Não
será novidade a sensação de estranheza que acomete boa parcela da Humanidade
terrestre nesse período de ocaso expiatório-provacional e de alvorecer de uma
Nova Era de regeneração.
Nesses
momentos, parece-nos faltar superfície para colocarmos os pés e caminharmos
seguramente. O horizonte anuvia-se diante das montanhas de calamidades públicas
e privadas pelas quais atravessam os errantes na trajetória ascensional. A
noite sombria assola os incipientes raios solares do amanhecer,
assenhoreando-se dos andarilhos da hora última, titubeantes em indecisões e
vãos questionamentos, orquestrados no pragmatismo materialista do incrédulo, ou
assentados na hesitação do crente iludido e desesperançado.
Tudo
parece acenar um futuro não muito distante de caos e perdição irremissíveis…
*
O
Apóstolo Paulo escreveu várias cartas, conhecidas como epístolas, sob a
inspiração direta do Espírito Estêvão, que incentivou o convertido de Damasco a
redigir as missivas, tendo em vista demanda de ampliar a divulgação da Mensagem
de Jesus, uma vez que Paulo não poderia estar fisicamente em vários lugares ao
mesmo tempo. As epístolas foram sublime inspiração para marcar presença com a
palavra orientadora a pessoas e povos carentes de assegurar sua caminhada nas
trilhas da fé após a crucificação do Messias de Nazaré, recordando os ensinos
do Mestre para que não caíssem no esquecimento.
Num
desses indeléveis registros aos Coríntios, Paulo expressa: Em tudo somos
atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
Para
bem entendermos a essência do conteúdo paulino, é necessário que busquemos a
compreensão do significado das palavras. Ser atribulado é enfrentar aflições,
adversidades, agruras, mortificações, sofrimentos morais e acontecimentos
desagradáveis ou penosos. Angustiado é sinônimo de aflito, agoniado, ansioso,
atormentado, inquieto.
Ser
perplexo é ser tomado de espanto, ficar atônito, indeciso, irresoluto, é
hesitar. Desanimado é o mesmo que sem ânimo, desencorajado, desestimulado,
desalentado, esmorecido, sem vontade de agir.
A
constatação de ontem e de hoje que o registro epistolar evidencia é de que
somos em tudo o que acontece ao nosso redor e em nossa intimidade atribulados e
perplexos. Porém, a recomendação do mesmo enunciado é para não sermos
angustiados nem desanimados, nunca e em nada, assim deduzimos.
Os
vocábulos parecem próximos no significado, entretanto indicam capitais
diferenças conceituais. Ficamos espantados, atônitos diante de tantas ações
infensas à moral, observadas cada vez mais frequentemente na atualidade ou que
teimam em se perpetuar ao longo do tempo, desde eras imemoriais quando o homem
ainda estagiava em seus primeiros passos no primitivismo da evolução.
Esse
estado de perplexidade, todavia, não deve denotar desânimo, falta de ânimo, de
vida e de vontade para pensar, falar e fazer o imprescindível a uma reação
ativa, operosa e construtiva perante uma realidade temporariamente avassaladora
do mal e de suas múltiplas manifestações e incautas intermediações. Jesus
asseverou que veio para nos trazer vida e vida em abundância.
Tudo
o que não for real, passará. Apenas os valores constitutivos da verdadeira
propriedade, a espiritual, resistirão, posto que permanentes. Espantamo-nos
perante atrocidades, crueldades, irresponsabilidades decorrentes da imaturidade
espiritual ou da maldade temporária que domina, iludindo boa parcela da
Humanidade terrestre. Todavia, não nos cabe o desalento, pois há muito que
fazer, notadamente no período de transição em que todos somos convidados e
convocados a doar o melhor de nós, realizando o que estiver ao nosso alcance,
como a nossa quota de colaboração para as mudanças inadiáveis.
As
aflições comuns em um mundo de expiações e de prova onde ainda há o império do
mal, chegarão de fora, em ranger de dentes do tempestuoso inverno a assolar
incautos, desprevenidos e imprevidentes quanto ao futuro espiritual. Virão
também da intimidade dos seres que não se permitirão sentir acomodados em zona
de conforto, quando o Evangelho Redivivo nos convoca ao testemunho pessoal e
intransferível do autoenfrentamento para as diligências renovadoras
impostergáveis, considerando que os tempos já chegaram, e que não nos cabe
procrastinar mais nem um segundo a resolução no rumo do bem e do amor divinos.
Entrementes,
não nos permitiremos agoniar, cedendo a aparentes forças irresistíveis de
influências malévolas a nos desviar do caminho a ser seguido em direção à
conquista paulatina da felicidade, por esforço próprio e proporcional a nossa
capacidade, sem exageros ou exigências descabidas, mas compreendendo que o
minuto precioso de cada dia não deve ser desperdiçado por invigilância e
ociosidade.
E
foi Emmanuel, que tanta admiração vertia ao doutor da lei, renovado em Jesus,
com sua elegante e assertiva redação, convertendo-se, em nossa opinião, no
maior explicador dos evangelhos de todos os tempos, quem acentuou:
E,
ainda hoje, enquanto oram confiantes, exemplificando o amor evangélico, [os
leais seguidores de Jesus] reparam o progresso dos ímpios e sofrem a dominação
dos vaidosos de todos os matizes. Enquanto triunfam os maus e os indiferentes,
nas facilidades terrestres, são eles relegados a dificuldades e tropeços, à
frente das situações mais simples.
Apesar
da evolução inegável do direito no mundo, ainda são chamados a contas pelo bem
que fazem e vigiados, com rudeza, devido à verdade consoladora que ensinam.
É
o que temos sentido, embora ainda não nos reconheçamos como leais seguidores do
Cristo. Estamos iniciando os esforços para corrigir mazelas espirituais e
conquistarmos virtudes que nos propiciem integração na equipe de trabalho do
Divino Amigo.
Dá
a impressão de que os maus prosperam, de que a irresponsabilidade cresce, de
que a imoralidade domina, de que o instituto da família desmorona, de que a
educação resta abatida, de que o materialismo vence, de que uma crise sem
precedentes na História prenuncia um caos jamais visto no mundo inteiro, com
todos os seus ais…
*
Nunca,
como nos tempos atuais, houve tanta necessidade do Evangelho Redivivo ao
Espírito sedento de consolo e de esclarecimento, que possa oferecer-lhe paz e
serenidade, bom senso e discernimento, para não perder a direção do bem,
deixando-se envolver pelas ilusões passageiras do mal.
Deus,
em Sua Infinita Misericórdia, utiliza-se do mal decorrente dos erros humanos,
alçando-o veementemente para que se manifeste com toda pujança, como
instrumento para erradicação em definitivo do próprio mal, que sobra apenas
como ausência do bem maior originado da Providência Divina.
Vivemos
os momentos decisivos da renovação em espírito e verdade, da transformação
moral, da renovação íntima, da escolha dos valores espirituais, quando Jesus
nos chama para o serviço da redenção de nós mesmos pelo auxílio aos irmãos em
maiores necessidades que as nossas.
Atravessamos
o período de despedida gradativa do orbe de expiações e provas, em que somos
convocados a atuar como trabalhadores da última hora e, simultaneamente,
vislumbramos o limiar do mundo de regeneração, para o qual somos convidados
como candidatos a servidores da primeira hora.
Estagiamos
no tempo de fazermos a leitura da realidade, termos olhos de ver a Verdade e
compreendermos que a Terra, a mãe Gaia, é a escola de iluminação, o hospital de
reabilitação e a morada de trabalho e de libertação de nossos Espíritos rumo a
Deus, nosso Pai de Infinita Bondade.
Geraldo Campetti Sobrinho – Vice-presidente da Federação Espírita Brasileira
Fonte: Jornal Mundo Espírita – www.mundoespirita.com.br