sábado, 28 de maio de 2022

Mais Luz - Edição 580 - 29/05/2022

 Venha conferir nesta edição: 

  • Poluição e Psicosfera - Joanna de Ângelis
  • Ante o Evangelho: O verdadeiro cilício
  • Poema: Ao sol do campo (Auta de Souza)
  • Procuremos com zelo – Fonte Viva – 54
  • Orando cada dia - Meimei

 

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Poluição e Psicosfera


 

Ecólogos de todo o mundo preocupam-se, na atualidade, com a poluição devastadora, que resulta dos detritos superlativos que são atirados nos oceanos, nos rios, lagos e “terras inúteis” circunjacentes às grandes metrópoles, como o tributo pago pelo conforto e pelas conquistas tecnológicas, desde os urgentes ingredientes e artefatos para a sobrevivência, às indústrias bélicas, às de explorações novas, às “de inutilidade” que atiram centenas de milhões de toneladas de lixo, óleos e resíduos em todo lugar.

Além dessas, convém recordarmos a de natureza sonora, dos centros urbanos, produzindo distonias graves e contínuas...

Os mais pessimistas, porém, preveem a possível destruição da vida vegetal, animal e hominal como efeito dos excessivos restos produzidos pelos engenhos de que o homem se utiliza, e logo o esmagarão após transformar a Terra num caos...

Mais grave, demonstram os técnicos no assunto importante, é a poluição atmosférica, graças às substâncias venenosas que são expelidas pelas fábricas em forma de resíduos, pelos motores de explosão a se multiplicarem fantástica, insaciavelmente, e os inseticidas usados para a agricultura...

Voluptuoso e desconsertado por desvarios múltiplos do homem, as máquinas avançam, dirigidas pela inconcebível ganância, desbastando reservas florestais e influindo climatericamente com transformações penosas nas regiões, então, vencidas...

O espectro de calamidades não imaginadas ronda e domina com segurança muitos departamentos ambientais ora reduzidos à aridez...

Cifras assustadoras denotam o quanto se desperdiça na inutilidade — embora a elevada estatística chocante dos que se estorcegam na mais ínfima miséria, rebolcando-se na coleta dos montes de lixo, à cata de destroços de que possam retirar o mínimo para sobreviver! —, comprovando que no galvanizar das paixões, o homem moderno, à semelhança de Narciso, continua a contemplar a imagem refletida nas águas perigosas da vaidade e do egoísmo em que logo poderá asfixiar-se, inerme ou desesperado. No entanto, irrefletido, impõe-se exigências dispensáveis, a que se escraviza, complicando a própria e a situação dos demais usuários dos recursos da generosa mãe-Terra.

Nesse panorama deprimente, e para sanar alguns dos males imediatos e outros do futuro, sugestões e programas hão surgido preocupando as autoridades responsáveis pelos Organismos Mundiais, no sentido de serem tomadas providências coletivas e salvadoras urgentes. Algumas já estão sendo postas em prática, embora em número reduzido, tais o reflorestamento; a ausência de tráfego com motores de explosão em algumas cidades uma vez por semana; a tentativa da industrialização do lixo, com aproveitamento de energia, adubos e outros; controle no uso de pesticidas na lavoura; técnicas não poluentes com o fim de gerar energia; as áreas verdes nas cidades; a segurança por meio de controle das experiências nucleares, a fim de ser evitada a contaminação ...

Afirma-se que por onde o homem e a civilização passam ficam os sinais danosos da sua jornada, em forma de aridez, destruição e morte.

As grandes Nações materialmente, estruturadas e guindadas ao ápice pela previsão futurológica de mentes e computadores que prometiam tudo resolver, fazendo soberbas e vãs as criaturas, foram surpreendidas, há pouco, pelas consequências gerais da própria impetuosidade, no resultado da guerra no Oriente Médio, fazendo-as parar e modificando, em muitas delas, as estruturas e programas, previsões e soberania pelas exigências do deus petróleo em que estabeleceram as bases do seu poderio e das suas glórias, decepcionadas, atônitas...

Algumas tiveram a economia abalada, padecendo crises que resultaram do gravame geral, modificando a política interna e externa, num atestado de nulidade quanto aos compromissos humanos assumidos, à segurança e precariedade das humanas forças.

Como resultado, apressam-se as negociações internacionais por acordos diplomáticos e conchavos político-econômicos, enquanto a fome, campeando desassombradamente, confirma a falência dos cálculos e das fantasias materialistas, visivelmente perturbadas no testemunho dos seus líderes em convulsas transações com que tentam reequilibrar o poderio avassalado, quando, não, perdido...

O poder de um dia, qual efêmera glória, sempre muda de mão e local, fazendo oscilarem, mudarem de rumo os interesses e as supostas proteções, fruto, indubitavelmente, de uma poluição descuidada — a de natureza moral!

A força e a grandeza de alguns povos até há pouco mandatários da Terra cederam lugar aos potentados reais, que se demoravam desconsiderados e as exigências da fome ameaçadora e voraz os situou como as legítimas potências que são disputadas, após o deus negro: o arroz, o trigo, o milho e o sorgo cujos celeiros, quase vazios no mundo, deles necessitam com urgência para a sobrevivência dos seres.

Todavia, o homem ingere e disparte mais terrível poluição, venenosa quão irrefreável graças ao cultivo de lamentáveis atitudes em que persevera e se compraz: referimo-nos à poluição mental que interfere na ecologia psicosférica da vida inteligente, intoxicando de dentro para fora e desarticulando de fora para dentro.

Estando a Terra vitimada pelo entrechoque de vibrações, ondas e mentes em desalinho, como decorrência do desamor, das ambições desenfreadas, dos ódios sistemáticos, as funestas consequências se fazem presentes não apenas nas guerras externas e destrutivas, mas também nas rudes batalhas no lar, na família, no trabalho, nas ruas da comunidade, no comportamento. Intoxicado pela ira, vencido pelo desespero que agasalha, foge na direção dos prazeres selvagens nos quais procura relaxar tensões, adquirindo mais altas cargas de desequilíbrio em que se debate.

A poluição mental campeia livre, favorecendo o desbordar daquela de natureza moral, fator primacial para as outras que são visíveis e assustadoras.

O programa, no entanto, para o saneamento de tão perigoso estado de coisas, já foi apresentado por Jesus, o Sublime Ecólogo que em a Natureza, preservando-a, abençoando-a, dela se utilizou, apresentando os métodos e técnicas da felicidade, da sobrevivência ditosa nos incomparáveis discursos e realizações de que inundou a História, estabelecendo as bases para o reino de amor e harmonia, sem fim, sem dores, sem apreensões...

Nunca reagiu o Mestre — sempre agiu com sabedoria.

Jamais se permitiu ferir — deixou-se, porém, crucificar.

Nenhuma agressão de Sua parte — facultou-se, no entanto, ser agredido.

Por onde passou, deixou concessões de esperança, bálsamo de reconforto, amenidade e paz.

Seus caminhos ficaram floridos pelas alegrias e abençoados pelos frutos da saúde renovada.

Rei Solar, fez-se servo humilde de todos, mantendo-se inatingido, embora o ambiente em que veio construir a Vida Nova para os tempos futuros...

Repassa-Lhe a sublime trajetória.

Busca-O!

Faze uma pausa na terrível conjuntura em que te encontras e recorda-O.

Para toda enfermidade, Ele tem a eficiente terapia; para as calamidades destes dias, Ele tem a solução.

Ama e serve, portanto, como possas, quanto possas, quando possas.

A Terra sairá do caos que a absorve e voltarão o ar puro, a água cristalina, a relva repousante, o trinar dos pássaros, o fulgor do sol e o faiscar das estrelas em nome do Pai Criador e de Jesus, o Salvador Perene de todos nós.

Joanna de Angelis/Divaldo Franco – Livro: Após a Tempestade...

Procuremos com zelo

 “Procurai com zelo os melhores dons e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente”. Paulo (I Coríntios, 12:31)

A ideia de que ninguém deve procurar aprender e melhorar-se para ser mais útil à Revelação Divina é muito mais uma tentativa de consagração à ociosidade que um ensaio de humildade incipiente.

A vida é curso avançado de aprimoramento, através do esforço e da luta, e se a própria pedra deve sofrer o burilamento para refletir a luz, que dizer de nós mesmos, chamados, desde agora, a exteriorizar os recursos divinos?

Ninguém interrompa o serviço abençoado da sua educação, a pretexto de cooperar com o Céu, porque o progresso é um comboio de rodas infatigáveis que relega para trás os que se rebelam contra os imperativos da frente.

É indispensável avançar com a melhoria consequente de tudo o que nos rodeia.

E o Evangelho não endossa qualquer atitude de expectativa displicente.

A palavra de Paulo é demasiado significativa.

Dirigindo-se aos coríntios, o apóstolo da gentilidade exorta-os a procurarem com fervor os melhores dons.

É imprescindível nos disponhamos a adquirir as qualidades mais nobres de inteligência e coração, sublimando a individualidade imperecível.

Cultura e santificação, através do trabalho e da fraternidade, constituem dever para todas as criaturas.

Autoaperfeiçoamento é obrigação comum.

Busquemos, zelosos, a elevação de nós mesmos, assinalando a nossa presença, seja onde for, com as bênçãos do serviço a todos, e tão logo estejamos integrados no esforço digno, dentro da ação pessoal e incessante no bem, o Alto nos descortinará mais iluminados caminhos para a ascensão.

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 054

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Orando cada dia

 


Senhor!...

Faze-me perceber que o trabalho do bem me aguarda em toda parte.

Não me consintas perder tempo, através de indagações inúteis.

Lembra-me, por misericórdia, que estou no caminho da evolução, com os meus semelhantes, não para consertá-los e sim para atender à minha própria melhoria.

Induze-me a respeitar os direitos alheios a fim de que os meus sejam preservados.

Dá-me consciência do lugar que me compete, para que não esteja a exigir da vida aquilo que não me pertence.

Não me permitas sonhar com realizações incompatíveis com meus recursos, entretanto por acréscimo de bondade, fortalece-me para a execução das pequeninas tarefas ao meu alcance.

Apaga-me os melindres pessoais, de modo que não me transforme em estorvo diante dos irmãos, aos quais devo convivência e cooperação.

Auxilia-me a reconhecer que o cansaço e a dificuldade não podem converter-me em pessoa intratável, mas mostra-me, por piedade, quanto posso fazer nas boas obras, usando paciência e coragem, acima de quaisquer provações que me atinjam a existência.

Concede-me forças para irradiar a paz e o amor que nos ensinastes.

E, sobretudo, Senhor, perdoa as minhas fragilidades e sustenta-me a fé para que eu possa estar sempre em ti, servindo aos outros.

Assim seja.

Meimei / Chico Xavier – Livro: Sentinelas da alma

Espiritismo e Esperanto no CEJG

 


sábado, 21 de maio de 2022

Mais Luz - Edição 579 - 22/05/2022

Nesta edição:

  • O Centro Espírita e sua dimensão espiritual
  • Ante o Evangelho - Destinação da Terra. Causas das misérias humanas
  • Poema: Saudade
  • Na pregação – Fonte Viva
  • Oração fraternal

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quinta-feira, 19 de maio de 2022

Almoço beneficente - CEJG


 

Reuniões Públicas - 05/2022 - CEJG


 

O Centro Espírita e sua dimensão espiritual


 A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, primeiro centro genuinamente espírita constituído em nosso mundo, foi o foco orientador dos núcleos espíritas que se estabeleceram depois nos diferentes países.

Em 1850, já existiam nos Estados Unidos, segundo Deolindo Amorim, cerca de 300 grupos espíritas, mas a primeira sociedade regularmente constituída sob a égide da Doutrina Espírita foi a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada por Kardec em 1º de abril de 1858.

O Espiritismo nasceu, como sabemos, na intimidade dos núcleos familiares. O professor Hippolyte Léon Denizard Rivail havia participado de muitas reuniões em casas de família (Sra. Plainemaison, srs. Roustan e Baudin etc.), antes de fundar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que se tornou o foco orientador dos demais grupos que surgiram na França e em outros países. Seu ascendente era, contudo, exclusivamente moral. 

Conceito de Centro Espírita

O Centro Espírita é a célula de disseminação do Espiritismo e de congraçamento de seus adeptos, onde se toma contato com a mensagem renovadora do Consolador. Ponto visual de convergência do movimento doutrinário, é ele, no dizer de Emmanuel, "uma escola onde podemos aprender e ensinar, plantar o bem e recolher-lhe as graças, aprimorar-nos e aperfeiçoar os outros, na senda eterna".

J. Herculano Pires, referindo-se ao Centro Espírita, assim dizia: "Podemos figurá-lo como um espelho côncavo em que todas as atividades doutrinárias se refletem e se unem, projetando-se conjugadas no plano social geral, espírita e não espírita".  Não se aceita, pois, nos dias atuais um Centro Espírita estanque, fechado em suas quatro paredes, a que Leopoldo Machado chamava Espiritismo de "mortos", quando propugnou fizéssemos o Espiritismo de "vivos". 

O Centro Espírita deve revestir as características de Templo, Lar, Hospital, Oficina e Escola. Assevera Emmanuel: "Quando se abrem as portas de um templo espírita cristão ou de um santuário doméstico, dedicado ao culto do Evangelho, uma luz divina acende-se nas trevas da ignorância humana e através dos raios benfazejos desse astro da fraternidade e conhecimento, que brilha para o bem da comunidade, os homens que dele se avizinham, ainda que não desejem, caminham, sem perceber, para a vida melhor" ("Reformador" de janeiro de 1951).

Finalidades do Centro Espírita 

Operar a propagação da Doutrina Espírita para a renovação do homem, eis a função essencial do Centro Espírita, cujas finalidades derivam de sua natureza de núcleo de estudo, fraternidade, oração e trabalho, com base no Evangelho de Jesus interpretado à luz da Doutrina Espírita. O Centro deve ser a casa da grande família, onde as crianças, os jovens, os adultos e os mais idosos tenham a oportunidade de conviver, estudar e trabalhar. Os Centros mais estáveis são aqueles em que a família inteira participa, onde as atividades dos adultos, dos jovens e das crianças são integradas. Esses Centros formam assim uma grande família, que é a reunião das famílias que neles trabalham.

Como escola das almas que deve ser, onde a oração está sempre presente no processo, cabe ao Centro Espírita promover a educação integral do homem, o estudo sistematizado da Doutrina Espírita e do Evangelho, a evangelização da criança à luz da Doutrina Espírita, a integração do jovem nas tarefas da Casa, o estudo da mediunidade, o atendimento fra­terno às pessoas que procuram o Centro e a implantação do culto do Evangelho no lar.

Ele deve ter por alvo o homem espiritual, antes do homem físico, preparando-o para ser um homem de bem no meio social em que atue. O estudo sistematizado é excelente instrumento de formação de recursos humanos necessários à Casa. O estudo da mediunidade visa a oferecer orientação segura para as atividades mediúnicas. O diálogo com as pessoas, o contato direto com os participantes do Centro, para sabermos o que eles desejam fazer, eis também uma atividade indispensável.

O Centro Espírita é também um posto de socorro material e espiritual. Seu trabalho no campo assistencial tem por base o lema: "Fora da caridade não há salvação". Nesse sentido, cabe à Casa espírita promover o serviço de assistência social espírita, assegurando suas características beneficentes, preventivas e promocionais, conjugando a ajuda material e a espiritual e fazendo com que este serviço se desenvolva concomitantemente com o atendimento às necessidades de evangelização.

Se o Espiritismo é combatido pelas diferentes religiões cristãs no que diz respeito à doutrina que ensina, é tolerado, respeitado e até ajudado no campo da assistência social, onde desenvolve um trabalho importante. Temos de compreender, contudo, que a caridade, tal como conceituada no item 886 de O Livro dos Espíritos – benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas – constitui algo que transcende a esmola e o mero assistencialismo. Na tarefa espírita, devemos ter em conta que a meta é a evangelização da pessoa; as demais atividades são simples meios.

Centro Espírita e Unificação

Na atividade de unificação espírita, o Centro Espírita é a unidade fundamental. Allan Kardec foi, como se sabe, o primeiro a conceber a necessidade da unificação quando propôs que os Centros se correspondessem, permutassem informações e se visitassem, formando a grande família espírita ("O Livro dos Médiuns", cap. 29, item 334).

Realmente, como aferir a concordância e a universalidade dos ensinos sem um Centro catalisador? A própria elaboração da Doutrina Espírita é um modelo de unificação, razão que levou Kardec a propor, em seu "Projeto 1868", a existência de um centro de coordenação do movimento espírita. Posteriormente, em mensagem dada por intermédio de Frederico Júnior, Kardec realçou três itens da ação espírita a ser desenvolvida pelos centros espíritas: a unificação, a escola de médiuns e a caridade.

Também nesse sentido é a seguinte advertência de Bezerra de Menezes: "Solidários, seremos união. Separados uns dos outros, seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos. Distanciados entre nós, continuaremos à procura do trabalho com que já nos encontramos honrados pela Divina Providência" (psicografia de Chico Xavier, em "Unificação" de nov/dez de 1980).

Cabe, pois, ao Centro Espírita participar efetivamente do movimento de unificação, e conjugar esforços e somar experiências com as demais entidades locais e regionais do movimento, que tem de ser intrinsecamente democrático, visto que nele ninguém tem o poder de impor sua vontade aos outros. O livro "Orientação ao Centro Espírita", publicado pela FEB, com base em texto aprovado pelo Conselho Federativo Nacional, é exemplo disso, como fruto que é de uma ampla discussão feita a partir dos Centros Espíritas e dos organismos regionais do movimento espírita.

O Centro Espírita fechado em si mesmo não tem meios de evoluir, pela ausência de troca de ideias, experiências e interação; já os Centros unidos têm condição de se projetar na sociedade. 

Centro Espírita e mudanças sociais

A solução da questão social, diz Kardec, está toda no melhoramento moral dos indivíduos e das massas. Não é o Espiritismo que cria a renovação social, mas o amadurecimento da humanidade que fará disso uma necessidade, escreveu ele em "A Gênese" (cap. XVIII, item 25). 

Em "O Livro dos Médiuns", cap. XXIX, item 350, Kardec escreveu: "Se o Espiritismo deve, assim como foi anunciado, trazer a transformação da Humanidade, isto pode ser apenas pelo melhoramento das massas, o que pode acontecer gradualmente e pouco a pouco, apenas pelo melhoramento dos indivíduos". E mais adiante, no mesmo item, o Codificador propõe: "É para o fim providencial que devem tender todas as sociedades espíritas sérias, agrupando ao seu redor todos os que possuem os mesmos sentimentos; então haverá entre elas união, simpatia e fraternidade e não um vão e pueril antagonismo de amor próprio, de palavras antes que de fatos; então elas serão fortes e poderosas, porque se apoiarão numa base indestrutível: o bem para todos".

A projeção do Centro Espírita na sociedade é função da preparação do homem espírita como agente de mudança. A Doutrina Espírita nos dá uma ideia de Deus mais alta e mostra qual é, em essência, a finalidade da vida na Terra. O Espiritismo prova a vida futura e, assim, a vida material deixa de ser a única realidade, tirando ao materialismo a sua base de apoio.

É da essência do Espiritismo e, por isso, do Centro Espírita combater sem tréguas o materialismo e seu filho dileto, o egoísmo, que é o vício mais radical e a causa de todas as mazelas da sociedade, divulgando a Doutrina Espírita por meio do livro e de todos os meios de comunicação disponíveis. O papel do Centro Espírita é colocar a Doutrina Espírita ao alcance do homem na intimidade da família ou nos segmentos sociais em que vive e milita. 

Centro Espírita e a Codificação

O Centro Espírita é o depositário dos princípios da Doutrina Espírita e dela não pode afastar-se, sob pena de concorrer para que aconteça com o Espiritismo o que ocorreu com o Cristianismo. Bezerra de Menezes propõe-nos: "É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios" (psicografia de Chico Xavier, "Reformador" de dez/1975).

A adoção de teorias e práticas exóticas ou não afinadas com a simplicidade e a pureza dos trabalhos espíritas compromete o seu objetivo e desorienta frequentadores e assistidos. Eis, por exemplo, o caso da Projeciologia: não existe dúvida quanto ao seu valor, mas não é assunto para o Centro Espírita. Assim se dá com tantas outras teorias e práticas estranhas à Doutrina codificada por Kardec.

O Centro Espírita dispõe de recursos suficientes para dar atendimento aos que o procuram com problemas psicofísicos: a prece, o passe, a água magnetizada, a desobsessão, além da imprescindível orientação evangélico-doutrinária. O Centro que busca reforço nos processos alternativos de tratamento e cura indica falta de fé na terapêutica proposta pelo Consolador.

A contribuição trazida por André Luiz (Espírito), sobretudo nos livros que integram a chamada série "Nosso Lar", constitui uma complementação da obra de Kardec. Seus relatos sobre a vida espiritual são uma espécie de desdobramento da segunda parte do livro "O Céu e o Inferno". A obra kardequiana é, porém, a base dos estudos espíritas e Emmanuel quis demonstrar isso ao escrever os livros "Religião dos Espíritos", "Seara dos Médiuns", "Livro da Esperança" e "Justiça Divina", em torno das obras básicas da codificação kardequiana, que constituem "a pedra de toque" em matéria de Espiritismo, para valer-nos aqui de expressão cunhada por Herculano Pires no livro "A Pedra e o Joio".

No Congresso Espírita realizado pela USE (União das Sociedades Espíritas de São Paulo) em maio de 1992, uma conclusão tornou-se marcante: `a causa espírita é maior do que a Casa espírita'. A causa espírita é o fim, a Casa espírita é o meio. Mas geralmente invertemos isso, dando mais importância à Casa do que à causa, ou fazendo concessões para manter a Casa, em detrimento da causa. Nesse sentido, o Centro deve evitar o uso de rifas, tômbolas, quermesses, bingos e outros meios desaconselháveis, para angariar recursos. O mundo de César tem suas exigências, mas não podemos olvidar que no Centro Espírita estamos a serviço de Deus. Não se pode aceitar, portanto, a alegação de que os fins justificam os meios.

Centro Espírita e o tríplice aspecto

Os três aspectos do Espiritismo – ciência, filosofia, religião – devem ser objeto de estudo no Centro Espírita, mas o aspecto religioso assume um papel primacial.

A pesquisa científica pode e deve ser feita, se o Centro tiver pessoas com capacidade para, em dia e reunião específicos, realizarem trabalhos nessa área. Não devemos, porém, esquecer que se estivermos aplicando a Doutrina Espírita no Centro estaremos praticando ao mesmo tempo o aspecto científico, o aspecto filosófico e o religioso.

Vejamos este exemplo: quando uma pessoa perde um ente querido e recebe no Centro Espírita a mensagem espiritual que lhe prova que seu ente querido continua a viver, deve-se isso ao fenômeno mediúnico, que é o objeto da ciência espírita. A pessoa começa então a refletir, buscar informações sobre o fenômeno e suas causas e se enriquece com tais reflexões: eis aí o aspecto filosófico. Depois, em face da nova concepção de vida que adquire, muda seu comportamento diante do mundo: temos então o aspecto religioso. O Centro Espírita propicia, assim, diuturnamente, a prática dos três aspectos, cuja divisão foi feita por Kardec tão somente para efeito didático.

Organização e simplicidade do Centro Espírita

O Centro Espírita deve caracterizar-se pela simplicidade própria das primeiras casas do Cristianismo nascente, sem imagens, rituais, símbolos, paramentos, sacramentos ou manifestações exteriores, como velórios, casamentos e batizados. Em sua simplicidade, deve funcionar como elemento educativo e libertador, eliminando os condicionamentos mentais e os hábitos arraigados que trazemos do passado, recente ou remoto, com vigilância redobrada nas práticas doutrinárias e mediúnicas, tendo sempre em mente que os fins não justificam os meios.

O Centro Espírita deve organizar-se não apenas para desenvolver com eficiência suas atividades básicas, mas também para cumprir suas obrigações legais. Como diretrizes, deve adotar a estrutura departamental e o planejamento das atividades. Os departamentos não podem ser estanques, mas trabalhar entrosados, trocando experiências e ideias. O planejamento das atividades é fundamental, porque é a improvisação que nos leva muitas vezes aos desvios de rota. 

A direção do Centro Espírita deve ser democrática. Não há mais lugar no meio espírita para o dirigente autocrata, que se julga dono da instituição e se escuda nos Espíritos para justificar suas ideias. A direção liderada, com a cooperação do grupo, pela competência, paciência, tolerância e honestidade de propósitos, é a que mais se coaduna com os fundamentos da Doutrina Espírita.

Astolfo O. de Oliveira Filho

Fonte: oconsolador.com.br