sábado, 8 de abril de 2023

PÁSCOA - "Qual o verdadeiro sentido?"

 


(...) “uma grande celebração cujas raízes repousam no judaísmo, mas que foram absorvidas pelo mundo cristão, pelo Cristianismo e depois de certo modo, deturpadas e se transformaram na celebração atual da páscoa, com seus coelhinhos, com seus ovos da páscoa, e com uma festa que quase não guarda nenhuma relação com a páscoa genuína.

O que é então a páscoa?

A páscoa é uma celebração judaica do momento em que o povo foi libertado da escravidão no Egito.

É importante salientar que quando nós falamos de páscoa, nós estamos num universo que é o da religiosidade. Nós estamos no mundo religioso. E no universo da religiosidade nós lidamos com símbolos, com metáforas. Por que isso? Porque religiosidade tem a ver com o sentimento, e religiosidade tem a ver com a experiência pessoal, com a experiência que a criatura faz de Deus, como ela experimenta Deus, como ela experimenta a vida, como ela experimenta a si mesma diante da vida e diante de Deus.

É óbvio que é impossível traduzir uma experiência tão subjetiva, tão espiritualmente rica com a linguagem da ciência, que é uma linguagem matemática, uma linguagem analítica; ou com a linguagem da filosofia, que é uma linguagem especulativa, cheia de um vocabulário complexo e às vezes até prolixo. Por essa razão, a religiosidade opta pela linguagem da metáfora, que é quase uma linguagem dos sonhos. Uma linguagem onírica e, portanto, a páscoa tem muito dessa simbologia onírica do sonho.

O que diz a páscoa?

Que o povo hebreu estava escravo há 400 anos no Egito. O Egito foi invadido então por um anjo da morte. Mas naquelas casas que tivessem uma marca de sangue de um cordeiro, o anjo pularia aquela casa. Como o verbo pular em hebraico é pesah, daí vem páscoa. A páscoa então é o pulo do anjo, o pulo que ele dá nas casas que tem a marca do cordeiro, e que, portanto, foram poupados da tragédia de perderem o filho mais velho da casa. Essa é a simbologia.

Por que o cordeiro? E é interessante: na celebração da páscoa judaica o cordeiro ficava uma semana com a família. Eles pegavam um cordeirinho e ele ficava dentro de casa. Ali as crianças brincavam com o bichinho, criavam uma relação de afeto com ele. Daí uma semana o animalzinho era quase que um membro da família, então, ao entardecer da sexta-feira toda a família se reunia e o animal era sacrificado. E tinha que ser assim, porque se alimentar do cordeiro da páscoa precisava ser uma experiência de dor. É a experiência da perda de alguém amado, então a páscoa tem a ver com essa experiência espiritual. A experiência da libertação espiritual, mas que é uma experiência de desilusão, e você não se desilude sem perder. Por isso esse choque do cordeirinho sendo imolado.

Com a vinda de Jesus, o que ele faz? Ele convive três anos com seus discípulos; cura cegos; cura paralíticos; janta todo dia na casinha de Simão Pedro; cura até mesmo a sogra de Simão Pedro que morava com ele; trabalha com eles; acorda cedinho e vai pescar com eles até o entardecer; convive com eles diariamente; participa das suas dores; sofre as imperfeições de cada um deles; e no momento final dos três anos, reúne os 12 e diz assim para eles: vocês vão me perder. Eu estou agora me despedindo de vocês porque eu vou deixar o mundo corpóreo para voltar ao mundo incorpóreo, e vocês vão experimentar uma tremenda tristeza, uma profunda dor porque vocês criaram uma conexão emocional comigo. Eu não chamo vocês mais de servos, eu chamo vocês de amigos porque tudo o que eu aprendi eu compartilhei com vocês. Eu amei vocês da maneira maior que eu poderia amar; eu amei tanto, que você Pedro, vai me negar, vai me trair, mas eu continuo te amando e nada vai alterar o meu amor por você. Eu amo tanto você Judas, e mesmo sabendo que você vai me trair, eu não estou te expulsando. Eu estou comendo com você, e eu te perdoo, mas eu irei embora e vocês vão viver a maior experiência de solidão, e de ascensão espiritual das suas vidas.

Mas o que eu posso prometer? Que do mundo espiritual eu estarei junto com vocês. Vou ampará-los em todas as suas atividades. Estarei eu mesmo do mundo espiritual comandando a expansão do Cristianismo, portanto, essa crise da morte é apenas um portal para a imortalidade porque a vida não cessa no túmulo, e toda vez que vocês se sentirem solitários, toda vez que vocês sentirem falta da minha amizade, do meu amor, da minha dedicação, da minha presença, vocês vão se reunir, vão celebrar a páscoa em minha memória, em memória da minha amizade, em memória do meu amor, e sobretudo, em memória da libertação de que eu sou o mensageiro, porque Jesus veio libertar o homem da escravidão da matéria, da escravidão dos sentidos.

Egito em hebraico chama-se Mitsraim e Mitsraim em hebraico é estreiteza, prisão. A matéria é opressora, os sentidos físicos são estreitos. A mensagem de Jesus é libertadora porque ela vem trazer um amor incondicional, um amor que ama independente de... Portanto, é um amor que liberta, então ele recomenda: reúnam-se para celebrarem a páscoa, para celebrar o amor, para celebrar a minha dedicação, e para celebrar a imortalidade da alma, a vida espiritual.

Mas infelizmente os séculos passaram, e nós transformamos a páscoa em coelhos e ovinhos coloridos de chocolate, apagando completamente a dimensão espiritual e a experiência religiosa que a páscoa propõe, que é uma experiência de Deus, é uma experiência de solidão, é uma experiência de amar e de se sentir amado, não importam as circunstâncias.

Essa é a páscoa!” 

Haroldo Dutra

 Transcrição da fala de Haroldo Dutra Dias sobre a páscoa no vídeo abaixo.






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