sábado, 31 de outubro de 2020

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Estátua em homenagem a Chico Xavier


No dia 29 de outubro, em Uberaba, foi entregue à comunidade uma estátua em bronze em homenagem ao médium Chico Xavier. Foi criada pela artista plástica Vânia Braga, nascida em Pedro Leopoldo, que fez a peça em tamanho natural. A estátua foi colocada na praça Rui Barbosa, retratando Chico sentado num banco. A intenção, segundo Vânia, é homenagear o “mineiro do século” sendo considerado o maior brasileiro de todos os tempos. A cidade recebeu ainda a locomotiva Maria fumaça restaurada, datada de 1910, a mesma que trouxe o Chico para Uberaba.

Fonte: febnet.org.br


 

Finados

 


Os Espíritos acodem nesse dia [finados] ao chamado dos que da Terra lhes dirigem seus pensamentos, como o fazem noutro dia qualquer (LE, 321).

 

De acordo com alguns historiadores, o dia consagrado aos mortos originou-se dos antigos povos da Gália (atual França), os quais, então conhecedores da indestrutibilidade do ser, honravam os Espíritos e não os cadáveres, como, infelizmente, se faz na atualidade.

 

Esse dia, popularmente chamado de “finados”, é uma tradição mundial, cuja origem se perde na noite dos tempos, e que revela a intuição do homem sobre a imortalidade da alma. Finado é o particípio passado do verbo “finar”, que significa o indivíduo que morreu, findou, faleceu.

 

Trata-se de uma cultura adotada por todos os povos e quase todas as religiões. Esteve inicialmente muito ligada, na Antiguidade, aos cultos agrários ou da fertilidade. Acreditava-se que os mortos, como as sementes, eram enterrados com vistas à ressurreição. Em vista disso, o primitivo dia de finados era festejado com banquetes e orgias perto dos túmulos, costume disseminado em várias civilizações do passado.

 

Após a morte do tirano Mausolo, rei de Cária, antiga região da Ásia Menor (377 a 353 a.C.), sua esposa Artemísia determinou a construção de um enorme edifício, ricamente enfeitado, para abrigar o corpo do soberano. Esta construção ou monumento funerário é considerado uma das maravilhas do mundo antigo, dentre as quais despontam as Pirâmides do Egito, que até hoje constituem morada dos restos mortais dos antigos faraós.

 

Daí surgiu a palavra mausoléu para identificar os sepulcros de grandes proporções.

 

Entretanto, somente no final do século X é que foi oficializado pela Igreja de Roma o “culto aos mortos”, com o nome de “finados”, destinado precisamente aos Espíritos que estariam no “purgatório”.

 

Para o Espiritismo, este é um dia como qualquer outro, uma vez que a ida ao cemitério é a representação exterior de um fato íntimo. As pessoas que visitam um túmulo manifestam, por esse costume, que pensam no Espírito ausente, embora muitas o façam apenas para se desincumbir de mais uma “obrigação social” no calendário humano.

 

Para homenagear o ente querido que partiu antes de nós, não é preciso, necessariamente, ir a cemitérios, via de regra repleto de túmulos caiados, tétricos e poídos, porque lá repousa apenas o envoltório do Espírito (corpo físico).

 

O que sensibiliza o Espírito não é propriamente a visita à sepultura, mas a lembrança fraterna e a prece sincera daquele que ficou na Terra, o que pode ser feito a qualquer momento e em qualquer lugar. Por isso, o dia de finados não é mais importante, para os desencarnados, do que outros dias. A diferença entre o dia de finados e os demais dias é que, naquele, mais pessoas chamam os Espíritos pelos pensamentos.

 

O costume de as famílias sepultarem os restos mortais de seus membros em um mesmo lugar é útil do ponto de vista material, entretanto, para as Leis Divinas, essa cultura nenhum valor tem, do ponto de vista moral, a não ser tornar mais concentradas as recordações dos parentes.

 

O Espírito que atingiu um determinado grau de perfeição, despojado que se encontra das vaidades terrenas, compreende a inutilidade dos funerais pomposos, que servem mais aos que ficam do que aos que partiram.

 

Muitas vezes, o Espírito assiste ao seu próprio velório, não sendo raro as decepções que experimenta, ao se defrontar com alguns visitantes falando mal do “extinto”, contando piadas ou em conversas sobre negócios regadas a bebida alcoólica, sem qualquer respeito pela memória do recém-desencarnado. Mais decepcionado este fica, ainda, quando assiste às reuniões dos herdeiros, disputando, em brigas acirradas, a divisão dos bens do espólio.

 

As imagens e evocações das palestras dos presentes incidem sobre a mente do recém-desencarnado, o qual, na maioria das vezes, por ausência de preparo espiritual e desconhecimento das Leis Naturais, embora morto biologicamente, ainda não se desligou, mentalmente, dos despojos, o que lhe traz muito sofrimento, inclusive sensações desagradáveis, perturbações e pesadelos, dificultando ainda mais o seu desenlace (ver, no it. 7.4.7, a diferença entre desencarnação e morte biológica). O fato é que a menção do nome do próprio falecido e de outros mortos transforma-se em verdadeira invocação, atraindo-os ao ambiente em que nos encontramos (consultar cap. 14, da obra Obreiros da vida eterna, do autor espiritual

André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier, um caso prático de evocação inconsciente ocorrido num velório).

 

Qual, então, deve ser a nossa conduta, nessas ocasiões? A mesma postura de respeito que devemos ter para com qualquer pessoa encarnada. Uma prece sincera, um pensamento simples, mas bondoso, endereçado aos entes que partiram, valem mais do que mil coroas de flores e solenidades fúnebres.

 

Todavia, não nos esqueçamos de que mais importante não é o comportamento nosso na hora da desencarnação de um ente querido, ou no momento de nossa própria morte física, mas sobretudo a conduta que devemos ter durante toda a nossa existência física, pois que, sendo Espíritos imortais, nossa vida é uma constante preparação para a morte, razão pela qual é preciso viver bem para morrer bem.

 

Christiano Torchi - Livro: Espiritismo passo a passo com Kardec


Contristação

“Agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para o arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus.” Paulo (II Coríntios, 7:9)


Quanta vez se agitam famílias, agrupamentos ou coletividades para que a tormenta lhes não alcance o ambiente comum? Quantas vezes a criatura contempla o céu, em súplica, para que a dor lhe não visite a senda ou para que a adversidade fuja, ao encalço de outros rumos? Entretanto, a realidade chega sempre, inevitável e inflexível.

No turbilhão de sombras da contristação, o homem, não raro, se sente vencido e abandonado.

Todavia, o que parece infortúnio ou derrota pode representar providências salvadoras do Todo Compassivo.

Em muitas ocasiões, quando as criaturas terrestres choram, seus amigos da Esfera Superior se alegram, à maneira dos pomicultores que descansam, tranquilos, depois do campo bem podado.

Lágrimas, nos lares da carne, frequentemente expressam júbilos de lares celestiais. Os orientadores divinos, porém, não folgam porque os seus tutelados sejam detentores de padecimentos, mas justamente porque semelhante situação indica possibilidades renovadoras no trabalho de aperfeiçoamento.

Todo campo deve conhecer o tempo de ceifa ou de limpeza necessárias.

Quando estiverdes contristados, à face de faltas que cometestes impensadamente, é razoável sofrais a passagem das nuvens pesadas e negras que amontoastes sobre o coração; contudo, quando a prova e a luta vos surpreenderem a casa ou o espírito, em circunstâncias que independem de vossa vontade, então é chegada a hora da contristação segundo Deus, a qual vos eleva espiritualmente e que, por isso mesmo, provoca a alegria dos anjos que velam por vós.

 Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.153

Ante os que partiram

 

Nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio.

Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável, na fisionomia dos que mais amamos, e cerrar-Ihes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo.

Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho transfigurado em anjo da agonia; um esposo que se despede, procurando debalde mover os lábios mudos; uma companheira, cujas mãos consagradas à ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais se erguer, ou um semblante materno acostumado a abençoar, e que nada mais consegue exprimir senão a dor da extrema separação, através da última lágrima.

Falem aqueles que, um dia, se iniciaram, esmagados de solidão, à frente de um túmulo; os que se rojaram em prece nas cinzas que recobrem a derradeira recordação dos entes inesquecíveis; os que caíram, varados de saudade, carregando no seio o esquife dos próprios sonhos; os que tatearam, gemendo, a lousa imóvel, os que soluçaram de angústia, no ádito dos próprios pensamentos, perguntando, em vão, pela presença dos que partiram.

Todavia, quando semelhante provação te bata à porta, reprime o desespero e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados mortos são apenas ausentes e as gotas de teu pranto lhe fustigam a alma como chuva de fel.

Também eles pensam e lutam, sentem e choram.

Atravessam a faixa do sepulcro como quem se desvencilha da noite, mas, na madrugada do novo dia, inquietam-se pelos que ficaram... Ouvem-lhes os gritos e as súplicas, na onda mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que os laços afetivos da retaguarda se rendem à inconformação ou se voltam para o suicídio.

Lamentam-se quanto aos erros praticados e trabalham, com afinco, na regeneração que lhes diz respeito.

Estimulam-se à prática do bem, partilhando-te as dores e as alegrias.

Rejubilam-se com as tuas vitórias no mundo interior e consolam-te nas horas amargas para que te não percas no frio do desencanto.

Tranquiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.

Recorda que, em futuro mais próximo que imaginas, respirarás entre eles, comungando-lhes as necessidades e os problemas, porquanto terminarás também a própria viagem no mar das provas redentoras.

E, vencendo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer que Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu em noite escura, viveu entre os infortúnios da Terra e expirou na cruz, em tarde pardacenta, sobre um monte empedrado, mas ressuscitou aos cânticos da manhã, no fulgor de um jardim.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Religião dos Espíritos

domingo, 18 de outubro de 2020

Kardec, obrigado!


Kardec, enquanto recebes as homenagens do mundo, pedimos vênia para associar nosso preito singelo de amor aos cânticos de reconhecimento que te exalçam a obra gigantesca nos domínios da libertação espiritual.

Não nos referimos aqui ao professor emérito que foste, mas ao discípulo de Jesus que possibilitou o levantamento das bases do Espiritismo Cristão, cuja estrutura desafia a passagem do tempo.

Falem outros dos títulos de cultura que te exornavam a personalidade, do prestígio que desfrutavas na esfera da inteligência, do brilho de tua presença nos fastos sociais, da glória que te ilustrava o nome, de vez que todas as referências à tua dignidade pessoal nunca dirão integralmente o exato valor de teus créditos humanos.

Reportar-nos-emos ao amigo fiel do Cristo e da Humanidade, em agradecimento pela coragem e abnegação com que te esqueceste para entregar ao mundo a mensagem da Espiritualidade Superior.

E, rememorando o clima de inquietações e dificuldades em que, a fim de reacender a luz do Evangelho, superaste injúria e sarcasmo, perseguição e calúnia, desejamos expressar-te o carinho e a gratidão de quantos edificaste para a fé na imortalidade e na sabedoria da vida.

O Senhor te engrandeça por todos aqueles que emancipaste das trevas e te faça bendito pelos que se renovaram perante o destino à força de teu verbo e de teu exemplo!…

Diante de ti, enfileiram-se, agradecidos e reverentes, os que arrebataste à loucura e ao suicídio com o facho da esperança.

Os que arrancaste ao labirinto da obsessão com o esclarecimento salvador;

Os pais desditosos que se viram atormentados por filhos insensíveis e delinquentes, e os filhos agoniados que se encontraram na vala da frustração e do abandono pela irresponsabilidade dos pais em desequilíbrio e que foram reajustados por teus ensinamentos, em torno da reencarnação;

Os que renasceram em dolorosos conflitos da alma e se reconheceram, por isso, esmagados de angústia nas brenhas da provação, e os quais livraste da demência, apontando-lhes as vidas sucessivas;

Os que se acharam arrasados de pranto, tateando a lousa na procura dos entes queridos que a morte lhes furtou dos braços ansiosos, e aos quais abriste os horizontes da sobrevivência, insuflando-lhes renovação e paz, na contemplação do futuro;

Os que soergueste do chão pantanoso do tédio e do desalento, conferindo-lhes, de novo, o anseio de trabalhar e a alegria de viver;

Os que aprenderam contigo o perdão das ofensas e abençoaram, em prece, aqueles mesmos companheiros da Humanidade que lhes apunhalaram o espírito, a golpes de insulto e de ingratidão;

Os que te ouviram a palavra fraterna e aceitaram com humildade a injúria e a dor por instrumento de redenção;

E os que desencarnaram incompreendidos ou acusados sem crime, abraçando-te as páginas consoladoras que molharam com as próprias lágrimas…

Todos nós, os que levantaste do pó da inutilidade ou do fel do desencanto para as bênçãos da vida, estamos também diante de ti!… E, identificando-nos na condição dos teus mais apagados admiradores e com os últimos dos teus mais pobres amigos, comovidamente, em tua festa, nós te rogamos permissão para dizer: “Kardec, obrigado!… Muito obrigado!…”

Irmão X

 

Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em homenagem ao aniversário de Allan Kardec

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Cuidados

 “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã, cuidará de si mesmo”. Jesus (Mateus, 6:34)


Os preguiçosos de todos os tempos nunca perderam o ensejo de interpretar falsamente as afirmativas evangélicas.

A recomendação de Jesus, referente à inquietude, é daquelas que mais se prestaram aos argumentos dos discutidores ociosos.

Depois de reportar-se o Cristo aos lírios do campo, não foram poucos os que reconheceram a si mesmos na condição de flores, quando não passam, ainda, de plantas espinhosas.

Decididamente, o lírio não fia, nem tece, consoante o ensinamento do Senhor, mas cumpre a vontade de Deus. Não solicita a admiração alheia, floresce no jardim ou na terra inculta, dá seu perfume ao vento que passa, enfeita a alegria ou conforta a tristeza, é útil à doença e à saúde, não se revolta quando fenece o brilho que lhe é próprio ou quando mãos egoístas o separam do berço em que nasceu.

Aceitaria o homem inerte o padrão do lírio, em relação à existência na comunidade?

Recomendou Jesus não guarde a alma qualquer ânsia nociva, relativamente à comida, ao vestuário ou às questões acessórias do campo material; asseverou que o dia, constituindo a resultante de leis gerais do Universo, atenderia a si próprio.

Para o discípulo fiel, agasalhar-se e alimentar-se são verbos de fácil conjugação e o dia representa oportunidade sublime de colaboração na obra do bem.

Mas basear-se nessas realidades simples para afirmar que o homem deva marchar, sem cuidado consigo, seria menoscabar o esforço do Cristo, convertendo-lhe a plataforma salvadora em campanha de irresponsabilidade.

O homem não pode nutrir a pretensão de retificar o mundo ou os seus semelhantes de um dia para outro, atormentando-se em aflições descabidas, mas deve ter cuidado de si, melhorando-se, educando-se e iluminando-se, sempre mais.

Realmente, a ave canta, feliz, mas edifica a própria casa.

A flor adorna-se, tranquila; entretanto, obedece aos desígnios do Eterno.

O homem deve viver confiante, sempre atento, todavia, em engrandecer-se na sabedoria e no amor para a obra divina da perfeição.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.152

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Minha missão

 

Pergunta (à Verdade) – Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns Espíritos me assinaram. Dize-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor próprio. Tenho, como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário em chefe, a distância é grande e não percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a tantos outros que possuem talento e qualidades de que não disponho.

 

Resposta – Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria a maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar-se pela obra realizada e tu ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou tarde, visto que pelos frutos é que se verifica a qualidade da árvore.

 

P. – Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma missão na qual dificilmente creio. Se estou destinado a servir de instrumento aos desígnios da Providência, que ela disponha de mim. Nesse caso, reclamo a tua assistência e a dos bons Espíritos, no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.

 

R. – A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de teu lado, não fizeres o que for necessário. Tens o teu livre-arbítrio, do qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem é constrangido a fazer coisa alguma.

 

P. – Que causas poderiam determinar o meu malogro? Seria a insuficiência das minhas capacidades?

 

R. – Não, mas a missão dos reformadores é prenhe de escolhos e perigos. Previno-te de que é rude a tua, porquanto se trata de abalar e transformar o mundo inteiro. Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranquilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo. Ora bem! Não poucos recuam quando, em vez de uma estrada florida, só veem sob os passos urzes, pedras agudas e serpentes. Para tais missões, não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para agradar a Deus, humildade, modéstia e desinteresse, visto que Ele abate os orgulhosos, os presunçosos e os ambiciosos. Para lutar contra os homens, são indispensáveis coragem, perseverança e inabalável firmeza. Também são de necessidade prudência e tato, a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito com palavras ou medidas intempestivas. Exigem-se, por fim, devotamento, abnegação e disposição a todos os sacrifícios.

Vês, assim, que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti.

Espírito Verdade

 

Eu – Espírito Verdade, agradeço os teus sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.

Senhor! Pois que te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios, faça-se a tua vontade! Está nas tuas mãos a minha vida; dispõe do teu servo. Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não desfalecerá, as forças, porém, talvez me traiam. Supre à minha deficiência; dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos momentos difíceis e, com o teu auxílio e dos teus celestes mensageiros, tudo envidarei para corresponder aos teus desígnios.

 

 Allan Kardec – Livro: Obras Póstumas – Segunda parte – págs. 239 a 241 – 41ª edição – FEB

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Allan Kardec, o educador

 


Perguntas me inquietam ao tentar compreender o Espiritismo. O que levou o educador Allan Kardec a desenvolver pesquisas psíquicas e lançar as bases do Espiritismo? Por que a sua obra diferencia-se de todas as outras obras espíritas?

 Hippolyte Leon Denizard Rivail nasceu em Lion, França, em 1804. Dos 10 aos 15 anos estudou em Yverdon, Suíça, no célebre instituto do professor-filantropo Johann H. Pestalozzi. Frases de Pestalozzi sugerem que o ambiente em que Rivail consolidou sua personalidade, valorizava o sentimento e a educação integral através da prática, da observação e da convivência. “O principal do que digo, eu vi. E muito do que aconselho, eu fiz... Tudo o que digo repousa... em minhas experiências reais”, “A manifestação do amor é a salvação do mundo!... É o fio que liga o globo terrestre... que liga Deus e o homem”. “A educação (provém) ... do reconhecimento das imutáveis leis da nossa natureza... o objetivo final da educação não é o de aperfeiçoar as noções escolares, mas sim o de preparar para a vida; não de dar o hábito da obediência cega... mas de preparar para o agir autônomo”.

 Convicto do poder da educação e com forte senso de obrigação social, Rivail realizou intensa e precoce atividade literária e pedagógica. Chegou a Paris em 1820, se pôs a lecionar e a traduzir obras inglesas e alemãs. Lançou seu primeiro livro em 1823, com 18 anos. Até 1850 publicou 22 obras de ensino pré-universitário sobre pedagogia, mitologia, física, química, astronomia, fisiologia, aritmética, cálculo e gramática. Em 1825, com 20 anos, começou a dirigir uma “Escola de Primeiro Grau”. Em 1826 fundou o instituto técnico “Instituição Rivail”. Com 24 anos, escreveu em seu Plano para a Melhoria da Educação Pública: “A educação exige um estudo especial... conhecimento profundo do coração humano e da psicologia moral... a educação não se limita apenas à instrução... todas as partes... são... estreitamente ligadas...” “A grande diferença entre um professor (se limita a ensinar) e um educador (encarregado do desenvolvimento inteiro do homem)”. “Educação é o resultado do conjunto de hábitos adquiridos... resultado de todas as impressões que os provocavam”. “A inteligência deve ser desenvolvida desde cedo, como a moral, e não é sobrecarregando a memória... mas enriquecendo a imaginação de ideias justas...” Complementa em 1834: “Tudo é intelectual, tudo é moral”. “Conheça o movimento dos astros e seu espírito penetre no espaço; tudo isso está ao alcance... da adolescência. Então, não será, como um bruto, indiferente a tudo o que maravilha seu olhar; então não mais acreditará em almas do outro mundo, nem em fantasmas; não mais tomará fogos-fátuos por espíritos; não mais acreditará nos ledores de sorte... seu espírito se alargará contemplando o espaço imenso e sem limites”. Em 1857 volta a lançar livros, agora sobre Espiritismo, com o pseudônimo de Allan Kardec. Até seu desencarne, em 1869, publicou, pelo menos, 8 obras espíritas. Dos aproximadamente 188 textos que Kardec insere entre as perguntas de O Livro dos Espíritos, 39 estão diretamente relacionadas à educação. Qual força foi capaz de transformar o jovem Rivail, cético do mundo espiritual, no grande codificador do Espiritismo aos 53 anos?

 Com intensa atividade intelectual e confiança na ciência para alcançar a verdade, em 1823, com 19 anos, iniciou seus estudos sobre o magnetismo. Ao longo de sua vida associou-se a 12 Academias científicas. Até meados do século XIX a ciência não era uma atividade profissional, e criavam-se academias para debater e aprimorar estes conhecimentos.

 Rivail nos define a educação como um ato moral de argumentação racional. Sua confiança no método científico o fez mudar de paradigma, aceitou a existência dos Espíritos desencarnados, porém manteve-se fiel ao seu sonho, definido aos 30 anos com paixão e racionalidade: “a educação é a obra da minha vida, não faltarei à minha missão... inimigo de todo charlatanismo, não tenho o tolo orgulho de acreditar cumpri-la com perfeição, mas tenho ao menos a convicção de cumpri-la com consciência”. Seu entusiasmo com o Espiritismo provém não da descoberta científica da comunicabilidade da alma, mas da percepção de que este conhecimento transformaria os conceitos humanos, desenvolvendo a moral. Sua obra não se limita na ciência, religião ou filosofia, transcende-as ao tornar-se uma obra educadora, busca convencer racionalmente, baseada em fatos vividos cientificamente, com linguagem simples para ser acessível a todos. Outros filósofos e cientistas espíritas não tiveram a envergadura educadora e o engajamento social de Kardec.

 Pergunto-me se poderemos completar a utopia de Kardec e transformar o Espiritismo em uma eficiente ferramenta social de educação moral em nosso tempo. Parece-me que precisamos ser mais apaixonados pela educação, mais comprometidos em agir moralmente e em estimular a autonomia, a racionalidade e a atitude científica do Homem.

 

 Bibliografia:

O Livro dos Espíritos (Allan Kardec)

 Pestalozzi: educação e ética (Dora Incontri),

Textos Pedagógicos: Hippolyte Léon Denizard Rivail (Dora Incontri)

Allan Kardec: o educador e codificador (Zêus Wantuil e Francisco Thiesen).

 

Gustavo Leopoldo Daré – Fonte: www.caminhosluz.com.br