sábado, 5 de junho de 2021

Na grande romagem

 

“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia...” Paulo (Hebreus, 11:8)

Pela fé, o aprendiz do Evangelho é chamado, como Abraão, à sublime herança que lhe é destinada.

A conscrição atinge a todos.

O grande patriarca hebreu saiu sem saber para onde ia...

E nós, por nossa vez, devemos erguer o coração e partir igualmente.

Ignoramos as estações de contato na caminhada enorme, mas estamos informados de que o nosso objetivo é Cristo Jesus.

Quantas vezes seremos constrangidos a pisar sobre espinheiros da calúnia?

Quantas vezes transitaremos pelo trilho escabroso da incompreensão? Quantos aguaceiros de lágrimas nos alcançarão o espírito? Quantas nuvens estarão interpostas, entre o nosso pensamento e o Céu, em largos trechos da senda?

Insolúvel a resposta. Importa, contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria redenção, sem esmorecimento.

Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade; depois, é o sofrimento e, em seguida, é a solidão...

Ainda assim, é indispensável seguir sem desânimo.

Quando não seja possível avançar dois passos por dia, desloquemo-nos para diante, pelo menos, alguns milímetros...

Abre-se a vanguarda em horizontes novos de entendimento e bondade, iluminação espiritual e progresso na virtude.

Subamos, sem repouso, pela montanha escarpada:

Vencendo desertos...

Superando dificuldades...

Varando nevoeiros...

Eliminando obstáculos...

Abraão obedeceu, sem saber para onde ia, e encontrou a realização da sua felicidade.

Obedeçamos, por nossa vez, conscientes de nossa destinação e convictos de que o Senhor nos espera, além da nossa cruz, nos cimos resplandecentes da eterna ressurreição.

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 003

sábado, 29 de maio de 2021

O grande restaurador


 

Mateus, 4:24 e 25; João, 9:2 e 3; Mateus, 11:28

 

As palavras que Ele pronunciava, emolduravam-se com os atos que Ele realizava. Identificado com Deus, Suas mãos produziam as curas mais diversas, e que nunca haviam acontecido antes.

De todo lugar, portanto, particularmente da Síria, traziam doentes: paralíticos, cegos, surdos, lunáticos, infelizes de todo porte, que chegavam exibindo suas dores mais cruéis e padecimentos sem conforto.

Jesus, tomado de compaixão, atendia-os, ministrando-lhes o bálsamo da misericórdia que escorria pelas mãos e alterava a tecedura orgânica desorganizada, restaurando-lhes a saúde.

Era natural que, à medida que libertava os enfermos das suas mazelas, que eles próprios haviam buscado através da insensatez, da perversidade e do crime, mais necessitados O buscassem com avidez e tormentos. Ele, porém, não atendia a todos quantos se Lhe apresentassem procurando a recuperação orgânica, emocional ou mental. A Sua era uma terapia de profundidade, que sempre convocava o paciente a não voltar a pecar, evitando-se novos comprometimentos tormentosos, para que não acontecesse nada pior. Essa, sim, seria a cura real, a de natureza interior, mediante a transformação moral, em razão de se encontrar no imo do ser a causa do seu padecimento.

Conhecendo que todos os seres procedem de outros caminhos, os mais variados, que foram percorridos pelos multifários renascimentos carnais, cada qual imprime nos tecidos delicados do espírito os atos que praticaram, fazendo jus às ocorrências de dor e sombra em que se encontravam, assim como das alegrias e da saúde que os visitavam. A criatura é a semeadora, mas também a ceifeira dos próprios atos, que se insculpem nos refolhos do ser, desenhando as futuras experiências humanas no corpo.

Eis por que nem todos os doentes Lhe recebiam a atenção que esperavam encontrar. Não estavam em condições de ser libertados das aflições que engendraram antes para eles próprios, correndo o risco de logo que se encontrassem menos penalizados, corressem na busca de novas inquietações.

A sabedoria de Jesus é inigualável, porque penetra no âmago dos acontecimentos, de onde retira o conhecimento que faculta entender o que sucede com cada qual que O procura.

Aqueles homens e mulheres alienados, de membros paralisados, sem audição nem claridade ocular, procediam de abismos morais em que se atiraram espontaneamente, desde que luz em toda criatura a noção da Verdade, do dever e se encontram ínsitos os impulsos do amor e da paz. Não obstante, a teimosia rebelde despreza os sinais de perigo e impõe os caprichos da personalidade inquieta, desejando alterar os impositivos das leis universais a seu benefício, em detrimento das demais pessoas, no que resultam os dramas imediatos e futuros que sempre alcançam os infratores.

Jesus não se permitia alterar os soberanos códigos, beneficiando aqueles que se encontravam incursos nos resgates não concluídos, deixando outros ao abandono. A Sua é a justiça ideal, que não privilegia, nem esquece.

Temos a real demonstração no atendimento ao nato-cego. Aquele homem nascera cego e sofria, mas não reclamava. Quando Jesus passou próximo a ele, os amigos interrogaram:

— Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?

Como ele era cego de nascença, não poderia ter pecado na atual existência e igualmente não poderia resgatar dívidas de seus pais, caso fossem pecadores.

Jesus, que lhe penetrara a causalidade da cegueira, redarguiu, sereno:

— Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.

Tratava-se de um voluntário, que se apresentava no ministério de Jesus, a fim de que se pudessem manifestar as obras de Deus, o poder de que se encontrava possuidor o Mestre. E, ato contínuo, curou o homem, utilizando-se de um processo especial, que pudesse impressionar os circunstantes.

A Sua autoridade moral produzia vibrações que afastavam os Espíritos perversos, para os quais o verbo franco e gentil não lograva o êxito que se fazia necessário. Perdidos em si mesmos, conheciam da vida apenas o temor que experimentavam e que infligiam nas suas vítimas. Outros enfermos, no entanto, ao leve contato das Suas mãos recebiam a energia vitalizadora, que restaurava o campo vibratório onde se encontravam as matrizes geradoras das aflições, modificando-lhes as estruturas e reabilitando o equilíbrio.

Dessa forma, era facultado ao endividado recuperar-se moralmente pelo Bem que pudesse fazer, pela utilidade de que se tornava portador, auxiliando outras pessoas que dele se acercassem.

A humanidade ainda padece essas conjunturas aflitivas que merece.

Existem muitos seres humanos que andam, porém, são paralíticos para o Bem, encontrando-se mutilados morais, dessa maneira sem interesse por movimentarem a máquina orgânica de que se utilizam para a própria como para a edificação do seu próximo. Caminham, e seus passos os dirigem para as sombras, a que se atiram com entusiasmo e expectativas de prazer, imobilizando-se nas paixões dissolventes que terão de vencer...

Há outros que pensam, mas a alucinação faz parte da sua agenda mental: devaneando no gozo, asfixiando-se nos vapores entorpecentes, longe de qualquer realização enobrecedora. Intoxicados pela ilusão dos sentidos, não conseguem liberar-se das fixações perniciosas que os atraem e os dominam.

(...) E quantos que têm olhos e ouvidos, mas apenas deles se utilizam para os interesses servis a que se entregam raramente direcionando a visão para o Alto e a audição para a mensagem de eterna beleza da vida?

Ainda buscam Jesus nos templos de fé, a que recorrem, uma que outra vez, mantendo a fantasia de merecer privilégios, de desfrutar regalias, sem qualquer compromisso com a realidade ou expectativa ditosa para o amanhã, sem a mórbida inclinação para o vício, para a perversão.

Alguns conseguem encontrá-lo, e se fascinam por breves momentos, logo O abandonando, porque não tiveram a sede de gozo atendida, nem se fizeram capazes de sacrificar a dependência tormentosa a fim de serem livres.

Não são poucos aqueles que se encontram escravizados à infelicidade por simples prazer a que se acostumaram, disputando a alegria de permanecer no pantanal das viciações morais.

Estão na luz do dia e deambulam nas sombras da noite. Possuem razão e discernimento, no entanto, os direcionam exclusivamente para os apetites apimentados do insaciável gozo.

Vivem iludidos e se exibem extravagantes, no palco terrestre, até quando as enfermidades dilaceradoras — de que ninguém se pode evadir —, ou a morte os dominam e consomem. Despertam, mais tarde, desiludidos e sem glórias, sem poder, empobrecidos de valores morais, que nunca os acumularam.

Jesus é, portanto, o grande restaurador, mas cada espírito tem o dever de permitir-se o trabalho de autorrenovação em favor da própria felicidade.

A Sua voz continua ecoando na acústica das almas:

- Vinde a mim, (...), e eu vos aliviarei!

É necessário, porém, ir a Ele...


Amélia Rodrigues / Divaldo Franco – Livro: Vivendo com Jesus

Oração da Caridade

 


Amigo!

Em meu manto, constelado de amor, guardo todas as criaturas.

Tenho estado contigo, desde a hora primeira.

Embalei-te o berço frágil.

Acalentei-te nos beijos de tua mãe.

Segui-te os passos na escola, orientei-te as mãos no trabalho.

Venho ao teu encontro, por inspiração de Jesus, a quem obedeço, em nome do Pai Excelso.

Com Ele estive, em todos os instantes de apostolado.

Fui eu quem lavou as chagas dos leprosos tocados pelas Divinas Mãos, em sublime retorno à Luz.

Reuni os pobres e os fracos, os desesperados e os oprimidos, para que Lhe ouvissem, na Terra, o Sermão da Montanha.

Conversei com Zaqueu iludido pela vaidade da posse e abracei a Madalena, que os homens desprezavam...

Fui ainda eu quem Lhe escutou a solicitação, nos tormentos da cruz, pedindo socorro e compreensão para Judas, o apóstolo desditoso!

Procuro-te agora, suplicando asilo e cooperação.

Alivia comigo as chagas dos que padecem e dar-te-ei o esquecimento das próprias dores.

Cede-me tua palavra, para que o fel se extinga no mundo e entrega-me teus braços, para que o bem se espalhe vitorioso...

Ouve-me e perceberás as revelações de Deus.

Acompanha-me e conhecerás a felicidade.

Não te detenhas.

Ainda hoje necessito de ti, para que gemidos emudeçam e lágrimas se estanquem.

Não importa o que tenhas sido. Importa que te rendas ao Cristo, para que a Terra te abençoe a passagem.

Vem e socorre-me!

Levanta-te e ajuda-me!

Amando e servindo, chegaremos juntos à Glória Celestial.

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: À Luz da Oração

Modo de fazer

 

" De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. Paulo (Filipenses 2:5)

Todos fazem alguma coisa na vida humana, mas raros não voltam à carne para desfazer quanto fizeram.

Ainda mesmo a criatura ociosa, que passou o tempo entre a inutilidade e a preguiça, é constrangida a tornar à luta, a fim de desintegrar a rede de inércia que teceu ao redor de si mesma.

Somente constrói, sem necessidade de reparação ou corrigenda, aquele que se inspira no padrão de Jesus para criar o bem.

Fazer algo em Cristo é fazer sempre o melhor para todos:

Sem expectativa de remuneração.

Sem exigências.

Sem mostrar-se.

Sem exibir superioridade.

Sem tributos de reconhecimento.

Sem perturbações.

Em todos os passos do Divino Mestre, vemo-lo na ação incessante, em favor do indivíduo e da coletividade, sem prender-se.

Da carpintaria de Nazaré à cruz de Jerusalém, passa fazendo o bem, sem outra paga além da alegria de estar executando a Vontade do Pai.

Exalta o vintém da viúva e louva a fortuna de Zaqueu, com a mesma serenidade.

Conversa amorosamente com algumas criancinhas e multiplica o pão para milhares de pessoas, sem alterar-se.

Reergue Lázaro do sepulcro e caminha para o cárcere, com a atenção centralizada nos Desígnios Celestes.

Não te esqueças de agir para a felicidade comum, na linha infinita dos teus dias e das tuas horas. Todavia, para que a ilusão te não imponha o fel do desencanto ou da soledade, ajuda a todos, indistintamente, conservando, acima de tudo, a glória de ser útil, "de modo que haja em nós o mesmo sentimento que vive em Jesus Cristo".

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 002

sábado, 22 de maio de 2021

Paciência não se perde

 


"Pela paciência possuireis as vossas almas."


É muito comum ouvirmos esta exclamação: perdi a paciência! Como sabem, porém, que perderam a paciência? Porque quando precisaram daquela virtude para se manterem calmos e serenos não a encontraram consigo, e, por isso, exasperaram-se, praticaram desatinos, proferiram impropérios e blasfêmias?

Só pelo fato de não encontrarem em seu patrimônio moral aquela virtude, alegam logo que a perderam. Como poderiam, porém, perder o que não possuíam?

Será melhor que os homens se convençam de que eles não têm paciência, que ainda não alcançaram essa preciosa qualidade que, no dizer do Mestre insigne, é a que nos assegura a posse de nós mesmos: Pela paciência possuireis as vossas almas. E não pode haver maior conquista que a conquista própria. Já alguém disse, com justeza, que o homem que se conquistou a si mesmo vale mais que aquele que conquistou um reino.

Os reinos são usurpados mediante o esforço e o sangue alheio, enquanto que a posse de si mesmo só pode advir do esforço pessoal, da porfia enérgica e perseverante da individualidade própria, agindo sobre si mesma.

Todos esses, pois, que vivem constantemente alegando que perderam a paciência, confessam involuntariamente que jamais a tiveram. Paciência não se perde como qualquer objeto de uso ou como uma soma de dinheiro. Os que ainda não lograram alcançá-la, revelam essa falha precisamente no momento em que se exasperam, em que perdem a compostura e cometem despautérios. Quando, depois, o ânimo serena, o homem diz: perdi a paciência. Não perdeu coisa alguma; não tenho paciência é o que lhe compete reconhecer e confessar.

Às virtudes, esta ou aquela, fazem parte de uma certa riqueza cujo valor imperecível Jesus encarece sobremaneira em seu Evangelho, sob estas sugestivas palavras: Granjeai aquela riqueza que o ladrão não rouba, a traça não rói, o tempo não consome e a morte não arrebata.

Tais bens são, por sua natureza, inacessíveis às contingências da temporalidade, e não podem, portanto, desaparecer em hipótese alguma. Constituem propriedade inalienável e legitimamente adquirida pelo Espírito, que jamais a perderá.

Não é fácil adquirirmos certas virtudes, entre as quais se acha a paciência. A aquisição da paciência depende da aquisição de outras virtudes que lhe são correlatas, que se acham entrelaçadas com ela numa trama perfeita. A paciência — podemos dizer — é filha da humildade e irmã da fortaleza, do valor moral. O orgulho é o seu grande inimigo. A fraqueza de Espírito é outro obstáculo à conquista daquele precioso tesouro. Todos os movimentos intempestivos, todo ato violento, toda atitude colérica são oriundos da suscetibilidade do nosso amor próprio exagerado.

A seu turno, os desesperos, as aflições incontidas, os estados de alucinação, os impropérios e blasfêmias são consequências de fraqueza de ânimo ou debilidade moral. A calma e a serenidade de ânimo, em todas as emergências e conjunturas difíceis da vida, só podem ser conservadas mediante a fortaleza e a humildade de Espírito. É essa condição inalterável de ânimo que se denomina paciência. Ela é incontestavelmente atestado eloquente de alto padrão moral.

Naturalmente, em épocas de calmaria, quando tudo corre ao sabor dos nossos desejos, parece que possuímos aquele preciosíssimo bem. Os homens, quando dormem, são todos bons e inocentes. É exatamente nas horas aflitivas, nos dias de amargura, quando suportamos o batismo de fogo, que verificamos, então, a inexistência da sublime virtude conosco.

No mundo, observou o Mestre, tereis tribulações, mas tende bom ânimo: eu venci o mundo. Como ele venceu, cumpre a nós outros, como discípulos, imitá-lo, vencendo também. Cristo é o sublime modelo, é o grande paradigma. Não basta conhecer seus ensinamentos, é preciso praticá-los.

Daí a necessidade de fortificarmos nosso Espírito, retemperando-o nos embates cotidianos como o ferreiro que, na forja, tempera o aço até que o torna maleável e resistente.

A existência humana é urdida de vicissitudes e de imprevistos. Tais são as condições que havemos de suportar como consequências do nosso passado. A cada dia a sua aflição — reza o Evangelho em sua empolgante sabedoria. Portanto, cumpre nos tornemos fortes para vencermos.

Fomos dotados dos predicados para isso. Tudo que eu faço, asseverou o Mestre, vós também podeis fazer. Se nos é dado realizar os feitos maravilhosos do Cristo de Deus, porque permanecemos neste estado de miserabilidade moral? Simplesmente porque temos descurado a obra de nossa educação.

A educação do Espírito é o problema universal.

A obra da salvação é obra de educação, nunca será demais afirmar esta tese.

A religião que o momento atual da Humanidade reclama é aquela que apela para a educação sob todos os aspectos: educação física, educação intelectual, educação cívica, educação mental, educação moral.

A fé que há de salvar o mundo é aquela que resulta desta sentença: Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito.

  Pedro Camargo / Livro: Em torno do Mestre

Prece de Clementino

 


“Divino Mestre, lança compassivo olhar sobre a nossa família aqui reunida...

“Viajores de muitas romagens, repousamos neste instante sob a árvore bendita da prece e te imploramos amparo!

“Todos somos endividados para contigo, todos nos achamos empenhados à tua bondade infinita, à maneira de servos insolventes para com o senhor.

“Mas, rogando-te por nós todos, pedimos particularmente agora pelo companheiro que, decerto, encaminhas ao nosso coração, qual se fora uma ovelha que torna ao aprisco ou um irmão consanguíneo que volta ao Lar...

“Mestre, dá-nos a alegria de recebê-lo de braços abertos.

“Sela-nos os lábios para que lhe não perguntemos de onde vem e descerra-nos a alma para a ventura de tê-lo conosco em paz.

“Inspira-nos a palavra a fim de que a imprudência não se imiscua em nossa língua, aprofundando as chagas interiores do irmão, e ajuda-nos a sustentar o respeito que lhe devemos...

“Senhor, estamos certos de que o acaso não te preside às determinações!

“Teu amor, que nos reserva invariavelmente o melhor, cada dia, aproxima-nos uns dos outros para o trabalho justo.

“Nossas almas são fios da vida em tuas mãos!

“Ajusta-os para que obtenhamos do Alto o favor de servir contigo!

“Nosso Libório é mais um irmão que chega de longe, de recuados horizontes do passado...

“Ó Senhor, auxilia-nos para que ele não nos encontre proferindo o teu nome em vão!...”

 

André Luiz / Chico Xavier – Livro: Nos domínios da mediunidade

Ante a lição

 

"Considera o que te digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo." Paulo (II Timóteo, 2:7)

 

Ante a exposição da verdade, não te esquives à meditação sobre as luzes que recebes.

Quem fita o céu, de relance, sem contemplá-lo, não enxerga as estrelas; e quem ouve uma sinfonia, sem abrir-lhe a acústica da alma, não lhe percebe as notas divinas.

Debalde escutarás a palavra inspirada de pregadores ardentes, se não descerrares o coração para que o teu sentimento mergulhe na claridade bendita daquela.

Inúmeros seguidores do Evangelho se queixam da incapacidade de retenção dos ensinos da Boa Nova, afirmando-se ineptos à frente das novas revelações, e isto porque não dispensam maior trato à lição ouvida, demorando-se longo tempo na província da distração e da leviandade.

Quando a câmara permanece sombria, somos nós quem desata o ferrolho à janela para que o sol nos visite.

Dediquemos algum esforço à graça da lição e a lição nos responderá com as suas graças.

O apóstolo dos gentios é claro na observação. "Considera o que te digo, porque, então, o Senhor te dará entendimento em tudo."

Considerar significa examinar, atender, refletir e apreciar.

Estejamos, pois, convencidos de que, prestando atenção aos apontamentos do Código da Vida Eterna, o Senhor, em retribuição à nossa boa vontade, dar-nos-á entendimento em tudo.

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 001

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Suely Caldas Schubert

 



“Não estamos na obra do mundo para aniquilar o que é imperfeito, mas para completar o que se encontra inacabado”. Com esta frase de Emmanuel, Suely Caldas Schubert iniciava artigo publicado na revista Reformador (FEB), em abril de 1982. Suely que vivia o lema “Ama, trabalha, espera e perdoa” em suas tarefas diárias, deixou para o Movimento Espírita contribuições em busca desta completude por ela mesma lembrada para a elevação da humanidade.

Expositora, estudiosa e pesquisadora da Doutrina Espírita, Suely Caldas Schubert nasceu em 9 de dezembro de 1938, em Carangola (MG). Dedicou-se desde a juventude às atividades espíritas, especialmente no âmbito da mediunidade e na divulgação do Espiritismo.

Seus pais e avós maternos e paternos eram espíritas. A mediunidade surgiu muito cedo em sua vida, a ela se dedicando há mais de sessenta anos. Dizia que a mediunidade só lhe trouxe alegrias. “Eu nunca tive nenhuma dor, nenhum sofrimento que eu atribuí à mediunidade. Eu não sei viver a minha vida sem o trabalho mediúnico. Mas acima de tudo está a doutrina”. Evidenciava que “o Espiritismo, o Evangelho do Cristo à luz da Doutrina Espírita está em primeiro lugar na minha vida”.

Nos trouxe na obra O Semeador de Estrelas a biografia de Divaldo Franco. Em Testemunhos de Chico Xavier presenteou o público com a intimidade e lutas do médium mineiro. Retratos de personalidades que trabalhavam o bem, tal como a própria autora que escrevia sua biografia de amor ao longo desta existência.

Realizou diversas palestras, tendo participado de seminários no Brasil e no Exterior. Foi uma das fundadoras da Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, em Juiz de Fora. Atuou durante quarenta anos na Aliança Municipal Espírita, onde exerceu diversos cargos. Dedicou-se à Doutrina com conhecimento, amor e seriedade.

Suely falava que o pouco que sabe se deve à leitura, sendo uma leitora compulsiva. Da ávida dedicação aos livros e à busca por conhecimento veio certamente a boa prática da escrita. Autora de dezenas de livros, conta com títulos pela FEB Editora: Testemunhos de Chico Xavier, Entrevistando Allan Kardec, Dimensões espirituais do centro espírita Obsessão/Desobsessão.

Prestes a ser lançada, a obra Chico Xavier e Emmanuel – Dores e glórias, também pela FEB Editora, nos traz Chico Xavier como objeto de estudo e meta de proceder, em uma prazerosa leitura sobre a mediunidade. Uma obra que, sobretudo neste momento, nos traz ainda mais próxima a figura de Suely, tão devotada à causa espírita e à Casa FEB de onde foi diretora, amiga e dedicada colaboradora. 

A esta dedicada servidora da Seara de Jesus, a nossa eterna gratidão.


Federação Espírita Brasileira


Humildade

 

"Bem-aventurados os humildes - afirmou o Divino Mestre porque deles é o reino dos céus". E ainda: "Aquele que se humilha, será exaltado, e o que se exalta será humilhado". A exaltação do humilde é a glória de Deus; e a que maior nível poderia o homem aspirar, e que maior prêmio lhe poderia ser concedido? A humildade do Espírito condu-lo às elevadas regiões do Incognoscível; a exaltação do seu próprio "eu", por suas forças mesmas, em arremesso de soberbia, lança-o, pelo contrário, às "trevas exteriores", aos abismos negregosos da degradação. Por mais estranho que pareça, é assim que se dá, e deste modo, à força de querer exaltar-se, por   sobrelevar-se aos demais, desprezando-os, o homem cada vez mais se atasca no lodo que produzem os pés a castigar a terra; e, em breve, essa argamassa o afoga, quando esperava ele alçar-se e construir um castelo em tão frouxa e inconsistente base.

Não há de ser assim, portanto. Não será a matéria pesada que se eleve, mas essa outra que, sublimada, se alcandore nos espaços; e por ser verdade que a matéria atrai a matéria, tais sejam suas naturezas haverá atração para o inferno das sombras ou para o céu da luz. O que parecia, pois, incompreensível absurdo, é a consequência lógica da lei da atração universal, em toda a sua pujança e amplitude. "Quem se humilhar será exaltado" é conceito profundo que importa compreender, por isso mesmo, com simplicidade e que não entendem os soberbos, os que impam de orgulho, os que não enxergam senão o seu mundo - que é, afinal, sua mísera pessoa; é natural corolário, ou melhor, inalienável parte do princípio único e eterno que rege a tudo quanto existe.

É lídima consequência dessa norma inabalável que os convictos de sua sabedoria nada possam entender do muito que ignorem; estando consigo mesmo satisfeitos, nada mais perscrutam; tudo pretendendo saber, nada mais lhes interessa, e a razão de tudo a encontram no angusto círculo que se criaram, fugindo ao contato do mundo exterior, onde existe realmente a razão de todas as coisas. Nem há o mundo de se amoldar a tão ridícula fôrma, senão que há o homem de fazer para si o molde que se ajuste à fôrma geral.

As forças, que imagina esse homem cheio de vaidade ter criado, não só incapazes são de levá-lo à compreensão da ordem universal, mas também mais e mais o agrilhoam num cárcere voluntário. Procurando exaltar-se, encontrará quem lhe diga: "Muda-te para o último lugar, pois outro conviva existe mais digno do que tu, e a esse quero conceder o lugar de honra". E muito admirado fica de que haja alguém que lhe seja superior; e inflama-se de cólera, julgando-se ofendido, por não só não lhe apreciarem os méritos, senão também por o olharem de cima para baixo.

De que teria sido isto resultado? Apenas dum falso juízo a seu próprio respeito; e a consequência fatal será sofrer o exaltado a admoestação humilhante, que bem devera ter evitado.  Por que, então - perguntará - aquele obscuro conviva, de cuja presença ele nem se dera conta há de ocupar o lugar de honra? Pois ele se olha cheio de merecimentos, crê-se de todos conhecido pretende as homenagens de toda a gente; e aquele, que veio sem estardalhaço, que todo o tempo, antes do banquete, se sentou a um canto da sala; de quem ele jamais ouvira falar – aquele é que mereça as honras da noite, enquanto ele é degradado, como um verme desprezível, digno de escárnio? De que lhe valeram - continua - todos os esforços por sobressair da massa ignara, lutando por enriquecer-se de saber, buscando um nível donde pudesse rir da estulta populaça, enchendo-se de vento por escapar às emanações deletérias do charco, onde coleiam répteis imundos? Atiram-lhe à face essa mesma lama, cujo afrontoso contato ele tanto evitara! Fazem-no descer ao mesmo degrau, de onde pensara que viera, vituperando-lhe os brios! Mas, ai, é que nunca deixara a lama, nem jamais se movera do primeiro degrau! Nada mais fizera senão acomodar-se à vasa, a qual, já por fim, transformara, por autossugestão, num jardim florido; e, ainda, numa verdadeira ilusão de sentidos deformados, pensara realizado o sonho de voltejar acima de si mesmo... 

Não! Decerto não serão tais forças, oriundas do orgulho e da vaidade, que exalcem o indivíduo às regiões que sonha. Da mesma forma que a pesada névoa da manhã desce do céu aos montes e se imiscui nos vales que ainda modorram, subindo e, por fim, desfazendo-se ao toque mágico do raio do Sol, assim também tem o homem de receber o toque duma luz que o sublime, carreando-o muito acima dos vapores duma atmosfera adensada. Por sua própria natureza, as névoas não transpõem a altura das nuvens; mas, de essência diversa, o Espírito se elevará a regiões jamais cogitadas, tangido por força dessa energia superior que demora muito além do astro central de nosso sistema.

Essa, a real exaltação de quem não dispõe de forças, mas espera-as duma Fonte capaz de sublimá-lo; e quanto mais humilde se faça, tanto mais alto se eleva, pois, é do vale que sobe o nevoeiro, e é esse nevoeiro que se transforma em nuvens, e são essas nuvens a bênção dos Céus, nas chuvas que dessedentam.

Correm, humildes, os ribeiros, e glorificam o Senhor, a cantar entre as pedras, tão humildes quanto as águas modestas; mas são essas águas uma potência, de que se utiliza o homem para seu sustento. Humildes e ocultas são as raízes, sem as quais, entretanto, não se erigem os troncos, não despontam as folhas, não se enfloram as ramagens - ainda feridas pelos meigos e vivificantes raios do nosso foco material de luz e de calor. Águas e raízes trabalham à sombra de sua santa humildade, enaltecendo-se por isso mesmo que enaltecem a Forca da qual recoltam forças. Não pretendem mais alto posto, justamente porque acreditam já lhes ser muito ser parte do grande Todo, essa realidade que, só ela, é efetivamente grande. Realidade é essa, com efeito, e tudo o mais é jactância. Quanto maior a pedra, tanto mais se afunda no atoleiro; torne-se ela permeável ao ar, e flutuará no aguaçal. Quanto mais o homem se encharque da bazófia mundana, tanto mais preso se achará à grosseira matéria desse mundo: permita que se lhe infiltrem os fluidos celestes, e com eles subirá, exaltando-se aos olhos do Senhor. Enquanto, porém, se esforçar por crescer aos olhos dos homens, continuará pequeno e cada vez menor; pois os homens buscarão, antes, esmagá-lo e carregá-lo de seus fluidos pesados.

Por isto disse o Mestre: "Bem-aventurados os humildes, porque deles é o reino dos céus".  Humilhou-se ele mesmo, sofrendo o que ninguém pudera sofrer, podendo, com um só golpe de sua enorme vontade, exterminar seus algozes; mas humilhou-se, para ascender, no termo de seu suplício, aos Céus, donde viera para esse exemplo vivo de humildade. Desceram os primeiros cristãos aos circos do sacrifício, padeceram como se nada pudessem, tendo, - no entanto, ao lado o exército invisível do Senhor, o qual poderia ajudá-los desbaratando-lhes todos os inimigos; tudo viveram, para uma vida maior, numa atitude excelsa de encantadora humilhação.  Humilhou-se o publicano, que, orando, sem ousar levantar os olhos, exclamou: "O' Deus, sê benevolente comigo, pecador", e do qual disse o Nazareno: "Digo-vos que este desceu justificado para sua casa"; ao passo que o fariseu, ao lado, dizendo: "O' Deus, graças te dou por não ser como os demais homens, que são ladrões, injustos, adúlteros, nem ainda como este publicano", recebeu a reprovação do Messias. Exaltamo-nos toda vez que nos recolhemos à nossa humildade; somos humilhados sempre que vivemos para nossa exaltação.

A muitos repugna o humilhar-se - afirmou Kardec - à vista, mesmo, do juízo do mundo, que os impede de fazê-lo, ainda que o quisessem; baste-nos, porém, pensar em que a cada passo nos humilhamos, em mil ocorrências da vida diária. São esses nadas que nos vão polindo, como as águas correntes vão desbastando as arestas das pedras, transformando estas em seixos rolados, em areia fina, em pó impalpável, que rodopia no ar. Humilhamo-nos, sem querer e sem o sentir, sob o peso – não o peso estulto da vanglória, mas da Lei Divina, que ampara os humildes para dar-lhes o lugar reservado aos eleitos dos Céus.

É mister, contudo, ainda mais: o domínio do próprio íntimo naturalmente rebelde, sempre disposto a irrefletida reação aos golpes do que o homem julga da adversidade. Cumpre esgotar o cálice da amargura, sorvendo-o gota a gota, que abrasa e parece destruir, fibra a fibra, a alma atormentada; o cáustico é, porém, o remédio desse Médico de todos nós, e de sua penosa, mas salutar ação resultará novo tecido, com que se eleve o Espírito aos páramos de seu real objetivo.

Se do Mestre somos seguidores, imitemo-lo; se lhe somos discípulos, obedeçamos-lhe; humilhou-se, para exaltar-se: façamos nós o mesmo.

  Porto Carreiro Neto / Revista Reformador – novembro/1947