Enquanto
respeitáveis pesquisadores investigam, infatigáveis, o problema da imortalidade
da alma em laboratórios que obedecem às mais exigentes conquistas da técnica
moderna, vês desfilarem à míngua de compaixão os «filhos do Calvário».
Muitos
companheiros atilados, empolgados pela terminologia complexa sugerida na
sistemática da psicologia experimental, apresentam teses arrojadas, fixados a
conceitos respeitáveis, e tu observas os descendentes da «Casa do Caminho»,
tresmalhados e tristes na faina do sofrimento, deambulando sem rota.
Parece-te,
às vezes, que o complexo aparato dos laboratórios penetra o teu santuário de fé
para interpretar as manifestações espirituais em linguagem nova, fazendo exigências
a que se devem submeter os espíritos da caridade, de modo a atenderem
impositivos intelectuais, no mesmo momento em que entidades atribuladas do
além-túmulo batem angustiadas às portas da mediunidade, rogando palavras de
consolo em nome de Jesus.
Momentos
difíceis atravessas, considerando a valiosa bibliografia que te chega às mãos,
sugerindo novas fórmulas de interpretação do amor em relação à comunicabilidade
dos Espíritos, embora enxameiem ao teu lado os órfãos, as viúvas, os
atribulados em abandono total, desejando comunicar-se contigo, espíritos também
que são encarnados no domicílio da matéria.
Todavia,
a mensagem cristã é tão suave e simples! Os ensinos do Rabi, que enflorescem as
mais caras evocações cristãs da Humanidade, são um convite vigoroso para a
manutenção do amor entre os homens! E os conceitos esflorados por Allan Kardec,
na admirável Doutrina Consoladora, refletem, todos eles, o impositivo da
transformação total do homem, à base do culto dos deveres de agora, todos os
dias, para alcançar o ápice da evolução impostergável de todos nós.
É
verdade que o homem então atinge as Altas Esferas sem as luminescências do
conhecimento; da mesma forma ninguém evolui realmente sem a santificação dos
sentimentos, através da conjugação do verbo amar, em todas as suas expressões.
Diante
do poviléu esfaimado e aturdido, o Senhor solicitou aos companheiros o repasto
de que dispunham, após o que multiplicou pães e peixes para todos eles; ao lado
da mulher surpreendida no delito conjugal fatigada pelos próprios desencantos e
humilhada pela massa em rebeldia, vitimada quase pela lapidação pública, o
Senhor, depois de exprobrar o comportamento dos adúlteros presentes, disse-lhe
com piedosa misericórdia: «Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai e
não tornes a pecar»; após ouvir o relatório minudente sobre o culto dos deveres
externos, apresentado por um jovem que ansiava encontrar o Reino de Deus e
fruí-lo, o Mestre foi peremptório: «Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, vem
e segue-me»; a obsidiada, que transformara o corpo em instrumento de aflição,
mas que se compungira ante a mensagem fascinante da Boa Nova, irrompendo,
desesperada, na casa de Simão, que O hospedava momentaneamente, d'Ele recebeu a
palavra de alento: «Por muito amares, os teus pecados te serão perdoados»; e ao
ladrão, que no momento extremo Lhe rogara oportunidade de aportar, também, na
Região da justiça, Ele acenou com a esperança próxima de recebê-lo
oportunamente no Paraíso ...
Em
todos os momentos da vida do incansável Seareiro do Amor, essas
pequenas-grandes lições de toda hora, deveres de todo momento, constituíram a
seara sublime da perene Boa Nova.
Dir-te-ão
muitos que já não há campo para aquela vida de odor evangélico, qual a dos
primeiros dias dos homens dos caminhos; falar-te-ão que é necessário aplicar a
inteligência e os favores do conhecimento moderno e explicarão quanto à
necessidade de utilizar a técnica para viver com tranquilidade e em plenitude
do gozo.
Sem
desconsideração às nobres conquistas do pensamento hodierno, ama, serve,
aprimora teus ensinamentos e renova-te incessantemente.
Não
descures de acender a luz do Evangelho na tua casa, não deixes de plantar uma
árvore generosa e frutífera no caminho, não recuses a palavra gentil ao
transeunte e, seguindo as pegadas de Jesus, embora a distância que medeia entre
ti e Ele, faze-te, mesmo assim, mensagem viva do Evangelho, coroado pela luz da
imortalidade, luz que haures na Revelação Espírita da atualidade, cumprindo com
os teus deveres agora, a fim de penetrares no Reino dos Céus, desde este
instante, mediante a tua integração no espírito vivo e atuante do Cristo.
Joanna
de Ângelis /Divaldo Pereira Franco - Livro: Lampadário Espírita