Os Espíritos acodem
nesse dia [finados] ao chamado dos que da Terra lhes dirigem seus pensamentos,
como o fazem noutro dia qualquer (LE, 321).
De
acordo com alguns historiadores, o dia consagrado aos mortos originou-se dos
antigos povos da Gália (atual França), os quais, então conhecedores da
indestrutibilidade do ser, honravam os Espíritos e não os cadáveres, como,
infelizmente, se faz na atualidade.
Esse
dia, popularmente chamado de “finados”, é uma tradição mundial, cuja origem se
perde na noite dos tempos, e que revela a intuição do homem sobre a
imortalidade da alma. Finado é o particípio passado do verbo “finar”, que
significa o indivíduo que morreu, findou, faleceu.
Trata-se
de uma cultura adotada por todos os povos e quase todas as religiões. Esteve
inicialmente muito ligada, na Antiguidade, aos cultos agrários ou da
fertilidade. Acreditava-se que os mortos, como as sementes, eram enterrados com
vistas à ressurreição. Em vista disso, o primitivo dia de finados era festejado
com banquetes e orgias perto dos túmulos, costume disseminado em várias
civilizações do passado.
Após
a morte do tirano Mausolo, rei de Cária, antiga região da Ásia Menor (377 a 353
a.C.), sua esposa Artemísia determinou a construção de um enorme edifício,
ricamente enfeitado, para abrigar o corpo do soberano. Esta construção ou
monumento funerário é considerado uma das maravilhas do mundo antigo, dentre as
quais despontam as Pirâmides do Egito, que até hoje constituem morada dos restos
mortais dos antigos faraós.
Daí
surgiu a palavra mausoléu para identificar os sepulcros de grandes proporções.
Entretanto,
somente no final do século X é que foi oficializado pela Igreja de Roma o
“culto aos mortos”, com o nome de “finados”, destinado precisamente aos
Espíritos que estariam no “purgatório”.
Para
o Espiritismo, este é um dia como qualquer outro, uma vez que a ida ao
cemitério é a representação exterior de um fato íntimo. As pessoas que visitam
um túmulo manifestam, por esse costume, que pensam no Espírito ausente, embora
muitas o façam apenas para se desincumbir de mais uma “obrigação social” no
calendário humano.
Para
homenagear o ente querido que partiu antes de nós, não é preciso,
necessariamente, ir a cemitérios, via de regra repleto de túmulos caiados,
tétricos e poídos, porque lá repousa apenas o envoltório do Espírito (corpo
físico).
O
que sensibiliza o Espírito não é propriamente a visita à sepultura, mas a
lembrança fraterna e a prece sincera daquele que ficou na Terra, o que pode ser
feito a qualquer momento e em qualquer lugar. Por isso, o dia de finados não é
mais importante, para os desencarnados, do que outros dias. A diferença entre o
dia de finados e os demais dias é que, naquele, mais pessoas chamam os
Espíritos pelos pensamentos.
O
costume de as famílias sepultarem os restos mortais de seus membros em um mesmo
lugar é útil do ponto de vista material, entretanto, para as Leis Divinas, essa
cultura nenhum valor tem, do ponto de vista moral, a não ser tornar mais concentradas
as recordações dos parentes.
O
Espírito que atingiu um determinado grau de perfeição, despojado que se
encontra das vaidades terrenas, compreende a inutilidade dos funerais pomposos,
que servem mais aos que ficam do que aos que partiram.
Muitas
vezes, o Espírito assiste ao seu próprio velório, não sendo raro as decepções
que experimenta, ao se defrontar com alguns visitantes falando mal do
“extinto”, contando piadas ou em conversas sobre negócios regadas a bebida
alcoólica, sem qualquer respeito pela memória do recém-desencarnado. Mais
decepcionado este fica, ainda, quando assiste às reuniões dos herdeiros,
disputando, em brigas acirradas, a divisão dos bens do espólio.
As
imagens e evocações das palestras dos presentes incidem sobre a mente do recém-desencarnado,
o qual, na maioria das vezes, por ausência de preparo espiritual e
desconhecimento das Leis Naturais, embora morto biologicamente, ainda não se
desligou, mentalmente, dos despojos, o que lhe traz muito sofrimento, inclusive
sensações desagradáveis, perturbações e pesadelos, dificultando ainda mais o
seu desenlace (ver, no it. 7.4.7, a diferença entre desencarnação e morte
biológica). O fato é que a menção do nome do próprio falecido e de outros
mortos transforma-se em verdadeira invocação, atraindo-os ao ambiente em que
nos encontramos (consultar cap. 14, da obra Obreiros da vida eterna, do autor
espiritual
André
Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier, um caso prático de evocação
inconsciente ocorrido num velório).
Qual,
então, deve ser a nossa conduta, nessas ocasiões? A mesma postura de respeito
que devemos ter para com qualquer pessoa encarnada. Uma prece sincera, um
pensamento simples, mas bondoso, endereçado aos entes que partiram, valem mais
do que mil coroas de flores e solenidades fúnebres.
Todavia,
não nos esqueçamos de que mais importante não é o comportamento nosso na hora
da desencarnação de um ente querido, ou no momento de nossa própria morte
física, mas sobretudo a conduta que devemos ter durante toda a nossa existência
física, pois que, sendo Espíritos imortais, nossa vida é uma constante
preparação para a morte, razão pela qual é preciso viver bem para morrer bem.
Christiano Torchi - Livro:
Espiritismo passo a passo com Kardec
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