Mateus, 4:24 e 25; João, 9:2 e 3; Mateus, 11:28
As palavras que Ele pronunciava, emolduravam-se com os
atos que Ele realizava. Identificado com Deus, Suas mãos produziam as curas
mais diversas, e que nunca haviam acontecido antes.
De todo lugar, portanto, particularmente da Síria,
traziam doentes: paralíticos, cegos, surdos, lunáticos, infelizes de todo
porte, que chegavam exibindo suas dores mais cruéis e padecimentos sem
conforto.
Jesus, tomado de compaixão, atendia-os, ministrando-lhes
o bálsamo da misericórdia que escorria pelas mãos e alterava a tecedura
orgânica desorganizada, restaurando-lhes a saúde.
Era natural que, à medida que libertava os enfermos das
suas mazelas, que eles próprios haviam buscado através da insensatez, da
perversidade e do crime, mais necessitados O buscassem com avidez e tormentos.
Ele, porém, não atendia a todos quantos se Lhe apresentassem procurando a
recuperação orgânica, emocional ou mental. A Sua era uma terapia de
profundidade, que sempre convocava o paciente a não voltar a pecar, evitando-se
novos comprometimentos tormentosos, para que não acontecesse nada pior. Essa,
sim, seria a cura real, a de natureza interior, mediante a transformação moral,
em razão de se encontrar no imo do ser a causa do seu padecimento.
Conhecendo que todos os seres procedem de outros
caminhos, os mais variados, que foram percorridos pelos multifários
renascimentos carnais, cada qual imprime nos tecidos delicados do espírito os
atos que praticaram, fazendo jus às ocorrências de dor e sombra em que se
encontravam, assim como das alegrias e da saúde que os visitavam. A criatura é
a semeadora, mas também a ceifeira dos próprios atos, que se insculpem nos
refolhos do ser, desenhando as futuras experiências humanas no corpo.
Eis por que nem todos os doentes Lhe recebiam a atenção
que esperavam encontrar. Não estavam em condições de ser libertados das
aflições que engendraram antes para eles próprios, correndo o risco de logo que
se encontrassem menos penalizados, corressem na busca de novas inquietações.
A sabedoria de Jesus é inigualável, porque penetra no
âmago dos acontecimentos, de onde retira o conhecimento que faculta entender o
que sucede com cada qual que O procura.
Aqueles homens e mulheres alienados, de membros
paralisados, sem audição nem claridade ocular, procediam de abismos morais em
que se atiraram espontaneamente, desde que luz em toda criatura a noção da
Verdade, do dever e se encontram ínsitos os impulsos do amor e da paz. Não
obstante, a teimosia rebelde despreza os sinais de perigo e impõe os caprichos
da personalidade inquieta, desejando alterar os impositivos das leis universais
a seu benefício, em detrimento das demais pessoas, no que resultam os dramas
imediatos e futuros que sempre alcançam os infratores.
Jesus não se permitia alterar os soberanos códigos,
beneficiando aqueles que se encontravam incursos nos resgates não concluídos,
deixando outros ao abandono. A Sua é a justiça ideal, que não privilegia, nem
esquece.
Temos a real demonstração no atendimento ao nato-cego.
Aquele homem nascera cego e sofria, mas não reclamava. Quando Jesus passou
próximo a ele, os amigos interrogaram:
— Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse
cego?
Como ele era cego de nascença, não poderia ter pecado na
atual existência e igualmente não poderia resgatar dívidas de seus pais, caso
fossem pecadores.
Jesus, que lhe penetrara a causalidade da cegueira,
redarguiu, sereno:
— Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se
manifestem nele as obras de Deus.
Tratava-se de um voluntário, que se apresentava no
ministério de Jesus, a fim de que se pudessem manifestar as obras de Deus, o
poder de que se encontrava possuidor o Mestre. E, ato contínuo, curou o homem,
utilizando-se de um processo especial, que pudesse impressionar os
circunstantes.
A Sua autoridade moral produzia vibrações que afastavam
os Espíritos perversos, para os quais o verbo franco e gentil não lograva o
êxito que se fazia necessário. Perdidos em si mesmos, conheciam da vida apenas o
temor que experimentavam e que infligiam nas suas vítimas. Outros enfermos, no
entanto, ao leve contato das Suas mãos recebiam a energia vitalizadora, que restaurava
o campo vibratório onde se encontravam as matrizes geradoras das aflições,
modificando-lhes as estruturas e reabilitando o equilíbrio.
Dessa forma, era facultado ao endividado recuperar-se
moralmente pelo Bem que pudesse fazer, pela utilidade de que se tornava
portador, auxiliando outras pessoas que dele se acercassem.
A humanidade ainda padece essas conjunturas aflitivas que
merece.
Existem muitos seres humanos que andam, porém, são
paralíticos para o Bem, encontrando-se mutilados morais, dessa maneira sem
interesse por movimentarem a máquina orgânica de que se utilizam para a própria
como para a edificação do seu próximo. Caminham, e seus passos os dirigem para
as sombras, a que se atiram com entusiasmo e expectativas de prazer,
imobilizando-se nas paixões dissolventes que terão de vencer...
Há outros que pensam, mas a alucinação faz parte da sua
agenda mental: devaneando no gozo, asfixiando-se nos vapores entorpecentes,
longe de qualquer realização enobrecedora. Intoxicados pela ilusão dos
sentidos, não conseguem liberar-se das fixações perniciosas que os atraem e os
dominam.
(...) E quantos que têm olhos e ouvidos, mas apenas deles
se utilizam para os interesses servis a que se entregam raramente direcionando
a visão para o Alto e a audição para a mensagem de eterna beleza da vida?
Ainda buscam Jesus nos templos de fé, a que recorrem, uma
que outra vez, mantendo a fantasia de merecer privilégios, de desfrutar
regalias, sem qualquer compromisso com a realidade ou expectativa ditosa para o
amanhã, sem a mórbida inclinação para o vício, para a perversão.
Alguns conseguem encontrá-lo, e se fascinam por breves
momentos, logo O abandonando, porque não tiveram a sede de gozo atendida, nem
se fizeram capazes de sacrificar a dependência tormentosa a fim de serem
livres.
Não são poucos aqueles que se encontram escravizados à
infelicidade por simples prazer a que se acostumaram, disputando a alegria de
permanecer no pantanal das viciações morais.
Estão na luz do dia e deambulam nas sombras da noite.
Possuem razão e discernimento, no entanto, os direcionam exclusivamente para os
apetites apimentados do insaciável gozo.
Vivem iludidos e se exibem extravagantes, no palco
terrestre, até quando as enfermidades dilaceradoras — de que ninguém se pode
evadir —, ou a morte os dominam e consomem. Despertam, mais tarde, desiludidos
e sem glórias, sem poder, empobrecidos de valores morais, que nunca os
acumularam.
Jesus é, portanto, o grande restaurador, mas cada
espírito tem o dever de permitir-se o trabalho de autorrenovação em favor da
própria felicidade.
A Sua voz continua ecoando na acústica das almas:
- Vinde a mim, (...), e eu vos aliviarei!
É necessário, porém, ir a Ele...