Mostrando postagens com marcador Mensagens. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mensagens. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Saúde

 

A saúde é assim como a posição de uma residência que denuncia as condições do morador, ou de um instrumento que reproduz em si o zelo ou a desídia das mãos que o manejam.

A falta cometida opera em nossa mente um estado de perturbação, ao qual não se reúnem simplesmente as forças desvairadas de nosso arrependimento, mas também as ondas de pesar e acusação da vítima e de quantos se lhe associam ao sentimento, instaurando desarmonias de vastas proporções nos centros da alma, a percutirem sobre a nossa própria instrumentação.

Semelhante descontrole apresenta graus diferentes, provocando lesões funcionais diversas.

A cólera e o desespero, a crueldade e a intemperança criam zonas mórbidas de natureza particular no cosmo orgânico, impondo às células a distonia pela qual se anulam quase todos os recursos de defesa, abrindo-se leira fértil à cultura de micróbios patogênicos nos órgãos menos habilitados à resistência.

É assim que, muitas vezes, a tuberculose e o câncer, a lepra e a ulceração aparecem como fenômenos secundários, residindo a causa primária no desequilíbrio dos reflexos da vida interior.

Todos os sintomas mentais depressivos influenciam as células em estado de mitose, estabelecendo fatores de desagregação. Por outro lado, importa reconhecer que o relaxamento da nutrição constrange o corpo a pesados tributos de sofrimento.

Enquanto encarnados, é natural que as vidas infinitesimais que nos constituem o veículo de existência retratem as substâncias que ingerimos. Nesse trabalho de permuta constante adquirimos imensa quantidade de bactérias patogênicas que, em se instalando comodamente no mundo celular, podem determinar moléstias infecciosas de variegados caracteres, compelindo-nos a recolher, assim, de volta, os resultados de nossa imprevidência. Mas não é somente aí, no domínio das causas visíveis, que se originam os processos patológicos multiformes.

Nossas emoções doentias mais profundas, quaisquer que sejam, geram estados enfermiços.

Os reflexos dos sentimentos menos dignos que alimentamos voltam-se sobre nós mesmos, depois de convertidos em ondas mentais, tumultuando o serviço das células nervosas que, instaladas na pele, nas vísceras, na medula e no tronco cerebral, desempenham as mais avançadas funções técnicas; acentue-se, ainda, que esses reflexos menos felizes, em se derramando sobre o córtex encefálico, produzem alucinações que podem variar da fobia oculta à loucura manifesta, pelas quais os reflexos daqueles companheiros encarnados ou desencarnados, que se nos conjugam ao modo de proceder e de ser, nos atingem com sugestões destruidoras, diretas ou indiretas, conduzindo-nos a deploráveis fenômenos de alienação mental, na obsessão comum, ainda mesmo quando no jogo das aparências possamos aparecer como pessoas espiritualmente sadias.

Não nos esqueçamos, assim, de que apenas o sentimento reto pode esboçar o reto pensamento, sem os quais a alma adoece pela carência de equilíbrio interior, imprimindo no aparelho somático os desvarios e as perturbações que lhe são consequentes.

 

Livro Pensamento e Vida, de Emmanuel/Chico Xavier – cap. 15.

 

 


sábado, 1 de junho de 2024

União a dois

 


Lutas do casamento!… Provas do casamento!…

Quem disse, porém, que a concretização do matrimônio é felicidade estruturada a toques de figurino, não atingiu a realidade.

A união a dois, no culto da afinidade ou na execução de tarefas mais amplas da família, é um encargo honroso, qual sucede a tantas obrigações dignas. Nem por isso deixa de ser trabalho por efetuar. E trabalho tão importante que, não sendo possível a um coração apenas, foi preciso reunir dois para realizá-lo.

Quando um companheiro delibera empreender certa pesquisa, ou se outro abraça determinada profissão, não nos aventuramos a iludi-los com visões de felicidade imaginária.  Ao invés disso, reconhecemos que escolheram laborioso caminho de serviço em que lhes auguramos o êxito desejado.

De igual modo, o casamento não é construção sem bases, espécie de palácio feito sob medida para os moradores.

Entre os cônjuges é imperioso que um aprenda a compreender o outro, de maneira a desenvolver as qualidades nobres que o outro possua, transformando-lhe consequentemente as possíveis tendências menos felizes em aspirações à Vida Melhor.

Claramente, todos temos vinculações profundas, idiossincrasias, frustrações e dificuldades. A reencarnação nos informa com segurança quanto a isso, indicando para que lado gravitamos em família, segundo os mecanismos da vida que a experiência terrestre nos induz a reajustar.

Em razão disso, todo par e toda organização doméstica revelam regiões nevrálgicas entretecidas de problemas que é preciso saber contornar ou penetrar, a fim de que o futuro nos traga as soluções da harmonia irreversível.

Se te encontras ao lado de alguém, sob regime de compromisso afetivo, não exijas de imediato a esse alguém a apresentação dos recursos de que ainda necessite para ser aos teus olhos a companhia perfeita que esperavas encontrar entre as paredes domésticas. Nem queiras que esse alguém raciocine com os teus pensamentos, porquanto a ninguém é licito reclamar de outrem aquilo que ainda não consegue fazer.

Se não desejas receber nos próprios ombros a cabeça de quem abraçou contigo as responsabilidades da união a dois, é mais que natural não possas impor a própria cabeça aos ombros da criatura a quem prometeste carinho e dedicação.

Todos somos filhos de Deus.

O matrimônio é obrigação que os interessados assumem livremente e de que prestarão justa conta um ao outro. Conquanto isso, o casamento não funde as pessoas que o integram. Por isto mesmo a união a dois, além da complementação realizada, recorda a lavoura e a construção: cada cônjuge colhe o que plantou, tanto quanto dispõe do que fez.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Astronautas do Além


sexta-feira, 15 de março de 2024

Ao encontro do Mestre

 

Meu caro Átila,

A senda do discípulo do Senhor está aberta.

Na retaguarda, é o pretérito de sombras.

À esquerda, surge o território incendiado das paixões.

À direita, aparece o gelado desfiladeiro da indiferença.

Nossa única porta de ação construtiva é a da frente.

Através dela é preciso marchar, amealhando amor e sabedoria ao preço de renunciação e serviço constantes.

Não te atemorizem, pois, os golpes da sombra.

Refletir a luz do Cristo, em nós, na antiga arena da luta humana, é o nosso objetivo essencial.

Dilatemos, acima de tudo, a nossa capacidade receptiva, assimilando as forças superconscientes que fluem de cima para a regeneração do conteúdo de nossa individualidade.

Comunhão integral com Jesus é a nossa meta.

Para alcançá-la, tudo o que não seja Amor, em suas manifestações, deve ser esquecido.

Não te detenhas.

Avança, por dentro do próprio coração, entendendo a excelsitude do sacrifício.

Na estrada que trilhamos, milhares de companheiros amontoam recursos de ouro e pedra para a aquisição de dor e arrependimento. Outros continuam povoando os celeiros do tempo, com os monstros da insensatez.

Que a voz do Mestre vibre total na acústica de nossa alma, a fim de que os desvarios da ilusão não nos aniquilem a sagrada oportunidade de escalar o monte redentor. Ofereçamos a claridade da prece a todos os que desçam provisoriamente no escuro castelo das horas perdidas.

E adiantemo-nos, não no carro da evidência pessoal, mas no laborioso esforço da purificação, convictos de que em nosso reajustamento com Jesus permanece o soerguimento do mundo.

Quando a alma abriga, enfim, o Divino Hóspede, profunda transformação se opera no sistema espiritual de cada um.

Os olhos jazem incapacitados para a descoberta do mal.

Os ouvidos permanecem atentos às mensagens de sabedoria.

Os pensamentos se concentram invariavelmente no bem.

A palavra tece harmonia e felicidade em todos os recantos.

As mãos agem, incessantemente, sob a inspiração de ordem superior.

O coração, sobretudo, irradia bênçãos de compreensão e fraternidade, onde quer que se encontre, por estrela consciente a resplandecer nas teias da carne, e o império do Amor se estabelece no destino, consolidando a obra de sublimação eterna.

Sigamos, pois, pelo calvário da ressurreição sem desfalecer.

Na ordem material da Terra, vemos constantemente o homem a esperar pelo mundo, quando em verdade, o mundo vive esperando pelo homem, observando ainda que a alma aguarda Jesus, ao passo que o Senhor, de braços compassivos, aguarda a nossa alma, cheio de magnanimidade e esperança.

Movimentemo-nos, pois, à procura do Mestre e o Mestre virá, tolerante e sublime, ao nosso encontro.

Agostinho / Chico Xavier
Livro: Sentinelas da luz



sábado, 9 de março de 2024

Mais Luz - Edição 673 - 10/03/2024

 

Confira nesta edição:

https://mailchi.mp/a8916bc20ad1/refugia-te-em-paz

 

Tópicos da prece – Bezerra de Menezes

Ante o Evangelho: A indulgência

Mensagem da Semana: Refugia-te em paz – Fonte Viva, 147

Poema: Refúgio – Maria Dolores

Oração íntima – Maria Dolores






sexta-feira, 8 de março de 2024

Tópicos da prece

 


Elevemos o nosso coração, sempre que possível, ao Senhor e confiemos em Sua Infinita Bondade!

Na prece está a nossa força e no serviço do bem o nosso refúgio!

Confiemos nosso pensamento à oração e nossos braços ao trabalho com Cristo Jesus. E Jesus solucionará os nossos problemas com a bênção do tempo. Confiemos, pois, e que Jesus nos guarde sempre!

 

* * *

Paz e esperança ao coração! Cada noite, apesar do cansaço, não olvidemos alguns minutos com a oração, para que se nos refaçam as forças. As tarefas seguem intensas, contudo, quanto possível, os Amigos Espirituais procuram amparar-nos as energias e acrescentá-las ainda mais.

 

* * *

Meus irmãos, muitos Amigos da Espiritualidade sustentam-nos as forças na travessia difícil das horas que passam. Através da oração recolheremos, como sempre, a inspiração de que necessitamos na superação das lutas redentoras.

 

* * *

Guardemos a tranquilidade mental! Através da oração, as tarefas do lar são sustentadas com a bênção do Alto.

 

* * *

Receberemos, pela oração, o concurso espiritual, rogando a Jesus para que os nossos corações sejam fortificados no caminho de dor e luz em que nos encontramos.

 

* * *

Agradeçamos a Jesus as bênçãos de cada dia e confiemos na proteção divina, hoje e sempre!

 

* * *

Cada noite consagremos alguns momentos à oração, momentos esses de que se valerão os Amigos Espirituais que nos amparam, a fim de insuflar-nos novas forças para o desempenho de nossas tarefas.

Reanimemo-nos e guardemos o bom ânimo na certeza de que a fé viva em Deus é luz que nos auxilia a dissipar todas as sombras.

 

* * *

Jesus nos abençoe! Roguemos a Ele, nosso Eterno Benfeitor, nos abençoe os planos de trabalho e renovação à frente do futuro.

 

Bezerra de Menezes / Chico Xavier
Livro: Apelos cristãos



sexta-feira, 1 de março de 2024

Incêndio na serraria

 

I

O grupo de senhoras estava em prece.

Chamados a ouvi-las, nós, os desencarnados, tínhamos o coração enternecido.

Desejavam construir uma escola. E mentalizavam no doce requerimento o modesto edifício, limpo e alvo, que ofertariam aos pequeninos.

— Senhor, — dizia a mais experiente das quatro, — Senhor, inspirai-nos e protegei-nos. Agradecemos as dádivas que já recebemos em Vosso nome. O pedaço de terra, a pedra e a cal… Agora, Senhor, precisamos de madeira para dar início… Confiadas em Vosso amor, visitaremos a fábrica de móveis… Rogaremos auxílio, contando com Vossa bênção.

Em seguida, levantaram-se para sair. E, comovidos, junto delas, pusemo-nos igualmente em marcha. 

II

 O gerente da serraria oficina, importante empresa da grande cidade, recebeu a comissão cortesmente.

Contudo, o Dr. Alberto, — era ele engenheiro hábil, — ao ouvir a sucinta exposição, esfriou, desapontado.

Mas, mesmo assim, a conversação se fez viva.

— Não temos interesse algum em concessão semelhante, — disse.

— Doutor, mas é uma escola destinada às crianças menos felizes, — falou D. Rute, a maior responsável.

— As portas serão abertas em nome de Deus, — falou D. Constância.

— Contamos com o senhor — acentuou Dona Ester.

— Deus recompensará o que possa fazer aduziu D. Amália.

— E que temos a ver com Deus? — Falou ele, mordaz. — A educação é obra para governos. Não será lícito imiscuir o Criador em negócios que não lhe dizem respeito. Digo isso em consideração às senhoras, porque, de mim mesmo, sou materialista confesso. Ateu. Ateu puro.

D. Rute sorriu, delicada, mas não se deu por vencida. E aclarou:

— Decerto que esperamos do governo que nos dirige providências mais amplas a favor dos meninos. Entretanto, até que isso aconteça, não será compreensível fazer algo de nossa parte? O ensino será totalmente alheio ao ensino religioso.

— Mas, por que envolver Deus nesta história? — Resmungou o engenheiro, positivamente sarcástico.

— Por que não? — Ponderou D. Rute, paciente. — Respeitamos o seu ponto de vista, o seu modo de pensar… Mas cremos na força inteligente da vida. Admitimos a eterna bondade que orienta os sucessos do mundo. Sabedoria e amor que chegam de Deus. O senhor comanda uma fábrica. Conta dezenas de empregados. Dispõe de muitas máquinas. Entretanto, doutor, acreditamos que toda a matéria-prima, como sejam as árvores cortadas, os instrumentos em uso, o equilíbrio dos servidores e até mesmo a sua própria saúde são doações de Deus, que a todos nos sustenta.

— Quem é o dono real de tudo, senão Deus? — Falou D. Ester, com brandura e espontaneidade.

O Dr. Alberto mostrou-se mais irônico. Referiu-se à Natureza. Exibiu mapas e apontamentos sobre botânica. Comentou as vitórias da contabilidade, da técnica, da fiscalização, da higiene…

Por mais de uma hora falou e falou sobre os novos progressos da Humanidade. E acabou notificando que não daria peça alguma, nem mesmo um centavo.

As senhoras, apesar de sorridentes, levantaram-se acabrunhadas.

Tudo em vão.

Começaram as despedidas corretas, quando o inesperado aconteceu. 

III

 — Doutor Alberto! Doutor Alberto! — Gritou um operário, varando a porta do gabinete. — Depressa! Venha depressa! O fogo está devorando a seção de compensados!

Alarido interior. Campainhas vibrando. Corre-corre. Brados por socorro multiplicam-se angustiantes.

O engenheiro movimenta-se, espavorido.

As senhoras instintivamente lhe seguiram os passos. E nós também.

O incêndio nascera de violento curto-circuito.

Dr. Alberto, muito pálido, ordena e coopera. Há deficiência de pessoal. As senhoras, porém, corajosamente, tomam a dianteira do trabalho salvacionista, como se lhe fossem subalternas de muito tempo.

Empunham mangueiras. Deslocam móveis. Transferem tábuas pesadas. Combatem o fogaréu. E pulam. E sofrem queimaduras ligeiras. Estafam-se. E vencem. Finda meia hora de intensa luta, as chamas se extinguem. Ainda assim, esclarece o chefe de obras que duzentos mil cruzeiros de madeira compensada deviam estar perdidos. A casa não estava segurada contra incêndio.

O Dr. Alberto, todavia, agora calmo, aproxima-se das damas, quatro heroínas aos seus olhos e, cumprimentando a diretora da comissão, disse, gentil:

— Dona Rute, penso que Deus ganhou a questão de sua escola. Mudei de ideia. Mande buscar amanhã toda a madeira de que necessite. E mais o que precisar.

E, bem-humorado, acrescentou:

— Depois conversaremos sobre Deus, como dono desta oficina…

As senhoras, chamuscadas, com as vestes sujas e rasgadas, sorriram e retiraram-se.

Depois de dois meses, escola singela e branca recebia quarenta meninos. Doutor Alberto, presente à inauguração, contou a história do incêndio, e um garoto, em seguida, fez pequeno agradecimento, terminando com a bela exclamação:

— Que Deus nos abençoe! 

Hilário Silva / Waldo Vieira
Livro: A Vida Escreve



sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Sobre o carnaval

 


Nenhum Espírito equilibrado em face do bom senso que deve presidir a existência das criaturas pode fazer a apologia da loucura generalizada que adormece as consciências nas festas carnavalescas.

É lamentável que na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhes as belezas e os objetivos sagrados da vida, se verifiquem excessos dessa natureza entre as sociedades que se pavoneiam com os títulos da civilização.

Enquanto os trabalhos e as dores abençoadas, geralmente incompreendidos pelos homens, lhes burilam o caráter e os sentimentos, prodigalizando-lhes os benefícios inapreciáveis do progresso espiritual, a licenciosidade desses dias prejudiciais opera, nas almas indecisas e necessitadas do amparo moral dos outros Espíritos mais esclarecidos, a revivescência de animalidades que só os longos aprendizados fazem desaparecer.

Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo acesso das forças da treva nos corações e, às vezes, toda uma existência não basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia e de esquecimento do dever.

É estranho que as administrações e elementos de governos colaborem para que se intensifique a longa série de lastimáveis desvios de Espíritos fracos, cujo caráter ainda aguarda o toque miraculoso da dor para aprender as grandes verdades da vida.

Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem e se intensifique o olvido de obrigações sagradas por parte das almas cuja evolução depende do cumprimento austero dos deveres sociais e divinos.

Ação altamente meritória seria a de empregar todas as verbas consumidas em semelhantes festejos na assistência social aos necessitados de um pão e de um carinho. Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. Por que protelar essa ação necessária das forças conjuntas dos que se preocupam com os problemas nobres da vida, a fim de que se transforme o supérfluo na migalha abençoada de pão e de carinho que será a esperança dos que choram e sofrem? Que os nossos irmãos espíritas compreendam semelhantes objetivos de nossas despretensiosas opiniões, colaborando conosco dentro de suas possibilidades para que possamos reconstruir e reedificar os costumes para o bem de todas as almas.

É incontestável que a sociedade pode, com o seu livre-arbítrio coletivo, exibir superfluidades e luxos nababescos, mas enquanto houver um mendigo abandonado junto de seu fastígio e de sua grandeza ela só poderá fornecer com isso um eloquente atestado de sua miséria moral.

Emmanuel / Chico Xavier

Livro: Cartas do Alto




quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A lição da Cruz

 

Meus irmãos:

Peçamos em nosso favor a bênção de Nosso Senhor Jesus-Cristo.

Nas recordações da noite de hoje, busquemos no Livro Sagrado a mensagem de luz que nos comande as diretrizes.

Leiamos no Evangelho do Apóstolo João, no capítulo 12, versículo 32, a palavra do Divino Mestre, quando anuncia aos seguidores:

— “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim.”

Semelhante afirmativa foi pronunciada por ele, depois da entrada jubilosa em Jerusalém.

Flores, alegria, triunfo…

Cabe-nos ponderar ainda que, nessa ocasião, o Embaixador Celestial havia sido o Divino Médico dos corpos e das almas. Havia restaurado paralíticos, cegos e leprosos, reconstituindo a esperança e a oportunidade de muitos… Estendera a Boa-nova e passara pela transfiguração do Tabor…

Entretanto, Jesus ainda se considera como Missionário não erguido da Terra.

Indubitavelmente, aludia ao gênero de testemunho com que o dilacerariam, mas também ao sofrimento superado como acesso à vitória.

Reportava-se ao sacrifício como auréola da vida e destacava a cruz por símbolo de espiritualidade e ressurreição.

Induzia-nos o Senhor a aceitar as aflições do mundo, como recursos de soerguimento, e a receber nos pontos nevrálgicos do destino o ensejo de nossa própria recuperação.

Ninguém passará incólume entre as vicissitudes da Terra.

Todos aí pagamos o tributo da experiência, do crescimento, do resgate, da ascensão…

E arrojados ao pó do amolecimento moral, não atrairemos senão a piedade dos transeuntes e o enxurro do caminho, sem encorajar o trabalho e o bom ânimo dos outros, porque, de nós mesmos, teremos recusado a bênção da luta.

O Mestre, amoroso e decidido, ensinou-nos a usar o fracasso como chave de elevação.

Traído pelos homens, utilizou-se de semelhante decepção para demonstrar lealdade a Deus.

Atormentado, aproveitou a aflição para lecionar paciência e governo próprio.

Escarnecido, valeu-se da amargura íntima para exercer o perdão.

E, crucificado, fez da morte a revelação da vida eterna.

É imprescindível renunciar ao reconforto particular, para que a renovação nos acolha.

Todos nos sentimos tranquilos e sorridentes, diante do céu sem nuvens, mas se a tempestade reponta, ameaçadora, eis que se nos desfazem as energias, qual se nossa fé não passasse de movimento sem substância.

Acomodamo-nos com a satisfação e abominamos o obstáculo.

No entanto, não seremos levantados do mundo, ainda mesmo quando estejamos no mundo fora do corpo físico, sem o triunfo sobre a nossa cruz, que, em nosso caso, foi talhada por nossos próprios erros, perante a Lei.

É por isso que nesta noite, em que a serenidade de Jesus como que envolve a Natureza toda, nesta hora em que o pensamento da coletividade cristã volve, comovido, para a recuada Jerusalém, é natural estabeleçamos no próprio coração o indispensável silêncio para ouvir a Mensagem do Evangelho que se agiganta nos séculos…

— “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim.”

Enquanto o Senhor evidenciava apenas o poder sublime de que se fazia emissário, curando e consolando, poderia parecer um simples agente do Pai Celestial, em socorro das criaturas; mas atendendo aos desígnios do Altíssimo, na cruz da flagelação suprema, e confiando-se à renúncia total dos próprios desejos, não obstante vilipendiado e aparentemente vencido, afirmou o valor soberano de sua individualidade divina pela fidelidade ao seu ministério de amor universal e, desde então, alçado ao madeiro, continua atraindo a si as almas e as nações.

Içado à ignomínia por imposição de todos nós que lhe constituímos a família planetária, não denotou rebeldia, tristeza ou desânimo, encontrando, aliás, em nossa debilidade, mais forte motivo para estender-nos o tesouro da caridade e do perdão, passando, desde a cruz, não mais apenas a revigorar o corpo e a alma das criaturas, mas principalmente a atraí-las para o Reino Divino, cuja construção foi encetada e cujo acabamento está muito longe de terminar.

Assim sendo, quando erguidos pelo menos alguns milímetros da terra, através das pequeninas cruzes de nossos deveres, junto aos nossos irmãos de Humanidade, saibamos abençoar, ajudar, compreender, servir, aprender e progredir sempre.

Intranquilidade, provação, sofrimento, são bases para que nos levantemos ao encontro do Senhor.

Roguemos, desse modo, a ele nos acrescente a coragem de apagar o incêndio da rebelião que nos retém prostrados no chão de nossas velhas fraquezas, retirando-nos, enfim, do cativeiro à inferioridade para trazer ao nosso novo modo de ser todos aqueles que convivem conosco, há milênios, aguardando de nossa alma o apelo vivo do entendimento e do amor.

E, reunindo nossas súplicas numa só vibração de fé, esperemos que a Bondade Divina nos agasalhe e abençoe.

 

Osias Gonçalves / Chico Xavier – Livro: Instruções Psicofônicas 

(noite de 15/04/1954)


sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Bagagem de Ano Novo

 


Ano Novo significa mais um trecho que temos a percorrer em nossa caminhada na Crosta Planetária.

Isto nos sugere a ideia de viagem.

Quando pensamos em viajar, cogitamos logo de preparar a bagagem, pondo tudo em ordem, separando as coisas necessárias para levar.

Diligenciamos uma série de providências que acomodem da melhor maneira possível a nossa situação de viajante.

Prevenimo-nos do numerário suficiente para as despesas.

Cercamo-nos dos devidos cuidados, em matéria de vestuário, hospedagem e alimentação.

Tomamos, enfim, todas as medidas cabíveis para nos assegurar uma ida e volta isenta de embaraços.

Diante de um ano que se finda e de outro que vai começar, deve ser bem esta a nossa mentalidade, isto é, devemos apresentar-nos com um estado de espírito igual ao de quem tem um percurso a fazer.

Apenas, em se tratando de viver, naturalmente outras deverão ser as preocupações.

No caso, compete-nos examinar e conhecer as condições de nossa intimidade psicológica.

Perscrutando a mente, saberemos que ideais e pensamentos nos farão companhia.

Auscultando o coração, identificaremos os sentimentos que se deslocarão conosco, ao longo do trajeto.

Serão com elementos destas duas fontes que formaremos nossa bagagem para a imprevista viagem de trezentos e sessenta e cinco dias, se não formos colhidos pelo alfanje da morte.

Não pode haver melhor oportunidade para um balanço total de nossa vida.

Nem outra ocasião será mais bem indicada à uma tomada de posição claramente definida, seguramente balizada.

Elevemos ao Alto o pensamento em prece, e peçamos-lhe inspiração para escolhas acertadas, que se traduzam na posse de elementos assecuratórios do nosso real bem-estar, de nossa verdadeira felicidade.

Acontecerá então assim... Do princípio ao fim, primeiro ao último dia do Ano Novo, observaremos conduta, tão elevada quanto possível, senão de todo superior.

Pensaremos tão somente no bem, que elegeremos por luz do nosso caminho.

Desejaremos exclusivamente o que for nobre e justo.

Mentalizaremos unicamente coisas construtivas e edificantes.

Buscaremos mais estreito convívio com os livros instrutivos e de sã orientação.

Guardaremos fidelidade ao Pai Celestial.

Daremos cumprimento a salutar programa de dignificação íntima, aprofundando e engrandecendo os atributos da alma.

Filhos — passaremos a dedicar mais afeto e respeito aos pais.

Pais — envidaremos nossos melhores esforços no sentido de discernir, compreender e solucionar os problemas dos filhos.

Cônjuges – desdobrar-nos-emos em atenções e delicadezas, em esforços e sacrifícios, se necessário for, por instituir, no trato da vida conjugal, o Amor fraterno, a Amizade sã e leal, dedicada e sincera, como princípio normativo de conduta.

Médiuns — faremos de nossa evangelização o objetivo do todas as atividades próprias.

Cidadãos — conduzir-nos-emos de modo a cumprir condignamente os deveres funcionais e cívicos, sem nos enredarmos no aranhol do mundo, nem nos desfigurarmos como filhos de Deus.

O que importa, em essência, não é propriamente a passagem de um ano para outro, coisa que sempre se deu e se dará à nossa revelia, e sim as condições da bagagem espiritual com que entramos no Ano Novo, que, para ser realmente Bom, como o concebemos, é preciso que nos tornemos efetivamente melhores”

 

Passos Lírio – Reformador / janeiro de 1969



sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Natal simbólico

 


Harmonias cariciosas atravessavam a paisagem, quando o lúcido mensageiro continuou:

— Cada Espírito é um mundo onde o Cristo deve nascer…

Fora loucura esperar a reforma do mundo, sem o homem reformado. Jamais conheceremos povos cristãos, sem edificarmos a alma cristã…

Eis por que o Natal do Senhor se reveste de profunda importância para cada um de nós em particular.

Temos conosco oceanos de bênçãos divinas, maravilhosos continentes de possibilidades, florestas de sentimentos por educar, desertos de ignorância por corrigir, inumeráveis tribos de pensamentos que nos povoam a infinita extensão do mundo interior. De quando em quando, tempestades renovadoras varrem-nos o íntimo, furacões implacáveis atingem nossos ídolos mentirosos.

Quantas vezes, o interesse egoístico foi o nosso perverso inspirador?

Examinando a movimentação de nossas ideias próprias, verificamos que todo princípio nobre serviu de precursor ao conhecimento inicial do Cristo.

Verificou-se a vinda de Jesus numa época de recenseamento.

Alcançamos a transformação essencial justamente em fase de contas espirituais com a nossa própria consciência, seja pela dor ou pela madureza de raciocínio.

Não havia lugar para o Senhor.

Nunca possuímos espaço mental para a inspiração divina, absorvidos de ansiedades do coração ou limitados pela ignorância.

A única estalagem ao Hóspede Sublime foi a Manjedoura.

Não oferecemos ao pensamento evangélico senão algumas palhas misérrimas de nossa boa vontade, no lugar mais escuro de nossa mente.

Surge o Infante Celestial dentro da noite.

Quase sempre, não sentimos a Bondade do Senhor senão no ápice das sombras de nossas inquietações e falências.

A estrela prodigiosa rompe as trevas no grande silêncio.

Quando o gérmen do Cristo desponta em nossas almas, a estrela da divina esperança desafia nossas trevas interiores, obscurecendo o passado, clareando o presente e indicando o porvir.

Animais em bando são as primeiras visitas ao Enviado Celeste.

Na soledade de nossa transformação moral, em face da alvorada nova, os sentimentos animalizados de nosso ser são os primeiros a defrontar o ideal do Mestre.

Chegam pastores que se envolvem na intensa luz dos anjos que velam o berço divino.

Nossos pensamentos mais simples e mais puros aproximam-se da ideia nova, contagiando-se da claridade sublime, oriunda dos gênios superiores que nos presidem aos destinos e que se acercam de nós, afugentando a incompreensão e o temor.

Cantam milícias celestiais.

No instante de nossa renovação em Cristo, velhos companheiros nossos, já redimidos, exultam de contentamento na Esfera superior, dando glória a Deus e bendizendo os Espíritos de boa vontade.

Divulgam os pastores a notícia maravilhosa.

Nossos pensamentos, felicitados pelo impulso criador de Jesus, comunicam-se entre si, organizando-se para a vida nova.

Surge a visita inesperada dos magos.

Sentindo-nos a modificação, o mundo observa-nos de modo especial.

Os servos fiéis, como Simeão, expressam grande júbilo, mas revelam apreensões justas, declarando que o Menino surgira para a queda e elevação de muitos em Israel.

Acalentamos o pensamento renovador, no recesso d’alma, para a destruição de nossos ídolos de barro e desenvolvimento dos germens de espiritualidade superior.

Ferido na vaidade e na ambição, Herodes determina a morte do Pequenino Emissário.

A ignorância que nos governa, desde muitos milênios, trabalha contra a ideia redentora, movimentando todas as possibilidades ao seu alcance.

Conserva-se Jesus na casa simples de Nazaré.

Nunca poderemos fornecer testemunho à Humanidade, antes de fazê-lo junto aos nossos, elevando o espírito do grupo a que Deus nos conduziu.

Trabalha o Pequeno Embaixador numa carpintaria.

Em toda realização superior, não poderemos desdenhar o esforço próprio.

Mais tarde, o Celeste Menino surpreende os velhos doutores.

O pensamento cristão entra em choque, desde cedo, com todas as nossas antigas convenções relativas à riqueza e à pobreza, ao prazer e ao sofrimento, à obediência e à mordomia, à filosofia e à instrução, à fé e à ciência.

Trava-se, então, dentro de nosso mundo individual, a grande batalha.

A essa altura, o mensageiro fez longa pausa.

Flores de luz choviam de mais alto, como alegrias do Natal, banhando-nos a fronte. Os demais companheiros e eu aguardávamos, ansiosos, a continuação da mensagem sublime; entretanto, o missionário generoso sorriu paternalmente e rematou:

— Aqui termino minhas humildes lembranças do Natal simbólico. Segundo observais, o Evangelho de Nosso Senhor não é livro para os museus, mas roteiro palpitante da vida.


Irmão X (Humberto de Campos)

Livro: Pontos e contos