Leia e reflita conosco:
- Ante os tempos novos
- A vida futura
- Alguma coisa (Fonte Viva - 28)
- Rogativa de fé
Leia e reflita conosco:
Enquanto a história relaciona a intervenção de fadas,
referindo–se aos gênios tutelares, aos palácios ocultos e às maravilhas da
floresta desconhecida, as crianças escutam atentas, estampando alegria e
interesse no semblante feliz.
Todavia, quando o narrador modifica a palavra, fixando-a
nas realidades educativas, retrai–se à mente infantil, contrafeita, cansada...
Não compreende a promessa da vida futura, com os seus
trabalhos e responsabilidades.
Os corações, ainda tenros, amam o sonho, aguardam
heroísmo fácil, estimam o menor esforço, não entendem, de pronto, o labor
divino da perfeição eterna e, por isso, afastam-se do ensinamento real,
admirados, espantadiços. A vida, porém, espera-os com as suas leis imutáveis e
revela-lhes a verdade, gradativamente, sem ruídos espetaculares, com serenidade
de mãe.
As páginas de André Luiz recordam essa imagem.
Enquanto os Espíritos Sábios e Benevolentes trazem a
visão celeste, alargando o campo das esperanças humanas, todos os companheiros encarnados
nos ouvem, extáticos, venturosos. É a consolação sublime, O conforto desejado.
Congregam-se os corações para receber as mensagens do céu. Mas, se os
emissários do plano superior revelam alguns ângulos da vida espiritual, falando-lhes
do trabalho, do esforço próprio, da responsabilidade pessoal, da luta
edificante, do estudo necessário, do autoaperfeiçoamento, não ocultam a
desagradável impressão.
Contrariamente às suposições da primeira hora, não
enxergam o céu das facilidades, nem a região dos favores, não divisa
acontecimentos milagrosos nem observam a beatitude repousante. Ao invés do
paraíso próximo, sente-se nas vizinhanças de uma oficina incansável, onde o
trabalhador não se elevará pela mão beijada do protecionismo e sim à custa de
si mesmo, para que deva à própria consciência a vitória ou a derrota. Percebem
a lei imperecível que estabelece o controle da vida, em nome do Eterno, sem
falsos julgamentos.
Compreendem que as praias de beleza divina e os palácios
encantados da paz aguardam o Espírito noutros continentes vibratórios do
Universo, reconhecendo, no entanto, que lhes compete suar e lutar, esforçar-se
e aprimorar-se por alcançá-los, bracejando no imenso mar das experiências.
A maioria espanta-se e tenta o recuo. Pretende um céu
fácil, depois da morte do corpo, que seja conquistado por meras afirmativas
doutrinais.
Ninguém, contudo, perturbará a lei divina; a verdade
vencerá sempre e a vida eterna continuará ensinando, devagarzinho, com
paciência maternal.
Ao Espiritismo cristão cabe, atualmente, no mundo,
grandiosa e sublime tarefa. Não basta definir-lhe as características veneráveis
de Consolador da Humanidade, são preciso também lhe revelar a feição de movimento
libertador de consciências e corações.
A morte física não é o fim. É pura mudança de capítulo no
livro da evolução e do aperfeiçoamento. Ao seu influxo, ninguém deve esperar
soluções finais e definitivas, quando sabemos que cem anos de atividade no
mundo representa uma fração relativamente curta de tempo para qualquer
edificação na vida eterna.
Infinito campo de serviço aguarda a dedicação dos
trabalhadores da verdade e do bem. Problemas gigantescos desafiam os Espíritos
valorosos, encarnados na época presente, com a gloriosa missão de preparar a
nova era, contribuindo na restauração da fé viva e na extensão do entendimento
humano.
Urge socorrer a Religião, sepultada nos arquivos
teológicos dos templos de pedra, e amparar a Ciência, transformada em gênio
satânico da destruição. A espiritualidade vitoriosa percorre o mundo,
regenerando-lhe as fontes morais, despertando a criatura no quadro realista de
suas aquisições. Há chamamentos novos para o homem descrente, do século XX,
indicando-lhe horizontes mais vastos, a demonstrar-lhe que o Espírito vive
acima das civilizações que a guerra transforma ou consome na sua voracidade de
dragão multimilenário.
Ante os tempos novos e considerando o esforço grandioso
da renovação, requisita-se o concurso de todos os servidores fiéis da verdade e
do bem para que, antes de tudo, vivam a nova fé, melhorando-se e elevando-se cada
um, a caminho do mundo melhor, a fim de que a edificação do Cristo prevaleça
sobre as meras palavras das ideologias brilhantes.
Na consecução da tarefa superior, congregam-se encarnados
e desencarnados de boa vontade, construindo a ponte de luz, através da qual a Humanidade
transporá o abismo da ignorância e da morte.
É por este motivo, leitor amigo, que André Luiz vem, uma
vez mais, ao teu encontro, para dizer-te algo do serviço divino dos
“Missionários da Luz”, esclarecendo, ainda, que o homem é um Espírito Eterno
habitando temporariamente o templo vivo da carne terrestre, que o perispírito
não é um corpo de vaga neblina e sim organização viva a que se amoldam às
células materiais; que a alma, em qualquer parte, recebe segundo as suas
criações individuais; que os laços do amor e do ódio nos acompanham em qualquer
círculo da vida; que outras atividades são desempenhadas pela consciência encarnada,
além da luta vulgar de cada dia; que a reencarnação é orientada por sublimes
ascendentes espirituais e que, além do sepulcro, a alma continua lutando e aprendendo,
aperfeiçoando-se e servindo aos desígnios do Senhor, crescendo sempre para a
glória imortal a que o Pai nos destinou.
Se a leitura te assombra, se as afirmativas do Mensageiro te parecem revolucionárias, recorre à oração e agradece ao Senhor o aprendizado, pedindo-lhe te esclareça e ilumine, para que a ilusão não te retenha em suas malhas. Lembra-te de que a revelação da verdade é progressiva e, rogando o socorro divino para o teu coração, atende aos sagrados deveres que a Terra te designou para cada dia, consciente de que a morte do corpo não te conduzirá à estagnação e sim a novos campos de aperfeiçoamento e trabalho, de renovação e luta bendita, onde viverás muito mais, e mais intensamente.
Emmanuel
Pedro Leopoldo, 13 de maio de
1945.
Chico Xavier – Livro: Missionários da luz
“Não necessitam de médico os que estão sãos, mas sim os que estão enfermos”. Jesus (Lucas, 5:31)
Quem sabe ler, não se esqueça de
amparar o que ainda não se alfabetizou.
Quem dispõe de palavra esclarecida,
ajude ao companheiro, ensinando-lhe a ciência da frase correta e expressiva.
Quem desfruta o equilíbrio orgânico
não despreze a possibilidade de auxiliar o doente.
Quem conseguiu acender alguma luz de
fé no próprio espírito, suporte com paciência o infeliz que ainda não se abriu
a mínima noção de responsabilidade perante o Senhor, auxiliando-o a
desvencilhar-se das trevas.
Quem possua recursos para trabalhar,
não olvide o irmão menos ajustado ao serviço, conduzindo-o, sempre que possível,
a atividade digna.
Quem estime a prática da caridade,
compadeça-se das almas endurecidas, beneficiando-as com as vibrações da prece.
Quem já esteja entesourando a
humildade não se afaste do orgulhoso, conferindo-lhe, com o exemplo, os
elementos indispensáveis ao reajuste.
Quem seja detentor da bondade não
recuse assistência aos maus, de vez que a maldade resulta invariavelmente da
revolta ou da ignorância.
Quem estiver em companhia da paz,
ajude aos desesperados.
Quem guarde alegria, divida a graça do
contentamento com os tristes.
Asseverou o Senhor que os sãos não
precisam de médico, mas, sim, os enfermos.
Lembra-te dos que transitam no mundo
entre dificuldades maiores que as tuas.
A vida não reclama o teu sacrifício
integral, em favor dos outros, mas, a benefício de ti mesmo, não desdenhes
fazer alguma coisa na extensão da felicidade comum.
Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 028
Senhor Jesus:
Uma sementeira tão grande, uma tão
escassa colheita de luz!
A gleba fértil e a plantação
danificada.
O solo ubérrimo e o verdor fenecendo.
Dois mil anos de Cristianismo e tão
pouca manifestação de bênçãos.
Até quando Te requereremos ajuda, por
quanto tempo Te suplicaremos socorro, rogando a Tua misericórdia?
Convidaste-nos, Senhor, para o aprisco
da fraternidade.
Chamaste-nos para o dever da
solidariedade humana.
Penosamente detemo-nos a rés-do-chão,
negando-nos a ascender na direção dos rumos felizes.
Apiada-te de nós, Amigo Bem-aventurado
de todas as horas, e enriquece os vazios depósitos do nosso espírito com as
messes fecundas da tua paz!
Não somos outros, Senhor, senão
aqueles atormentados, que volvemos ao Teu coração magnânimo a rogar.
Ainda repetimos a experiência sem
êxito, de pedir sem doar, de rogar sem oferecer, de suplicar sem ajudar.
Apiada-te de nós e favorece-nos com os
tesouros, apreciáveis das tuas mercês, para que Te possamos honrar os títulos
de enobrecimento e de amor.
Neste momento de comunhão, em que
confraternizamos, encarnados e desencarnados, em atitude reverente, nós Te
pedimos, Amigo Divino, que nos abençoes, que mitigues a nossa sede de paz, que
socorras as nossas necessidades, que amenizes as nossas aflições.
Despede-nos em paz, neste breve
momento, Senhor, concedendo-nos a fortuna da harmonia íntima, nesta hora de
tanta tecnologia e de tanta amargura, de tanto poder e de quanta mesquinhez!
No excesso de glórias e no acume de
misérias, sê Tu a força que nos comande.
Seja a Tua a presença que nos
harmonize.
Permaneça em nós, Amigo de todos, a Tua paz, a Tua bênção e a Tua caridade.
Francisco Spinelli / Divaldo Franco – Livro: Terapêutica de emergência
Leia conosco:
Deveres imediatos
A verdadeira propriedade
Destruição e miséria
Oração Fraternal
Porque perseverem, no mundo, as separações
discriminativas da sociedade, isolando as classes e as raças humanas e formando
grupos infelizes; porque o abuso do poder propicie a subtração das liberdades e
dos direitos humanos; porque o homem continue escravo do homem e as conjunturas
econômicas respondam pela miséria das massas; porque o obscurantismo a respeito
da cultura real domine verdadeiras multidões e o acesso às escolas que libertam
e burilam o pensamento constitua um privilégio para as minorias dominantes,
devemo-nos empenhar em esforço hercúleo para mudar as estruturas vigentes.
Enquanto a dor física desgaste a alma, ou os problemas psíquicos
gerem enfermidades orgânicas, ou as conjunturas emocionais produzam distúrbios
na economia espiritual dos homens; enquanto a indiferença dos ricos marginalize
o sofrimento dos pobres e o menor esforço receba estipêndios vultosos num
atentado ao sacrifício das classes trabalhadoras; enquanto a morte pela fome
dizime centenas de milhões de vidas ou apenas uma vida, o homem necessita
modificar a forma de comportar-se, na Terra, ampliando os recursos da
solidariedade e do auxílio fraterno.
Viceje o vício, que ceifa a juventude e entenebrece a
vida; predomine a corrupção, que envilece a criatura; permaneçam os promotores
da degradação dos costumes; assente-se o triunfo nos pântanos da vergonha
moral; prospere a injustiça, mascarada de direito; reinem a violência e a
agressividade, atestando a situação de primitivismo e semibarbárie da civilização,
faz-se imprescindível educar o ser humano e conscientizá-lo das superiores
finalidades da sua vilegiatura no curto período do trânsito somático.
Desde que o egoísmo tenha prioridade no relacionamento entre
os homens em face do êxito da intriga e da calúnia bem forjadas; diante da
traição que se mascara de amizade; frente ao suborno da dignidade e da
consciência, na disputa dos valores de monta insignificante, porque mui
passageiros; perante a vitória da impunidade, da delinquência de qualquer espécie,
a real cultura não se pode entorpecer pelos vapores do adesismo de frutos
apodrecidos, mas levantar-se para profligar o abuso e exalçar as conquistas do
bem, do verdadeiro e do belo.
Como ainda predomine o comércio de vidas, nos bordéis da licenciosidade
e nos escritórios de luxo, que vendem "imagens" ao público ávido de
sensações; desde que permanece o tráfico de drogas e de alucinógenos,
enlouquecendo dezenas de milhões de vidas jovens e aniquilando-as sob os
disfarces da insensatez e do prazer; porque sobreviva a chantagem moral e a
financeira e a submissão indigna faça parte da metodologia de situações vantajosas,
eleitas pelo equívoco dos aproveitadores, é justo que o silêncio acumpliciador
das mentes e caracteres honrados seja substituído pelo verbo quente e pela ação
repulsiva ao estado de decomposição moral em que se encontra a quase totalidade
do organismo social.
A quietação do homem justo diante do disparate do crime é
conivência inconsciente para com a delinquência.
A acomodação da dignidade responde pela prevalência da desordem.
A imoralidade não espera a anuência da virtude para assentar
o seu quartel, antes impõe-se, chocante e intempestiva, produzindo, pela
violência dos costumes, uma aceitação a princípio tímida e depois aplaudida.
Justo que os contornos da honra não fiquem diluídos em sombras,
nem os deveres do bem cedam lugar às permissividades a pretexto de tolerância e
progresso.
O código irrefragável do "amor a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo" tem preferência a quaisquer outras
posturas, porque é uma síntese soberana da lei moisaica e do antigo direito
romano, que ainda, teoricamente, serve de base à Justiça humana.
As débeis tentativas da persistência do bem e da ordem deverão
fortalecer-se e amiudar-se tomando o terreno que foi arbitrariamente cedido às
paixões nefastas para prejuízo da harmonia social.
O homem tem o dever de recompor-se moralmente para viver
em harmonia consigo mesmo e com as leis que vigem em a Natureza, refletindo a
ordem da Criação.
Nunca se fizeram tão necessários quanto hoje os esforços pelo
bem geral das comunidades e jamais houve tão grande urgência para as lideranças
enobrecidas.
Substituir os hábitos perniciosos por comportamentos corretos;
gerar atitudes e compromissos salutares no relacionamento com as demais
criaturas; promover o trabalho realizador e educar o povo; produzir leis justas
e fomentar o respeito pela sua vigência são as tarefas do homem integrado na vera
filosofia do Cristianismo, desvestido de arbitrariedades e sofismas,
acomodações utilitaristas e dogmas absurdos, numa tentativa de restauração do
otimismo, que cede lugar à angústia e à neurose, ao mesmo tempo antecipando o
amanhã pacífico e ditoso da Humanidade.
Victor Hugo / Divaldo Franco – Livro: Roteiro de libertação
“Em seus caminhos há destruição e miséria” Paulo (Romanos. 3:16)
Quando o discípulo se distancia da
confiança no Mestre e se esquiva à ação nas linhas do exemplo que o seu divino
apostolado nos legou, preferindo a senda vasta de infidelidade à própria consciência,
cava, sem perceber, largos abismos de destruição e miséria por onde passa.
Se cristaliza a mente na ociosidade,
elimina o bom ânimo no coração dos trabalhadores que o cercam e estrangula as
suas próprias oportunidades de servir.
Se desce ao desfiladeiro da negação,
destrói as esperanças tenras no sentimento de quantos se abeiram da fé e tece
vasta rede de sombras para si mesmo.
Se transfere a alma para a residência
escura do vício, sufoca as virtudes nascentes nos companheiros de jornada e
adquire débitos pesados para o futuro.
Se asila o desespero, apaga o tênue
clarão da confiança na alma do próximo e chora inutilmente, sob a tormenta de
lágrimas destrutivas.
Se busca refúgio na casa fria da
tristeza, asfixia o otimismo naqueles que o acompanham e perde a riqueza do
tempo, em lamentações improfícuas.
A determinação divina para o aprendiz
do Evangelho é seguir adiante, ajudando, compreendendo e servindo a todos.
Estacionar é imobilizar os outros e
congelar-se.
Revoltar-se é chicotear os irmãos e ferir-se.
Fugir ao bem é desorientar os
semelhantes e aniquilar-se.
Desventurados aqueles que não seguem o Mestre que encontraram, porque conhecer Jesus Cristo em espírito e viver longe dele será espalhar a destruição, em torno de nossos passos, e conservar a miséria dentro de nós mesmos.
Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 027
Irmão nosso, que estás na Terra!
Glorificada seja tua vontade, em favor
do Infinito bem.
Trabalha incessantemente pelo Reino
Divino, com tua cooperação espontânea.
Seja atendida a tua aspiração elevada,
com esquecimento de todos os caprichos inferiores.
Tanto no lar da Carne, quanto no
Templo do Universo.
O pão nosso de cada dia, que vem do
Celeste Celeiro, usa com respeito e divide santamente.
Desculpa nossas faltas para contigo,
assim como o Eterno Pai tem perdoado nossa dividas em comum.
Não permitas que a tua existência se
perca pela tentação dos maus pensamentos.
Livra-te dos males que procedem do
próprio coração.
Porque te pertence, agora, a gloriosa
oportunidade de elevação para o reino do poder, da justiça, da paz, da glória e
do amor para sempre.
Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Duzentas mensagens
Leia conosco:
IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS NAS COMUNICAÇÕES PARTICULARES
Por que os Espíritos evocados por
um sentimento de afeição muitas vezes se recusam a dar provas certas de sua
identidade?
Compreende-se
todo o valor ligado às provas de identidade da parte dos Espíritos que nos são
caros; esse sentimento é muito natural e parece, desde que os Espíritos podem manifestar-se,
que lhes deve ser muito fácil atestar a sua personalidade. A falta de provas
materiais, sobretudo para certas pessoas que não conhecem o mecanismo da
mediunidade, isto é, a lei das relações entre os Espíritos e os homens, é uma
causa de dúvida e de cruel incerteza. Embora tenhamos tratado várias vezes desta
questão, vamos examiná-la novamente, para responder a algumas perguntas que nos
são dirigidas.
Nada
temos a acrescentar ao que foi dito sobre a identidade dos Espíritos que vêm
unicamente para a nossa instrução e que deixaram a Terra há algum tempo.
Sabe-se que ela não pode ser atestada de maneira absoluta e que se deve limitar
a julgar o valor da linguagem.
A
identidade só pode ser constatada com certeza para os Espíritos partidos
recentemente, cujo caráter e hábitos se refletem em suas palavras. Nestes a
identidade se revela por mil particularidades de detalhe. Algumas vezes a prova
ressalta de fatos materiais, característicos, mas na maioria das vezes, de
nuanças da própria linguagem e de uma porção de pequenos nadas que, por serem
pouco salientes, não são menos significativos.
Muitas
vezes as comunicações deste gênero encerram mais provas do que se pensa e que
se descobrem com mais atenção e menos prevenções. Infelizmente, na maior parte
do tempo não se contentam com que o Espírito quer ou pode dar; querem provas à sua
maneira; ou lhe pedem que diga ou faça tal coisa, lembre um nome ou um fato,
num momento dado, sem pensar nos obstáculos que, por vezes, a isto se opõem, e
paralisam a sua boa vontade.
Depois,
obtido o que se deseja, muitas vezes querem mais; acham que não é ainda
bastante concludente; depois de um fato, pedem outro e mais outro. Numa
palavra, nunca são suficientes para convencer. É então que o Espírito, muitas
vezes fatigado por essa insistência, cessa completamente de se manifestar,
esperando que a convicção chegue por outros meios. Mas muitas vezes, também,
sua abstenção lhe é imposta por uma vontade superior, como punição ao
solicitante muito exigente, e também como prova para a sua fé, porquanto, se
por algumas decepções e por não obter o que quer, viesse a abandonar os Espíritos,
esses por sua vez o abandonariam, deixando-o mergulhado nas angústias e
torturas da dúvida, felizes quando seu abandono não tem consequências mais
graves.
Mas,
numa imensidade de casos, as provas materiais de identidade são independentes
da vontade do Espírito, e do desejo que este tem de as dar. Isto se deve à
natureza, ou ao estado do instrumento pelo qual se comunica. Há na faculdade
mediúnica uma variedade infinita de nuanças, que tornam o médium apto ou impróprio
à obtenção de tais ou quais efeitos que, à primeira vista, parecem idênticos e
que, no entanto, dependem de influências fluídicas diferentes. O médium é como
um instrumento de cordas múltiplas: não pode dar som pelas cordas que faltam.
(...)
É
de notar que as provas de identidade vêm quase sempre espontaneamente, no
momento em que menos se pensa, ao passo que são dadas raramente quando pedidas.
Capricho da parte do Espírito? Não; há uma causa material. Ei-la:
As
disposições fluídicas que estabelecem as relações entre o Espírito e o médium
oferecem nuances de extrema delicadeza, inapreciáveis aos nossos sentidos e que
variam de um momento a outro no mesmo médium. Muitas vezes um efeito que não é
possível num instante desejado, sê-lo-á uma hora, um dia, uma semana mais
tarde, porque as disposições ou a energia das correntes fluídicas terão mudado.
Acontece aqui como na fotografia, onde uma simples variação na intensidade ou
na direção da luz é suficiente para favorecer ou impedir a reprodução da imagem.
Um poeta fará versos à vontade? Não; precisa de inspiração. Se não estiver em
disposição favorável, por mais que perscrute o cérebro, nada obterá.
Perguntai-lhe por quê? Nas evocações, o Espírito deixado à vontade se prevalece
das disposições que encontra no médium, aproveita o momento propício; mas
quando essas disposições não existem, não pode mais que o fotógrafo, na
ausência da luz. Portanto, nem sempre pode, mau grado seu desejo, satisfazer
instantaneamente a um pedido de provas de identidade. Eis por que é preferível
esperá-las a solicitá-las.
Além
disso, é preciso considerar que as relações fluídicas que devem existir entre o
Espírito e o médium jamais se estabelecem completamente desde a primeira vez; a
assimilação não se faz senão com o tempo e gradualmente. Daí resulta que, inicialmente,
o Espírito sempre experimenta uma dificuldade que influi na clareza, na
precisão e no desenvolvimento das comunicações; mas, quando o Espírito e o
médium estão habituados um ao outro; quando seus fluidos estão identificados,
as comunicações se dão naturalmente, porque não há mais resistências a vencer.
Por
aí se vê quantas considerações devem ser levadas em conta no exame das
comunicações. É por falta de o fazer e de conhecer as leis que regem esses
tipos de fenômenos que muitas vezes se pede o que é impossível. É absolutamente
como se alguém, que não conhecesse as leis da eletricidade, se admirasse que o
telégrafo pudesse experimentar variações e interrupções e concluísse que a
eletricidade não existe.
O
fato da constatação da identidade de certos Espíritos é um acessório no vasto
conjunto dos resultados que o Espiritismo abarca; mesmo que tal constatação
fosse impossível, nada prejulgaria contra as manifestações em geral, nem contra
as consequências morais daí decorrentes. Seria preciso lamentar os que
privassem das consolações que ela proporciona, por não ter obtido uma
satisfação pessoal, pois isto seria sacrificar o todo à parte.
QUALIFICAÇÃO DE SANTO APLICADA A CERTOS ESPÍRITOS
Num
grupo de província, tendo-se apresentado um Espírito sob o nome de “São José,
santo, três vezes santo”, isto deu ensejo a que se fizesse a seguinte pergunta:
Um
Espírito, mesmo canonizado em vida, pode dar-se a qualificação de santo, sem
faltar à humildade, que é um dos apanágios da verdadeira santidade e,
invocando-o, permite que lhe deem esse título? O Espírito que o toma deve, por
esse fato, ser tido por suspeito?
Um
outro Espírito respondeu:
“Deveis
rejeitá-lo imediatamente, pois equivaleria a um grande capitão que se vos
apresentasse exibindo pomposamente seus numerosos feitos de armas, antes de
declinar o seu, ou a um poeta que começasse por se gabar de seus talentos.
Veríeis nessas palavras um orgulho despropositado. Assim deve ser com homens que
tiveram algumas virtudes na Terra e que foram julgados dignos de canonização.
Se se apresentarem a vós com humildade, crede neles; se vierem se fazendo
preceder de sua santidade, agradecei e nada perdereis. O encarnado não é santo
porque foi canonizado: só Deus é santo, porque só ele possui todas as
perfeições. Vede os Espíritos superiores, que conheceis pela sublimidade de
seus ensinamentos: eles não ousam dizer-se santos; qualificam-se simplesmente
de Espíritos de verdade”.
Esta
resposta demanda algumas retificações. A canonização não implica a santidade no
sentido absoluto, mas simplesmente um certo grau de perfeição. Para alguns a qualificação
de santo tornou-se uma espécie de título banal, fazendo parte integrante do
nome, para os distinguir de seus homônimos, ou que lhes dão por hábito. Santo
Agostinho, São Luís, São Tomé, podem, pois, antepor o nome santo à sua assinatura,
sem que o façam por um sentimento de orgulho, que seria tanto mais descabido em
Espíritos superiores que, melhor que os outros, não fazem nenhum caso das
distinções dadas pelos homens. Dar-se-ia o mesmo com os títulos nobiliárquicos
ou as patentes militares. Seguramente aquele que foi duque, príncipe ou general
na Terra não o é mais no mundo dos Espíritos e, no entanto, assinando, poderão
tomar essas qualificações, sem que isto tenha consequência para o seu caráter.
Alguns assinam: aquele que, quando vivo na Terra, foi o duque de tal. O
sentimento do Espírito se revela pelo conjunto de suas comunicações e por
sinais inequívocos em sua linguagem. É assim que não nos podemos enganar sobre
aquele que começa por se dizer: “São José, santo, três vezes santo”. Só isto
bastaria para revelar um Espírito impostor, adornando-se com o nome de São
José. Assim, ele pôde ver, graças ao conhecimento dos princípios da doutrina,
que sua velhacaria não encontrou ingênuos no círculo onde quis introduzir-se.
O
Espírito que ditou a comunicação acima é, pois, muito absoluto no que concerne
à qualificação de santo e não está certo quando diz que os Espíritos superiores
se dizem simplesmente Espíritos de verdade, qualificação que não passaria de um
orgulho disfarçado sob outro nome, e que poderia induzir em erro, se tomado ao
pé da letra, porque nenhum se pode vangloriar de possuir a verdade absoluta,
nem a santidade absoluta. A qualificação
de Espírito de verdade não pertence senão a um só, (grifo nosso) e pode ser considerada como nome próprio; está
especificada no Evangelho. Aliás, esse Espírito se comunica raramente e apenas
em circunstâncias especiais. Devemos pôr-nos em guarda contra os que se adornam
indevidamente com esse título: são fáceis de reconhecer, pela prolixidade e
pela vulgaridade de sua linguagem.
Allan Kardec – Revista Espírita – julho/1856
Os falsos profetas não se encontram
unicamente entre os encarnados. Há-os também, e em muito maior número, entre os
Espíritos orgulhosos que, aparentando amor e caridade, semeiam a desunião e
retardam a obra de emancipação da Humanidade, lançando-lhe de través seus sistemas
absurdos, depois de terem feito que seus médiuns os aceitem. E, para melhor
fascinarem àqueles a quem desejam iludir, para darem mais peso às suas teorias,
se apropriam sem escrúpulo de nomes que só com muito respeito os homens
pronunciam.
São eles que espalham o fermento dos
antagonismos entre os grupos, que os impelem a isolarem-se uns dos outros e a
olharem-se com prevenção.
Isso por si só bastaria para os
desmascarar, pois, procedendo assim, são os primeiros a dar o mais formal
desmentido às suas pretensões. Cegos, portanto, são os homens que se deixam cair
em tão grosseiro embuste.
Há, porém, muitos outros meios de
serem reconhecidos. Espíritos da categoria em que eles dizem achar-se têm de
ser não só muito bons, como também eminentemente racionais. Pois bem:
passai-lhes os sistemas pelo crivo da razão e do bom senso e vede o que
restará. Convinde, pois, comigo, em que, todas as vezes que um Espírito indica,
como remédio aos males da Humanidade ou como meio de conseguir-se a sua
transformação, coisas utópicas e impraticáveis, medidas pueris e ridículas; quando
formula um sistema que as mais rudimentares noções da Ciência contradizem, não pode
ser senão um Espírito ignorante e mentiroso.
Por outro lado, crede que, se nem
sempre os indivíduos apreciam a verdade, esta é apreciada sempre pelo bom senso
das massas, constituindo isso mais um critério. Se dois princípios se
contradizem, achareis a medida do valor intrínseco de ambos, verificando qual
dos dois encontra mais ecos e simpatias. Fora, com efeito, ilógico admitir-se
que uma doutrina cujo número de adeptos diminua progressivamente seja mais
verdadeira do que outra que veja o dos seus em contínuo aumento. Querendo que a
verdade chegue a todos, Deus não a confina num círculo acanhado: fá-la surgir
em diferentes pontos, a fim de que por toda a parte a luz esteja ao lado das
trevas.
Repeli sem condescendência todos esses
Espíritos que se apresentam como conselheiros exclusivos, pregando a separação
e o insulamento. São quase sempre Espíritos vaidosos e medíocres, que procuram
impor-se a homens fracos e crédulos, prodigalizando-lhes exagerados louvores, a
fim de os fascinar e de tê-los dominados. São, geralmente, Espíritos sequiosos
de poder e que, déspotas públicos ou nos lares, quando vivos, ainda querem vítimas
para tiranizar depois de terem morrido. Em geral, desconfiai das comunicações
que trazem um caráter de misticismo e de singularidade, ou que prescrevem
cerimônias e atos extravagantes. Há sempre, nesses casos, motivo legítimo de
suspeição (...). – Erasto, discípulo
de Paulo (Paris, 1862.)
O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXI – Haverá falsos cristos e falsos profetas – item 10
“…e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. (Tiago, 2:18)
Em todos os lugares, vemos o obreiro
sem fé, espalhando inquietação e desânimo.
Devota-se a determinado empreendimento
de caridade e abandona-o, de início, murmurando:
— “Para quê? O mundo não presta”.
Compromete-se em deveres comuns e, sem
qualquer mostra de persistência, se faz demissionário de obrigações
edificantes, alegando:
Não nasci para o servilismo desonroso.
Aproxima-se da fé religiosa, para
desfrutar-lhe os benefícios, entretanto, logo após, relega-a ao esquecimento,
asseverando:
— “Tudo isto é mentira e complicação”.
Se convidado a posição de evidência,
repete o velho estribilho:
— “Não mereço! Sou indigno!...”
Se trazido a testemunhos de humildade,
afirma sob manifesta revolta:
— “Quem me ofende assim”?
E transita de situação em situação,
entre a lamúria e a indisciplina, com largo tempo para sentir-se perseguido e
desconsiderado.
Em toda parte, é o trabalhador que não
termina o serviço por que se responsabilizou ou o aluno que estuda
continuadamente, sem jamais aprender a lição.
Não te concentres na fé sem obras, que
constitui embriaguez perigosa da alma, todavia, não te consagres à ação, sem fé
no Poder Divino e em teu próprio esforço.
O servidor que confia na Lei da Vida
reconhece que todos os patrimônios e glórias do Universo pertencem a Deus. Em
vista disso, passa no mundo, sob a luz do entusiasmo e da ação no bem
incessante, completando as pequenas e grandes tarefas que lhe competem, sem
enamorar-se de si mesmo na vaidade e sem escravizar-se às criações de que terá
sido venturoso instrumento.
Revelemos a nossa fé, através das
nossas obras na felicidade comum e o Senhor conferirá à nossa vida o
indefinível acréscimo de amor e sabedoria, de beleza e poder.
Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 026
Senhor Jesus!
Esta é a casa em que nos honorificas a
confiança, permitindo-nos cooperar contigo no serviço aos semelhantes, em favor
de nós mesmos.
Faze-nos sentir que nos concedes aqui
um educandário da alma, em função de nosso próprio burilamento para a
imortalidade vitoriosa.
Ilumina-nos o entendimento, a fim de
que possamos discernir os teus desígnios de nossos desejos.
Ensina-nos a receber todos aqueles que
nos batam às portas, na condição de mensageiros da tua bondade, capazes de
instruir-nos no amor que nos legaste.
Ajuda-nos, para que venhamos a ser
bálsamo aos que sofrem, escora aos que esmorecem, coragem aos abatidos e paz
aos que jazem no desespero.
Nos dias obscuros ou intranquilos,
quando as nossas imperfeições não nos consintam perceber-te as diretrizes, sê,
por misericórdia, a luz que nos oriente em rumo certo.
Nas horas de incerteza ou perturbação,
sê o equilíbrio que nos reajuste sentimentos e raciocínios.
Induze-nos a reconhecer que os mais
fortes de nós, somos o apoio dos mais fracos; os mais cultos, o auxílio dos
menos cultos; os sãos, o socorro devido aos doentes e que todos quantos já
puderam entesourar as luzes do caráter cristão devem ser, diante de Ti, o
amparo de quantos ainda não conseguem apresentar o padrão de vida espiritual elevado
e nobre tanto quanto desejam.
Senhor!
Abençoa-nos e que, junto ao benemérito
patrono deste lar da paz e da bênção, possamos nós também aprender a servir-te,
servindo o próximo, hoje e sempre.
Assim seja!
Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Educandário de Luz
Esta questão nos foi dirigida por um de nossos correspondentes
e a ela respondemos por meio de outra pergunta:
Seria bom publicar tudo quanto dizem e pensam os homens?
Quem quer que possua uma noção do Espiritismo, por mais superficial
que seja, sabe que o mundo invisível é composto de todos os que deixaram na
Terra o envoltório visível. Entretanto, pelo fato de se haverem despojado do
homem carnal, nem por isso os Espíritos se revestiram da túnica dos anjos.
Encontramo-los de todos os graus de conhecimento e de ignorância, de moralidade
e de imoralidade; eis o que não devemos perder de vista. Não esqueçamos que
entre os Espíritos, assim como na Terra, há seres levianos, estouvados e
zombeteiros; pseudossábios, vãos e orgulhosos, de um saber incompleto;
hipócritas, malvados e, o que nos pareceria inexplicável, se de algum modo não
conhecêssemos a fisiologia desse mundo, existem os sensuais, os ignóbeis e os devassos,
que se arrastam na lama. Ao lado disto, tal como ocorre na Terra, temos seres
bons, humanos, benevolentes, esclarecidos, de sublimes virtudes; como, porém,
nosso mundo não se encontra nem na primeira, nem na última posição, embora mais
vizinho da última que da primeira, resulta que o mundo dos Espíritos compreende
seres mais avançados intelectual e moralmente que os nossos homens mais
esclarecidos, e outros que ainda estão abaixo dos homens mais inferiores.
Desde que esses seres têm um meio patente de comunicar-se
com os homens, de exprimir os pensamentos por sinais inteligíveis, suas
comunicações devem ser o reflexo de seus sentimentos, de suas qualidades ou de
seus vícios. Serão levianas, triviais, grosseiras, mesmo obscenas, sábias,
sensatas e sublimes, conforme seu caráter e sua elevação. Revelam-se por sua
própria linguagem; daí a necessidade de não se aceitar cegamente tudo quanto
vem do mundo oculto, e submetê-lo a um controle severo.
Com as comunicações de certos Espíritos, do mesmo modo
que com os discursos de certos homens, poderíamos fazer uma coletânea muito
pouco edificante. Temos sob os olhos uma pequena obra inglesa, publicada na
América, que é a prova disto, e cuja leitura, podemos dizer, uma mãe não
recomendaria à filha. Eis a razão por que não a recomendamos aos nossos
leitores. Há pessoas que acham isso engraçado e divertido. Que se deliciem na intimidade,
mas que o guardem para si mesmas. O que é ainda menos concebível é se
vangloriarem de obter comunicações indecorosas; é sempre indício de simpatias
que não podem ser motivo de vaidade, sobretudo quando essas comunicações são espontâneas e persistentes, como
acontece a certas pessoas. Sem dúvida isto nada prejulga em relação à sua
moralidade atual, porquanto
encontramos criaturas atormentadas por esse gênero de obsessão, ao qual de modo
algum se pode prestar o seu caráter.
Entretanto, este efeito deve ter uma causa, como todos os
efeitos; se não a encontramos na existência presente, devemos buscá-la numa
vida anterior. Se não estiver em nós, estará fora de nós, mas sempre nos
achamos nessa situação por algum motivo, ainda que seja pela fraqueza de
caráter. Conhecida a causa, depende de nós fazê-la cessar.
Ao lado dessas comunicações francamente más, e que chocam
qualquer ouvido delicado, outras há que são simplesmente triviais ou ridículas.
Haverá inconvenientes em publicá-las? Se forem dadas pelo que valem, serão
apenas impróprias; se o forem como estudo do gênero, com as devidas precauções,
os comentários e os corretivos necessários, poderão mesmo ser instrutivas,
naquilo que contribuírem para tornar conhecido o mundo espiritual em todos os
seus aspectos. Com prudência e habilidade tudo pode ser dito; o mal é dar como
sérias coisas que chocam o bom senso, a razão e as conveniências. Neste caso, o
perigo é maior do que se pensa. Em primeiro lugar, essas publicações têm o
inconveniente de induzir em erro as pessoas que não estão em condições de
aprofundá-las nem de discernir o verdadeiro do falso, especialmente numa
questão tão nova como o Espiritismo. Em segundo lugar, são armas fornecidas aos
adversários, que não perdem tempo em tirar desse fato argumentos contra a alta
moralidade do ensino espírita; porque, insistimos, o mal está em considerar
como sérias coisas que constituem notórios absurdos. Alguns mesmos podem ver
uma profanação no papel ridículo que emprestamos a certas personagens
justamente veneradas, e às quais atribuímos uma linguagem indigna delas.
Aqueles que estudaram a fundo a ciência espírita sabem
como se portar a esse respeito. Sabem que os Espíritos galhofeiros não têm o
menor escrúpulo de se adornarem de nomes respeitáveis; mas sabem também que
esses Espíritos não abusam senão daqueles que gostam de se deixar abusar, e que
não sabem ou não querem desmascarar
as suas astúcias pelos meios de controle que conhecemos. O público, que ignora
isso, vê apenas um absurdo oferecido seriamente à sua admiração, o que faz com
que diga: Se todos os espíritas são assim, merecem o epíteto com que foram agraciados.
Sem sombra de dúvida, esse julgamento não pode ser levado em consideração; vós
os acusais com justa razão de leviandade. Dizei a eles: Estudai o assunto e não
examineis apenas uma face da moeda. Entretanto, há tantas pessoas que julgam a priori, sem se darem ao trabalho de
virar a folha, sobretudo quando falta boa vontade, que é necessário evitar tudo
quanto possa dar motivos a decisões precipitadas, porquanto, se à má vontade
vier juntar-se a malevolência, o que é muito comum, ficarão encantadas de
encontrar o que criticar.
Mais tarde, quando o Espiritismo estiver mais vulgarizado,
mais conhecido e compreendido pelas massas essas publicações não terão maior
influência do que hoje teria um livro que encerrasse heresias científicas. Até
lá, nunca seria demasiada a circunspeção, visto haver comunicações que podem
prejudicar essencialmente a causa que querem defender, em intensidade superior
aos ataques grosseiros e às injúrias de certos adversários; se algumas fossem
feitas com tal objetivo, não alcançariam melhor êxito. O erro de certos autores
é escrever sobre um assunto antes de tê-lo aprofundando suficientemente, dando
lugar, desse modo, a uma crítica fundamentada. Queixam-se do julgamento
temerário de seus antagonistas, sem se darem conta de que muitas vezes são eles
mesmos que exibem uma falha na couraça. Aliás, malgrado todas as precauções,
seria presunção julgarem-se ao abrigo de toda crítica: primeiro, porque é
impossível contentar a todo o mundo; em segundo lugar, porque há pessoas que
riem de tudo, mesmo das coisas mais sérias, uns por seu estado, outros por seu caráter. Riem muito da religião, de sorte
que não é de admirar que riam dos Espíritos, que não conhecem. Se pelo menos
suas brincadeiras fossem espirituosas, haveria compensação. Infelizmente, em
geral não brilham nem pela finura, nem pelo bom gosto, nem pela urbanidade e
muito menos pela lógica. Façamos, então, o que de melhor estiver ao nosso
alcance. Pondo de nosso lado a razão e as conveniências, poremos de lado também
os trocistas.
Essas considerações serão facilmente compreendidas por
todos. Há, porém, uma não menos importante, que diz respeito à própria natureza
das comunicações espíritas, e que não devemos omitir: Os Espíritos vão aonde
acham simpatia e onde sabem que serão
ouvidos. As comunicações grosseiras e inconvenientes, ou simplesmente
falsas, absurdas e ridículas, não podem emanar senão de Espíritos inferiores: o
simples bom senso o indica. Esses Espíritos fazem o que fazem os homens que são
ouvidos complacentemente: ligam-se àqueles que admiram as suas tolices e, frequentemente,
se apoderam deles e os dominam a ponto de os fascinar e subjugar. A importância
que, pela publicidade, é concedida às suas comunicações, os atrai, excita e
encoraja. O único e verdadeiro meio de os afastar é provar-lhes que não nos
deixamos enganar, rejeitando impiedosamente, como apócrifo e suspeito, tudo que
não for racional, tudo que desmentir a superioridade que se atribui ao Espírito
que se manifesta e de cujo nome ele se reveste. Quando, então, vê que perde seu
tempo, afasta-se.
Acreditamos ter respondido suficientemente à pergunta do
nosso correspondente sobre a conveniência e a oportunidade de certas
publicações espíritas. Publicar sem exame, ou sem correção, tudo quanto vem
dessa fonte seria, em nossa opinião, dar prova de pouco discernimento. Tal é,
pelo menos, a nossa opinião pessoal, que submetemos à apreciação daqueles que,
estando desinteressados pela questão,
podem julgar com imparcialidade, pondo de lado qualquer consideração
individual. Como todo mundo, temos o direito de externar a nossa maneira de
pensar sobre a ciência que constitui o objeto de nossos estudos, e de tratá-la
à nossa maneira, sem pretender impor nossas ideias a quem quer que seja, nem apresentá-las
como leis. Os que partilham a nossa maneira de ver é porque creem, como nós,
estar com a verdade. O futuro mostrará quem está errado ou quem tem razão.
Allan Kardec – Revista Espírita – novembro/1859