sábado, 28 de março de 2020

O estilo é o homem

Aquele que, por tanto tempo, figurou no mundo científico e religioso sob o pseudônimo de Allan Kardec, chamava-se Rivail e morreu aos 65 anos.

Vimo-lo deitado num simples colchão, no meio daquela sala das sessões que há longos anos presidia; vimo-lo com o rosto calmo, como se extinguem aqueles a quem a morte não surpreende, e que, tranquilo quanto ao resultado de uma vida vivida honesta e laboriosamente, deixam como que um reflexo da pureza de sua alma sobre esse corpo que abandonam a matéria.

Resignados pela fé numa vida melhor e pela convicção da imortalidade da alma, numerosos discípulos foram dar um último olhar a esses lábios descorados que, ainda ontem, lhes falava a linguagem da Terra. Mas já tinham a consolação do além-túmulo; o Espírito de Allan Kardec viera dizer como tinha sido o seu desprendimento, quais as suas impressões primeiras, quais de seus predecessores na morte tinham vindo ajudar sua alma a desprender-se da matéria. Se “o estilo é o homem”, os que conheceram Allan Kardec vivo só podiam comover-se com a autenticidade dessa comunicação espírita.

A morte de Allan Kardec é notável por uma coincidência estranha. A Sociedade formada por esse grande vulgarizador do Espiritismo acabava de chegar ao fim. O local abandonado, os móveis desaparecidos, nada mais restava de um passado que devia renascer sobre bases novas. Ao fim da última sessão, o presidente tinha feito suas despedidas; cumprida a sua missão, ele se retirava da luta diária para se consagrar inteiramente ao estudo da Filosofia Espiritualista. Outros, mais jovens - os valentes - deviam continuar a obra, e fortes na sua virilidade, impor a verdade pela convicção.

Que adianta contar detalhes da morte? Que importa a maneira pela qual o instrumento se quebrou e porque consagrar uma linha a esses restos integrados no imenso movimento das moléculas? Allan Kardec morreu na sua hora. Com ele fechou-se o prólogo de uma religião vivaz que, irradiando cada dia, em breve terá iluminado a Humanidade. Ninguém melhor que Allan Kardec poderia levar a bom termo essa obra de propaganda, à qual era preciso sacrificar as longas vigílias que nutrem o espírito, a paciência que ensina continuamente, a abnegação que desafia a tolice do presente para só ver a radiação do futuro.

Por suas obras, Allan Kardec terá fundado o dogma pressentido pelas mais antigas sociedades. Seu nome, estimado como o de um homem de bem, é desde muito tempo vulgarizado pelos que creem e pelos que temem. É difícil realizar o bem sem chocar os interesses estabelecidos.

O Espiritismo destrói muitos abusos; - também reergue muitas consciências doloridas, dando-lhes a convicção da prova e a consolação do futuro.

Hoje os espíritas choram o amigo que os deixa, porque o nosso entendimento, demasiado material, por assim dizer, não se pode dobrar a essa ideia da passagem. Mas, pago o primeiro tributo à inferioridade do nosso organismo, o pensador ergue a cabeça, e para esse mundo invisível, que sente existir além do túmulo, estende a mão ao amigo que se foi, convencido de que seu Espírito nos protege sempre.

O Presidente da Sociedade de Paris morreu, mas o número dos adeptos cresce dia a dia, e os valentes, cujo respeito pelo mestre os deixava em segundo plano, não hesitarão em se afirmar, para o bem da grande causa.

Esta morte, que o vulgo deixará passar indiferente, é um grande fato na história da Humanidade. Este não é apenas o sepulcro de um homem; é a pedra tumular enchendo o vazio imenso que o Materialismo havia cavado sob os nossos pés, e sobre o qual o Espiritismo espalha as flores da esperança.  

 Pagès de Noyez - Le Journal Paris - 3/4/1869 – Fonte: bibliadocaminho.com

31 DE MARÇO DE 2020 – 151 ANOS DE DESENCARNAÇÃO DO CODIFICADOR

quinta-feira, 19 de março de 2020

Bezerra de Menezes traz mensagem de esperança através de Divaldo Franco

Divaldo fala sobre o coronavírus

Os adeuses



A epidemia que vem dizimar o mundo em certos momentos, e que conviestes chamar cólera, fere de novo e por golpes redobrados a Humanidade; seus efeitos são prontos e sua ação rápida. Sem nenhum aviso, o homem passa da vida à morte, e aqueles, mais privilegiados, poupados por sua mão fulminante, ficam estupefatos, trêmulos, ante as espantosas consequências de um mal desconhecido em suas causas, e cujo remédio se ignora completamente.

Nesses tristes momentos, o medo se apodera dos que apenas encaram a ação da morte, sem pensar no além, e que, só por este fato, com mais facilidade oferecem o flanco ao mal. Mas como a hora de cada um de nós está marcada, há que partir, a despeito de tudo, se ela tiver soado. A hora está marcada para bom número dos habitantes do universo terrestre; partem todos os dias; pouco a pouco o flagelo se espalha e vai estender-se sobre toda a superfície do globo.

Este mal é desconhecido e talvez o seja mais ainda hoje, porque, à sua constituição própria, juntam-se diariamente outros elementos que confundem o saber humano e impedem de achar o remédio necessário para deter a sua marcha. Assim, a despeito de sua ciência, os homens devem sofrer as suas consequências, e esse flagelo destruidor é muito simplesmente um dos meios para ativar a renovação humanitária, que se deve realizar.

Mas não vos inquieteis; para vós espíritas, que sabeis que morrer é renascer, se fordes atingidos e partirdes, não ireis à felicidade? Se, ao contrário, fordes poupados, agradecei-o a Deus, que assim vos permitirá aumentar a soma dos vossos sofrimentos e pagar mais pela prova.

De um lado como de outro, quer a morte vos fira, quer vos poupe, só tendes a ganhar; ou, então, não vos digais espíritas.

 Dr. Demeure / Sr. Morin – Revista Espírita – outubro/1867

Amizade e compreensão


“Com leite vos criei, e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem ainda agora podeis.” Paulo (I Coríntios, 3:2)

Muitos companheiros de luta exigem cooperadores esclarecidos para as tarefas que lhes dizem respeito, amigos valiosos que lhes entendam os propósitos e valorizem os trabalhos, esquecidos de que as afeições, quanto as plantas, reclamam cultivo adequado.
Compreensão não se improvisa. É obra de tempo, colaboração, harmonia.
O próprio Cristo, primeiramente, semeou o ideal divino no coração dos continuadores, antes de recolher-lhes o entendimento.
Sofreu-lhes as negações, tolerou-lhes as fraquezas e desculpou-lhes as exigências para formar, por fim, o colégio apostólico.
Nesse particular, Paulo de Tarso fornece-nos judiciosa lição, declarando aos Coríntios que os criara “com leite”. Tão pequena afirmativa transborda sabedoria vastíssima. O apóstolo generoso, gigante no conhecimento e na fé viva, edificara os companheiros de sua missão evangélica em Corinto, não com o alimento complexo das teses difíceis, mas com os ensinamentos simples da verdade e as puras demonstrações de amor em Cristo Jesus. Não lhes conquistara a confiança e a estima exibindo cultura ou impondo princípios, mas, sim, orando e servindo, trabalhando e amando.
Existe uma ciência de cultivar a amizade e construir o entendimento.
Como acontece ao trigo, no campo espiritual do amor, não será possível colher sem semear.
Examina, pois, diariamente, a tua lavoura afetiva. Observa se estás exigindo flores prematuras ou frutos antecipados. Não te esqueças da atenção, do adubo, do irrigador. Coloca-te na posição da planta em jardim alheio e, reparando os cuidados que exiges, não desdenhes resgatar as tuas dívidas de amor para com os outros.
Imita o lavrador prudente e devotado, se desejas atingir a colheita de grandes e precisos resultados.
Livro Vinha de Luz – Emmanuel por Chico Xavier – Lição 121

Reação pacífica


Estes são dias de desequilíbrio.
O medo galvaniza os homens.
A onda dos crimes cresce cada hora. No entanto, a agressividade e a violência que dominam as preocupações do mundo hodierno, a par das causas de natureza extrínseca, têm, no próprio homem, o caldo de cultura em que se desenvolvem, assustadoramente.
Enquanto os especialistas dos diversos ramos do conhecimento tentam deter os efeitos da violência, que irrompe, voluptuosa, em toda parte, mergulhando o pensamento nos fatores causais socioeconômicos, sócio-políticos, socioculturais, psicológicos e de outras ordens, o egoísmo é a grande geratriz dos males que afligem a Terra...
Em consequência, o Evangelho de Jesus vivido pelo Espiritismo, em espírito e verdade, é o anticorpo de urgência para a calamidade virulenta que ameaça as estruturas sociais da atualidade.
*
Não somes ao volume dos desequilíbrios vigentes as reações negativas que traduzam desassossegos internos.
Estabelece as diretrizes de paz interior, a esforço de prece e sacrifício, de modo a poderes minimizar problemática afligente.
Evita o comentário pernicioso e não difundas a informação malsã.
Apaga o fogo da ira com a água da resignação.
Asserena as ansiedades pessoais, impedindo-te o desespero.
O servidor do Cristo está, na Terra, para o excelente mister de produzir a harmonia entre todos.
Agredido, não ataca; acossado, não investe contra, porfia; sofrendo, não promove a revolta, vence-a.
Estância de paz, toma-se veículo do otimismo, contribuindo valiosamente para a mudança da paisagem em agonia da atualidade.
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Harmoniza-te em Jesus e esparze esperança, constituindo-te fortaleza contra o mal, lição viva de confiança, lentamente transformando o meio onde te encontras situado, de modo a vencer pela resistência pacífica a onda de provações necessárias para a Humanidade neste momento de transição histórica.
                                                    *
O egoísmo é o inimigo poderoso contra o qual todos devem voltar-se com disposição de ânimo e decisão.
Insculpindo n’alma as bênçãos da caridade, serão superados todos os fatores perturbantes que afetam o homem, e a violência como a agressividade serão banidas da Terra em definitivo.
Entrega-te, portanto, a Jesus e n’Ele confia, “não fazendo ao teu próximo, o que não desejares que ele te faça.”

Joanna de Ângelis / Divaldo Franco – Livro: Alerta