sexta-feira, 31 de maio de 2019

Libertação: Sexto livro da microcampanha "A vida no mundo espiritual"

"Libertação" é o sexto livro da Microcampanha "A Vida no Mundo Espiritual", por iniciativa da UEM/COFEMG.


Poema: Dom de Deus

Alguém, um dia,
Perguntou a Michelangelo
Enquanto ele esculpia:

- Senhor, por que razão
Martelar, martelar
Esta pedra indefesa?
Não seria mais justo
Deixá-la em paz
No coração da natureza?

 O escultor, entretanto,
Respondeu simplesmente,
Sem alterar a voz:
— Um anjo mora preso
Neste bloco maciço
E tenho o compromisso
De trazê-lo até nós.

 E batendo e cortando,
Aresta sobre aresta,
Aparando e brunindo
O mármore que entesta,
Vê, afinal, o instante
Em que ele próprio exulta…

 A obra-prima que jazia oculta
Aparece, soberana:
É um anjo que sorri quase que em filigrana,
Uma pedra, por fim que se transforma
Com prodígios de forma,
Em requintes de luz e de beleza humana…

 Assim também, alma querida,
Quando a dor te ameace ou te amarfanhe a vida,
Não grites maldições,
Nem fabriques labéus…
A prova é a força que te aperfeiçoa,
A dor nasce de Deus por dom profundo
Que te arranca do mundo
Para brilhar nos Céus.

Maria Dolores

A dor

A dor é a nossa companheira até o momento de nossa integração total com a Divina Lei.
Recebe-nos no mundo, oculta nos berços enfeitados, espreita-nos no colo materno e segue-nos a experiência infantil...
Depois, observa-nos a mocidade, misturando seus raios, quase sempre incompreensíveis, com os nossos cânticos de esperanças e, atravessado o pórtico de nossa comunhão com a madureza espiritual, incorpora-se à nossa luta de cada instante...
Respira conosco, infatigavelmente marcha ao nosso lado, passo a passo, e, ainda que não queiramos, lê, sem palavras para o nosso coração, a cartilha da experiência.
Então, algo renovador se realiza dentro de nós, sem que percebamos, e, um dia, comparece em nossa estrada, conduzindo-nos à morte e à aparente separação; mas, se aceitamos as bênçãos do seu apostolado sublime, converte-se, a estranha companheira dos nossos destinos, em suave benfeitora, preparando-nos para a vitória divina, de vez que só ela é bastante forte e bastante serena para sustentar-nos até o ingresso feliz, no Reino Celestial.



Meimei / Chico Xavier – Livro: Relicário de Luz

Em combate


“Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.” Paulo (Hebreus, 12:4)

O discípulo sincero do Evangelho vive em silenciosa batalha no campo do coração.
A princípio, desenrola-se o combate em clima sereno, ao doce calor do lar tranquilo. As árvores das afeições domésticas amenizam as experiências mais fortes.
Esperanças de todos os matizes povoam a alma, nem sempre atenta à realidade.
Falam os ideais em voz alta, relativamente às vitórias porvindouras.
O lutador domina os elementos materiais e, não poucas vezes, supõe consumado o triunfo verdadeiro.
O trabalho, entretanto, continua.
A vitória do espírito exige esforço integral do combatente. E, mais tarde, o lidador cristão é convidado a testemunhos mais ásperos, compelido à batalha solitária, sem o recurso de outros tempos.
A lei de renovação modifica-lhe os roteiros, subtrai-lhe as ilusões, seleciona-lhe os ideais. A morte devasta-lhe o círculo íntimo, submete-o ao insulamento, impele-o à meditação. O tempo impõe retiradas, mudanças e retificações...
Muitos se desanimam na grande empreitada e voltam, medrosos, às sombras inferiores.
Os que perseverarem, todavia, experimentarão a resistência até ao sangue.
Não se trata aqui, porém, do sangue das carnificinas e sim dos laços consanguíneos que não somente unem o espírito ao vaso corpóreo, como também o enlaçam aos companheiros de séquito familiar. Quando o aprendiz receber a dor em si próprio, compreendendo-lhe a santificante finalidade, e exercer a justiça ou aceitá-la, acima de toda a preocupação dos elos consanguíneos, estará atingindo a sublime posição de triunfo no combate contra o mal.

Livro Vinha de Luz – Emmanuel por Chico Xavier – Lição 79

A grande educadora



Chama-se Dor.
Revela-se na desventura do amante, na desolação da orfandade, na angústia da miséria, no alquebramento da saúde, no esquife do ser querido que se foi deixando atrás de si a lágrima e o luto, no opróbrio da desonra, na humilhação do cárcere, no aviltamento dos prostíbulos, na tragédia dos cadafalsos, na insatisfação dos ideais, na tortura das impossibilidades – no acervo das desilusões contra que se confunde e se decepciona o coração da Humanidade.
Não obstante, a Dor é a grande amiga a zelar pela espécie humana, junto dela exercendo missão elevada e santa.
Estendendo sobre as criaturas suas asas, úmidas sempre do orvalho regenerador das lágrimas, a Dor corrige, educa, aperfeiçoa, exalta, redime e glorifica o sentimento humano a cada vibração que lhe extrai através do sofrimento.
O diamante escravizado em sua ganga sofre inimagináveis dilacerações sob o buril do lapidário até poder ostentar toda a real pureza do grande valor que encerra. Assim também será a nossa alma, que precisará provar o amargor das desventuras para se recobrir dos esplendores das virtudes imortais cujos germens o Sempiterno lhe decalcou no ser desde os longínquos dias do seu princípio!
A alma humana é o diamante raro que a Natureza – Deus – criou para, por si mesmo, aperfeiçoar-se no desdobrar dos milênios, até atingir a plenitude do inimaginável valor que representa, como imagem e semelhança d’Aquele mesmo Foco que a concebeu. Mas o diamante – Homem – acha-se envolvido das brutezas das paixões inferiores. É um diamante bruto! (...)
Então o diamante – Homem – inicia, por sua vontade própria, a trajetória indispensável do aperfeiçoamento dos valores que consigo traz em estado ignorado, e entra a sacudir de si a crosta das paixões que o entravam e entenebrecem.
E essa marcha para o Melhor, essa trajetória para o Alto denomina-se Evolução!
A luta, então, apresenta-se rude! É dolorosa, e lenta, e fatigante, e terrível! Dele requer todas as reservas de energias morais, físicas e mentais. (...)
A Dor, pois, é para o Espírito humano o que o Sol é para as trevas da noite tempestuosa: - Ressurreição! Porque, se este aclara os horizontes da Terra, levantando com seu brilho majestoso o esplendor da Natureza, aquela desenvolve em nosso ego os magnificentes dons que nele jaziam ignorados: - fecunda a inteligência, depurando o sentimento sob as lições da experiência, educando o caráter, dignificando, elevando, num progredir constante, todo o ser daquele em quem se faz vibrar, tal como o Sol, que vivifica e benfaz as regiões em que se mostra.
A Dor é o Sol da Alma... (...)
Ela, a Dor, é o maior agente do Sempiterno na obra gigantesca da regeneração humana! É a retorta de onde o Sentimento sairá purificado dos vírus maléficos que o infelicitam! Quanto maior o seu jugo, mais benefícios concederá ao nosso ego – tal como o diamante, que mais cintila, alindado, quanto maior for o número dos golpes que lhe talharem as facetas! É a incorruptível amiga e protetora da espécie humana: - zelando pela sua elevação espiritual, inspirando nobres e fraternas virtudes! Ela é quem, no Além-Túmulo, nos leva a meditar, através da experiência, produzindo em nosso ser a ciência de nós mesmos, o critério indispensável para as conquistas do futuro, de que hauriremos reabilitação para a consciência conturbada. É quem, a par do Amor, impele as criaturas à comiseração pelos demais sofredores, e a comiseração é o sentimento que arrasta à Beneficência. E é ainda ela mesma que nos enternece o coração, fazendo-nos avaliar pelo nosso o infortúnio alheio, predispondo-nos aos rasgos de proteção e bondade; e proteger os infelizes é amar o próximo, enquanto que amar o próximo é amar a Deus, pautando-se pela suprema lei recomendada no Decálogo e exemplificada pelo Divino Mestre! (...)
Ó almas que sofreis! Enxugai o vosso pranto, calai o vosso desespero! Amai antes a vossa Dor e dela fazei o trono da vossa Imortalidade, pois que, ao findar dessa trajetória de lágrimas a que as existências vos obrigam – é a glorificação eterna que recebereis por prêmio!
Salve, ó Dor bendita, nobre e fiel educadora do coração humano!
    E glória ao Espiritismo, que nos veio demonstrar a redenção das almas através da Dor!

                         León Denis / Yvone do Amaral Pereira – Excertos extraídos da Revista Reformador de fevereiro/1978


Palestras CEJG - Junho/2019