terça-feira, 13 de outubro de 2020

Ressuscitará

 “Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.” (João, 11:23)


Há muitos séculos, as escolas religiosas do Cristianismo revestiram o fenômeno da morte de paisagens deprimentes.

Padres que assumem atitudes hieráticas, ministros que comentam as flagelações do inferno, catafalcos negros e panos de luto.

Que poderia criar tudo isso senão o pavor instintivo e o constrangimento obrigatório?

Ninguém nega o sofrimento da separação, espírito algum se furtará ao plantio da saudade no jardim interior. O próprio Cristo emocionou-se junto ao sepulcro de Lázaro. Entretanto, a comoção do Celeste Amigo edificava-se na esperança, acordando a fé viva nos companheiros que o ouviam. A promessa d’Ele, ao carinho fraternal de Marta, é bastante significativa.

“Teu irmão há de ressuscitar” asseverou o Mestre.

Daí a instantes, Lázaro era restituído à experiência terrestre, surpreendendo os observadores do inesperado acontecimento.

Gesto que se transformou em vigoroso símbolo, sabemos hoje que o Senhor nos reergue, em toda parte, nas esferas variadas da vida. Há ressurreição vitoriosa e sublime nas zonas carnais e nos círculos diferentes que se dilatam ao infinito.

O espírito mais ensombrado no sepulcro do mal e o coração mais duro são arrancados das trevas psíquicas para a luz da vida eterna.

O Senhor não se sensibilizou tão somente por Lázaro. Amigo Divino, a sua mão carinhosa se estende a nós todos.

Reponhamos a morte em seu lugar de processo renovador e enchei-vos de confiança no futuro, multiplicando as sementeiras de afeições e serviços santificantes.

Quando perderdes temporariamente a companhia direta de um ente amado, recordai as palavras do Cristo; aquela reduzida família de Betânia é a miniatura da imensa família da Humanidade.

 Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.151

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

A minha primeira iniciação no Espiritismo

 


Foi em 1854 que pela primeira vez ouvi falar das mesas girantes.

Encontrei um dia o magnetizador, Sr. Fortier, a quem eu conhecia desde muito tempo e que me disse: “Já sabe da singular propriedade que se acaba de descobrir no Magnetismo? Parece que já não são somente as pessoas que se podem magnetizar, mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem e caminhem à vontade.” “É, com efeito, muito singular” — respondi —; “mas, a rigor, isso não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e fazer que eles se movam.” Os relatos, que os jornais publicaram, de experiências feitas em Nantes, em Marselha e em algumas outras cidades, não permitiam dúvidas acerca da realidade do fenômeno.

Algum tempo depois, encontrei-me novamente com o Sr. Fortier, que me disse: “Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale.

Interrogada, ela responde.” “Isto agora” — repliquei-lhe —, “é outra questão. Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé”. (...)

Eu estava, pois, diante de um fato inexplicado, aparentemente contrário às Leis da Natureza e que a minha razão repelia. Ainda nada vira, nem observara; as experiências, realizadas em presença de pessoas honradas e dignas de fé, confirmavam a minha opinião, quanto à possibilidade do efeito puramente material; a ideia, porém, de uma mesa falante ainda não me entrara na mente.

No ano seguinte, estávamos em começo de 1855, encontrei-me com o Sr. Carlotti, amigo de 25 anos, que me falou daqueles fenômenos durante cerca de uma hora, com o entusiasmo que consagrava a todas as ideias novas. (...)  

Foi o primeiro que me falou na intervenção dos Espíritos e me contou tantas coisas surpreendentes que, longe de me convencer, me aumentou as dúvidas. “Um dia, o senhor será dos nossos”, concluiu. “Não direi que não”, respondi-lhe; “veremos isso mais tarde.”

Passado algum tempo, pelo mês de maio de 1855, fui à casa da sonâmbula Sra. Roger, em companhia do Sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrei o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que daqueles fenômenos me falaram no mesmo sentido em que o Sr. Carlotti se pronunciara, mas em tom muito diverso. O Sr. Pâtier era funcionário público, já de certa idade, muito instruído, de caráter grave, frio e calmo; sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, produziu em mim viva impressão e, quando me convidou a assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. Plainemaison, à Rua Grange-Batelière, 18, aceitei imediatamente. A reunião foi marcada para terça-feira,18 de maio às oito horas da noite.

Foi aí que, pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida. Assisti então a alguns ensaios, muito imperfeitos, de escrita mediúnica numa ardósia, com o auxílio de uma cesta. Minhas ideias estavam longe de precisar-se, mas havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.

Bem depressa, ocasião se me ofereceu de observar mais atentamente os fatos, como ainda o não fizera. Numa das reuniões da Sra. Plainemaison, travei conhecimento com a família Baudin, que residia então à Rua Rochechouart. (...)

 Os médiuns eram as duas senhoritas Baudin, que escreviam numa ardósia com o auxílio de uma cesta, chamada carrapeta e que se encontra descrita em O livro dos médiuns. Esse processo, que exige o concurso de duas pessoas, exclui toda possibilidade de intromissão das ideias do médium.

Aí, tive ensejo de ver comunicações contínuas e respostas a perguntas formuladas, algumas vezes, até perguntas mentais, que acusavam, de modo evidente, a intervenção de uma inteligência estranha. (...)

Foi nessas reuniões que comecei os meus estudos sérios de Espiritismo, menos, ainda, por meio de revelações do que de observações. Apliquei a essa nova ciência, como o fizera até então, o método experimental; nunca elaborei teorias preconcebidas; observava cuidadosamente, comparava, deduzia consequências; dos efeitos procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as dificuldades da questão.

Foi assim que procedi sempre em meus trabalhos anteriores, desde a idade de 15 a 16 anos. Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida. Era, em suma, toda uma revolução nas ideias e nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção, e não levianamente; ser positivista, e não idealista, para não me deixar iludir.

Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos, nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao grau, que haviam alcançado, de adiantamento, e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal. Reconhecida desde o princípio, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou alguns deles. (...)

Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior, meios de me informar, e não reveladores predestinados.

Tais as disposições com que empreendi meus estudos e neles prossegui sempre. Observar, comparar e julgar, essa a regra que constantemente segui. (...) Allan Kardec

                            

Extratos retirados do Livro Obras Póstumas – Segunda parte – págs. 225 a 230 – 41ª edição – FEB

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Ante os pequeninos

 


A criança é uma edificação espiritual dos responsáveis por ela. 

Não existe criança ‐ nem uma só ‐ que não solicite amor e auxílio, educação e entendimento.

Cada pequenino, conquanto seja, via de regra, um espírito adulto, traz o cérebro extremamente sensível pelo fato de estar reiniciando o trabalho da reencarnação, tornando‐se, por isso mesmo, um observador rigorista de tudo o que você fala ou faz.

A mente infantil dar‐nos‐á de volta, no futuro, tudo aquilo que lhe dermos agora.

Toda criança é um mundo espiritual em construção ou reconstrução, solicitando material digno a fim de consolidar‐se.

Ajude os meninos de hoje a pensar com acerto dialogando com eles, dentro das normas do respeito e sinceridade que você espera dos outros em relação a você.

A criança é um capítulo especial no livro do seu dia a dia.

Não tente transfigurar seus filhinhos em bibelôs, apaixonadamente guardados, porque são eles espíritos eternos, como acontece a nós, e chegará o dia em que despedaçarão perante você mesmo quaisquer amarras de ilusão.

Se você encontra algum pirralho de maneiras desabridas ou de formação inconveniente, não estabeleça censura, reconhecendo que o serviço de reeducação dele, na essência, pertence aos pais ou aos responsáveis e não a você.

Se veio a sofrer algum prejuízo em casa, por depredações de pequeninos travessos, esqueça isso, refletindo no amor e na consideração que você deve aos adultos que respondem por eles.

 

André Luiz / Chico Xavier – Livro: Sinal Verde

Estudo de O Livro dos Médiuns


Estudando O Livro dos Médiuns será uma série de estudos promovidos por Jacobson Trovão, coordenador nacional da Área de Mediunidade do CFN/FEB, com duração até 2022. O estudo será sistemático e contínuo da obra O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.
O programa será realizado semanalmente, com transmissão ao vivo pelos canais da FEB no Facebook e FEBtv no YouTube e Facebook.
Acompanhe toda terça, às 19h30, no horário de Brasília.
Divulgue e compartilhe nas suas redes sociais: https://febtv.live/mediuns


Fatos e personalidades espíritas do mês de outubro

 




Rivail, o Educador

Allan Kardec é vastamente conhecido como o codificador da Doutrina Espírita. Contudo, mais da metade de sua vida esteve ligado ao ensino e à educação da juventude, o que provavelmente também foi influenciado pelo fato de que em sua vida participaram destacados pedagogos, cujas ações e ideias puderam servir-lhe de modelo e inspiração. Em seu tempo ele foi considerado um especialista em assuntos de ensino. Suas obras dirigiram-se a alunos, professores e outras pessoas que se ocupavam do ensino e da educação (exemplo: livros didáticos, manuais de métodos, etc.), ou a pessoas que tivessem influência jurídica e administrativa no sistema educacional francês (projetos de reformas, propostas de mudanças no sistema educativo em geral e nas instituições em particular). (...)

A vida do pedagogo Rivail está cercada de esquecimento, em parte objetivado por ele mesmo, para proteger diversas pessoas, e, de outro lado, provocado naturalmente pelo sucesso de suas publicações e atividades posteriores, ligadas a assuntos geralmente não comentados em escolas. Contudo, para imaginar um perfil completo da pessoa conhecida até dos simpatizantes do Espiritismo, seria necessário saber mais detalhadamente sobre o período de vida de Rivail antes da publicação de O Livro dos Espíritos – o período de vida principalmente dedicado a um amplo trabalho pedagógico – cumprimento de tarefas de ensino e educação, criação de livros específicos e artigos com profundas considerações a problemas atinentes. (...)

Resumindo a opinião sobre a educação, é necessário mencionar as seguintes conclusões de H. D. L. Rivail:

“1) Educação é uma ciência única;

2) Se observamos que muitas pessoas ensinam de forma inadequada, a causa disso é a falta de estudos especializados nessa área;

3) Todos os atrasos relativos à educação são imputáveis ao fato de que poucas pessoas avaliam o seu verdadeiro objetivo, sem compreender o que seja educação; o que ela pode ser e, em consequência disso, o que é necessário fazer para que a situação melhore. A educação está agora, escreveu Rivail, em semelhante situação em que esteve a química há cem anos. Ela é uma ciência ainda não totalmente constituída e cujas bases ainda não estão definidas.”

As últimas obras pedagógicas de Rivail (primeiras edições) surgiram em 1850; todas as que se sucederam se referiam ao espiritismo, embora também estas certamente estivessem vinculadas aos interesses pedagógicos do autor.

Em O Livro dos Espíritos, primeira obra espírita de Allan Kardec, é possível encontrar alguns fragmentos que tratam da educação. Eles são ou opiniões de Rivail, agora oculto sob o pseudônimo, e que correspondiam a suas obras anteriores, ou dos Espíritos. Estes últimos talvez devessem ser tratados como fonte externa, mas para reconhecer o papel de homem (pedagogo) na compilação do livro, é necessário mencionar ao menos as citações mais relevantes.

 

SOBRE A ESSÊNCIA DA EDUCAÇÃO:

“Não basta dizer ao homem que ele deve trabalhar, é necessário também que o que vive do seu trabalho encontre ocupação, e isso nem sempre acontece. Quando a falta de trabalho se generaliza, toma as proporções de um flagelo, como a escassez. A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, sofrerá sempre intermitências e durante essas fases o trabalhador tem necessidade de viver. Há um elemento, que se não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, aquela que cria hábitos, porque a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Quando se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios e entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das consequências desastrosas desse fato? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo hábitos de ordem e de previdência para si mesmo e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar de maneira menos penosa os maus dias inevitáveis.

A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos.” (item 685a).

 

SOBRE O LIVRE-ARBÍTRIO:

“O homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não ‘estavam escritos’; os crimes que comete não são resultado de um decreto do destino. Ele pode, como prova e como expiação, escolher uma existência em que se sentirá arrastado para o crime, seja pelo meio em que estiver situado, seja pelas circunstâncias supervenientes. Mas será sempre livre de agir como quiser.

Assim, o livre-arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas; e no estado corpóreo com a faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que voluntariamente estamos submetidos. Cabe à educação combater as más tendências e ela o fará de maneira eficiente quando se basear no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral, chegar-se-á a modificá-la, como se modificam a inteligência pela instrução e as condições físicas pela higiene.” (Item 872)

 

SOBRE O PROGRESSO DA HUMANIDADE:

“Louváveis esforços são feitos, sem dúvida, para ajudar a humanidade a avançar; encorajam-se, estimulam-se, honram-se os bons sentimentos, hoje mais do que em qualquer outra época, e não obstante o verme devorador do egoísmo continua a ser a praga social. É um verdadeiro mal, que se espalha por todo o mundo e do qual cada um é mais ou menos vítima. É necessário combatê-lo, portanto, como se combate uma epidemia. Para isso, deve-se proceder à maneira dos médicos: remontar à causa. Que se pesquisem em toda a estrutura do organismo social, desde a família até os povos, da choupana ao palácio, todas as causas, as influências patentes ou ocultas que excitam, entretêm e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Uma vez conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo; só restará então combatê-las, senão a todas ao mesmo tempo, pelo menos por parte, e pouco a pouco o veneno será extirpado. A cura poderá ser prolongada, porque as causas são numerosas, mas não se chegará a esse ponto se não se atacar o mal pela raiz, ou seja, com a educação. Não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem.

A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam as plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e uma profunda observação. É um grave erro acreditar que basta ter a ciência para aplicá-la de maneira proveitosa. Quem quer que observe, desde o instante do seu nascimento, o filho do rico como o do pobre, notando todas as influências perniciosas que agem sobre ele, em consequência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que o dirigem e como em geral os meios empregados para moralizar fracassam, não pode admirar-se de encontrar no mundo tanta confusão. Que se faça pela moral tanto quanto se faz pela inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refratárias, há também, em maior número do que se pensa, as que requerem apenas boa cultura para darem bons frutos.” (Item 917)

Evidentemente todo o conteúdo de O Livro dos Espíritos, além do sentido filosófico, tem um profundo sentido educativo.

Alguns ensinamentos ou sentenças dos Espíritos poderiam ser tratados até mesmo como tema de vastos estudos e discussões pedagógicas, pois eles claramente espelham problemas da sociedade na época de Rivail e, paradoxalmente, também de agora.

 

SOBRE AS LEIS SOCIAIS:

“Uma sociedade depravada tem certamente necessidade de leis mais severas. Infelizmente essas leis se destinam antes a punir o mal praticado do que a cortar a raiz do mal. Somente a educação pode reformar os homens, que assim não terão mais necessidade de leis tão rigorosas.” (Item 797)

 

SOBRE O EGOÍSMO:

“À medida que os homens se esclarecem sobre as coisas espirituais, dão menos valor às coisas materiais; em seguida é necessário reformar as instituições humanas que o entretêm e excitam. Isso depende da educação.” (Item 914)

É interessante observar os paralelos e as estreitas vinculações entre os textos produzidos pela mesma pessoa, embora em dois períodos distintos da vida, aparentemente diferentes no fundo, mas visivelmente baseados nos mesmos ideais, educativos e atuais em todas as circunstâncias.

É recomendável, então, considerar as ideias e ações do futuro codificador da doutrina espírita, no contexto de sua atividade posterior. A doutrina em si mesma, de fato, é muito rica em valores educativos. (...)

 

Fragmentos extraídos do livro: Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail - INCONTRI, Dora, GRZYBOWSKI, Przemysław.

Dívida de amor

 “Portanto, dai a cada um o que deveis; a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.” Paulo (Romanos, 13:7)

 

Todos nós guardamos a dívida geral de amor uns para com os outros, mas esse amor e esse débito se subdividem, através de inúmeras manifestações.

A cada ser, a cada coisa, paisagem, circunstância e situação, devemos algo de amor em expressão diferente.

A criatura que desconhece semelhante impositivo não encontrou ainda a verdadeira noção de equilíbrio espiritual.

Valiosas oportunidades iluminativas são relegadas, pelas almas invigilantes, à obscuridade e à perturbação.

Que prodigioso éden seria a Terra se cada homem concedesse ao próximo o que lhe deve por justiça!

O homem comum, todavia, gravitando em torno do próprio “eu”, em clima de egoísmo feroz, cerra os olhos às necessidades dos outros. Esquece-se de que respira no oxigênio do mundo, que se alimenta do mundo e dele recebe o material imprescindível ao aperfeiçoamento e à redenção. A qualquer exigência do campo externo, agasta-se e irrita-se, acreditando-se o credor de todos.

Muitos sabem receber, raros sabem dar.

Por que esquivar-se alguém aos petitórios do fragmento de terra que nos acolhe o espírito? Por que negar respeito ao que comanda, ou atenção ao que necessita?

Resgata os títulos de amor que te prendem a todos os seres e coisas do caminho.

Quanto maior a compreensão de um homem, mais alto é o débito dele para com a Humanidade; quanto mais sábio, mais rico para satisfazer aos impositivos de cooperação no progresso universal.

Não te iludas. Deves sempre alguma coisa ao companheiro de luta, tanto quanto à estrada que pisas despreocupadamente. E quando resgatares as tuas obrigações, caminharás na Terra recebendo o amor e a recompensa de todos.

 Emmanuel / Chico Xavier – Vinha de Luz – FEB – cap.150

sábado, 3 de outubro de 2020

Aniversário de Allan Kardec


Em homenagem a Kardec


A Cultura atingira o apogeu da descrença,
Imergira-se o Templo em fumo de vanglória
E, embora fosse o Cristo a eterna luz da História,
Afligia-se a Terra em sombra espessa e imensa.

A Civilização padecia a presença
De soberano caos em púrpura irrisória,
Sob a pompa do verbo esfervilhava a escória
Da cegueira e do escárnio a erguer-se em treva densa.

Mas Kardec domina a enorme noite humana
E traz no Espiritismo a Fé que se engalana,
Ao fulgor da Razão generosa e sincera...

O Evangelho ressurge. O Céu brilha de novo.
E Jesus, retornado ao coração do povo,
Acende para o mundo o Sol da Nova Era.

Amaral Ornelas

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Examinando Kardec


Não que outros missionários não tivessem aportado antes dele: ases do conhecimento que dilataram os imensos horizontes do saber; místicos que se embrenharam nos dédalos do "eu", aprendendo vitória sobre si mesmos; santos que rasgaram sendas luminosas no matagal das aflições; apóstolos que fizeram da renúncia e da humildade os baluartes da própria força; filósofos que ensejaram à razão o campo da investigação; cientistas corajosos e audazes que ofereceram a vida em prol de pesquisas inapreciáveis na preservação de milhões de vidas... E heróis, missionários do amor, sacerdotes da fraternidade - operários sublimes, todos eles, do Pai Construtor - encarregados de impulsionar o progresso da Terra conjugado à felicidade dos homens.
Ele, entretanto, guardadas as proporções, fez-se nauta de uma experiência antes não tentada nos mares ignotos da Verdade: auscultou o insondável além-da-morte, inquirindo e estudando, selecionando e fazendo triagem das informações recebidas dos Imortais, de modo a edificar o colossal edifício do Espiritismo.
Nem um só momento se deixou empolgar pela vitória conseguida ao peso das lágrimas, nem jamais se quedou desanimado sob o fardo das incompreensões, quando crivado pelas farpas da inveja e da calúnia.
Não se permitiu o luxo dos triunfos fáceis, nem aceitou a coroa da consagração.
A própria vida celeremente se lhe extinguiu no corpo somático, logo se permitiu conquistar o país do conhecimento, demandando a Imortalidade antes que os lauréis da gratidão ou de qualquer glória lhe pesassem sobre a cabeça veneranda.
Antes, outros Espíritos de escol também velejaram pelas regiões desconhecidas do após o túmulo, tomando apontamentos, registrando observações.
Muitos se embrenharam pelas veredas da vida além da vida e se detiveram deslumbrados no pórtico da revelação.
Os que se atreveram a adentrar-se pelos recônditos da Imortalidade, procuraram explicações mirabolantes, formulando hipóteses rocambolescas ou, fortemente impressionados, se recolheram à meditação profunda, ao flagício, à oração.
Os que facultaram apresentar o resultado do descobrimento, experimentaram a zombaria dos contemporâneos e, não raro, desencantados, refugiaram-se no silêncio ou arderam em piras crepitantes...
Ele, não!
Não se deteve a observar somente, nem se aquietou a experimentar emoções.
Após o meticuloso exame do mediunismo, patenteada a veracidade da vida incessante mesmo depois da disjunção celular, entregou-se ao conhecimento libertador.
Do fenômeno extraiu a doutrina.
Do informe puro e simples conseguiu o fato comprovado.
Enfrentando os Imortais não os temeu, não os exaltou. Inquiriu-os e analisou a todos quantos passaram suas informações pelo crivo da discussão, do debate franco, do exame rigoroso.
Compulsou os alfarrábios dos tempos e aprofundou-se na cultura da época.
Armado de equilíbrio invulgar, esteve a todo instante à altura da investidura e, quando o rebuliço da aventura cedeu lugar ao marasmo e à monotonia, ele apresentou o resultado dos seus estudos sérios, apoiados na razão e no bom senso.
Kardec foi, sem dúvida, o magnífico missionário da Humanidade, precursor do Mundo Novo.
Em sua obra recendem os aromas específicos da tríade perfeita do conhecimento: Ciência, Filosofia e Religião. São o esquema ímpar da sabedoria em todos os seus ângulos e faces.
Transcorrido o primeiro século da Codificação Kardequiana, mais se fazem atuais os seus ensinos e conclusões, ensejando elucidações valiosas para os enigmas que surgem no momento em que ruem os tabus e os preconceitos, em que necessidades aparecem para substituir as manifestações místicas da ignorância e da falsa pudicícia da fé, que se esboroam.
Por essa razão é que se faz imperioso estudar o Espiritismo, trazendo, não só os informes destes dias para examiná-los à luz meridiana da Doutrina, clareando as nebulosas informações de psiquistas e parapsicólogos, como também os problemas morais ao estudo sistemático da moral espírita e as conclusões da ciência ao ensinamento doutrinário. Não olvidar, no entanto, que os descobrimentos e as informações de caráter eminentemente revelador no campo do mundo, aos homens do mundo competem, sendo a Doutrina mesma o guia moral e espiritual para todos nós, não pretendendo, como não o fez o Codificador, resolver ou realizar as tarefas que ao homem cabem, como medidas imperiosas de crescimento e evolução.
Estudemos mais e analisemos melhor o Espiritismo, porquanto com as suas lições no coração e na mente encontraremos o pão e a luz, o instrumento e a rota, para levar-nos à harmonia e à paz real.

Viana de Carvalho / Divaldo Franco – Livro: À Luz do Espiritismo