sábado, 7 de março de 2020
sexta-feira, 6 de março de 2020
Homenagem à mulher espírita
No momento em que os valores humanos padecem injunções
lamentáveis e os postulados éticos em que se devem estruturar os ideais de
engrandecimento da criatura malogram no báratro das paixões, o Evangelho, como
ocorreu no passado, constitui a única bússola, a segura rota mediante a qual a
hodierna civilização poderá encontrar a solução para os múltiplos problemas e
os graves compromissos que pesam negativamente na economia da felicidade geral.
As Religiões, na sua feição de Instituições Organizadas,
disputando as primazias e mais preocupadas com a dominação e promoção
transitórias do que com o “reino de Deus” que é “tomado de assalto” e se
estabelece nas paisagens ignotas da alma, fracassaram lamentavelmente, no
tentame de consolar e conduzir a Jesus.
Os seus triunfos aparentes se fixam no terreno falso dos
destaques mundanos, faltando-lhes as estruturas morais legítimas e os
comportamentos espirituais relevantes com que seja possível pôr cobro à
anarquia social e ao desequilíbrio moral que grassam, voluptuosamente, tudo
conduzindo de roldão... Isto, porque os padrões em que ainda se firmam asfixiam
o espírito do Cristo que deveria viger nas suas expressões e serviços.
Sem dúvida em todas elas, como em qualquer lugar, a presença
do Amor e a manifestação da Divina Misericórdia constituem sinal de esperança.
Sem embargo, a necessidade da vivência evangélica se impõe urgente,
impostergável.
Em decorrência de tal malogro, aos cristãos novos, os
adeptos da Revelação Espírita, está reservado significativo ministério, relevante
apostolado: viver o Cristo e representá-Lo em atos ao aturdido viandante destes
dias.
Não assume esta uma tarefa de absurda possibilidade, exceto
se o candidato se recusar integração com fidelidade real ao programa de
recristianização da Terra.
Nesse sentido, à mulher espírita se reserva preponderante
atividade, ou seja, a de transformar-se, médium da vida que é, em mensageira da
dignificação moral, da santificação da sexualidade, da redenção espiritual...
Arrostando diatribes e espezinhamentos chulos, deverá volver
às bases nobres do amor com a consequente valorização da maternidade, reconstituindo
a família e elevando os sentimentos.
Programada pelo Pai para o sagrado compromisso de
cocriadora, a sua libertação, ao invés do nivelamento nos fossos das sórdidas
paixões dissolventes, se deve caracterizar pela própria grandeza, que a alça à
condição de modelo e paradigma da Humanidade, que se inicia no lar, onde deve
reinar, soberana e respeitada.
Organizada essencialmente para o amor, no seu mais nobre
significado, dela muito dependem as novas gerações, o homem do futuro.
Conclamá-la à abnegação e ao laboratório da caridade com
elevação de propósitos, inspirando-a ao incessante prosseguimento das
realizações cristãs primitivas, eis um dever que a todos nos cabe desempenhar.
Pouco importem os contributos de renúncia e de sacrifício.
Nesta arrancada para os novos tempos do amanhã, a mulher espírita desempenhará
superior desiderato porque modelada, como todas para ser mãe, mesmo que suas
carnes não se enfloresçam com as expressões dos filhos, far-se-á o anjo tutelar
dos filhos sem mães, mãe pelo coração e pela dedicação a todas as criaturas.
Joanna de Ângelis / Divaldo
Franco – Livro: Sementes de Vida Eterna.
Fortaleza
“Sabendo que a tribulação produz
fortaleza.” Paulo (Romanos, 5:3)
Quereis fortaleza? Não vos esquiveis à tempestade.
Muita gente pretende robustecer-se ao preço de rogativas
para evitar o serviço áspero. Chegada a preciosa oportunidade de testemunhar a
fé, internam-se os crentes, de maneira geral, pelos caminhos largos da fuga,
acreditando-se em segurança. Entretanto, mais dia menos dia, surge a ocasião
dolorosa em que abrem falência de si mesmos.
Julgam-se, então, perseguidos e abandonados.
Semelhantes impressões, todavia, nascem da ausência de
preparo interno.
Esquecem-se os imprevidentes de que a tempestade possui certas
funções regeneradoras e educativas que é imprescindível não menosprezar.
A tribulação é a tormenta das almas. Ninguém deveria olvidar-lhe
os benefícios.
Quando a verdade brilhar, no caminho das criaturas, ver-se-á
que obstáculos e sofrimentos não representam espantalho para os homens, mas sim
quadros preciosos de lições sublimes que os aprendizes sinceros nunca podem esquecer.
Que seria da criança sem a experiência? Que será do espírito
sem a necessidade?
Aflições, dificuldades e lutas são forças que compelem à
dilatação de poder, ao alargamento de caminho.
É necessário que o homem, apesar das rajadas aparentemente
destruidoras do destino, se conserve de pé, desassombradamente, marchando,
firme, ao encontro dos sagrados objetivos da vida.
Nova luz lhe felicitará, então, a esfera íntima, conduzindo-o,
desde a Terra, à gloriosa ressurreição no plano espiritual.
Escutemos as palavras de Paulo e vivamo-las!
Ai daqueles que se deitarem sob a tempestade! Os detritos
projetados do monte pelas correntes do aguaceiro poderão sufocá-los, arrastando-os
para o fundo do abismo.
Livro Vinha de Luz –
Emmanuel por Chico Xavier – Lição 119
O Espiritismo e a mulher
Encontram-se, em ambos os
sexos, excelentes médiuns; é à mulher, entretanto, que parecem outorgadas as
mais belas faculdades psíquicas. Daí o eminente papel que lhe está reservado na
difusão do novo Espiritualismo.
Malgrado às imperfeições
inerentes a toda criatura humana, não pode a mulher, para quem a estuda
imparcialmente, deixar de ser objeto de surpresa e algumas vezes de admiração.
Não é unicamente em seus traços pessoais que se realizam, em a Natureza e na
Arte, os tipos da beleza, da piedade e caridade; no que se refere aos poderes
íntimos, à intuição e adivinhação, sempre foi ela superior ao homem. Entre as
filhas de Eva é que obteve a antiguidade as suas célebres videntes e sibilas. Esses
maravilhosos poderes, esses dons do Alto, a Igreja entendeu, na Idade Média,
aviltar e suprimir, mediante os processos instaurados por feitiçaria. Hoje encontram
eles sua aplicação, porque é sobretudo por intermédio da mulher que se afirma a
comunhão com a vida invisível.
Mais uma vez se revela à
mulher em sua sublime função de mediadora, que o é em toda a Natureza. Dela
provém à vida; é ela a própria fonte desta, a regeneradora da raça humana, que
não subsiste e se renova senão por seu amor e seus ternos cuidados. E essa
função preponderante que desempenha no domínio da vida, ainda a vem preencher
no domínio da morte. Mas nós sabemos que a morte e a vida são uma, ou antes,
são as duas formas alternadas, os dois aspectos contínuos da existência.
Mediadora também é a mulher no
domínio das crenças. Sempre serviu de intermediária entre a nova fé que surge e
a fé antiga que definha e vai desaparecendo. Foi o seu papel no passado, nos
primeiros tempos do Cristianismo, e ainda o é na época presente. (...)
A antiguidade pagã teve sobre
nós a superioridade de conhecer e cultivar a alma feminina. Suas faculdades se
expandiam livremente nos mistérios. Sacerdotisa nos tempos védicos, ao altar
doméstico, intimamente associada, no Egito, na Grécia, na Gália, às cerimônias
do culto, por toda a parte era a mulher objeto de uma iniciação, de um ensino
especial, que dela faziam um ser quase divino, a fada protetora, o gênio do
lar, a custódia das fontes da vida. A essa compreensão do papel que a mulher
desempenha, nela personificando a Natureza, com suas profundas intuições, suas
percepções sutis, suas adivinhações misteriosas, é que foi devida a beleza, a
força, a grandeza épica das raças grega e céltica.
Porque, tal seja a mulher, tal
é o filho, tal será o homem. É a mulher que, desde o berço, modela a alma das
gerações. É ela que faz os heróis, os poetas, os artistas, cujos feitos e obras
fulguram através dos séculos. Até aos sete anos o filho permanecia no gineceu
sob a direção materna. E sabe-se o que foram as mães gregas, romanas e
gaulesas. Para desempenhar, porém, tão sagrada missão educativa, era necessária
a iniciação no grande mistério da vida e do destino, o conhecimento da lei das
preexistências e das reencarnações; porque só essa lei dá à vida do ser, que
vai desabrochar sob a égide materna, sua significação tão bela e tão comovedora.
Essa benéfica influência da
mulher iniciada, que irradiava sobre o mundo antigo como uma doce claridade,
foi destruída pela lenda bíblica da queda original. (...)
Durante longos séculos a
mulher foi relegada para segundo plano, menosprezada, excluída do sacerdócio.
Por uma educação acanhada, pueril, supersticiosa, a maniataram; suas mais belas
aptidões foram comprimidas, conculcado e obscurecido o seu caráter.
A situação da mulher, na
civilização contemporânea, é difícil, não raro dolorosa. Nem sempre a mulher
tem por si os usos e as leis; mil perigos a cercam, se ela fraqueja, se
sucumbe, raramente se lhe estende mão amiga. A corrupção dos costumes fez da
mulher a vítima do século. A miséria, as lágrimas, a prostituição, o suicídio –
tal é a sorte de grande número de pobres criaturas em nossas sociedades opulentas.
Uma reação, porém, já se vai
operando. Sob a denominação de feminismo, um certo movimento se acentua
legítimo em seu princípio, exagerado, entretanto, em seus intuitos; porque, ao
lado de justas reivindicações, enuncia propósitos que fariam da mulher, não
mais mulher, mas cópia, paródia do homem. O movimento feminista desconhece o
verdadeiro papel da mulher e tende a transviá-la do destino que lhe está natural
e normalmente traçado. O homem e a mulher nasceram para funções diferentes, mas
complementares. No ponto de vista da ação social, são equivalentes e
inseparáveis.
O moderno Espiritualismo,
graças às suas práticas e doutrinas, todas de ideal, de amor, de equidade,
encara a questão de modo diverso e resolve-a sem esforço e sem estardalhaço.
Restitui à mulher seu verdadeiro lugar na família e na obra social, indicando-lhe
a sublime função que lhe cabe desempenhar na educação e no adiantamento da
Humanidade. Faz mais: reintegra-a em sua missão de mediadora predestinada,
verdadeiro traço de união que liga as sociedades da Terra às do Espaço.
A grande sensibilidade da
mulher a constitui o médium por excelência, capaz de exprimir, de traduzir os
pensamentos, as emoções, os sofrimentos das almas, os altos ensinos dos
Espíritos celestes. Na aplicação de suas faculdades encontra ela profundas
alegrias e uma fonte viva de consolações. A feição religiosa do Espiritismo a
atrai e lhe satisfaz as aspirações do coração, as necessidades de ternura, que
se estendem, para além do túmulo, aos entes desaparecidos. O perigo para ela,
como para o homem, está no orgulho dos poderes adquiridos, na suscetibilidade
exagerada. O ciúme, suscitando rivalidades entre médiuns, torna-se muitas vezes
motivo de desagregação para os grupos.
Daí a necessidade de
desenvolver na mulher, ao mesmo tempo em que os poderes intuitivos, suas
admiráveis qualidades morais, o esquecimento de si mesma, o júbilo do
sacrifício, numa palavra, o sentimento dos deveres e das responsabilidades
inerentes à sua missão mediatriz.
O Materialismo, não ponderando
senão o nosso organismo físico, faz da mulher um ser inferior por sua fraqueza
e a impele à sensualidade. Ao seu contato, essa flor de poesia verga ao peso
das influências degradantes, se deprime e envilece.
Privada de sua função
mediadora, de sua imaculada auréola, tornada escrava dos sentidos, não é mais
que um ser instintivo, impulsivo, exposto às sugestões dos apetites mórbidos. O
respeito mútuo, as sólidas virtudes domésticas desaparecem; a discórdia e o
adultério se introduzem no lar; a família se dissolve, a felicidade se aniquila.
Uma nova geração, desiludida e céptica, surge do seio de uma sociedade em
decadência.
Com o Espiritualismo, porém,
ergue de novo a mulher a inspirada fronte; vem associar-se intimamente à obra
de harmonia social, ao movimento geral das ideias. O corpo não é mais que uma
forma tomada por empréstimo; a essência da vida é o espírito, e nesse ponto de
vista o homem e a mulher são favorecidos por igual. Assim, o moderno
Espiritualismo restabelece o mesmo critério dos celtas, nossos pais; firma a
igualdade dos sexos sobre a identidade da natureza psíquica e o caráter
imperecível do ser humano, e a ambos assegura posição idêntica nas agremiações
de estudo.
Pelo Espiritismo se subtrai a
mulher ao vértice dos sentidos e ascende à vida superior. Sua alma se ilumina
de clarão mais puro; seu coração se torna o foco irradiador de ternos
sentimentos e nobilíssimas paixões. Ela reassume no lar a encantadora missão
que lhe pertence, feita de dedicação e piedade, seu importante e divino papel
de mãe, de irmã e educadora, sua nobre e doce função persuasiva.
Cessa, desde então, a luta
entre os dois sexos. As duas metades da Humanidade se aliam e equilibram no
amor, para cooperarem juntas no plano providencial, nas obras da Divina Inteligência.
Léon Denis – Livro: No invisível
sábado, 29 de fevereiro de 2020
Abençoa sempre
Seja onde for, abençoa para que a benção dos outros te
acompanhe.
Todas as criaturas e todas as cousas te respondem, segundo o
toque de tuas palavras ou de tuas mãos.
Abençoa teu lar com a luz do amor, em forma de abnegação e
trabalho, e o lar abençoar-te-á com gratidão e alegria.
Abençoa a árvore de tua casa com a dádiva e teu carinho e a
árvore de tua casa abençoar-te-á com o perfume da flor e com a riqueza do
fruto.
Se amaldiçoas, porém, o companheiro de cada dia com o
azorrague da censura, dele receberás a mágoa e a desconfiança.
Se condenas o animal que te partilha o clima doméstico à
fome e à flagelação, dele obterá rebeldia e aspereza.
Em verdade, não podes abençoar o mal, a exprimir-se na
crueldade, mas deves abençoar-lhe as vítimas para que se refaçam, de modo a
extingui-lo.
Não será justo abençoes a enfermidade que te aflige, mas é
indispensável abençoes o teu órgão doente, para que com mais segurança se
reajuste, expulsando a moléstia que, às vezes, te impõe amargura e
desequilíbrio.
Não amaldiçoes nem mesmo por pensamento.
A ideia agressiva ou destruidora é corrosivo em nossa boca,
sombra em nossos olhos, alucinação em nossos braços e infortúnio em nossa vida.
Abençoa a mão que te fere e a mão que te fere aprenderá como
eximir-se da delinquência.
Abençoa o verbo que te insulta e evitarás a extensão do
revide.
Abençoa a dificuldade e a dificuldade revelar-te-á preciosas
lições.
Abençoa o sofrimento e o sofrimento regenerar-te-á.
Abençoa a pedra e a pedra servirá na construção.
Não olvides o Divino Mestre da Bênção.
Jesus abençoou a Manjedoura e dela fez o berço luminoso do
Evangelho nascente; abençoou a Pedro, enfraquecido e vacilante, transformando-o
em vigoroso pescador de almas; abençoou a Madalena obsidiada e nela plasmou o
sinal da sublimação humana; abençoou Lázaro, cadaverizado, e devolveu-lhe a
vida; e, por fim, abençoou a própria cruz, nela esculpindo a vitória da ressurreição
imperecível.
Abençoa a Terra, por onde passes, e a Terra abençoará a tua
passagem para sempre.
Scheilla / Chico Xavier –
Livro: Visão Nova
Queixas
“Irmãos, não vos queixeis uns contra os
outros, para que não sejais condenados.” (Tiago, 5:9)
A queixa nunca resolveu problemas de ordem evolutiva,
entretanto, se os aprendizes do Evangelho somassem os minutos perdidos nesse
falso sistema de desabafo, admirar-se-iam do volume de tempo perdido.
Realmente, muitos trabalhadores valiosos não se referem a sofrimento
e serviço, com espírito de repulsa à tarefa que lhes foi cometida.
A amizade e a confiança sempre autorizam confidências; mesmo
nesse particular, contudo, vale disciplinar a conversação.
A palavra lamentosa desfigura muitos quadros nobres do
caminho, além de anular grandes cotas de energia, improficuamente.
O discípulo do Evangelho deveria, antes de qualquer alusão
amargosa, tranquilizar o mundo interno e perguntar a si mesmo:
“Queixar por quê? Não será a esfera de luta o campo de
aprendizado?
Acaso, não é a sombra que pede luz, a dor que reclama
alívio? Não é o mal que requisita o concurso do bem?”
A queixa é um vício imperceptível que distrai pessoas bem intencionadas
da execução do dever justo.
Existem obrigações pequeninas e milagrosas que, levadas a
efeito, beneficiariam grupos inteiros; todavia, basta um momento de queixa para
que sejam irremediavelmente esquecidas.
Se alguém ou algum acontecimento te oferece ocasião ao
concurso fraterno, faze o bem que puderes sem reparar a gratidão alheia e, por
mais duro te pareça o serviço comum, aprende a cooperar com o Cristo, na
solução das dificuldades.
A queixa não atende à realização cristã, em parte alguma, e
complica todos os problemas. Lembra-te de que se lhe deres a língua, conduzir-te-á
à ociosidade, e, se lhe deres os ouvidos, te encaminhará à perturbação.
Livro Vinha de Luz –
Emmanuel por Chico Xavier – Lição 118
Doçura, paciência, bondade
Se o orgulho é o germe de uma multidão de vícios, a caridade
produz muitas virtudes. Desta derivam a paciência, a doçura, a prudência. Ao
homem caridoso é fácil ser paciente e afável, perdoar as ofensas que lhe fazem.
A misericórdia é companheira da bondade. Para uma alma elevada, o ódio e a
vingança são desconhecidos. Paira acima dos mesquinhos rancores, é do alto que
observa as coisas. Compreende que os agravos humanos são provenientes da ignorância
e por isso não se considera ultrajada nem guarda ressentimentos. Sabe que
perdoando, esquecendo as afrontas do próximo aniquila todo germe de inimizade,
afasta todo motivo de discórdia futura, tanto na Terra como no espaço.
A caridade, a mansuetude e o perdão das injúrias tornam-nos invulneráveis,
insensíveis às vilanias e às perfídias: promovem nosso desprendimento
progressivo das vaidades terrestres e habituam-nos a elevar nossas vistas para
as coisas que não possam ser atingidas pela decepção.
Perdoar é o dever da alma que aspira à felicidade. Quantas
vezes nós mesmos temos necessidade desse perdão? Quantas vezes não o temos
pedido?
Perdoemos a fim de sermos perdoados, porque não poderíamos
obter aquilo que recusamos aos outros. Se desejamos vingar-nos, que isso se
faça com boas ações.
Desarmamos o nosso inimigo desde que lhe retribuímos o mal
com o bem. Seu ódio transformar-se-á em espanto e o espanto, em admiração.
Despertando-lhe a consciência obscurecida, tal lição pode produzir-lhe uma impressão
profunda. Por esse modo, talvez tenhamos, pelo esclarecimento, arrancado uma
alma à perversidade.
O único mal que devemos salientar e combater é o que se
projeta sobre a sociedade. Quando esse se apresenta sob a forma de hipocrisia,
simulação ou embuste, devemos desmascará-lo, porque outras pessoas poderiam
sofrê-lo; mas será bom guardarmos silêncio quanto ao mal que atinge nossos
únicos interesses ou nosso amor próprio.
A vingança, sob todas as suas formas, o duelo, a guerra, são
vestígios da selvageria, herança de um mundo bárbaro e atrasado. Aquele que
entreviu o encadeamento grandioso das leis superiores, do princípio de justiça
cujos efeitos se repercutem através das idades, esse poderá pensar em vingar-se?
Vingar-se é cometer duas faltas, dois crimes de uma só vez;
é tornar-se tão culpado quanto o ofensor. Quando nos atingirem o ultraje ou a
injustiça, imponhamos silêncio à nossa dignidade ofendida, pensemos nesses a
quem, num passado obscuro, nós mesmos lesamos, afrontamos, espoliamos, e
suportemos então a injúria presente como uma reparação. Não percamos de vista o
alvo da existência que tais acidentes poderiam fazer-nos olvidar. Não
abandonemos a estrada firme e reta; não deixemos que a paixão nos faça
escorregar pelos declives perigosos que poderiam conduzir-nos à bestialidade;
encaminhemo-nos com ânimo robustecido. A vingança é uma loucura que nos faria
perder o fruto de muitos progressos, recuar pelo caminho percorrido.
Algum dia, quando houvermos deixado a Terra, talvez
abençoemos esses que foram inflexíveis e intolerantes para conosco, que nos
despojaram e nos cumularam de desgostos; abençoá-los-emos porque das suas iniquidades
surgiu nossa felicidade espiritual. Acreditavam fazer o mal e, entretanto,
facilitaram, nosso adiantamento, nossa elevação, fornecendo-nos a ocasião de
sofrer sem murmurar, de perdoar e de esquecer.
A paciência é a qualidade que nos ensina a suportar com
calma todas as impertinências. Consiste em extinguirmos toda sensação, tornando-nos
indiferentes, inertes para as coisas mundanas, procurando nos horizontes
futuros as consolações que nos levam a considerar fúteis e secundárias todas as
tribulações da vida material.
A paciência conduz à benevolência. Como se fossem espelhos,
as almas reenviam-nos o reflexo dos sentimentos que nos inspiram. A simpatia
produz o amor; a sobranceria origina a rispidez.
Aprendamos a repreender com doçura e, quando for necessário,
aprendamos a discutir sem excitação, a julgar todas as coisas com benevolência
e moderação. Prefiramos os colóquios úteis, as questões sérias, elevadas;
fujamos às dissertações frívolas e bem assim de tudo o que apaixona e exalta.
Acautelemo-nos da cólera, que é o despertar de todos os
instintos selvagens amortecidos pelo progresso e pela civilização, ou, mesmo,
uma reminiscência de nossas vidas obscuras. Em todos os homens ainda subsiste
uma parte de animalidade que deve ser por nós dominada à força de energia, se
não quisermos ser submetidos, assenhoreados por ela. Quando nos encolerizamos,
esses instintos adormecidos despertam e o homem torna-se fera. Então,
desaparece toda a dignidade, todo o raciocínio, todo o respeito a si próprio. A
cólera cega-nos, faz-nos perder a consciência dos atos e, em seus furores, pode
induzir-nos ao crime.
Está no caráter do homem prudente o possuir-se sempre a si
mesmo, e a cólera é um indício de pouca sociabilidade e muito atraso. Aquele
que for suscetível de exaltar-se, deverá velar com cuidado as suas impressões,
abafar em si o sentimento de personalidade, evitar fazer ou resolver qualquer
coisa quando estiver sob o império dessa terrível paixão.
Esforcemo-nos por adquirir a bondade, qualidade inefável,
auréola da velhice, a bondade, doce foco onde se reaquecem todas as criaturas e
cuja posse vale essa homenagem de sentimentos oferecida pelos humildes e pelos
pequenos aos seus guias e protetores. A indulgência, a simpatia e a bondade
apaziguam os homens, congregando-os, dispondo-os a atender confiantes aos bons
conselhos; no entanto, a severidade dissuade-os e afugenta. A bondade permite-nos
uma espécie de autoridade moral sobre as almas, oferece-nos mais probabilidade
de comovê-las, de reconduzi-las ao bom caminho. Façamos, pois, dessa virtude um
archote com o auxílio do qual levaremos luz às inteligências mais obscuras,
tarefa delicada, mas que se tornará fácil com um sentimento profundo de
solidariedade, com um pouco de amor por nossos irmãos.
Léon Denis – Livro: Depois
da Morte
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
Não percamos mais tempo
Amigos,
Quanto mais a rebeldia
humana atinge cifras salientes, temos a sensação de que maior é a misericórdia
do Criador para com o gênero humano, permitindo a todos ocasião de avaliar as
tortuosidades e de tudo refazer.
Quanto mais a indiferença
dos homens alcança níveis calamitosos, percebemos que se faz mais ampla a
generosidade do nosso Pai, facultando-nos novas instruções que nos chegam da
Imortalidade Feliz.
Quanto mais se acrescem
as dores terrestres, distribuídas nas faixas do corpo e da alma, sentimos que
mais o Coração dos Céus se enche de enternecimento pelas criaturas, permitindo
os progressos da farmacologia e o avanço da psicologia, a fim de que ninguém se
possa queixar de abandono e desespero pelos caminhos.
Quanto mais os passos da
humanidade optam por roteiros contrários aos da Casa do Pai, entendemos o
quanto de piedade é derramado sobre nós, através dos renovados convites e dos
instantes apelos que nos são dirigidos das Alturas.
O tempo de agora, sem
embargo, chama-nos a iniciar ou a prosseguir os nossos esforços no sentido de
abrir mão das posições rebeldes, das atitudes de indiferença, de modo a romper
os vínculos com sofrimentos, francamente desnecessários, para seguirmos
conscientes e bem dispostos para o nosso destino espiritual, que é a integração
com as luzes estelares, tornando-nos um com Jesus Cristo, como Ele foi um com o
Pai do Céu, após Seus roteiros de angélica evolução.
Não nos cabe mais relegar
o ensejo; não devemos mais procrastinar o dia da perene claridade, que nos
aguarda nas dimensões espirituais. O tempo de ventura e crescimento para Deus
precisa ser muito bem administrado por nós, os milenários jornadeiros da
evolução terrena, a fim de que não mais percamos essas preciosas ensanchas de
conquista da paz e da alegria, que a existência no mundo nos oferta.
Luiz Carlos da Veiga / Raul
Teixeira, em 26.02.2006, na Fazenda Recreio, em Pedreira-SP.
Assinar:
Postagens (Atom)