sábado, 16 de maio de 2020

Renascimento


A vida morre ou se desestrutura nas moléculas que a expressam para logo depois renascer. Tudo se decompõe e volta a reconstituir-se.
O incessante fenômeno da transformação molecular é inerente à condição de transitoriedade de todas as formas e coisas. Morre uma expressão e surge outra. O movimento vida-morte-vida obedece ao fluxo ininterrupto da imortalidade.
Somente eterno é o Espírito, que transita entre uma e outra aparência orgânica para atingir a excelsa destinação que lhe está reservada.
Essa é a fatalidade estabelecida pelo Pai Criador para todas as expressões sencientes do Universo. Mediante os renascimentos em diferentes etapas, o princípio espiritual desenvolve a consciência adormecida e todos os conteúdos da imagem e semelhança de Deus.
A semente, que possui o germe da vida, a fim de fazê-la desabrochar em plenitude, necessita ser sepultada no solo para morrer, quando então desperta e faz-se exuberante.
Também para o Espírito, torna-se indispensável envolver-se na indumentária material, propiciando-se a renovação de energias para desatar a divindade que nele dorme e que o convida a ininterrupto crescimento.
Cada existência orgânica constitui uma etapa através da qual os valores internos fixam-se na consciência, facultando novos investimentos-luz para a viagem de sublimação.
Libertando-se das camadas mais toscas e grosseiras do primarismo por onde inicia a jornada evolutiva, alcança os patamares do sentimento e da razão, programando-se a conquista da angelitude que poderá desfrutar desde o momento que se lhe imponham as intenções de autossuperação.
Renascer da carne e do Espírito, conforme acentuou Jesus no seu momentoso diálogo com o doutor da Lei, Nicodemos, significa sim a imantação nas moléculas constitutivas da germinação que se encarrega de construir o zigoto, depois o feto e, por fim, o ser humano.
Condensando a água que vitaliza com energia a forma física, nela imprime os equipamentos que lhe são necessários, graças às experiências transatas que lhe facultaram aquisição de implementos morais e vivenciais para atingir a meta.
Renasce a planta após a devastação da tormenta. Renascem os rios e fontes depois do ardor do verão sob as bênçãos da chuva.
Renascem os sentimentos passadas as ocorrências dilaceradoras.
Renasce a vida em todos os fenômenos conhecidos ou não.
Renasce o Espírito no corpo físico buscando a grande luz.
A experiência evolutiva começa na noite do minério e ruma para a claridade estelar da arcangelitude. É necessário nascer, morrer e renascer, conquistando níveis de sabedoria nos quais o amor e o conhecimento confraternizem em clima de libertação.
Somente através dos instrumentos que facultam o renascimento do corpo, lapida-se o Espírito que faz desabrochar todas as potencialidades adormecidas para cuja finalidade encontra-se no processo de evolução da felicidade.
Necessário desalgemar-se das imperfeições, a fim de unir os sentimentos na construção da felicidade.
Há muita paisagem bela pelo caminho esperando contemplação.
No entanto, é necessário seguir adiante e vencer as muitas milhas que estão aguardando na estrada do progresso.
Quem se detém, seja por qual motivo for, transfere a oportunidade de conquistar o infinito. O hoje desempenha papel de fundamental importância na aquisição do futuro. Torna-se, portanto, indispensável investir em luz o que se possui em sombra, que deve ser transformada em claridade de amor e misericórdia.
São o amor e a misericórdia do Pai que facultam ao endividado resgatar o débito e ao calceta, o ensejo de reparar o delito. Da mesma maneira, cabe ao ser humano repartir a esperança, conceder ensejo de reparação, ampliar o perdão, a fim de que o seu próximo na retaguarda tenha acesso a outros patamares da emoção e da cultura, para saber, para discernir e para amar sem preconceito nem limitação.
O renascimento surge na árvore vergastada pela poda rude, abrindo-se em verdor, flores e frutos.
Sem qualquer ressentimento pelas ocorrências destrutivas que, em realidade, são apenas ocasiões transformadoras, a vida ressurge do pântano pela drenagem, do deserto pela fertilização, abençoando o mundo e todos os seres.
Morrer, desse modo, é conquistar novo campo vibratório para fortalecer as resistências e renascer crescendo na direção de Deus.
Nunca temas, nem a morte, nem a vida.
Renascerás após o trânsito espiritual conduzindo os tesouros que acumulaste na Terra e no mundo extracorpóreo, que te facultarão melhores investimentos em benefício próprio e da humanidade.
Todo renascimento é festa de compaixão pelo trânsfuga do dever. Renascendo, a paisagem está sempre rica de cor, de alimentos, de vida.
O renascimento na carne é a reconciliação do Espírito consigo mesmo, facultando-se ensejo novo para aprender e para viver melhor.
Quando a noite moral te envolver em sofrimentos inesperados e deixar-te em expectativas mais inquietadoras, não olvides que a semente que não morrer, não viverá, conforme acentuou Jesus.
Assim, todo aquele que não passar pela porta estreita do testemunho, não poderá contemplar a madrugada exuberante da imortalidade.
Jamais deixes que a esperança desapareça dos teus sentimentos.
Quando morram determinados objetivos, permanece no bem e renascerão todos eles em forma de novos desafios para o teu crescimento.


Divaldo Franco / Joanna de Ângelis – Livro: Nascente de Bênçãos

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Perto de Deus

Entre a alma, prestes a reencarnar na Terra, e o Mensageiro Divino travou-se expressivo diálogo:

- Anjo bom – disse ela -, já fiz numerosas romagens no mundo. Cansei-me de prazeres envenenados e posses inúteis... Se posso pedir algo, desejaria agora colocar-me em serviço, perto de Deus, embora deva achar-me entre os homens...

- Sabes efetivamente a que aspiras? Que responsabilidade procuras? – replicou o interpelado. – Quando falham aqueles que servem à vida, perto de Deus, a obra da vida, em torno deles, é perturbada nos mais íntimos mecanismos.

- Por misericórdia, anjo amigo! Dar-me-ás instruções...

- Conseguirás aceitá-las?

- Assim espero, com o amparo do Senhor.

- O Céu, então, conceder-te-á o que solicitas.

- Posso informar-me quanto ao trabalho que me aguarda?

- Porque estarás mais perto de Deus, conquanto entre os homens, recolherás dos homens o tratamento que eles habitualmente dão a Deus...

- Como assim?

- Amarás com todas as fibras de teu espírito, mas ninguém conhecerá, nem te avaliará as reservas de ternura!... Viverás abençoando e servindo, qual se carregasses no próprio peito a suprema felicidade e o desespero supremo. Nunca te fartarás de dar e os que te cercarem jamais se fartarão de exigir...

- Que mais?

- Dar-te-ão no mundo um nome bendito, como se faz com o Pai Celestial, contudo, qual se faz igualmente até hoje na Terra com o Todo Misericordioso, reclamar-se-á tudo de ti, sem que se te dê coisa alguma. Embora detendo o direito de fulgir à luz do primeiro lugar nas assembleias humanas, estarás na sombra do último...

Nutrirás as criaturas queridas com a essência do próprio sangue; no entanto, serás apartada geralmente de todas elas, como se o mundo esmerasse em te apunhalar o coração. Muitas vezes, serás obrigada a sorrir, engolindo as próprias lágrimas, e conhecerás a verdade com a obrigação de respeitar a mentira... Conquanto venhas a residir no regozijo oculto da vizinhança de Deus, respirarás no fogo invisível do sofrimento!...

- Que mais?

- Adorarás as outras criaturas para que brilhem nos salões da beleza ou nos torneios da inteligência; entretanto, raras te guardarão na memória, quando erguidas ao fausto do poder ou ao delírio da fama. Produzirás o encanto da paz; todavia, quando os homens se inclinem à guerra, serás impotente para afastar-lhes o impulso homicida...

Por isso mesmo, debalde chorarás quando se decidirem ao extermínio uns dos outros, de vez que te acharás perto do Todo Sábio e, por enquanto, o Todo Sábio é o Grande Anônimo, entre os povos da Terra...

- Que mais?

- Todas as profissões no Planeta são honorificadas com salários correspondentes às tarefas executadas, mas o teu ofício, porque estejas em mais íntima associação com o Eterno e para que não comprometas a Obra da Divina Providência, não terá compensações amoedadas.

Outros seareiros da Vinha terrestre serão beneficiados com a determinação de horários especiais; contudo, já que o Supremo Pai serve dia e noite, não disporás de ocasiões para descanso certo, porquanto o amor te colocará em permanente vigília!...

Não medirás sacrifícios para auxiliar, com absoluto esquecimento de ti; no entanto, verás teu carinho e abnegação apelidados, quase sempre, por fanatismo e loucura...

Zelarás pelos outros, mas os outros muito dificilmente se lembrarão de zelar por ti...

Farás o pão dos entes amados...

Na maioria das circunstâncias, porém, serás a última pessoa a servir-se dos restos da mesa, e, quando o repouso felicite aqueles que te consumirem as horas, velarás, noite a dentro, sozinha e esquecida, entre a prece de Deus, e, em razão disso, terás por dever agir com o ilimitado amor com que Deus ama...

- Anjo bom – disse a Alma, em pranto de emoção e esperança -, que missão será essa?

O Emissário Divino endereçou-lhe profundo olhar e respondeu num gesto de bênção:

- Serás mãe!...


Chico Xavier / Irmão X – Livro: Mãe

Conduta - Em casa


Liberdade

“Não useis, porém, da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pela caridade.” – Paulo (Gálatas, 5:13)

 

Em todos os tempos, a liberdade foi utilizada pelos dominadores da Terra.

Em variados setores da evolução humana, os mordomos do mundo aproveitam-na para o exercício da tirania, usam-na os servos em explosões de revolta e descontentamento.

Quase todos os habitantes do Planeta pretendem a exoneração de toda e qualquer responsabilidade, para se mergulharem na escravidão aos delitos de toda sorte.

Ninguém, contudo, deveria recorrer ao Evangelho para aviltar o sublime princípio.

A palavra do apóstolo aos gentios é bastante expressiva. O maior valor da independência relativa de que desfrutamos reside na possibilidade de nos servirmos uns aos outros, glorificando o bem.

O homem gozará sempre da liberdade condicional e, dentro dela, pode alterar o curso da própria existência, pelo bom ou mau uso de semelhante faculdade nas relações comuns.

É forçoso reconhecer, porém, que são muito raros os que se decidem à aplicação dignificante dessa virtude superior.

Em quase todas as ocasiões, o perseguido, com oportunidade de desculpar, mentaliza represálias violentas; o caluniado, com ensejo de perdão divino, recorre à vingança; o incompreendido, no instante azado de revelar fraternidade e benevolência, reclama reparações.

Onde se acham aqueles que se valem do sofrimento, para intensificar o aprendizado com Jesus Cristo? Onde os que se sentem suficientemente livres para converter espinhos em bênçãos? No entanto, o Pai concede relativa liberdade a todos os filhos, observando-lhes a conduta.

Raríssimas são as criaturas que sabem elevar o sentido da independência a expressões de voo espiritual para o Infinito. A maioria dos homens cai, desastradamente, na primeira e nova concessão do Céu, transformando, às vezes, elos de veludo em algemas de bronze.


Livro Vinha de Luz – Emmanuel por Chico Xavier – Lição 128

No domínio das provas


Imaginemos um pai que, a pretexto de amor, decidisse furtar um filho querido de toda relação com os revezes do mundo.

Semelhante rebento de tal devoção afetiva seria mantido em sistema de exceção.

Para evitar acidentes climáticos inevitáveis, descansaria exclusivamente na estufa, durante a fase de berço e, posto a cavaleiro, de perigos e vicissitudes, mal terminada a infância, encerrar-se-ia numa cidadela inexpugnável, onde somente prevalecesse a ternura paterna, a empolgá-lo de mimos.

 Não frequentaria qualquer educandário, a fim de não aturar professores austeros ou sofrer a influência de colegas que não lhe respirassem o mesmo nível; alfabetizado, assim, no reduto doméstico, apreciaria unicamente os assuntos e heróis de ficção que o genitor lhe escolhesse.

 Isolar-se-ia de todo o contato humano para não arrostar problemas e desconheceria todo o noticiário ambiente para não recolher informações que lhe desfigurassem a suavidade interior.

 Candura inviolável e ignorância completa.

 Santa inocência e inaptidão absoluta.

 Chega, porém, o dia em que o genitor, naturalmente vinculado a interesses outros, se ausenta compulsoriamente do lar e, tangido pela necessidade, o moço é obrigado a entrar na corrente da vida comum.

 Homem feito, sofre o conflito da readaptação, que lhe rasga a carne e a alma, para que se lhe recupere o tempo perdido, e o filho acaba, enxergando insânia e crueldade onde o pai supunha cultivar preservação e carinho.

 A imagem ilustra claramente a necessidade da encarnação e da reencarnação do espírito nos mundos; inumeráveis da imensidade cósmica, de maneira a que se lhe apurem as qualidades e se lhe institua a responsabilidade na consciência.

 Dificuldades e lutas semelham materiais didáticos na escola ou andaimes na construção; amealhada a cultura, ou levantado o edifício, desaparecem uns e outros.

 Abençoemos, pois, as disciplinas e as provas com que a Infinita Sabedoria nos acrisolam as forças, enrijando-nos o caráter.

 Ingenuidade é predicado encantador na personalidade, mas se o trabalho não a transfigura em tesouro de experiência, laboriosamente adquirido, não passará de flor preciosa a confundir-se no pó da terra, ao primeiro golpe de vento.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Coragem

sábado, 2 de maio de 2020

Nem todos os aflitos


A aflição é um desafio que poucos suportam, lição que raros aprendem e tesouro que não se recebe facilmente.

Depois de regulares períodos de paz e ordem, a alma é visitada pela aflição que, em nome da Sabedoria Divina, lhe afere os valores e conquistas.

Raros, porém, são aqueles que a recebem dignamente.

O impulsivo, quase sempre, converte-a em crime ou falta grave.

O impaciente faz dela a escura paisagem do desespero, onde perde as melhores oportunidades de servir.

O triste desvaloriza-lhe as sugestões e dorme sobre as probabilidades de autossuperação, em longas e pesadas horas de choro e desânimo.

O ingrato transforma-a em calhaus com que apedreja o nome e o serviço de companheiros e vizinhos.

O indiferente foge-lhe aos avisos como quem escapa impensadamente da orientadora que lhe renovaria os destinos.

O leviano esquece-lhe os ensinamentos e perde o ensejo de elevar-se, por sua influência, a planos mais altos.

O espírito prudente, contudo, recebe a aflição como o oleiro que encontra no fogo o único recurso para imprimir solidez e beleza ao vaso que o gênio idealiza.

Se a tempestade purifica e se o fel, por vezes, é o exclusivo medicamento da cura, a aflição é a porta de acesso ao engrandecimento espiritual.

Só aquele que a recebe por instrumento de perfeição consegue extrair-lhe as preciosidades divinas. É por isso que nem todos os aflitos podem ser bem-aventurados, de vez que, somente aproveitando a dor para a materialização consistente de nossos ideais e de nossos sonhos, é que podemos atingir a divina alegria da esperança vitoriosa, na criação sublime de aprimoramento eterno, a que todos somos chamados pela vida comum, nas lutas de cada dia.

Emmanuel / Chico Xavier – Revista Reformador – junho/1954