No
cômputo das transformações por que passa o mundo, não são poucos os núcleos de
organização espiritual que se instalam na Terra com vistas ao porvir da
Humanidade. Se por toda a parte observamos o esboroamento das obras humanas, a
fim de que se renove o caminho da civilização, contemplamos também as
atividades do exército de operários das edificações do futuro, como se fossem
construtores de um mundo novo, dispersos nas estradas terrestres, mas
procurando ajustar suas diretrizes. São esses, sim, os artífices do progresso
divino. Empunham o alvião formidável da fé, acima de tudo, n’Aquele que é a luz
dos nossos destinos. No acervo desse aparelhamento de energias renovadoras,
objetivando o vindouro milênio, quero referir-me ao Esperanto, abraçando
fraternalmente o nosso irmão que se constituiu pregoeiro sincero da sua causa,
obedecendo ao determinismo divino das tarefas recebidas nas luzes do plano
espiritual.
Jesus
afirmava não ter vindo ao Planeta para destruir a Lei, como o Espiritismo, na
sua feição de Consolador, não surgiu para eliminar as religiões existentes. O
Mestre vinha cumprir os princípios da Lei, como a doutrina consoladora vem para
a restauração da Verdade, reconduzindo a esperança aos corações, nesta hora
torva do mundo, em que todos os valores morais do Orbe periclitam nos seus
fundamentos, assaltados pelas doutrinas da violência que embriagaram o cérebro
da civilização atual, qual veneno amargo a destruir as energias de um corpo
envelhecido.
Também
o Esperanto, amigos, não vem destruir as línguas utilizadas no mundo para o
intercâmbio dos pensamentos. A sua missão é superior, é da união e da
fraternidade rumo à unidade universalista. Seus princípios são os da concórdia
e seus apóstolos são igualmente companheiros de quantos se sacrificaram pelo
ideal divino da solidariedade humana, nessas ou naquelas circunstâncias. A
língua auxiliar é um dos mais fortes brados pela fraternidade, que ainda se
ouve nesse Planeta empobrecido de valores espirituais, neste instante de
isolacionismo, de autarquia, de egoísmo e de nacionalismo adulterado.
O
exemplo da Europa moderna nos faculta uma ideia dessa penosa situação. Todos os
povos têm seus advogados entusiastas que, com orações ardorosas, justificam
esta ou aquela medida de seus governos. As nações são grandes tribunas onde
cada um fala se si mesmo, humilhando ou conquistando o que é de seu irmão. Cada
um aplaude todo crime político, desde que seja praticado dentro de suas
fronteiras. Entretanto, a grande Europa, essa entidade maternal e sublime, que
cooperou para o aperfeiçoamento da Humanidade, que instruiu e educou, elevando
o espírito do mundo, essa não tem advogados, não dispõe de uma voz que externe
os gemidos de seu coração dilacerado, porque as fronteiras lhe dividiram todos
os seus filhos, estabelecendo separações de areia e aço, transformando-a num
deserto triste de corações, onde não existe a fonte de amor para reconfortar as
almas.
Sim,
nesta hora o Esperanto é uma força que atua para a união e a harmonia, com o
facilitar que se estabeleça a permuta dos valores universais do pensamento, em
forma universalista. Sonho? Propaganda só de palavras? Novo movimento para
criar um interesse econômico? Todas essas suposições poderão ser formuladas
pelos espíritos desprevenidos; mas, somente pelos desprevenidos, que aguardam a
adesão geral, para comodamente expressarem suas preferências. Os que, porém,
buscam a luz da sinceridade para o exame de todos os assuntos, saberão
encontrar, no movimento esperantista, essa claridade reveladora que, em
realizações sagradas, desde agora, esclarecerá, mais tarde, as ideias do mundo,
fazendo ressaltar a nobreza dos seus princípios, orientados por aquela
fraternidade que nasce do pensamento divino de Jesus, para todas as obras da
evolução humana.
Sim, o
Esperanto é lição de fraternidade. Aprendamo-la, para sondar, na Terra, o
pensamento daqueles que sofrem e trabalham noutros campos. Com muita
propriedade digo: “aprendamo-la”, porque somos também companheiros vossos que,
havendo conquistado a expressão universal do pensamento, vos desejamos o mesmo
bem espiritual, de modo a organizarmos, na Terra, os melhores movimentos de
unificação.
Deus é
venerado pelos homens através de numerosas línguas, de que se servem as seitas
e as religiões, todas tendendo para o maravilhoso plano da unidade essencial.
Copiemos esse esforço sábio da natureza divina e marchemos para a síntese da
expressão, malgrado a diversidade dos processos com que exprimem os
pensamentos.
Todo
esse esforço é de fraternidade legítima e, rogando a Jesus que abençoe os trabalhos
e as esperanças de nosso irmão presente, que lhe santifique os esforços e os de
seus companheiros na tarefa que lhes foi deferida pelas forças espirituais,
deixo-vos a todos vós os meus votos de paz, aguardando para todos nós,
discípulos humildes do Cristo, a bênção reconfortante de seu amor.
(Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier na cidade de Pedro Leopoldo - MG, em 19 de janeiro de 1940, durante uma sessão em que estava presente Ismael Gomes Braga, o grande pioneiro espírita-esperantista do Brasil).
Emmanuel