sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Sobre o carnaval

 


Nenhum Espírito equilibrado em face do bom senso que deve presidir a existência das criaturas pode fazer a apologia da loucura generalizada que adormece as consciências nas festas carnavalescas.

É lamentável que na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhes as belezas e os objetivos sagrados da vida, se verifiquem excessos dessa natureza entre as sociedades que se pavoneiam com os títulos da civilização.

Enquanto os trabalhos e as dores abençoadas, geralmente incompreendidos pelos homens, lhes burilam o caráter e os sentimentos, prodigalizando-lhes os benefícios inapreciáveis do progresso espiritual, a licenciosidade desses dias prejudiciais opera, nas almas indecisas e necessitadas do amparo moral dos outros Espíritos mais esclarecidos, a revivescência de animalidades que só os longos aprendizados fazem desaparecer.

Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo acesso das forças da treva nos corações e, às vezes, toda uma existência não basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia e de esquecimento do dever.

É estranho que as administrações e elementos de governos colaborem para que se intensifique a longa série de lastimáveis desvios de Espíritos fracos, cujo caráter ainda aguarda o toque miraculoso da dor para aprender as grandes verdades da vida.

Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem e se intensifique o olvido de obrigações sagradas por parte das almas cuja evolução depende do cumprimento austero dos deveres sociais e divinos.

Ação altamente meritória seria a de empregar todas as verbas consumidas em semelhantes festejos na assistência social aos necessitados de um pão e de um carinho. Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. Por que protelar essa ação necessária das forças conjuntas dos que se preocupam com os problemas nobres da vida, a fim de que se transforme o supérfluo na migalha abençoada de pão e de carinho que será a esperança dos que choram e sofrem? Que os nossos irmãos espíritas compreendam semelhantes objetivos de nossas despretensiosas opiniões, colaborando conosco dentro de suas possibilidades para que possamos reconstruir e reedificar os costumes para o bem de todas as almas.

É incontestável que a sociedade pode, com o seu livre-arbítrio coletivo, exibir superfluidades e luxos nababescos, mas enquanto houver um mendigo abandonado junto de seu fastígio e de sua grandeza ela só poderá fornecer com isso um eloquente atestado de sua miséria moral.

Emmanuel / Chico Xavier

Livro: Cartas do Alto




quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Ante a era do Espírito

 


Senhor Jesus!

Ante a Era do Espírito, clareia-nos a razão, a fim de compreendermos a tua palavra em dimensões mais altas.

Agora que os homens erguem o facho da indagação, além dos conhecimentos habituais, concede-nos os meios precisos para caminhar com eles ao encontro da verdade em luz de amor que lhes honorificará o futuro, segundo os teus ensinos.

A inteligência terrestre fixa hoje elevadas perspectivas na conquista da Consciência Cósmica.

A cultura científica abre novas áreas de trabalho e perquirição.

A Psiquiatria, a Psicologia e a Análise examinam a vida extrassomática.

A Física Nuclear apresenta recursos destinados à elucidação de muitas das ocorrências paranormais.

A Fotografia requinta processos de observação e consegue deter imagens do corpo espiritual.

O Motor encurta distâncias.

A Eletrônica altera a experiência comunitária e aperfeiçoa o relacionamento entre os povos.

A Astronáutica cria engenhos que controlam a gravidade e partem na direção de outros mundos.

Quando a era tecnológica exige consequentemente a Civilização do Espírito, ampara-nos o diálogo com os homens — nossos irmãos encarnados — de modo a nós todos, eles e nós — venhamos a responder construtivamente aos desafios dos tempos novos, sem que as pedras do exclusivismo, seja na Religião ou na Ciência, nos obstruam as sendas iluminadas à frente do progresso.

Livra-nos:

da ignorância;

do orgulho;

do ilogismo;

da divisão;

do fanatismo;

da vaidade;

da intolerância;

do ódio;

do farisaísmo;

da prepotência;

e consente, Senhor, que possamos humanizar-te as lições na Doutrina Espírita, a fim de que a imortalidade seja reconhecida na Terra, estabelecendo o teu reino de paz e amor nos homens, com os homens, pelos homens e para os homens, agora, hoje e sempre.

Assim seja.

 

Emmanuel / Chico Xavier

Livro: Na era do Espírito



Ora e vigia

 

Ora e vigia. Não cesses

Teu combate à tentação.

No templo de nossas preces

Guardamos o coração.

 

Ora e vigia. Trabalha

Na rota de teu dever.

A vida é a nossa batalha…

Foge ao repouso e ao prazer.

 

Ora e vigia. Sublima

O teu amor fraternal.

O bem que não desanima

É a vitória contra o mal.

 

Vigia, orando. Vigia

Dando ação aos dias teus.

Serviço de cada dia

É bênção da Luz de Deus.

 

João de Deus / Chico Xavier

Livro: Relicário de luz



Acorda e ajuda

 

“Segue-me e deixa aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos.” — Jesus. (Mateus, 8:22)

 

Jesus não recomendou ao aprendiz deixasse “aos cadáveres o cuidado de enterrar os cadáveres”, e sim conferisse “aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos”.

Há, em verdade, grande diferença.

O cadáver é carne sem vida, enquanto que um morto é alguém que se ausenta da vida.

Há muita gente que perambula nas sombras da morte sem morrer.

Trânsfugas da evolução, cerram-se entre as paredes da própria mente, cristalizados no egoísmo ou na vaidade, negando-se a partilhar a experiência comum.

Mergulham-se em sepulcros de ouro, de vício, de amargura e ilusão. Se vitimados pela tentação da riqueza, moram em túmulos de cifrões; se derrotados pelos hábitos perniciosos, encarceram-se em grades de sombra; se prostrados pelo desalento, dormem no pranto da bancarrota moral, e, se atormentados pelas mentiras com que envolvem a si mesmos, residem sob as lápides, dificilmente permeáveis, dos enganos fatais.

Aprende a participar da luta coletiva.

Sai, cada dia, de ti mesmo, e busca sentir a dor do vizinho, a necessidade do próximo, as angústias de teu irmão e ajuda quanto possas.

Não te galvanizes na esfera do próprio “eu”.

Desperta e vive com todos, por todos e para todos, porque ninguém respira tão somente para si.

Em qualquer parte do Universo, somos usufrutuários do esforço e do sacrifício de milhões de existências.

Cedamos algo de nós mesmos, em favor dos outros, pelo muito que os outros fazem por nós.

Recordemos, desse modo, o ensinamento do Cristo.

Se encontrares algum cadáver, dá-lhe a bênção da sepultura, na relação das tuas obras de caridade, mas, em se tratando da jornada espiritual, deixa sempre “aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos”.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Fonte Viva – Cap. 143



sábado, 3 de fevereiro de 2024

Mais Luz - Edição 668 - 04/02/2024

 


Confira nesta edição:

https://mailchi.mp/394b304363e8/honra-ao-trabalho

 

Lenda simbólica – Irmão X

Ante o Evangelho: Obediência e resignação

Mensagem da Semana: Não furtes – Fonte Viva, 142

Poema:  Honra ao trabalho – Múcio Teixeira

Oração em serviço - Emmanuel



sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Lenda simbólica

 

Existe no folclore de várias nações do mundo antiga lenda que exprime comumente a verdade de nossa vida.

Certo homem que pervagava, infeliz, padecendo intempérie e solidão, encontrou valiosa pedra em que se refugiou, encantado.

À maneira de concha em posição vertical, o minúsculo penhasco protegia-o contra as bagas de chuva, ofertando-lhe, ao mesmo tempo, o colo rijo sobre o qual vasta porção de folhas secas lhe propiciava adequado ninho.

O atormentado viajor agarrou-se, contente, a semelhante habitação e, longe de consagrar-se ao trabalho honesto para renová-la e engrandecê-la, confiou-se à pedintaria.

Além, jornadeavam companheiros de Humanidade em provações mais aflitivas que as dele, contudo, acreditava-se o mais infortunado de todos os seres e preferia examiná-los através da inveja e da irritação.

Adiante, sorria a gleba luxuriosa, convidando-o à sementeira produtiva, no entanto, ocultava as mãos nos andrajos que lhe cobriam a pele, alongando-as simplesmente para esmolar.

Na imensidão do céu, cada manhã, surgia o Sol, como glorioso ministro da Luz Divina, exortando-o ao labor digno, mas o desditoso admitia-se incapacitado e enfermo de tal sorte, que não se atrevia a deixar a pedra protetora.

Ouvia de lábios benevolentes incessantes apelos à própria renovação, a fim de exercitar-se na prática do bem, a favor de si mesmo, mas, extremamente cristalizado na ociosidade e no desalento, replicava com evasivas, definindo-se como sofredor irremediável, vomitando queixas ou disparando condenações.

Não podia trabalhar por faltarem-lhe recursos, não estudava por fugir-lhe o dinheiro, não ajudava de modo algum a ninguém por ser pobre até à miserabilidade completa, dizia entre sucessivas lamentações.

Rogava pão, suplicava remédio, mendigava socorro de todo gênero, acusando o destino e insultando o próximo…

Por mais de meio século demorou-se na pedra muda e hospitaleira, até que a morte lhe visitou os farrapos, arrebatando-o da carne às surpresas do seu reino.

Foi então que mãos operosas removeram o enorme calhau para que a higiene retornasse à paisagem, encontrando sob a pequena rocha granítica um imenso tesouro de moedas e joias, suscetível de assegurar a evolução e o conforto de grande comunidade.

O devoto da inércia experimentara desolação e necessidade, por toda a existência, sobre um leito de inimaginável riqueza.

Assim somos quase todos nós, durante a reencarnação.

Almas famintas de progresso e acrisolamento, colamo-nos ao grabato físico para a aquisição de conhecimento e virtude, experiência e sublimação, mas, muito longe de entender a nossa divina oportunidade, desertamos da luta e viajamos no mundo à feição de mendigos caprichosos e descontentes, albergando amarguras e lágrimas, no culto disfarçado da rebeldia.

E, olvidando nossos braços que podem agir para o bem, estendemo-los não para dar e sim para recolher, pedindo, suplicando, retendo, reclamando e exigindo, até que chega o momento em que a morte nos faz conhecer o tesouro que desprezamos.

*

Se a lenda que repetimos pode merecer-te atenção, aproveita o aconchego do corpo a que te acolhes, entregando-te à construção do bem por amor ao bem, na certeza de que a tua passagem na Terra vale por generosa bolsa de estudo, e de que amanhã regressarás para o ajuste de contas em tua Esfera de origem.

 

Irmão X (Humberto de Campos) / Chico Xavier

Livro: Contos e apólogos



Oração em serviço

 


Deus da Eterna Bondade,

Ensina-me a viver;

A doar do que eu tenha,

Sem contar o que faça;

A trabalhar servindo,

Sem exigir repouso;

A compreender os outros

Sem ferir a ninguém;

A nunca desertar

Dos deveres que assumo;

E a entender que nos dás

O que julgas melhor.

 

Emmanuel / Chico Xavier

Livro: Tempo de luz



Honra ao trabalho

 

Trabalha e encontrarás o fio diamantino

Que te liga ao Senhor que nos guarda e governa,

Ante cuja grandeza o mundo se prosterna,

Buscando a solução da dor e do destino.

 

Desde o fulcro solar ao fundo da caverna,

Da beleza do herói ao verme pequenino,

Tudo se agita e vibra, em cântico divino

Do trabalho imortal, brunindo a vida eterna!…

 

Tudo na imensidão é serviço opulento,

Júbilo de ajudar, luta e contentamento,

Desde a flor da montanha às trevas do granito.

 

Trabalha e serve sempre, alheio à recompensa,

Que o trabalho, por si, é a glória que condensa

O salário da Terra e a bênção do Infinito.

 

Múcio Teixeira / Chico Xavier

Livro: Parnaso de Além-Túmulo



Não furtes

 

“Aquele que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as suas mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade.” — Paulo. (Efésios, 4:28)

 

Há roubos de variada natureza, jamais catalogados nos códigos de justiça da Terra.

Furtos de tempo aos que trabalham.

Assaltos à tranquilidade do próximo.

Depredações da confiança alheia.

Invasões nos interesses dos outros.

Apropriações indébitas, através do pensamento.

Espoliações da alegria e da esperança.

Com as chaves falsas da intriga e da calúnia, da crueldade e da má-fé, almas impiedosas existem, penetrando sutilmente nos corações desprevenidos, dilapidando-os em seus mais valiosos patrimônios espirituais…

Por esse motivo, a palavra de Paulo se reveste de sublime significação: — “Aquele que furtava não furte mais.”

Se aceitaste o Evangelho por norma de elevação da tua vida, procura, acima de tudo, ocupar as tuas mãos em atividades edificantes, a fim de que possas ser realmente útil aos que necessitam.

Na preguiça está sediada a gerência do mal.

Quem alguma coisa faz, tem algo a repartir.

Busca o teu posto de serviço, cumpre dignamente as tuas obrigações de cada dia e, atendendo aos deveres que o Senhor te confiou, atravessarás o caminho terrestre sem furtar a ninguém.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Fonte Viva – Cap. 142