quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Deveres imediatos

 

Porque perseverem, no mundo, as separações discriminativas da sociedade, isolando as classes e as raças humanas e formando grupos infelizes; porque o abuso do poder propicie a subtração das liberdades e dos direitos humanos; porque o homem continue escravo do homem e as conjunturas econômicas respondam pela miséria das massas; porque o obscurantismo a respeito da cultura real domine verdadeiras multidões e o acesso às escolas que libertam e burilam o pensamento constitua um privilégio para as minorias dominantes, devemo-nos empenhar em esforço hercúleo para mudar as estruturas vigentes.

Enquanto a dor física desgaste a alma, ou os problemas psíquicos gerem enfermidades orgânicas, ou as conjunturas emocionais produzam distúrbios na economia espiritual dos homens; enquanto a indiferença dos ricos marginalize o sofrimento dos pobres e o menor esforço receba estipêndios vultosos num atentado ao sacrifício das classes trabalhadoras; enquanto a morte pela fome dizime centenas de milhões de vidas ou apenas uma vida, o homem necessita modificar a forma de comportar-se, na Terra, ampliando os recursos da solidariedade e do auxílio fraterno.

Viceje o vício, que ceifa a juventude e entenebrece a vida; predomine a corrupção, que envilece a criatura; permaneçam os promotores da degradação dos costumes; assente-se o triunfo nos pântanos da vergonha moral; prospere a injustiça, mascarada de direito; reinem a violência e a agressividade, atestando a situação de primitivismo e semibarbárie da civilização, faz-se imprescindível educar o ser humano e conscientizá-lo das superiores finalidades da sua vilegiatura no curto período do trânsito somático.

Desde que o egoísmo tenha prioridade no relacionamento entre os homens em face do êxito da intriga e da calúnia bem forjadas; diante da traição que se mascara de amizade; frente ao suborno da dignidade e da consciência, na disputa dos valores de monta insignificante, porque mui passageiros; perante a vitória da impunidade, da delinquência de qualquer espécie, a real cultura não se pode entorpecer pelos vapores do adesismo de frutos apodrecidos, mas levantar-se para profligar o abuso e exalçar as conquistas do bem, do verdadeiro e do belo.

Como ainda predomine o comércio de vidas, nos bordéis da licenciosidade e nos escritórios de luxo, que vendem "imagens" ao público ávido de sensações; desde que permanece o tráfico de drogas e de alucinógenos, enlouquecendo dezenas de milhões de vidas jovens e aniquilando-as sob os disfarces da insensatez e do prazer; porque sobreviva a chantagem moral e a financeira e a submissão indigna faça parte da metodologia de situações vantajosas, eleitas pelo equívoco dos aproveitadores, é justo que o silêncio acumpliciador das mentes e caracteres honrados seja substituído pelo verbo quente e pela ação repulsiva ao estado de decomposição moral em que se encontra a quase totalidade do organismo social.

A quietação do homem justo diante do disparate do crime é conivência inconsciente para com a delinquência.

A acomodação da dignidade responde pela prevalência da desordem.

A imoralidade não espera a anuência da virtude para assentar o seu quartel, antes impõe-se, chocante e intempestiva, produzindo, pela violência dos costumes, uma aceitação a princípio tímida e depois aplaudida.

Justo que os contornos da honra não fiquem diluídos em sombras, nem os deveres do bem cedam lugar às permissividades a pretexto de tolerância e progresso.

O código irrefragável do "amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo" tem preferência a quaisquer outras posturas, porque é uma síntese soberana da lei moisaica e do antigo direito romano, que ainda, teoricamente, serve de base à Justiça humana.

As débeis tentativas da persistência do bem e da ordem deverão fortalecer-se e amiudar-se tomando o terreno que foi arbitrariamente cedido às paixões nefastas para prejuízo da harmonia social.

O homem tem o dever de recompor-se moralmente para viver em harmonia consigo mesmo e com as leis que vigem em a Natureza, refletindo a ordem da Criação.

Nunca se fizeram tão necessários quanto hoje os esforços pelo bem geral das comunidades e jamais houve tão grande urgência para as lideranças enobrecidas.

Substituir os hábitos perniciosos por comportamentos corretos; gerar atitudes e compromissos salutares no relacionamento com as demais criaturas; promover o trabalho realizador e educar o povo; produzir leis justas e fomentar o respeito pela sua vigência são as tarefas do homem integrado na vera filosofia do Cristianismo, desvestido de arbitrariedades e sofismas, acomodações utilitaristas e dogmas absurdos, numa tentativa de restauração do otimismo, que cede lugar à angústia e à neurose, ao mesmo tempo antecipando o amanhã pacífico e ditoso da Humanidade.

 Victor Hugo / Divaldo Franco – Livro: Roteiro de libertação

Destruição e miséria

 “Em seus caminhos há destruição e miséria” Paulo (Romanos. 3:16)

 

Quando o discípulo se distancia da confiança no Mestre e se esquiva à ação nas linhas do exemplo que o seu divino apostolado nos legou, preferindo a senda vasta de infidelidade à própria consciência, cava, sem perceber, largos abismos de destruição e miséria por onde passa.

Se cristaliza a mente na ociosidade, elimina o bom ânimo no coração dos trabalhadores que o cercam e estrangula as suas próprias oportunidades de servir.

Se desce ao desfiladeiro da negação, destrói as esperanças tenras no sentimento de quantos se abeiram da fé e tece vasta rede de sombras para si mesmo.

Se transfere a alma para a residência escura do vício, sufoca as virtudes nascentes nos companheiros de jornada e adquire débitos pesados para o futuro.

Se asila o desespero, apaga o tênue clarão da confiança na alma do próximo e chora inutilmente, sob a tormenta de lágrimas destrutivas.

Se busca refúgio na casa fria da tristeza, asfixia o otimismo naqueles que o acompanham e perde a riqueza do tempo, em lamentações improfícuas.

A determinação divina para o aprendiz do Evangelho é seguir adiante, ajudando, compreendendo e servindo a todos.

Estacionar é imobilizar os outros e congelar-se.

Revoltar-se é chicotear os irmãos e ferir-se.

Fugir ao bem é desorientar os semelhantes e aniquilar-se.

Desventurados aqueles que não seguem o Mestre que encontraram, porque conhecer Jesus Cristo em espírito e viver longe dele será espalhar a destruição, em torno de nossos passos, e conservar a miséria dentro de nós mesmos. 

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 027

Oração fraternal

 


Irmão nosso, que estás na Terra!

Glorificada seja tua vontade, em favor do Infinito bem.

Trabalha incessantemente pelo Reino Divino, com tua cooperação espontânea.

Seja atendida a tua aspiração elevada, com esquecimento de todos os caprichos inferiores.

Tanto no lar da Carne, quanto no Templo do Universo.

O pão nosso de cada dia, que vem do Celeste Celeiro, usa com respeito e divide santamente.

Desculpa nossas faltas para contigo, assim como o Eterno Pai tem perdoado nossa dividas em comum.

Não permitas que a tua existência se perca pela tentação dos maus pensamentos.

Livra-te dos males que procedem do próprio coração.

Porque te pertence, agora, a gloriosa oportunidade de elevação para o reino do poder, da justiça, da paz, da glória e do amor para sempre.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Duzentas mensagens

sábado, 13 de novembro de 2021

Mais Luz: Edição 552

 Leia conosco:

  • Identidade dos Espíritos nas Comunicações
  • Qualificação de Santo Aplicada a Certos Espíritos
  • Os falsos Profetas da Erraticidade
  • Obreiro Sem Fé - Fonte Viva
  • Em Oração

https://mailchi.mp/2dfbef56096d/boletim-mais-luz

Projeto Lendo e Relendo André Luiz

 





Questões e problemas

 


IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS NAS COMUNICAÇÕES PARTICULARES

Por que os Espíritos evocados por um sentimento de afeição muitas vezes se recusam a dar provas certas de sua identidade?

Compreende-se todo o valor ligado às provas de identidade da parte dos Espíritos que nos são caros; esse sentimento é muito natural e parece, desde que os Espíritos podem manifestar-se, que lhes deve ser muito fácil atestar a sua personalidade. A falta de provas materiais, sobretudo para certas pessoas que não conhecem o mecanismo da mediunidade, isto é, a lei das relações entre os Espíritos e os homens, é uma causa de dúvida e de cruel incerteza. Embora tenhamos tratado várias vezes desta questão, vamos examiná-la novamente, para responder a algumas perguntas que nos são dirigidas.

Nada temos a acrescentar ao que foi dito sobre a identidade dos Espíritos que vêm unicamente para a nossa instrução e que deixaram a Terra há algum tempo. Sabe-se que ela não pode ser atestada de maneira absoluta e que se deve limitar a julgar o valor da linguagem.

A identidade só pode ser constatada com certeza para os Espíritos partidos recentemente, cujo caráter e hábitos se refletem em suas palavras. Nestes a identidade se revela por mil particularidades de detalhe. Algumas vezes a prova ressalta de fatos materiais, característicos, mas na maioria das vezes, de nuanças da própria linguagem e de uma porção de pequenos nadas que, por serem pouco salientes, não são menos significativos.

Muitas vezes as comunicações deste gênero encerram mais provas do que se pensa e que se descobrem com mais atenção e menos prevenções. Infelizmente, na maior parte do tempo não se contentam com que o Espírito quer ou pode dar; querem provas à sua maneira; ou lhe pedem que diga ou faça tal coisa, lembre um nome ou um fato, num momento dado, sem pensar nos obstáculos que, por vezes, a isto se opõem, e paralisam a sua boa vontade.

Depois, obtido o que se deseja, muitas vezes querem mais; acham que não é ainda bastante concludente; depois de um fato, pedem outro e mais outro. Numa palavra, nunca são suficientes para convencer. É então que o Espírito, muitas vezes fatigado por essa insistência, cessa completamente de se manifestar, esperando que a convicção chegue por outros meios. Mas muitas vezes, também, sua abstenção lhe é imposta por uma vontade superior, como punição ao solicitante muito exigente, e também como prova para a sua fé, porquanto, se por algumas decepções e por não obter o que quer, viesse a abandonar os Espíritos, esses por sua vez o abandonariam, deixando-o mergulhado nas angústias e torturas da dúvida, felizes quando seu abandono não tem consequências mais graves.

Mas, numa imensidade de casos, as provas materiais de identidade são independentes da vontade do Espírito, e do desejo que este tem de as dar. Isto se deve à natureza, ou ao estado do instrumento pelo qual se comunica. Há na faculdade mediúnica uma variedade infinita de nuanças, que tornam o médium apto ou impróprio à obtenção de tais ou quais efeitos que, à primeira vista, parecem idênticos e que, no entanto, dependem de influências fluídicas diferentes. O médium é como um instrumento de cordas múltiplas: não pode dar som pelas cordas que faltam. (...)

É de notar que as provas de identidade vêm quase sempre espontaneamente, no momento em que menos se pensa, ao passo que são dadas raramente quando pedidas. Capricho da parte do Espírito? Não; há uma causa material. Ei-la:

As disposições fluídicas que estabelecem as relações entre o Espírito e o médium oferecem nuances de extrema delicadeza, inapreciáveis aos nossos sentidos e que variam de um momento a outro no mesmo médium. Muitas vezes um efeito que não é possível num instante desejado, sê-lo-á uma hora, um dia, uma semana mais tarde, porque as disposições ou a energia das correntes fluídicas terão mudado. Acontece aqui como na fotografia, onde uma simples variação na intensidade ou na direção da luz é suficiente para favorecer ou impedir a reprodução da imagem. Um poeta fará versos à vontade? Não; precisa de inspiração. Se não estiver em disposição favorável, por mais que perscrute o cérebro, nada obterá. Perguntai-lhe por quê? Nas evocações, o Espírito deixado à vontade se prevalece das disposições que encontra no médium, aproveita o momento propício; mas quando essas disposições não existem, não pode mais que o fotógrafo, na ausência da luz. Portanto, nem sempre pode, mau grado seu desejo, satisfazer instantaneamente a um pedido de provas de identidade. Eis por que é preferível esperá-las a solicitá-las.

Além disso, é preciso considerar que as relações fluídicas que devem existir entre o Espírito e o médium jamais se estabelecem completamente desde a primeira vez; a assimilação não se faz senão com o tempo e gradualmente. Daí resulta que, inicialmente, o Espírito sempre experimenta uma dificuldade que influi na clareza, na precisão e no desenvolvimento das comunicações; mas, quando o Espírito e o médium estão habituados um ao outro; quando seus fluidos estão identificados, as comunicações se dão naturalmente, porque não há mais resistências a vencer.

Por aí se vê quantas considerações devem ser levadas em conta no exame das comunicações. É por falta de o fazer e de conhecer as leis que regem esses tipos de fenômenos que muitas vezes se pede o que é impossível. É absolutamente como se alguém, que não conhecesse as leis da eletricidade, se admirasse que o telégrafo pudesse experimentar variações e interrupções e concluísse que a eletricidade não existe.

O fato da constatação da identidade de certos Espíritos é um acessório no vasto conjunto dos resultados que o Espiritismo abarca; mesmo que tal constatação fosse impossível, nada prejulgaria contra as manifestações em geral, nem contra as consequências morais daí decorrentes. Seria preciso lamentar os que privassem das consolações que ela proporciona, por não ter obtido uma satisfação pessoal, pois isto seria sacrificar o todo à parte.

QUALIFICAÇÃO DE SANTO APLICADA A CERTOS ESPÍRITOS

Num grupo de província, tendo-se apresentado um Espírito sob o nome de “São José, santo, três vezes santo”, isto deu ensejo a que se fizesse a seguinte pergunta:

Um Espírito, mesmo canonizado em vida, pode dar-se a qualificação de santo, sem faltar à humildade, que é um dos apanágios da verdadeira santidade e, invocando-o, permite que lhe deem esse título? O Espírito que o toma deve, por esse fato, ser tido por suspeito?

Um outro Espírito respondeu:

“Deveis rejeitá-lo imediatamente, pois equivaleria a um grande capitão que se vos apresentasse exibindo pomposamente seus numerosos feitos de armas, antes de declinar o seu, ou a um poeta que começasse por se gabar de seus talentos. Veríeis nessas palavras um orgulho despropositado. Assim deve ser com homens que tiveram algumas virtudes na Terra e que foram julgados dignos de canonização. Se se apresentarem a vós com humildade, crede neles; se vierem se fazendo preceder de sua santidade, agradecei e nada perdereis. O encarnado não é santo porque foi canonizado: só Deus é santo, porque só ele possui todas as perfeições. Vede os Espíritos superiores, que conheceis pela sublimidade de seus ensinamentos: eles não ousam dizer-se santos; qualificam-se simplesmente de Espíritos de verdade”.

Esta resposta demanda algumas retificações. A canonização não implica a santidade no sentido absoluto, mas simplesmente um certo grau de perfeição. Para alguns a qualificação de santo tornou-se uma espécie de título banal, fazendo parte integrante do nome, para os distinguir de seus homônimos, ou que lhes dão por hábito. Santo Agostinho, São Luís, São Tomé, podem, pois, antepor o nome santo à sua assinatura, sem que o façam por um sentimento de orgulho, que seria tanto mais descabido em Espíritos superiores que, melhor que os outros, não fazem nenhum caso das distinções dadas pelos homens. Dar-se-ia o mesmo com os títulos nobiliárquicos ou as patentes militares. Seguramente aquele que foi duque, príncipe ou general na Terra não o é mais no mundo dos Espíritos e, no entanto, assinando, poderão tomar essas qualificações, sem que isto tenha consequência para o seu caráter. Alguns assinam: aquele que, quando vivo na Terra, foi o duque de tal. O sentimento do Espírito se revela pelo conjunto de suas comunicações e por sinais inequívocos em sua linguagem. É assim que não nos podemos enganar sobre aquele que começa por se dizer: “São José, santo, três vezes santo”. Só isto bastaria para revelar um Espírito impostor, adornando-se com o nome de São José. Assim, ele pôde ver, graças ao conhecimento dos princípios da doutrina, que sua velhacaria não encontrou ingênuos no círculo onde quis introduzir-se.

O Espírito que ditou a comunicação acima é, pois, muito absoluto no que concerne à qualificação de santo e não está certo quando diz que os Espíritos superiores se dizem simplesmente Espíritos de verdade, qualificação que não passaria de um orgulho disfarçado sob outro nome, e que poderia induzir em erro, se tomado ao pé da letra, porque nenhum se pode vangloriar de possuir a verdade absoluta, nem a santidade absoluta. A qualificação de Espírito de verdade não pertence senão a um só, (grifo nosso) e pode ser considerada como nome próprio; está especificada no Evangelho. Aliás, esse Espírito se comunica raramente e apenas em circunstâncias especiais. Devemos pôr-nos em guarda contra os que se adornam indevidamente com esse título: são fáceis de reconhecer, pela prolixidade e pela vulgaridade de sua linguagem.

Allan Kardec – Revista Espírita – julho/1856