“Numa
orientação espiritual, foi-me revelado que tenho condições para ser um
expositor. Sabendo que essa posição exige grandes responsabilidades, quais as
principais que o senhor assinalaria?
(Neuton
Suguilhara – Taguatinga – DF)
“Em
nossa despretensiosa opinião, a maior responsabilidade do expositor é a de ser
fiel ao chefe da Seara. Todo pregador dos princípios morais e, em especial, o
expositor espírita, nunca deve esquecer que seu trabalho é o de evangelizar com
o Cristo, o que significa não perder de vista o verdadeiro caráter do trabalho
cristão, assinalado pelas qualidades fundamentais: humildade, sinceridade,
coragem, independência, amor, verdadeiro desejo de servir, estudo e meditação.
“Para
que isso ocorra, outra condição se destaca: a eficiência! O orador espírita
deve, pois, mobilizar todos os recursos ao seu alcance para ser um bom
expositor e conseguir comunicar as grandes verdades de que todos precisamos.
Para tanto, precisa estar convicto de que o êxito do seu trabalho terá a medida
de seu esforço. E de que esse esforço terá muito de exercício, experimentação
de métodos, técnicas, modos, etc., até mesmo para que o próprio expositor se
descubra, isto é, identifique o estilo e a natureza peculiar do trabalho a que
mais se ajusta. A chave do êxito está em fazer-se o que se gosta, aquilo para o
que se revela pendor, vocação, gosto. A pregação pública, como qualquer outro
setor, é um campo multifacetado, onde cada qual definirá sua preferência e
aptidão.
“Há,
por exemplo, o orador didático, o solto, o metódico, o filosófico, o
bem-humorado, o altiloquente, o evangélico, o emotivo, o tertulial, o
verberador, o tímido e o impetuoso. Há o que adota preparação prévia meticulosa
e não foge ao esquema traçado; o contrário, que não consegue preparar
antecipadamente, mas fala ao sabor da emoção do momento. Há o monotônico, que
só aborda uma temática invariável, ou trata todos os assuntos pelo mesmo
prisma. O oposto é o polimorfo, que desenvolve capacidade para ver a
problemática humana sob vários ângulos e adquire a capacidade de apreciar
assuntos diferentes entre si.
“Vemos
os que imitam outros pregadores conhecidos e os mais autênticos. Existe o
estacionado, que nunca passa de um mesmo diapasão, e o que evolui, aprende com
os próprios erros, para não incorrer neles de futuro. Aparece o sem
autocrítica, cujos graves defeitos todos notam, só o próprio é que não vê e o
melindroso, a quem a menor crítica ‘desmonta’ por muitas semanas. “Mas, em
qualquer caso, uma qualidade é fundamental: a modéstia e a humildade. “No mais,
vá em frente, e nunca creia que você, agora jovem, iniciando-se no trabalho
ativo da seara, virá a ser um pregador espírita destacado simplesmente porque
terá reencarnado com essa missão. Lembre-se do conselho de Thomas Edson, o
grande inventor. ‘O gênio é feito de 1% de inspiração e 99% de transpiração.’
“Aliás,
a orientação que você recebeu de um espírito amigo veio mesmo em forma sábia,
porque disse que você ‘tem condições para ser um expositor’. Não disse que será
um expositor! E isso é certo porque por mais que uma missão tenha sido
preparada na Espiritualidade, o fato apenas confere condições mais ou menos
favoráveis para sua efetivação, que será consumada ou não, segundo a maior ou
menor aceitação do interessado e seus esforços nesse sentido.”
(Texto extraído da “Revista Espírita Allan Kardec” – Ano III, nº 11).