sexta-feira, 23 de outubro de 2020
domingo, 18 de outubro de 2020
Kardec, obrigado!
Kardec,
enquanto recebes as homenagens do mundo, pedimos vênia para associar nosso
preito singelo de amor aos cânticos de reconhecimento que te exalçam a obra
gigantesca nos domínios da libertação espiritual.
Não nos referimos aqui ao professor emérito que foste, mas ao discípulo de Jesus que possibilitou o levantamento das bases do Espiritismo Cristão, cuja estrutura desafia a passagem do tempo.
Falem outros dos títulos de cultura que te exornavam a personalidade, do prestígio que desfrutavas na esfera da inteligência, do brilho de tua presença nos fastos sociais, da glória que te ilustrava o nome, de vez que todas as referências à tua dignidade pessoal nunca dirão integralmente o exato valor de teus créditos humanos.
Reportar-nos-emos ao amigo fiel do Cristo e da Humanidade, em agradecimento pela coragem e abnegação com que te esqueceste para entregar ao mundo a mensagem da Espiritualidade Superior.
E, rememorando o clima de inquietações e dificuldades em que, a fim de reacender a luz do Evangelho, superaste injúria e sarcasmo, perseguição e calúnia, desejamos expressar-te o carinho e a gratidão de quantos edificaste para a fé na imortalidade e na sabedoria da vida.
O Senhor te engrandeça por todos aqueles que emancipaste das trevas e te faça bendito pelos que se renovaram perante o destino à força de teu verbo e de teu exemplo!…
Diante de ti, enfileiram-se, agradecidos e reverentes, os que arrebataste à loucura e ao suicídio com o facho da esperança.
Os que arrancaste ao labirinto da obsessão com o esclarecimento salvador;
Os pais desditosos que se viram atormentados por filhos insensíveis e delinquentes, e os filhos agoniados que se encontraram na vala da frustração e do abandono pela irresponsabilidade dos pais em desequilíbrio e que foram reajustados por teus ensinamentos, em torno da reencarnação;
Os que renasceram em dolorosos conflitos da alma e se reconheceram, por isso, esmagados de angústia nas brenhas da provação, e os quais livraste da demência, apontando-lhes as vidas sucessivas;
Os que se acharam arrasados de pranto, tateando a lousa na procura dos entes queridos que a morte lhes furtou dos braços ansiosos, e aos quais abriste os horizontes da sobrevivência, insuflando-lhes renovação e paz, na contemplação do futuro;
Os que soergueste do chão pantanoso do tédio e do desalento, conferindo-lhes, de novo, o anseio de trabalhar e a alegria de viver;
Os que aprenderam contigo o perdão das ofensas e abençoaram, em prece, aqueles mesmos companheiros da Humanidade que lhes apunhalaram o espírito, a golpes de insulto e de ingratidão;
Os que te ouviram a palavra fraterna e aceitaram com humildade a injúria e a dor por instrumento de redenção;
E os que desencarnaram incompreendidos ou acusados sem crime, abraçando-te as páginas consoladoras que molharam com as próprias lágrimas…
Todos nós, os que levantaste do pó da inutilidade ou do fel do desencanto para as bênçãos da vida, estamos também diante de ti!… E, identificando-nos na condição dos teus mais apagados admiradores e com os últimos dos teus mais pobres amigos, comovidamente, em tua festa, nós te rogamos permissão para dizer: “Kardec, obrigado!… Muito obrigado!…”
Irmão
X
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Cuidados
“Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã, cuidará de si mesmo”. Jesus (Mateus, 6:34)
Os
preguiçosos de todos os tempos nunca perderam o ensejo de interpretar falsamente
as afirmativas evangélicas.
A
recomendação de Jesus, referente à inquietude, é daquelas que mais se prestaram
aos argumentos dos discutidores ociosos.
Depois
de reportar-se o Cristo aos lírios do campo, não foram poucos os que reconheceram
a si mesmos na condição de flores, quando não passam, ainda, de plantas
espinhosas.
Decididamente,
o lírio não fia, nem tece, consoante o ensinamento do Senhor, mas cumpre a
vontade de Deus. Não solicita a admiração alheia, floresce no jardim ou na
terra inculta, dá seu perfume ao vento que passa, enfeita a alegria ou conforta
a tristeza, é útil à doença e à saúde, não se revolta quando fenece o brilho que
lhe é próprio ou quando mãos egoístas o separam do berço em que nasceu.
Aceitaria
o homem inerte o padrão do lírio, em relação à existência na comunidade?
Recomendou
Jesus não guarde a alma qualquer ânsia nociva, relativamente à comida, ao
vestuário ou às questões acessórias do campo material; asseverou que o dia,
constituindo a resultante de leis gerais do Universo, atenderia a si próprio.
Para
o discípulo fiel, agasalhar-se e alimentar-se são verbos de fácil conjugação e
o dia representa oportunidade sublime de colaboração na obra do bem.
Mas
basear-se nessas realidades simples para afirmar que o homem deva marchar, sem
cuidado consigo, seria menoscabar o esforço do Cristo, convertendo-lhe a plataforma
salvadora em campanha de irresponsabilidade.
O
homem não pode nutrir a pretensão de retificar o mundo ou os seus semelhantes
de um dia para outro, atormentando-se em aflições descabidas, mas deve ter
cuidado de si, melhorando-se, educando-se e iluminando-se, sempre mais.
Realmente,
a ave canta, feliz, mas edifica a própria casa.
A
flor adorna-se, tranquila; entretanto, obedece aos desígnios do Eterno.
O
homem deve viver confiante, sempre atento, todavia, em engrandecer-se na
sabedoria e no amor para a obra divina da perfeição.
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
Minha missão
Pergunta
(à Verdade)
– Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns Espíritos
me assinaram. Dize-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor próprio. Tenho,
como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade, mas, do
papel de simples trabalhador ao de missionário em chefe, a distância é grande e
não percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a tantos
outros que possuem talento e qualidades de que não disponho.
Resposta – Confirmo o que te
foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás
mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende.
Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso, outro te
substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um
homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria a maneira de a fazeres
malograr-se. Ela somente pode justificar-se pela obra realizada e tu ainda nada
fizeste. Se a cumprires, os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou tarde, visto
que pelos frutos é que se verifica a qualidade da árvore.
P. – Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de
uma missão na qual dificilmente creio. Se estou destinado a servir de
instrumento aos desígnios da Providência, que ela disponha de mim. Nesse caso,
reclamo a tua assistência e a dos bons Espíritos, no sentido de me ajudarem e ampararem
na minha tarefa.
R. – A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se,
de teu lado, não fizeres o que for necessário. Tens o teu livre-arbítrio, do
qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem é constrangido a fazer coisa alguma.
P. – Que causas
poderiam determinar o meu malogro? Seria a insuficiência das minhas capacidades?
R. – Não, mas a
missão dos reformadores é prenhe de escolhos e perigos. Previno-te de que é
rude a tua, porquanto se trata de abalar e transformar o mundo inteiro. Não
suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida
ficares tranquilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra
ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda;
ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que
te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e
falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra:
terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da
tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias
muito mais tempo. Ora bem! Não poucos recuam quando, em vez de uma estrada
florida, só veem sob os passos urzes, pedras agudas e serpentes. Para tais
missões, não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para agradar a
Deus, humildade, modéstia e desinteresse, visto que Ele abate os orgulhosos, os
presunçosos e os ambiciosos. Para lutar contra os homens, são indispensáveis coragem,
perseverança e inabalável firmeza. Também são de necessidade prudência e tato,
a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito
com palavras ou medidas intempestivas. Exigem-se, por fim, devotamento,
abnegação e disposição a todos os sacrifícios.
Vês,
assim, que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti.
Espírito Verdade
Eu – Espírito Verdade, agradeço os teus sábios conselhos.
Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.
Senhor!
Pois que te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus
desígnios, faça-se a tua vontade! Está nas tuas mãos a minha vida; dispõe do
teu servo. Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa
vontade não desfalecerá, as forças, porém, talvez me traiam. Supre à minha
deficiência; dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias.
Ampara-me nos momentos difíceis e, com o teu auxílio e dos teus celestes
mensageiros, tudo envidarei para corresponder aos teus desígnios.
quarta-feira, 14 de outubro de 2020
Allan Kardec, o educador
Perguntas
me inquietam ao tentar compreender o Espiritismo. O que levou o educador Allan
Kardec a desenvolver pesquisas psíquicas e lançar as bases do Espiritismo? Por
que a sua obra diferencia-se de todas as outras obras espíritas?
Hippolyte Leon Denizard Rivail nasceu em Lion, França, em 1804. Dos 10 aos 15 anos estudou em Yverdon, Suíça, no célebre instituto do professor-filantropo Johann H. Pestalozzi. Frases de Pestalozzi sugerem que o ambiente em que Rivail consolidou sua personalidade, valorizava o sentimento e a educação integral através da prática, da observação e da convivência. “O principal do que digo, eu vi. E muito do que aconselho, eu fiz... Tudo o que digo repousa... em minhas experiências reais”, “A manifestação do amor é a salvação do mundo!... É o fio que liga o globo terrestre... que liga Deus e o homem”. “A educação (provém) ... do reconhecimento das imutáveis leis da nossa natureza... o objetivo final da educação não é o de aperfeiçoar as noções escolares, mas sim o de preparar para a vida; não de dar o hábito da obediência cega... mas de preparar para o agir autônomo”.
Convicto do poder da educação e com forte senso de obrigação social, Rivail realizou intensa e precoce atividade literária e pedagógica. Chegou a Paris em 1820, se pôs a lecionar e a traduzir obras inglesas e alemãs. Lançou seu primeiro livro em 1823, com 18 anos. Até 1850 publicou 22 obras de ensino pré-universitário sobre pedagogia, mitologia, física, química, astronomia, fisiologia, aritmética, cálculo e gramática. Em 1825, com 20 anos, começou a dirigir uma “Escola de Primeiro Grau”. Em 1826 fundou o instituto técnico “Instituição Rivail”. Com 24 anos, escreveu em seu Plano para a Melhoria da Educação Pública: “A educação exige um estudo especial... conhecimento profundo do coração humano e da psicologia moral... a educação não se limita apenas à instrução... todas as partes... são... estreitamente ligadas...” “A grande diferença entre um professor (se limita a ensinar) e um educador (encarregado do desenvolvimento inteiro do homem)”. “Educação é o resultado do conjunto de hábitos adquiridos... resultado de todas as impressões que os provocavam”. “A inteligência deve ser desenvolvida desde cedo, como a moral, e não é sobrecarregando a memória... mas enriquecendo a imaginação de ideias justas...” Complementa em 1834: “Tudo é intelectual, tudo é moral”. “Conheça o movimento dos astros e seu espírito penetre no espaço; tudo isso está ao alcance... da adolescência. Então, não será, como um bruto, indiferente a tudo o que maravilha seu olhar; então não mais acreditará em almas do outro mundo, nem em fantasmas; não mais tomará fogos-fátuos por espíritos; não mais acreditará nos ledores de sorte... seu espírito se alargará contemplando o espaço imenso e sem limites”. Em 1857 volta a lançar livros, agora sobre Espiritismo, com o pseudônimo de Allan Kardec. Até seu desencarne, em 1869, publicou, pelo menos, 8 obras espíritas. Dos aproximadamente 188 textos que Kardec insere entre as perguntas de O Livro dos Espíritos, 39 estão diretamente relacionadas à educação. Qual força foi capaz de transformar o jovem Rivail, cético do mundo espiritual, no grande codificador do Espiritismo aos 53 anos?
Com intensa atividade intelectual e confiança na ciência para alcançar a verdade, em 1823, com 19 anos, iniciou seus estudos sobre o magnetismo. Ao longo de sua vida associou-se a 12 Academias científicas. Até meados do século XIX a ciência não era uma atividade profissional, e criavam-se academias para debater e aprimorar estes conhecimentos.
Rivail nos define a educação como um ato moral de argumentação racional. Sua confiança no método científico o fez mudar de paradigma, aceitou a existência dos Espíritos desencarnados, porém manteve-se fiel ao seu sonho, definido aos 30 anos com paixão e racionalidade: “a educação é a obra da minha vida, não faltarei à minha missão... inimigo de todo charlatanismo, não tenho o tolo orgulho de acreditar cumpri-la com perfeição, mas tenho ao menos a convicção de cumpri-la com consciência”. Seu entusiasmo com o Espiritismo provém não da descoberta científica da comunicabilidade da alma, mas da percepção de que este conhecimento transformaria os conceitos humanos, desenvolvendo a moral. Sua obra não se limita na ciência, religião ou filosofia, transcende-as ao tornar-se uma obra educadora, busca convencer racionalmente, baseada em fatos vividos cientificamente, com linguagem simples para ser acessível a todos. Outros filósofos e cientistas espíritas não tiveram a envergadura educadora e o engajamento social de Kardec.
Pergunto-me se poderemos completar a utopia de Kardec e transformar o Espiritismo em uma eficiente ferramenta social de educação moral em nosso tempo. Parece-me que precisamos ser mais apaixonados pela educação, mais comprometidos em agir moralmente e em estimular a autonomia, a racionalidade e a atitude científica do Homem.
Bibliografia:
O Livro dos Espíritos (Allan Kardec)
Pestalozzi: educação e ética (Dora Incontri),
Textos Pedagógicos: Hippolyte Léon Denizard
Rivail (Dora Incontri)
Allan Kardec: o educador e codificador (Zêus
Wantuil e Francisco Thiesen).
terça-feira, 13 de outubro de 2020
Ressuscitará
“Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.” (João, 11:23)
Há
muitos séculos, as escolas religiosas do Cristianismo revestiram o fenômeno da
morte de paisagens deprimentes.
Padres
que assumem atitudes hieráticas, ministros que comentam as flagelações do
inferno, catafalcos negros e panos de luto.
Que
poderia criar tudo isso senão o pavor instintivo e o constrangimento obrigatório?
Ninguém
nega o sofrimento da separação, espírito algum se furtará ao plantio da saudade
no jardim interior. O próprio Cristo emocionou-se junto ao sepulcro de Lázaro.
Entretanto, a comoção do Celeste Amigo edificava-se na esperança, acordando a
fé viva nos companheiros que o ouviam. A promessa d’Ele, ao carinho fraternal
de Marta, é bastante significativa.
“Teu
irmão há de ressuscitar” asseverou o Mestre.
Daí
a instantes, Lázaro era restituído à experiência terrestre, surpreendendo os
observadores do inesperado acontecimento.
Gesto
que se transformou em vigoroso símbolo, sabemos hoje que o Senhor nos reergue,
em toda parte, nas esferas variadas da vida. Há ressurreição vitoriosa e sublime
nas zonas carnais e nos círculos diferentes que se dilatam ao infinito.
O
espírito mais ensombrado no sepulcro do mal e o coração mais duro são arrancados
das trevas psíquicas para a luz da vida eterna.
O
Senhor não se sensibilizou tão somente por Lázaro. Amigo Divino, a sua mão
carinhosa se estende a nós todos.
Reponhamos
a morte em seu lugar de processo renovador e enchei-vos de confiança no futuro,
multiplicando as sementeiras de afeições e serviços santificantes.
Quando
perderdes temporariamente a companhia direta de um ente amado, recordai as
palavras do Cristo; aquela reduzida família de Betânia é a miniatura da imensa
família da Humanidade.
segunda-feira, 12 de outubro de 2020
A minha primeira iniciação no Espiritismo
Foi em 1854 que pela primeira vez ouvi falar das mesas girantes.
Encontrei
um dia o magnetizador, Sr. Fortier, a quem eu conhecia desde muito tempo e que
me disse: “Já sabe da singular propriedade que se acaba de descobrir no
Magnetismo? Parece que já não são somente as pessoas que se podem magnetizar,
mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem e caminhem à vontade.” “É,
com efeito, muito singular” — respondi —; “mas, a rigor, isso não me parece
radicalmente impossível. O fluido magnético, que é uma espécie de eletricidade,
pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e fazer que eles se movam.” Os
relatos, que os jornais publicaram, de experiências feitas em Nantes, em
Marselha e em algumas outras cidades, não permitiam dúvidas acerca da realidade
do fenômeno.
Algum
tempo depois, encontrei-me novamente com o Sr. Fortier, que me disse: “Temos uma
coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova,
magnetizando-a, como também que fale.
Interrogada,
ela responde.” “Isto agora” — repliquei-lhe —, “é outra questão. Só acreditarei
quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos
para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no
caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé”. (...)
Eu
estava, pois, diante de um fato inexplicado, aparentemente contrário às Leis da
Natureza e que a minha razão repelia. Ainda nada vira, nem observara; as
experiências, realizadas em presença de pessoas honradas e dignas de fé,
confirmavam a minha opinião, quanto à possibilidade do efeito puramente
material; a ideia, porém, de uma mesa falante ainda não me entrara na mente.
No
ano seguinte, estávamos em começo de 1855, encontrei-me com o Sr. Carlotti,
amigo de 25 anos, que me falou daqueles fenômenos durante cerca de uma hora,
com o entusiasmo que consagrava a todas as ideias novas. (...)
Foi
o primeiro que me falou na intervenção dos Espíritos e me contou tantas coisas
surpreendentes que, longe de me convencer, me aumentou as dúvidas. “Um dia, o
senhor será dos nossos”, concluiu. “Não direi que não”, respondi-lhe; “veremos
isso mais tarde.”
Passado algum tempo, pelo mês de maio de 1855, fui à casa da sonâmbula Sra. Roger, em companhia do Sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrei o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que daqueles fenômenos me falaram no mesmo sentido em que o Sr. Carlotti se pronunciara, mas em tom muito diverso. O Sr. Pâtier era funcionário público, já de certa idade, muito instruído, de caráter grave, frio e calmo; sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, produziu em mim viva impressão e, quando me convidou a assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. Plainemaison, à Rua Grange-Batelière, 18, aceitei imediatamente. A reunião foi marcada para terça-feira,18 de maio às oito horas da noite.
Foi
aí que, pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam,
saltavam e corriam em condições tais que não deixavam lugar para qualquer
dúvida. Assisti então a alguns ensaios, muito imperfeitos, de escrita mediúnica
numa ardósia, com o auxílio de uma cesta. Minhas ideias estavam longe de
precisar-se, mas havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa.
Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles
fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que
tomei a mim estudar a fundo.
Bem
depressa, ocasião se me ofereceu de observar mais atentamente os fatos, como
ainda o não fizera. Numa das reuniões da Sra. Plainemaison, travei conhecimento
com a família Baudin, que residia então à Rua Rochechouart. (...)
Os médiuns eram as duas senhoritas Baudin, que
escreviam numa ardósia com o auxílio de uma cesta, chamada carrapeta e que se
encontra descrita em O livro dos médiuns. Esse processo, que exige o concurso
de duas pessoas, exclui toda possibilidade de intromissão das ideias do médium.
Aí,
tive ensejo de ver comunicações contínuas e respostas a perguntas formuladas, algumas
vezes, até perguntas mentais, que acusavam, de modo evidente, a intervenção de
uma inteligência estranha. (...)
Foi
nessas reuniões que comecei os meus estudos sérios de Espiritismo, menos,
ainda, por meio de revelações do que de observações. Apliquei a essa nova
ciência, como o fizera até então, o método experimental; nunca elaborei teorias
preconcebidas; observava cuidadosamente, comparava, deduzia consequências; dos
efeitos procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico
dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas
as dificuldades da questão.
Foi
assim que procedi sempre em meus trabalhos anteriores, desde a idade de 15 a 16
anos. Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender;
percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão
controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara
em toda a minha vida. Era, em suma, toda uma revolução nas ideias e nas
crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção, e não
levianamente; ser positivista, e não idealista, para não me deixar iludir.
Um
dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos,
nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria,
nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao grau,
que haviam alcançado, de adiantamento, e que a opinião deles só tinha o valor
de uma opinião pessoal. Reconhecida desde o princípio, esta verdade me
preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu
de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou alguns
deles. (...)
Conduzi-me,
pois, com os Espíritos, como houvera feito com homens. Para mim, eles foram, do
menor ao maior, meios de me informar, e não reveladores
predestinados.
Tais
as disposições com que empreendi meus estudos e neles prossegui sempre.
Observar, comparar e julgar, essa a regra que constantemente segui. (...) Allan
Kardec
quinta-feira, 8 de outubro de 2020
Ante os pequeninos
A criança é uma edificação espiritual dos responsáveis por ela.
Não existe criança ‐ nem uma só ‐ que não
solicite amor e auxílio, educação e entendimento.
Cada pequenino, conquanto seja, via de regra, um espírito adulto, traz o cérebro extremamente sensível pelo fato de estar reiniciando o trabalho da reencarnação, tornando‐se, por isso mesmo, um observador rigorista de tudo o que você fala ou faz.
A mente infantil dar‐nos‐á de volta, no futuro, tudo aquilo que lhe dermos agora.
Toda criança é um mundo espiritual em construção ou reconstrução, solicitando material digno a fim de consolidar‐se.
Ajude os meninos de hoje a pensar com
acerto dialogando com eles, dentro das normas do respeito e sinceridade que
você espera dos outros em relação a você.
A criança é um capítulo especial no livro do seu dia a dia.
Não tente transfigurar seus filhinhos em bibelôs, apaixonadamente guardados, porque são eles espíritos eternos, como acontece a nós, e chegará o dia em que despedaçarão perante você mesmo quaisquer amarras de ilusão.
Se você encontra algum pirralho de maneiras desabridas ou de formação inconveniente, não estabeleça censura, reconhecendo que o serviço de reeducação dele, na essência, pertence aos pais ou aos responsáveis e não a você.
Se veio a sofrer algum prejuízo em casa, por depredações de pequeninos travessos, esqueça isso, refletindo no amor e na consideração que você deve aos adultos que respondem por eles.
Estudo de O Livro dos Médiuns
Estudando O
Livro dos Médiuns será uma série de estudos promovidos por
Jacobson Trovão, coordenador nacional da Área de Mediunidade do CFN/FEB,
com duração até 2022. O estudo será sistemático e contínuo da obra O
Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.
O programa será realizado semanalmente, com transmissão ao vivo pelos canais da
FEB no Facebook e FEBtv no YouTube e Facebook.
Acompanhe toda terça, às 19h30, no horário de Brasília.
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