidas e
distantes. O inferno está em torno de nós e se oculta nas dobras ignoradas da
alma culpada, na qual só a expiação pode fazer cessar as dores.
Entretanto, dirão, se outras vidas
precederam o nascimento, por que perdemos sua lembrança e como poderemos
resgatar com sucesso faltas esquecidas?
A lembrança! Ela não seria mais que um
terrível grilhão atado aos nossos pés! Mal saída das idades da fúria,
escapando, ontem, da bestialidade feroz, qual deve ser esse passado de cada um
de nós? Pelas etapas vencidas, quantas lágrimas temos feito correr e quanto
sangue temos derramado! Conhecemos o ódio e praticamos a injustiça. Que fardo
moral essa longa perspectiva de faltas para um pobre espírito já débil e
cambaleante! Depois, a lembrança de nosso próprio passado estaria ligada, de
uma forma íntima, à lembrança do passado de outras pessoas. Que desagradável
situação para o culpado, marcado assim com o ferro em brasa pela eternidade!
E os ódios, os erros se perpetuariam pela
mesma razão, criando divisões profundas e eternas no seio dessa humanidade já
tão sacrificada. Sim, Deus fez bem em apagar de nossos frágeis cérebros a
lembrança de um passado perigoso. Após termos bebido as águas do Léthé,
renascemos numa nova vida.
Uma educação diferente, uma civilização
mais ampla faz espantar os fantasmas que perturbaram outrora nosso espírito.
Aliviados dessa bagagem pesada, avançamos
com passo mais rápido pelas sendas que nos são abertas.
Entretanto esse passado não está tão
extinto que não lhe possamos entrever alguns vestígios. Se, livres das
influências exteriores, descermos ao fundo de nosso ser, se analisarmos, com cuidado
nossas preferências e nossas aspirações, descobriremos coisas que nada em nossa
atual existência e na educação recebida pode explicar.
Partindo daí, chegaremos a reconstituir
esse passado, senão em seus pormenores, pelo menos em suas grandes linhas.
Quanto às faltas, ocasionando, nesta vida, uma expiação consentida, ainda que
apagadas momentaneamente aos nossos olhos, sua causa primária não permanece
menos visível para sempre, isto é, nossas paixões, nosso caráter ardente que
novas encarnações terão como meta curvar e domar.
Assim, pois, se deixamos sob o esquecimento
as mais perigosas lembranças, carregamos, pelo menos, conosco o fruto e as
consequências dos trabalhos recentemente conquistados, isto é, uma consciência,
um julgamento e um caráter talhados por nós próprios. O que chamamos
desigualdade não é outra coisa senão a herança intelectual e moral que as vidas
passadas nos legam.
Cada vez que se abrem, para nós, as portas
da morte, quando, separada do jugo material, nossa alma escapa de sua prisão de
carne para entrar novamente no império dos espíritos, então o passado reaparece
inteiramente diante dela. Uma após outra, na rota percorrida, ela revê suas
existências: as quedas, as conquistas e as marchas rápidas. Ela se julga a si
mesma, medindo o caminho percorrido, e no espetáculo de seus sucessos ou de
suas vergonhas, colocados diante dela, encontra seu castigo ou sua recompensa.
Sendo o aperfeiçoamento intelectual e moral
da alma o objetivo da vida, qual condição e qual meio nos convém melhor para
conseguir esse objetivo? O homem pode trabalhar para essa perfeição em todas as
condições e em todos os meios sociais, porém trabalhará mais vitoriosamente em
determinadas condições.
A riqueza proporciona ao homem poderosos
meios de estudo e lhe permite dar a seu espírito uma cultura mais desenvolvida
e mais perfeita; ela põe em suas mãos facilidades maiores para aliviar seus
irmãos infelizes e participar de tarefas úteis para lhes melhorar a sorte.
Todavia são raros os que consideram como um dever trabalhar para aliviar a
miséria ou pela instrução e melhoria de seus semelhantes.
A riqueza esteriliza, muitas vezes, o
coração humano; extingue essa chama interior, esse amor ao progresso e às melhorias
sociais, que aquece todas as almas generosas; coloca uma barreira entre os
poderosos e os humildes e isola, numa esfera, os deserdados desse mundo, onde,
por consequência, suas necessidades e seus males são ignorados e desconhecidos.
A miséria também tem seus horrorosos
perigos: a degradação dos caracteres, o desespero e o suicídio, mas enquanto a
riqueza nos torna indiferentes e egoístas, a pobreza, aproximando-nos dos
humildes, nos faz compartilhar de suas dores. É preciso ter sofrido para
avaliar o sofrimento dos outros. É então que os poderosos, no meio das honras,
se invejam entre si e procuram rivalizar, em ostentação, os pequenos,
aproximados pela necessidade e que vivem, por vezes, em uma tocante confraternização.
Olhai os pássaros de nosso país durante os
meses de inverno, quando o céu está sombrio, quando a terra está coberta com um
branco manto de neve; agarrados uns aos outros, na borda de um telhado, eles se
aquecem mutuamente, em silêncio. A necessidade os une. Contudo, nos belos dias,
com o Sol resplandecendo e a provisão abundante, eles piam quanto podem, perseguem-se,
batem-se e se machucam. Assim é o homem.
Dócil, afetuoso para com seus semelhantes
nos dias de tristeza, a posse dos bens materiais muitas vezes o torna esquecido
e insensível.
Uma condição modesta faz mais bem ao
espírito desejoso de progredir, de adquirir as virtudes necessárias para seu
progresso moral. Longe do turbilhão dos prazeres fugazes, ele julgará melhor a
vida, dará à matéria o que é necessário para a conservação de seus órgãos,
porém evitará cair em hábitos perniciosos, tornar-se presa das inúmeras
necessidades factícias que são o flagelo da humanidade. Ele será sóbrio e
laborioso, contentando-se com pouco, apegando-se aos prazeres da inteligência e
às alegrias do coração.
Fortificado assim contra os assaltos da
matéria, o sábio, sob a pura luz da razão, verá resplandecer seu destino.
Esclarecido quanto ao objetivo da vida e ao porquê das coisas, ficará firme e resignado
diante da dor, que ele aproveitará para sua depuração e seu progresso.
Enfrentará a provação com coragem, sabendo
que ela é salutar, que ela é o choque que rasga nossas almas e que só por este
rasgão derrama tudo quanto de fel e de amargura há em nós.
E se os homens se riem dele, se ele é
vítima da intriga e da injustiça, aprenderá a suportar, pacientemente, seus
males, lançando seus olhares para vós, oh! Nossos irmãos mais velhos, para
Sócrates bebendo a cicuta, para Jesus crucificado e para Joana na fogueira.
Haverá consolação na lembrança de que os maiores, os mais virtuosos e os mais
dignos sofreram e morreram pela humanidade.
Após uma existência bem preenchida, chegará
a hora solene e é com calma, sem desgostos, que virá a morte. A morte que os homens
cercam com um sinistro aparato, a morte, espantalho dos poderosos e dos
sensuais e que para o pensador austero é a libertação, a hora da transformação,
a porta que se abre para o império luminoso dos espíritos.
Esse pórtico das regiões extraterrestres
será penetrado com serenidade, se a consciência, separada da sombra da matéria,
erguer-se como um juiz, representante de Deus, perguntando?
“Que fizeste da vida”? E ele responder:
“Lutei, sofri, amei!
Ensinei o bem, a verdade e a justiça; dei a
meus irmãos o exemplo do correto e da doçura; aliviei as dores dos que sofrem e
consolei os que choram. Agora, que o Eterno me julgue, pois estou em suas mãos”!
Homem, meu irmão, tem fé em teu destino,
porque ele é grande. Confia nas amplas perspectivas, porque ele põe em teu pensamento
a energia necessária para enfrentar os ventos e as tempestades do mundo.
Caminha, valente lutador, sobe a encosta que conduz a esses cimos que se chamam
virtude, dever e sacrifício. Não pares no caminho para colher as florzinhas do campo,
para brincar com os calhaus dourados. Para frente, sempre adiante.
Olha nos esplêndidos céus esses astros
brilhantes, esses sóis incontáveis que carregam, em suas evoluções prodigiosas,
brilhantes cortejos de planetas. Quantos séculos acumulados foram precisos para
formá-los e quantos séculos serão precisos para dissolvê-los.
Pois bem, chegará um dia em que todos esses
sóis serão extintos, ou esses mundos gigantescos desaparecerão para dar lugar a
novos globos e a outras famílias de astros emergindo das profundezas. Nada do
que vês hoje existirá. O vento dos espaços terá varrido para sempre a poeira
desses mundos, porém tu viverás sempre, prosseguindo tua marcha eterna no seio
de uma criação renovada incessantemente. Que serão então, para tua alma depurada
e engrandecida, as sombras e os cuidados do presente? Acidentes fugazes de
nossa caminhada, que só deixarão, no fundo de nossa memória, lembranças tristes
e doces.
Diante dos horizontes infinitos da
imortalidade, os males do passado e as provas sofridas serão qual uma nuvem
fugidia no meio de um céu sereno.
Considera, portanto, no seu justo valor, as
coisas da Terra.
Não as desdenhes porque, sem dúvida, elas
são necessárias ao teu progresso e tua obra é contribuir para o seu
aperfeiçoamento, melhorando a ti mesmo, mas que tua alma não se agarre exclusivamente
a elas e que busque, antes de tudo, os ensinamentos nela contidos.
Graças a eles compreenderás que o objetivo
da vida não é o gozo, nem a felicidade, porém o desenvolvimento por meio do trabalho,
do estudo e do cumprimento do dever, dessa alma, dessa personalidade que
encontrarás além do túmulo, tal como a tenhas feito, tu mesmo, no curso desta
existência terrestre.
Leon Denis – Livro: O Progresso
“Nunca te deixarei, nem te desampararei”. Paulo (Hebreus, 13:5)
A palavra do Senhor não
se reporta somente à sustentação da vida física, na subida pedregosa da
ascensão.
Muito mais que de pão do
corpo, necessitamos de pão do espírito.
Se as células do campo
fisiológico sofrem fome e reclamam a sopa comum, as necessidades e desejos,
impulsos e emoções da alma provocam, por vezes, aflições desmedidas, exigindo
mais ampla alimentação espiritual.
Há momentos de profunda
exaustão, em nossas reservas mais íntimas.
As energias parecem
esgotadas e as esperanças se retraem apáticas.
Instala-se a sombra,
dentro de nós, como se espessa noite nos envolvesse.
E qual acontece à
Natureza, sob o manto noturno, embora guardemos fontes de entendimento e flores
de boa vontade, na vasta extensão do nosso país interior, tudo permanece velado
pelo nevoeiro de nossas inquietações.
O Todo Misericordioso, contudo,
ainda aí, não nos deixa completamente relegados à treva de nossas indecisões e
desapontamentos. Assim como faz brilhar as estrelas fulgurantes no alto,
desvelando os caminhos constelados do firmamento ao viajor perdido no mundo,
acende, no céu de nossos ideais, convicções novas e aspirações mais elevadas, a
fim de que nosso espírito não se perca na viagem para a vida superior.
"Nunca te deixarei,
nem te desampararei" – promete a Divina Bondade.
Nem solidão, nem
abandono.
A Providência Celestial
prossegue velando.
Mantenhamos, pois, a
confortadora certeza de que toda tempestade é seguida pela atmosfera tranquila
e de que não existe noite sem alvorecer.
Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 041
Amado Jesus!
Suplicando abençoes a
nossa casa de fraternidade, esperamos por teu amparo, a fim de que saibamos
colocar em ação o amor que nos deste.
Auxilia-nos a exercer a
compaixão e o entendimento, ensinando-nos a esquecer o mal e a cultivar o bem,
na paciência e na tolerância uns para com os outros.
Ajuda-nos a compreender
e servir, para que a nossa fé não seja inútil.
Faze-nos aceitar na
caridade o esquema de cada dia e induze-nos os braços ao trabalho edificante
para que o nosso tempo não se torne vazio.
Sobretudo, Senhor,
dá-nos humildade, a fim de que a humildade nos faça dóceis instrumentos nas
tuas mãos.
E, agradecendo-te o
privilégio do trabalho, em nosso templo de oração, louvamos a tua Infinita
Bondade hoje e sempre.
Scheilla / Chico Xavier – Livro: Visão nova
Confira nesta edição:
"Na aduana da vida, o passaporte libertador
é a conduta íntima."
Vivendo os tempos anunciados, não vos
surpreendais com os testemunhos.
Chegam as horas que foram preditas pelo
Senhor, e todos vos encontrais convocados para a demonstração da fé interior
nos arraiais da vossa própria conduta.
Nenhum juiz ou julgamento algum externo.
Vida interior acima de convenções. Atitudes
além de aparências.
Na razão direta em que a dor estruge e as
aflições assomam desesperadoras, cabe-vos o dever inalienável de porfiar, estampando
no semblante o otimismo da paz, e, na vivência, colocando o selo da retidão.
Não mais engodos nem superficialidades como
vernizes de comportamento.
Mais do que nunca se fazem imperiosas a
atitude de justiça, a ação de enobrecimento e a definição de fé.
Já vos oferecestes para o banquete da luz
da Era Nova. Traçastes a rota libertadora; portanto, não postergueis a vossa
marcha.
Muitas vezes renteastes com o dever e
malograstes.
Encarecestes o ensejo de reparação e
fugistes.
Convocastes lidadores valiosos para vos
representarem no Além, que intercederam pelo vosso retorno, e, agora que estais
engajados na luta, não vos justifiqueis as fugas.
A fraqueza se transforma em força sob o
valor da fé.
A fragilidade se robustece com os
combustíveis da dignidade.
A ação impõe, inevitavelmente, o contributo
da realização pessoal pela vivência íntima da prece e das ideias enobrecidas.
Vigiai as fontes do pensamento, por onde se
adentram a perturbação e a desordem.
Coibi, para vosso uso, as licenças morais
permissivas, não vos comprometendo com ninguém nem a ninguém deixando
comprometer-se convosco.
Tendes a luz excelente para clarear-vos o
roteiro.
Momento final, este, de avaliação de
resultados.
Recebestes do Senhor as dádivas que nem
sempre merecemos, todos nós, mas que a misericórdia divina nos faz chegar com
robustecimento de força, para que nos não venhamos a entorpecer, alegando
escassez de recursos.
Duas forças em antagonismo vigem em nós,
duas naturezas no homem, que podem ser sintetizadas numa só: a paixão, que se
bifurca em paixão do corpo, da ambição e paixão da alma, da libertação.
Esse conflito deve terminar na paixão pelo
Cristo, que não apenas se imolou numa cruz, mas permanece imolado em nossos
sentimentos, aguardando por nós.
Não adieis mais!
Que esperais da vida, nesse limite que a
porta do túmulo determina?
Preferis a ilusão de um momento, seguida
pela marcha penumbrosa dos remorsos e das dores, ou optareis pela superação de
alguns instantes de ansiedade, para a plenitude de todos os momentos depois?
Participais do banquete da vida. É justo
que pagueis o seu tributo.
Fruís das alegrias da fé. É compreensível
que vos seja cobrado o ingresso da satisfação.
Na aduana da vida, o passaporte libertador
é a conduta íntima.
Ninguém se poupe ao esforço de sublimar-se.
Pessoa nenhuma permita arrastar o próximo
ao desequilíbrio de que se procura evadir.
Eia, agora, este é o momento da libertação;
soa o instante azado da vossa devoção à causa espírita, que faz mártires na
abnegação, heróis na luta e santos na renúncia.
Cristo, ontem imolado. Cristo, hoje
libertador. Cristo, amanhã em que, com Ele, estaremos na plenitude do Reino dos
Céus.
Vianna de Carvalho / Divaldo Franco – Livro: Reflexões espíritas
“Para ver se de algum modo posso chegar à ressurreição”. Paulo (Filipenses, 3 :11)
Alcançaremos o alvo que
mantemos em mira:
O avarento sonha com tesouros
amoedados e chega ao cofre forte.
O malfeitor comumente
ocupa largo tempo, planificando a ação perturbadora, e comete o delito.
O político hábil anseia
por autoridade e atinge alto posto no domínio terrestre.
A mulher desprevenida,
que concentra as ideias no desperdício das emoções, penetra o campo das
aventuras inquietantes.
E cada meta a que nos
propomos tem o preço respectivo.
O usurário, para
amealhar o dinheiro, quase sempre perde a paz.
O delinquente, para
efetuar a falta que delineia, avilta o nome.
O oportunista, para
conseguir o lugar de mando, muitas vezes desfigura o caráter.
A mulher desajuizada,
para alcançar fantasiosos prazeres, abdica, habitualmente, o direito de ser
feliz.
Se impostos tão pesados
são exigidos na Terra aos que perseguem resultados puramente inferiores, que
tributos pagará o espírito que se candidata à glória na vida eterna?
O Mestre na cruz é a
resposta para todos os que procuram a sublimidade da ressurreição.
Contemplando esse alvo,
soube Paulo buscá-lo, através de incompreensões, açoites, aflições e pedradas,
servindo constantemente, em nome do Senhor.
Se desejas, por tua vez,
chegar ao mesmo destino, centraliza as aspirações no objetivo santificante e
segue, com valoroso esforço, na conquista do eterno prêmio.
Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 040
“Divino Benfeitor!
“A terra agradecida ao
arado se reverdece, abrindo-se em flores e frutos;
“A nuvem abençoa o solo
com chuva fertilizante, agradecendo às nascentes donde proveio;
“A ave, cantando,
agradece o novo dia que surge;
“O grão triturado, em
louvor à mó que o despedaça, agradece à vida, transformado em pão;
“A semente esmagada,
agradece ao solo gentil, repetindo a matriz que se estiola...
“A vida canta louvores
nas mil vozes da Natureza, agradecendo a Nosso Pai todas as sublimes concessões
do Seu amor.
“Teus discípulos
incipientes e temerosos que sabemos ser, tocados pelo amor que de Ti dimana,
agradecemos, também, a honra imerecida de servir-Te na pessoa do nosso próximo
do caminho redentor.
“Concede-nos o favor de
prosseguirmos, incessantemente, contigo, porque se não Te tivermos para onde ou
para quem nos dirigiremos, pois somente em Ti encontramos o caminho, a verdade
e a vida!...
“Esperança nossa, recebe
nossa gratidão e apiada-te de nós”!
Bezerra de Menezes
Manoel Philomeno de Miranda / Divaldo Franco – Livro: Grilhões Partidos
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·
O poder da fé
·
Ante o Evangelho: A fé
religiosa. Condição da fé inabalável
·
Poema: Ao viajante da fé
·
Fé inoperante – Fonte Viva
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Oração: Socorro Maior
"O poder da fé é sem limites e, assim reconhecendo-a, cientes de que ela dormita em nós, despertemo-la."
“Tendo ouvido a
fama de Jesus, vindo por trás dele, por entre a multidão, tocou-lhe a veste”. —
Marcos — Cap. 5 vers. 27.
Jamais apareceu alguém, no mundo, que
conseguisse colocar limites à fé. O seu poder suplanta quaisquer fronteiras,
que o homem, por ignorância, queira lhe impor. Não há criatura que possa viver
sem fé. Muitos julgam não a possuírem, mas se enganam completamente. Ela vive
dentro de todos os seres, variando sua intensidade numa escala progressiva, e
de acordo com a evolução espiritual de cada um. Dessa forma, espírito algum tem
o mesmo quilate de fé que seu semelhante, indo sua variação, de parcela mínima,
até o infinito. Porém, só Deus possui a totalidade dessa virtude.
Várias dúvidas persistem no meio humano.
Pergunta-se se em outros reinos, abaixo do homem, existe a fé. Deus não Se
esquece de nada que foi criado e é sustentado por Ele. Porém, a fé, mais pura
ou menos pura, só surge no ser quando já dotado de razão. Isso é da lei. Nos
outros degraus evolutivos, à retaguarda do homem, há rudimentos da fé que,
algum dia, irão brotar com a força da razão. Como se comparássemos o instinto
do animal com a razão humana. Ambas as forças procedem da mesma fonte: mas, no
ser humano, esse dom já mostra claridades do aperfeiçoamento.
A fé, para o espírito, é tão necessária
como o ar o é para o corpo. A ciência do mundo já quis destruir a fé dos homens
em um Deus e na vida que continua depois do túmulo. Jamais conseguiu e nem
conseguirá, pois, ao invés de combatê-la, está avivando ainda mais, nas almas,
essa certeza de que nada morre.
Tudo viveu, vive e continuará a viver
sempre.
As leis de Deus não podem ser mudadas. Há
que compreendê-las. E sua descoberta requer muita ciência e bastante fé. Que o
Senhor abençoe os homens, fazendo com que a ciência procure os olhos da fé,
para não perderem muito tempo em vislumbrar Deus por onde passarem. Não existe
outro caminho, e o tempo espera esse acontecimento. A ciência material
representa a fé humana, enquanto a ciência espiritual, a fé divina. Necessário
se faz que as duas se unam, completando-se, para maior felicidade dos homens e
do mundo.
------ooO------
Estudemos, com Jesus Cristo, o poder da fé.
Havia uma mulher que, há doze anos, estava
desenganada pelos médicos, - narra o Evangelho. Desesperada, ela tem notícias
de que Jesus estava operando maravilhas, e vai à procura do Mestre, enfrentando
todas as dificuldades, pois outros também O procuravam.
Avança daqui, força dali, varando a
multidão, até que conseguiu tocar na orla das vestes do Nazareno. Sentiu,
então, um bem-estar estranho penetrar-lhe o corpo e alojar-se, demoradamente,
em suas entranhas.
Cristo possuía, em torno de Si, um
manancial de forças magnéticas indescritíveis. Era um potencial de luzes nunca
visto, nem sentido por seres humanos, porquanto o Mestre procedia de regiões
divinas. Mas o poder da fé levanta o padrão vibratório, nivelando-o em quem,
pelo menos, tocasse Jesus e que já vivia em estado de perfeição espiritual. E a
mulher tinha o mais alto grau de certeza quando os seus dedos, de leve, tocaram
as vestes do Cristo; da poderosa aura do Mestre fluiu certa quantidade de
magnetismo espiritual que, bafejando todo o seu ser, alojou-se, como por
encanto, no lugar enfermo, atendendo a seu pensamento que se fixava na região
doentia, e restabelecendo o órgão em desequilíbrio.
Jesus, sentindo o fenômeno, pergunta: “Quem
tocou em mim”? Ao que, assustados, responderam os discípulos: — “O povo é que
te comprime, Senhor".
Jesus não se dá por satisfeito, olha em
torno para reconhecer quem o havia tocado e depara com a mulher que, meio trêmula,
de joelhos, Lhe diz: - “Fui eu, Senhor”.
O Mestre, olhando-a compassivo, deixa
entreabrir os lábios com um leve sorriso e afirma: - “A tua fé te salvou. Vai em
paz e fica livre de teu mal".
O poder da fé é sem limites e, assim
reconhecendo-a, cientes de que ela dormita em nós, despertemo-la. E já que não
podemos tocar as resplandecentes vestes de Jesus, toquemos, com os dedos dos
sentimentos, sua roupagem evangélica, esperando provar a ventura de ouvir, a
exemplo da mulher enferma citada no Evangelho: - “A tua fé te curou'.
"Tendo ouvido
a fama de Jesus, vindo por trás dele, por entre a multidão, tocou-lhe a veste”
Miramez / João Nunes Maia – Livro: Alguns ângulos dos ensinos do Mestre
“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma”. (Tiago, 2:17)
A fé inoperante é
problema credor da melhor atenção, em todos os tempos, a fim de que os
discípulos do Evangelho compreendam, com clareza, que o ideal mais nobre, sem
trabalho que o materialize, a benefício de todos, será sempre uma soberba
paisagem improdutiva.
Que diremos de um motor
precioso do qual ninguém se utiliza? De uma fonte que não se movimente para
fertilizar o campo? De uma luz que não se irradie?
Confiaremos com
segurança em determinada semente, todavia, se não a plantamos, em que redundará
nossa expectativa, senão em simples inutilidade? Sustentaremos absoluta
esperança nas obras que a tora de madeira nos fornecerá, mas se não nos
dispomos a usar o serrote e a plaina, certo a matéria-prima repousará,
indefinidamente, a caminho da desintegração.
A crença religiosa é o
meio.
O apostolado é o fim.
A celeste confiança
ilumina a inteligência para que a ação benéfica se estenda, improvisando, por
toda parte, bênçãos de paz e alegria, engrandecimento e sublimação.
Quem puder receber uma
gota de revelação espiritual, no imo do ser, demonstrando o amadurecimento
preciso para a vida superior, procure, de imediato, o posto de serviço que lhe
compete, em favor do progresso comum.
A fé, na essência, é
aquele embrião de mostarda do ensinamento de Jesus que, em pleno crescimento,
através da elevação pelo trabalho incessante, se converte no Reino Divino, onde
a alma do crente passa a viver.
Guardar, pois, o êxtase
religioso no coração, sem qualquer atividade nas obras de desenvolvimento da
sabedoria e do amor, consubstanciados no serviço da caridade e da educação,
será conservar na terra viva do sentimento um ídolo morto, sepultado entre as
flores inúteis das promessas brilhantes.
Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 039