A aflição é um desafio que poucos suportam,
lição que raros aprendem e tesouro que não se recebe facilmente.
Depois de regulares períodos de paz e ordem,
a alma é visitada pela aflição que, em nome da Sabedoria Divina, lhe afere os
valores e conquistas.
Raros, porém, são aqueles que a recebem
dignamente.
O impulsivo, quase sempre, converte-a em
crime ou falta grave.
O impaciente faz dela a escura paisagem do
desespero, onde perde as melhores oportunidades de servir.
O triste desvaloriza-lhe as sugestões e
dorme sobre as probabilidades de autossuperação, em longas e pesadas horas de
choro e desânimo.
O ingrato transforma-a em calhaus com que
apedreja o nome e o serviço de companheiros e vizinhos.
O indiferente foge-lhe aos avisos como quem
escapa impensadamente da orientadora que lhe renovaria os destinos.
O leviano esquece-lhe os ensinamentos e
perde o ensejo de elevar-se, por sua influência, a planos mais altos.
O espírito prudente, contudo, recebe a
aflição como o oleiro que encontra no fogo o único recurso para imprimir
solidez e beleza ao vaso que o gênio idealiza.
Se a tempestade purifica e se o fel, por
vezes, é o exclusivo medicamento da cura, a aflição é a porta de acesso ao
engrandecimento espiritual.
Só aquele que a recebe por instrumento de
perfeição consegue extrair-lhe as preciosidades divinas. É por isso que nem
todos os aflitos podem ser bem-aventurados, de vez que, somente aproveitando a
dor para a materialização consistente de nossos ideais e de nossos sonhos, é
que podemos atingir a divina alegria da esperança vitoriosa, na criação sublime
de aprimoramento eterno, a que todos somos chamados pela vida comum, nas lutas
de cada dia.
Emmanuel
/ Chico Xavier – Revista Reformador – junho/1954
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