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quinta-feira, 13 de julho de 2023

Todos os dias

 


Pedes orientação para as tarefas que te cabem.

Comecemos pela primeira de todas: A construção da bondade e da simpatia para com os outros.

Não somente para com aqueles que te aguardam a fatia de pão ou que se te abeiram do caminho como que vestidos de chagas.

Compadece-te também de quantos te pareçam autossuficientes.

Aquele homem de duro semblante na administração que não te pode atender as requisições de favor, muitas vezes, chora, às ocultas, ao refletir no filho doente.

O atleta que aplaudes, em muitas ocasiões, se exibe com sacrifício por dedicar-se, em pensamento, ao pai enfermo que lhe reclama a visita no sanatório.

O industrial que supuseste frio e desatento, ao receber-te, é um companheiro preocupado consigo mesmo, já que se vê amargurado por severo regime, de maneira a não cair no coma diabético.

A dama que te tratou com reserva, no encontro social, fornecendo a ideia de desagrado e distância, não agiu dessa forma, esnobando orgulho e vaidade, e sim por achar-se traumatizada com a morte de um filho em desastre recente.

A jovem que se te figurou demasiado fútil e leviana, na casa de festas em que buscaste entretenimento, não é tão livre como julgaste, pois vive escravizada aos sofrimentos de pobre mãe paralítica que lhe espera a presença e o dinheiro, no anseio de melhorar-se.

O companheiro que não te cumprimentou na rua tem agora a miopia mais avançada e aquele outro que costuma responder-te às palavras fraternas, com indiferença e pigarro, traz consigo a provação da surdez que ele esconde compreensivelmente, receando lhe falte o trabalho convencional.

Onde estiveres, habitua-te a compreender e a desculpar.

É verdade que sofres no caminho que a vida te deu a percorrer, entretanto, muitos daqueles que te cercam suportam tribulações muito mais graves que as tuas.

Os grupos sociais na Terra já promulgaram admiráveis dias do calendário para lembranças e homenagens especiais.

Temos os dias das mães, das crianças, dos professores, das telefonistas, dos operários… Creio, porém, que se pudéssemos indagar de Jesus, sobre o assunto, o Senhor nos aprovaria todas as escolhas, mas, decerto, nos solicitaria o cuidado de resguardar todos os dias da vida, sejam eles quais sejam, no culto do amor e da compaixão.

 

Meimei / Chico Xavier – Livro: Sentinelas da alma



quinta-feira, 6 de julho de 2023

A inesperada renovação

 

Naqueles momentos em que se reconhecia desligado do corpo físico, o homem acabrunhado sentia-se leve, feliz…

Extasiado na excursão que se lhe afigurava um sonho prodigioso, alcançou o recanto luminescente em que notou a presença do Cristo. Reverente, abeirou-se dele e rogou:

— Senhor!… Ouve-me por misericórdia! Amo-te e quero servir-te… Desde muito tempo, aspiro a matricular-me na assembleia dos que colaboram contigo na redenção das criaturas… Anseio auxiliar aos outros, entretanto, Amado Amigo, estou preso!… Livra-me do lar onde me vejo na condição do pássaro encarcerado… Moro num ninho de aversões. Meu pai, talvez, cansado de conflitos estéreis, relegou-nos à própria sorte… Minha mãe exerce sobre nós um despotismo cruel. Trata-nos a nós, seus filhos, à maneira dos objetos de uso particular, flagelando-nos com as exigências de pavorosa afeição possessiva… Meus dois irmãos me detestam… Senhoreiam indebitamente o que tenho e me humilham a cada instante. Se concordo com eles, me ridicularizam e se algo reclamo, ameaçam-me com perseguição e espancamento!… Libera-me, Senhor, da prisão que me inibe os movimentos… Quero agir em teus princípios, amar e servir, qual nos ensinaste.

Ante a ligeira pausa que se fez, Jesus fitou o visitante compassivamente e alegou:

— Lembro-me de tuas solicitações anteriores… Estavas de passagem, aqui mesmo, na direção do berço terrestre, acompanhado de amigos prestigiosos. Declaravas-te sequioso de ação no bem e os teus companheiros endossavam-te as afirmativas… Dizias-te ansioso no sentido de compartilhar-nos as tarefas… Entendo-te, sim… A construção do amor é inadiável…

— Senhor — observou o consulente, respeitoso — se entendes o meu ideal e se as minhas petições já se encontram aqui registradas, quem me situou no lar terrível, no qual me reconheço, à feição de um doente, atirado a um serpentário?

O Mestre sorriu e considerou:

— Acreditando em teus propósitos de colaborar conosco, quem te enviou à família em que te encontras, fui eu mesmo…

Surpreendido com a inesperada revelação, o visitante do Mundo Espiritual experimentou estranha sensação de queda e acordou no próprio corpo.

Lá fora, os irmãos deblateravam contra a vida, reportando-se a ele com injuriosas palavras.

Ele, porém, assinalou os insultos que lhe eram endereçados com novos ouvidos, no silêncio de quem havia conquistado o troféu de profunda renovação.

Meimei / Chico Xavier – Livro: Deus aguarda


sexta-feira, 30 de junho de 2023

Unificação

 


O serviço da unificação em nossas fileiras é urgente mas não apressado. Uma afirmativa parece destruir a outra. Mas não é assim. É urgente porque define objetivo a que devemos todos visar; mas não apressado, porquanto não nos compete violentar consciência alguma.

Mantenhamos o propósito de irmanar, aproximar, confraternizar e compreender, e, se possível, estabeleçamos em cada lugar, onde o nome do Espiritismo apareça por legenda de luz, um grupo de estudo, ainda que reduzido, da Obra Kardequiana, à luz do Cristo de Deus.

Nós que nos empenhamos carinhosamente a todos os tipos de realização respeitável que os nossos princípios nos oferecem, não podemos esquecer o trabalho do raciocínio claro para que a vida se nos povoe de estradas menos sombrias. Comparemos a nossa Doutrina Redentora a uma cidade metropolitana, com todas as exigências de conforto e progresso, paz e ordem. Indispensável a diligência no pão e no vestuário, na moradia e na defesa de todos; entretanto, não se pode olvidar o problema da luz. A luz foi sempre uma preocupação do homem, desde a hora da furna primeira. Antes de tudo, o fogo obtido por atrito, a lareira doméstica, a tocha, os lumes vinculados às resinas, a candeia e, nos tempos modernos, a força elétrica transformada em clarão.

A Doutrina Espírita possui os seus aspectos essenciais em configuração tríplice. Que ninguém seja cerceado em seus anseios de construção e produção. Quem se afeiçoe à ciência que a cultive em sua dignidade, quem se devote à filosofia que lhe engrandeça os postulados e quem se consagre à religião que lhe divinize as aspirações, mas que a base kardequiana permaneça em tudo e todos, para que não venhamos a perder o equilíbrio sobre os alicerces em que se nos levanta a organização.

Nenhuma hostilidade recíproca, nenhum desapreço a quem quer que seja. Acontece, porém, que temos necessidade de preservar os fundamentos espíritas, honrá-los e sublimá-los, senão acabaremos estranhos uns aos outros, ou então cadaverizados em arregimentações que nos mutilarão os melhores anseios, convertendo-nos o movimento de libertação numa seita estanque, encarcerada em novas interpretações e teologias, que nos acomodariam nas conveniências do plano inferior e nos afastariam da Verdade.

Allan Kardec, nos estudos, nas cogitações, nas atividades, nas obras, a fim de que a nossa fé não faça hipnose, pela qual o domínio da sombra se estabelece sobre as mentes mais fracas, acorrentando-as a séculos de ilusão e sofrimento.

Libertação da palavra divina é desentranhar o ensinamento do Cristo de todos os cárceres a que foi algemado e, na atualidade, sem querer qualquer privilégio para nós, apenas o Espiritismo retém bastante força moral para se não prender a interesses subalternos e efetuar a recuperação da luz que se derrama do verbo cristalino do Mestre, dessedentando e orientando as almas.

Seja Allan Kardec, não apenas crido ou sentido, apregoado ou manifestado, a nossa bandeira, mas suficientemente vivido, sofrido, chorado e realizado em nossas próprias vidas. Sem essa base é difícil forjar o caráter espírita-cristão que o mundo conturbado espera de nós pela unificação.

Ensinar, mas fazer; crer, mas estudar; aconselhar, mas exemplificar; reunir, mas alimentar.

Falamos em provações e sofrimentos, mas não dispomos de outros veículos para assegurar a vitória da verdade e do amor sobre a Terra. Ninguém edifica sem amor, ninguém ama sem lágrimas.

Somente aqui, na vida espiritual, vim aprender que a cruz do Cristo era uma estaca que Ele, o Mestre, fincava no chão para levantar o mundo novo. E para dizer-nos em todos os tempos que nada se faz de útil e bom sem sacrifícios, morreu nela. Espezinhado, batido, enterrou-a no solo, revelando-nos que esse é o nosso caminho — o caminho de quem constrói para Cima, de quem mira os continentes do Alto.

É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios.

Respeito a todas as criaturas, apreço a todas as autoridades, devotamento ao bem comum e instrução do povo, em todas as direções, sobre as verdades do espírito, imutáveis, eternas.

Nada que lembre castas, discriminações, evidências individuais injustificáveis, privilégios, imunidades, propriedades.

Amor de Jesus sobre todos, verdade de Kardec para todos.

Em cada templo, o mais forte deve ser escudo para o mais fraco, o mais esclarecido a luz para o menos esclarecido, e sempre e sempre seja o sofredor o mais protegido e o mais auxiliado, como entre os que menos sofram seja o maior aquele que se fizer o servidor de todos, conforme a observação do Mentor Divino.

Sigamos para frente, buscando a inspiração do Senhor.

 

Bezerra de Menezes

(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião da Comunhão Espírita Cristã, em 20-4-1963, em Uberaba, MG.)

(Reformador - dez/1975)


sábado, 17 de junho de 2023

A regra de ajudar

 

João, no auge da curiosidade juvenil, compreendendo que se achava à frente de novos métodos de viver, tal a grandeza com que o Evangelho transparecia dos ensinamentos do Senhor, perguntou a Jesus qual a maneira mais digna de se portar o aprendiz, diante do próximo, no sentido de ajudar aos semelhantes, ao que o Amigo Divino respondeu, com voz clara e firme:

— João, se procuras uma regra de auxiliar os outros, beneficiando a ti mesmo, não te esqueças de amar o companheiro de jornada terrestre, tanto quanto desejas ser querido e amparado por ele.

A pretexto de cultivar a verdade, não transformes a própria existência numa batalha em que teus pés atravessem o mundo, qual furioso combatente no deserto; recorda que a maioria dos enfermos conhece, de algum modo, a moléstia que lhes é própria, reclamando amizade e entendimento, acima da medicação.

Lembra-te de que não há corações na Terra, sem problemas difíceis a resolver; em razão disso, aprende a cortesia fraternal para com todos.

Acolhe o irmão do caminho, não somente com a saudação recomendada pelos imperativos da polidez, mas também com o calor do teu sincero propósito de servir.

Fixa nos olhos as pessoas que te dirigirem a palavra, testemunhando-lhes carinhoso interesse e guarda sempre a posição de ouvinte delicado e atencioso; não levantes demasiadamente a voz, porque a segurança e a serenidade com que os mais graves assuntos devem ser tratados não dependem de ruído.

Abstém-te das conversações improfícuas; o comentário menos digno é sempre invasão delituosa em questões pessoais.

Louva quem trabalha e, ainda mesmo diante dos maus e dos ociosos, procura exaltar o bem que são suscetíveis de produzir.

Foge ao pessimismo, guardando embora a prudência indispensável perante as criaturas arrojadas em negócios respeitáveis, mas passageiros, do mundo; a tristeza improdutiva, que apenas sabe lastimar-se, nunca foi útil à Humanidade, necessitada de bom ânimo.

Usa, cotidianamente, a chave luminosa do sorriso fraterno; com o gesto espontâneo de bondade, podemos sustar muitos crimes e apagar muitos males.

Faze o possível por ser pontual; não deixes o companheiro à tua espera, a fim de que te não seja atribuída uma falsa importância.

Agradece todos os benefícios da estrada, respeitando os grandes e os pequenos; se o Sol aquece a vida, é a semente de trigo que fornece o pão.

Deixa que as águas vivas e invisíveis do Amor que procedem de Deus, Nosso Pai, atravessem o teu coração, em favor do círculo de luta em que vives; o Amor é a força divina que engrandece a vida e confere poder.

Façamos, entretanto, o melhor que pudermos, na felicidade e na elevação de todos os que nos cercam, não somente aqui, mas em qualquer parte, não apenas hoje, mas sempre.

Silenciou o Cristo e, assinalando a beleza do programa exposto, o jovem apóstolo inquiriu respeitosamente:

— Senhor, como conseguirei executar tão expressivos ensinamentos?

O Mestre respondeu, resoluto:

— A boa vontade é nosso recurso de cada hora.

E, afagando os cabelos do discípulo inquieto, encerrou as preces da noite.

 

Neio Lúcio / Chico Xavier – Livro: Jesus no lar


sábado, 3 de junho de 2023

O Espiritismo pergunta

 


Meu irmão, não te permitas impressionar apenas com as alterações que convulsionam hoje todas as frentes de trabalhos e descobrimentos na Terra.

Olha para dentro de ti mesmo e mentaliza o futuro.

O teu corpo físico define a atualidade do teu corpo espiritual.

Já viveste, quanto nós mesmos, vidas incontáveis e trazes, no bojo do Espírito, as conquistas alcançadas em longo percurso de experiências na ronda dos milênios.

Tua mente já possui, nas criptas da memória, recursos enciclopédicos da cultura de todos os grandes centros do planeta.

Teu perispírito já se revestiu com porções da matéria de todos os continentes.

Tuas irradiações, através das roupas que te serviram, já marcaram todos os salões da aristocracia e todos os círculos de penúria do Plano terrestre.

Tua figura já integrou os quadros do poder e da subalternidade em todas as nações.

Tuas energias genésicas e afetivas já plasmaram corpos na configuração morfológica de todas as raças.

Teus sentidos já foram arrebatados ao torvelinho de todas as diversões.

Tua voz já expressou o bem e o mal em todos os idiomas.

Teu coração já pulsou ao ritmo de todas as paixões.

Teus olhos já se deslumbraram diante de todos os espetáculos conhecidos, das trevas do horrível às magnificências do belo.

Teus ouvidos já registaram todos os tipos de sons e linguagens existentes no mundo.

Teus pulmões já respiraram o ar de todos os climas.

Teu paladar já se banqueteou abusivamente nos acepipes de todos os povos.

Tuas mãos já retiveram e dissiparam fortunas, constituídas por todos os padrões da moeda humana.

Tua pele, em cores diversas, já foi beijada pelo sol de todas as latitudes.

Tua emoção já passou por todos os transes possíveis de renascimentos e mortes.

Eis por que o Espiritismo te pergunta:

— Não julgas que já é tempo de renovar?

Sem renovação, que vale a vida humana?

Se fosse para continuares repetindo aquilo que já foste e o que fizeste, não terias necessidade de novo corpo e de nova existência — prosseguirias de alma jungida à matéria gasta da encarnação precedente, enfeitando um jardim de cadáveres.

Vives novamente na carne para o burilamento de teu Espírito. A reencarnação é o caminho da Grande Luz.

Ama e trabalha. Trabalha e serve.

Perante o bem, quase sempre, temos sido somente constantes na inconstância e fiéis à infidelidade, esquecidos de que tudo se transforma, com exceção da necessidade de transformar.

 

Militão Pacheco / Waldo Vieira

Livro: O Espírito da Verdade

Sobre o Cap. I do ESE - Item 9

 


sexta-feira, 19 de maio de 2023

O brilho do bem

 


"Vós sois a luz do Mundo. Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e ilumina todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos Céus." (Mateus, 5:14-16.)

 

Jesus compara seus seguidores à luz que afugenta as trevas. O Cristianismo, com seus valores morais elevados, com seu empenho pela construção do Reino de Deus, fatalmente se destacaria na História, da mesma forma que seria impossível deixar de ver uma cidade edificada sobre a montanha. Se está claro, nota-se perfeitamente o contorno de seus edifícios; se escurece, suas luzes destacam-se.

Individualizando a figura do cristão, Jesus oferece a sugestiva imagem da candeia. Alqueire era uma espécie de vaso usado para medir líquidos ou cereais. Ninguém acende uma candeia para colocá-la prisioneira sob o alqueire. A luz deve estar no velador, suporte colocado no alto para que ilumine o ambiente. Em linguagem atual: não se liga uma lâmpada dentro de recipiente fechado. Para cumprir sua função ela deve estar livre.

O mesmo acontece com o Evangelho. É a luz que ilumina, que dá significado à Vida e a valoriza, mas, se procurarmos em suas lições apenas conforto e bem-estar para nós, sem compreender seu apelo maior, convocando-nos à Fraternidade, então sua claridade ficará aprisionada no vaso do egoísmo e de nada valerá, pois, apesar de detê-la, continuaremos na escuridão de nossas mazelas.

Ao recomendar "brilhe vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus", Jesus ensina que o luzir do Evangelho em nós está condicionado à prática do Bem.

Por isso, o verdadeiro cristão é alguém cujo comportamento é invariavelmente edificante; que estimula à virtude, cultivando seus valores e que converte irresistivelmente ao Evangelho com a força do exemplo.

A esse propósito, lembramos a extraordinária figura de Alcíone, do livro "Renúncia", autoria de Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier. Atingindo estágios angelicais de evolução, eximira-se de voltar à Terra, mas voltou, por iniciativa própria, a fim de ajudar um grupo de tutelados seus.

Sua presença em nosso mundo, embora no anonimato de condição humilde, tornou-se tão marcante que todos quantos com ela conviveram foram invariavelmente influenciados por ela. E como Alcíone realizava semelhante prodígio? Fazendo prevalecer sua autoridade de Anjo? Impondo sua vontade?

Não! Discípula fiel do Cristo, ela simplesmente observava o Evangelho em sua expressão mais pura, não se limitando a perdoar os ofensores, mas achando uma desculpa para eles; não se limitando a tolerar as imperfeições alheias, mas ajudando as pessoas a superá-las com a serenidade de uma paciência sem limites; não apenas cumprindo os deveres de filha, religiosa, serviçal, mas comportando-se com valores de renúncia, dedicação e heroísmo, que fizeram dela uma inesquecível figura de mulher.

Um pequeno episódio nos oferece a medida de seu caráter. Alcíone trabalhava como governanta em rica mansão. Era muito estimada pelo dono da casa, Cirilo, a filha Beatriz e seu sogro Jacques, mas detestada por Susana, a patroa, enciumada de sua benquerença. E não se cansava de fustigá-la, impondo-lhe tarefas rudes, desvinculadas de suas atribuições, com o propósito de levá-la a deixar aquela casa, já que não podia tomar a iniciativa de despedi-la, com o que seus familiares não concordariam.

Certo dia chama a governanta:

Alcíone, a lavadeira está doente e deverás substituí-la.

Sim, senhora.

E lá vai Alcíone cumprir a tarefa alheia às suas responsabilidades. A menina Beatriz, vendo-a no tanque, revolta-se. Chama o pai e acusa a mãe de explorar a serva. O marido irrita-se, recrimina a esposa com aspereza. Susana agita-se. Nervosa, debulha-se em lágrimas. O ambiente torna-se tenso.

Então, Alcíone, que tudo observava, dirige-se ao patrão:
Senhor Cirilo, desculpe-me entrar na conversa, mas pode crer que a senhorita Beatriz está enganada. Dona Susana não me impôs a substituição da lavadeira. Fui eu mesma que ofereci minha colaboração. Não se preocupe. Estou acostumada com esse serviço.

As palavras de Alcíone, pronunciadas com evidente inflexão de sinceridade e boa vontade, desanuviam o ambiente. Pai e filha tranquilizam-se. O gesto da serva, somado a outros iguais em circunstâncias semelhantes, acaba por sensibilizar Susana, que se torna sua amiga.

Assim é o cristão autêntico. Onde ele está a Vida sempre se faz plena de claridades, pois refletem-se nele as luzes do Céu, marcadas por uma dedicação sem limites à causa do Bem.

 

Richard Simonetti – Livro "A voz do monte”.


segunda-feira, 15 de maio de 2023

Persevera


Perseveremos no bem, sobretudo.

A estrada provavelmente se nos erigirá lodacenta ou agressiva pelos tropeços e espinhos que apresente…

Perseveremos servindo para transpô-la.

 

O ambiente terá surgido carregado de nuvens, na condensação de injúrias ou incompreensões que nos circundem…

Perseveremos ofertando aos outros o melhor de nós em favor dos outros e os outros nos auxiliarão para vencer as sombras e dissipá-las.

 

Ansiedades e esperanças nos visitam a alma, transformando-se em obstáculos para a obtenção da alegria que nos propomos alcançar…

Perseveremos agindo na prática do bem e, dentro desse exercício salutar de sublimação, surpreenderemos, por fim, a região de acesso às bênçãos que buscamos.

 

As lutas e desafios se nos avolumam na marcha…

Perseveremos na humildade e na paciência que nos garantirão a segurança e a tranquilidade das quais não prescindimos para seguir adiante.

 

Discórdias e problemas repontam das tarefas a que consagramos as nossas melhores forças…

Perseveremos na serenidade e na elevação, dentro dos encargos que nos assinalem a presença onde estivermos, e seremos aqueles ingredientes indispensáveis de união e de paz nos grupos do serviço de que partilhamos, atendendo às obrigações que nos competem ao espírito de equipe.

 

Filhos, provas e tribulações, pedras e espinhos, conflitos e lágrimas, desarmonias e empeços existirão sempre na estrada que se nos desdobra à visão…

No entanto, se é fácil começar o apostolado do amor, é sempre difícil continuar em direção do remate vitorioso.

 

Perseverar é o impositivo de que não nos será lícito fugir…

Perseverar trabalhando e servindo, entendendo e edificando, aprendendo e redimindo…

Perseverar sempre de modo a nunca desanimar na construção do bem a fim de merecermos o bem maior.

 

De mensagem recebida em 18.11.1972

Bezerra de Menezes / Chico Xavier – Livro: Bezerra, Chico e você


sexta-feira, 28 de abril de 2023

Ante o mundo melhor

 


O trabalho será sempre o prodígio do Universo — a força que o entretém, a luz que o eleva.

Observemos junto de nós. Tudo é trabalho para que a vida se nos transforme na bênção de cada dia.

Trabalha o sol e o mundo se equilibra.

Trabalha o mundo e a natureza se renova para que os processos da evolução nos conduzam para o Mais Alto.

A fonte é bondade e a semente faz-se pão porque trabalha servindo.

Reflitamos nisso para que o repouso inoportuno não se nos infiltre no espírito por ferrugem destruidora.

No trabalho é que surpreendemos todas as oportunidades de progresso e melhoria a que nos endereçamos.

Aquele a quem servimos é quem realmente nos servirá.

Damos e recebemos. Isso é tão natural quanto plantar e colher.

Por isso mesmo, seja qual seja a condição em que nos achemos, o trabalho é caminho para a ascensão à felicidade justa.

A hora de que dispomos, a pessoa da estrada, o companheiro em serviço, o amigo e o adversário, constituem talentos potenciais que é preciso aproveitar para o bem, a fim de que o bem nos enriqueça de paz.

Não vacileis. Atendamos aos imperativos do servir e estaremos no clima do obter.

Não há outra via para alcançar os nossos objetivos de ordem superior, senão essa.

O descanso existe por pausa de refazimento e reformulação. Nada mais.

Recordemos semelhante verdade para que não lhe desrespeitemos a fronteira, caindo na marginalização de nossas melhores forças.

Trabalhar, sim, e trabalhar sempre, porquanto, se tudo quanto existe agora de bom e de belo, aos nossos olhos na Terra, é fruto do esforço de quem agiu e construiu, o futuro, por reino de segurança e felicidade entre as criaturas, tão somente surgirá por fruto de quem trabalha no presente, atendendo aos apelos do Cristo para que, em nos amando uns aos outros, nos façamos obreiros fiéis e devotados, no levantamento da Nova Era para um Mundo Melhor.

 

Batuíra / Chico Xavier – Livro: Seguindo juntos


sábado, 8 de abril de 2023

PÁSCOA - "Qual o verdadeiro sentido?"

 


(...) “uma grande celebração cujas raízes repousam no judaísmo, mas que foram absorvidas pelo mundo cristão, pelo Cristianismo e depois de certo modo, deturpadas e se transformaram na celebração atual da páscoa, com seus coelhinhos, com seus ovos da páscoa, e com uma festa que quase não guarda nenhuma relação com a páscoa genuína.

O que é então a páscoa?

A páscoa é uma celebração judaica do momento em que o povo foi libertado da escravidão no Egito.

É importante salientar que quando nós falamos de páscoa, nós estamos num universo que é o da religiosidade. Nós estamos no mundo religioso. E no universo da religiosidade nós lidamos com símbolos, com metáforas. Por que isso? Porque religiosidade tem a ver com o sentimento, e religiosidade tem a ver com a experiência pessoal, com a experiência que a criatura faz de Deus, como ela experimenta Deus, como ela experimenta a vida, como ela experimenta a si mesma diante da vida e diante de Deus.

É óbvio que é impossível traduzir uma experiência tão subjetiva, tão espiritualmente rica com a linguagem da ciência, que é uma linguagem matemática, uma linguagem analítica; ou com a linguagem da filosofia, que é uma linguagem especulativa, cheia de um vocabulário complexo e às vezes até prolixo. Por essa razão, a religiosidade opta pela linguagem da metáfora, que é quase uma linguagem dos sonhos. Uma linguagem onírica e, portanto, a páscoa tem muito dessa simbologia onírica do sonho.

O que diz a páscoa?

Que o povo hebreu estava escravo há 400 anos no Egito. O Egito foi invadido então por um anjo da morte. Mas naquelas casas que tivessem uma marca de sangue de um cordeiro, o anjo pularia aquela casa. Como o verbo pular em hebraico é pesah, daí vem páscoa. A páscoa então é o pulo do anjo, o pulo que ele dá nas casas que tem a marca do cordeiro, e que, portanto, foram poupados da tragédia de perderem o filho mais velho da casa. Essa é a simbologia.

Por que o cordeiro? E é interessante: na celebração da páscoa judaica o cordeiro ficava uma semana com a família. Eles pegavam um cordeirinho e ele ficava dentro de casa. Ali as crianças brincavam com o bichinho, criavam uma relação de afeto com ele. Daí uma semana o animalzinho era quase que um membro da família, então, ao entardecer da sexta-feira toda a família se reunia e o animal era sacrificado. E tinha que ser assim, porque se alimentar do cordeiro da páscoa precisava ser uma experiência de dor. É a experiência da perda de alguém amado, então a páscoa tem a ver com essa experiência espiritual. A experiência da libertação espiritual, mas que é uma experiência de desilusão, e você não se desilude sem perder. Por isso esse choque do cordeirinho sendo imolado.

Com a vinda de Jesus, o que ele faz? Ele convive três anos com seus discípulos; cura cegos; cura paralíticos; janta todo dia na casinha de Simão Pedro; cura até mesmo a sogra de Simão Pedro que morava com ele; trabalha com eles; acorda cedinho e vai pescar com eles até o entardecer; convive com eles diariamente; participa das suas dores; sofre as imperfeições de cada um deles; e no momento final dos três anos, reúne os 12 e diz assim para eles: vocês vão me perder. Eu estou agora me despedindo de vocês porque eu vou deixar o mundo corpóreo para voltar ao mundo incorpóreo, e vocês vão experimentar uma tremenda tristeza, uma profunda dor porque vocês criaram uma conexão emocional comigo. Eu não chamo vocês mais de servos, eu chamo vocês de amigos porque tudo o que eu aprendi eu compartilhei com vocês. Eu amei vocês da maneira maior que eu poderia amar; eu amei tanto, que você Pedro, vai me negar, vai me trair, mas eu continuo te amando e nada vai alterar o meu amor por você. Eu amo tanto você Judas, e mesmo sabendo que você vai me trair, eu não estou te expulsando. Eu estou comendo com você, e eu te perdoo, mas eu irei embora e vocês vão viver a maior experiência de solidão, e de ascensão espiritual das suas vidas.

Mas o que eu posso prometer? Que do mundo espiritual eu estarei junto com vocês. Vou ampará-los em todas as suas atividades. Estarei eu mesmo do mundo espiritual comandando a expansão do Cristianismo, portanto, essa crise da morte é apenas um portal para a imortalidade porque a vida não cessa no túmulo, e toda vez que vocês se sentirem solitários, toda vez que vocês sentirem falta da minha amizade, do meu amor, da minha dedicação, da minha presença, vocês vão se reunir, vão celebrar a páscoa em minha memória, em memória da minha amizade, em memória do meu amor, e sobretudo, em memória da libertação de que eu sou o mensageiro, porque Jesus veio libertar o homem da escravidão da matéria, da escravidão dos sentidos.

Egito em hebraico chama-se Mitsraim e Mitsraim em hebraico é estreiteza, prisão. A matéria é opressora, os sentidos físicos são estreitos. A mensagem de Jesus é libertadora porque ela vem trazer um amor incondicional, um amor que ama independente de... Portanto, é um amor que liberta, então ele recomenda: reúnam-se para celebrarem a páscoa, para celebrar o amor, para celebrar a minha dedicação, e para celebrar a imortalidade da alma, a vida espiritual.

Mas infelizmente os séculos passaram, e nós transformamos a páscoa em coelhos e ovinhos coloridos de chocolate, apagando completamente a dimensão espiritual e a experiência religiosa que a páscoa propõe, que é uma experiência de Deus, é uma experiência de solidão, é uma experiência de amar e de se sentir amado, não importam as circunstâncias.

Essa é a páscoa!” 

Haroldo Dutra

 Transcrição da fala de Haroldo Dutra Dias sobre a páscoa no vídeo abaixo.






quarta-feira, 22 de março de 2023

Em honra a Kardec

 


Na Doutrina Espírita, não se dirá que Allan Kardec foi ultrapassado, de vez que os nossos princípios avançam com o fluxo evolutivo da própria vida e, à maneira da árvore que para mostrar a excelência do fruto não dispensa a raiz, tanto quanto o edifício vulgar para crescer em nova pavimentação não prescinde do alicerce, o Espiritismo não fugirá das diretrizes primeiras, a fim de ampliar-se em construções mais elevadas, com a segurança precisa.

Superam-se técnicas e processos de luta material.

A Revelação Divina, porém, desenvolve-se com a própria alma do homem, porque a Infinita Sabedoria não nos esmaga com sua Grandeza, nem nos enceguece com a sua Luz, esperando que nós mesmos, ao preço de esforço e trabalho, na escola do progresso, nos habilitemos a suportar o conhecimento superior, estendendo-lhe a claridade e realizando-lhe os objetivos.

Em razão disso, foi o próprio Codificador quem definiu em nossa Doutrina um templo de postulados que a evolução se incumbiria de honorificar em constante expansão, nela plasmando não apenas o altar da fé renovadora que nos religa ao Cristo de Deus, mas também o acesso ao campo aberto da indagação filosófica e científica, para que não estejamos confinados ao dogmatismo enregelante e destruidor.

Não edificaremos por nossa vez, no santuário espírita, senão aquele desdobramento necessário a todo serviço de luz e fraternidade, que iniciado a benefício das criaturas, a todas elas deve atingir no justo momento em obediência às leis da evolução, de que Kardec foi emérito defensor.

Cabe-nos hoje tanto quanto ontem, dar-lhe a obra regeneradora e vitalizante, a fim de que não nos percamos à distância da lógica e da simplicidade que lhe ditaram o ensinamento, e não nos empenharemos no cipoal da inutilidade ou da sombra porquanto, nele, o apóstolo do princípio, encontramos o roteiro seguro para a integração com Jesus, nosso Mestre e Senhor. 


Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Doutrina e vida

 

31 de março – Desencarnação de Allan Kardec


quinta-feira, 16 de março de 2023

A glória do esforço

 


Relacionava Tiago, filho de Alfeu, as dificuldades naturais na preparação do discípulo, quando várias opiniões se fizeram ouvir quanto aos percalços do aprimoramento.

É quase impossível praticar as lições da Boa-Nova, no mundo avesso à bondade, à renúncia e ao perdão, — concluíam os aprendizes de maneira geral. A maioria das criaturas comprazem-se na avareza ou no endurecimento.

Registrava o Mestre a conceituação expendida pelos companheiros, em significativa quietude, quando Pedro o convocou diretamente ao assunto.

Jesus refletiu alguns instantes e ponderou:

— Entre ensino e aproveitamento, tudo depende do aprendiz.

E a seguir, falou com brandura:

— Existiu no tempo de David um grande artista que se especializara na harpa com tamanha perfeição que várias pessoas importantes vinham de muito longe, a fim de ouvi-lo. Grandes senhores com as suas comitivas descansavam, de quando em quando, junto à moradia dele, cercada de arvoredo, para escutar-lhe as sublimes improvisações. O admirável mestre fez renome e fortuna, parecendo a todos que ninguém o igualaria na Terra na expressão musical a que se consagrara.

Em seus saraus e exibições, possuía em seu serviço pessoal um escravo aparentemente inábil e atoleimado, que servia água, doce e frutas aos convivas, e que jamais conversava, fixando toda a atenção no instrumento divino, como se vivesse fascinado pelas mãos que o tangiam.

Muitos anos correram quando, certa noite, o artista volta, de inesperado, ao domicílio, findo o banquete de um amigo nas vizinhanças e, com indizível espanto, assinala celeste melodia no ar.

Alguém tocava magistralmente em sua casa solitária, qual se fora um anjo exilado no mundo.

Quem seria o estrangeiro que lhe tomara o lugar?

Em lágrimas de emoção por pressentir a existência de alguém com ideal artístico muito superior ao dele, avança devagar para não ser percebido e, sob intraduzível assombro, verificou que o harpista maravilhoso era o seu velho escravo tolo que, usando os minutos que lhe pertenciam por direito e sem incomodar a ninguém, exercitava as lições do senhor, às quais emprestava, desde muito tempo, todo o seu vigilante amor em comovido silêncio.

Foi então que o artista magnânimo e famoso libertou-o e conferiu-lhe a posição que por justiça merecia.

Diante da estranheza dos discípulos que se calavam, confundidos, o Mestre rematou:

— A aquisição de qualidades nobres é a glória infalível do esforço. Todo homem e toda mulher que usarem as horas de que dispõem na harpa da vida, correspondendo à sabedoria e à beleza com que Nosso Pai se manifesta, em todos os quadros do mundo, depressa lhe absorverão a grandeza e as sublimidades, convertendo-se em representantes do Céu para seus irmãos em humanidade. Quando a criatura, porém, somente trabalha na cota de tempo que lhe é paga pelas mordomias da Terra, sem qualquer aproveitamento das largas concessões de horas que a Divina Bondade lhe concede no corpo, nada mais receberá, além da remuneração transitória do mundo.

 

Neio Lúcio / Chico Xavier – Livro: Jesus no Lar – cap. 43