sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Ante os tempos novos

 

Enquanto a história relaciona a intervenção de fadas, referindo–se aos gênios tutelares, aos palácios ocultos e às maravilhas da floresta desconhecida, as crianças escutam atentas, estampando alegria e interesse no semblante feliz.

Todavia, quando o narrador modifica a palavra, fixando-a nas realidades educativas, retrai–se à mente infantil, contrafeita, cansada...

Não compreende a promessa da vida futura, com os seus trabalhos e responsabilidades.

Os corações, ainda tenros, amam o sonho, aguardam heroísmo fácil, estimam o menor esforço, não entendem, de pronto, o labor divino da perfeição eterna e, por isso, afastam-se do ensinamento real, admirados, espantadiços. A vida, porém, espera-os com as suas leis imutáveis e revela-lhes a verdade, gradativamente, sem ruídos espetaculares, com serenidade de mãe.

As páginas de André Luiz recordam essa imagem.

Enquanto os Espíritos Sábios e Benevolentes trazem a visão celeste, alargando o campo das esperanças humanas, todos os companheiros encarnados nos ouvem, extáticos, venturosos. É a consolação sublime, O conforto desejado. Congregam-se os corações para receber as mensagens do céu. Mas, se os emissários do plano superior revelam alguns ângulos da vida espiritual, falando-lhes do trabalho, do esforço próprio, da responsabilidade pessoal, da luta edificante, do estudo necessário, do autoaperfeiçoamento, não ocultam a desagradável impressão.

Contrariamente às suposições da primeira hora, não enxergam o céu das facilidades, nem a região dos favores, não divisa acontecimentos milagrosos nem observam a beatitude repousante. Ao invés do paraíso próximo, sente-se nas vizinhanças de uma oficina incansável, onde o trabalhador não se elevará pela mão beijada do protecionismo e sim à custa de si mesmo, para que deva à própria consciência a vitória ou a derrota. Percebem a lei imperecível que estabelece o controle da vida, em nome do Eterno, sem falsos julgamentos.

Compreendem que as praias de beleza divina e os palácios encantados da paz aguardam o Espírito noutros continentes vibratórios do Universo, reconhecendo, no entanto, que lhes compete suar e lutar, esforçar-se e aprimorar-se por alcançá-los, bracejando no imenso mar das experiências.

A maioria espanta-se e tenta o recuo. Pretende um céu fácil, depois da morte do corpo, que seja conquistado por meras afirmativas doutrinais.

Ninguém, contudo, perturbará a lei divina; a verdade vencerá sempre e a vida eterna continuará ensinando, devagarzinho, com paciência maternal.

Ao Espiritismo cristão cabe, atualmente, no mundo, grandiosa e sublime tarefa. Não basta definir-lhe as características veneráveis de Consolador da Humanidade, são preciso também lhe revelar a feição de movimento libertador de consciências e corações.

A morte física não é o fim. É pura mudança de capítulo no livro da evolução e do aperfeiçoamento. Ao seu influxo, ninguém deve esperar soluções finais e definitivas, quando sabemos que cem anos de atividade no mundo representa uma fração relativamente curta de tempo para qualquer edificação na vida eterna.

Infinito campo de serviço aguarda a dedicação dos trabalhadores da verdade e do bem. Problemas gigantescos desafiam os Espíritos valorosos, encarnados na época presente, com a gloriosa missão de preparar a nova era, contribuindo na restauração da fé viva e na extensão do entendimento humano.

Urge socorrer a Religião, sepultada nos arquivos teológicos dos templos de pedra, e amparar a Ciência, transformada em gênio satânico da destruição. A espiritualidade vitoriosa percorre o mundo, regenerando-lhe as fontes morais, despertando a criatura no quadro realista de suas aquisições. Há chamamentos novos para o homem descrente, do século XX, indicando-lhe horizontes mais vastos, a demonstrar-lhe que o Espírito vive acima das civilizações que a guerra transforma ou consome na sua voracidade de dragão multimilenário.

Ante os tempos novos e considerando o esforço grandioso da renovação, requisita-se o concurso de todos os servidores fiéis da verdade e do bem para que, antes de tudo, vivam a nova fé, melhorando-se e elevando-se cada um, a caminho do mundo melhor, a fim de que a edificação do Cristo prevaleça sobre as meras palavras das ideologias brilhantes.

Na consecução da tarefa superior, congregam-se encarnados e desencarnados de boa vontade, construindo a ponte de luz, através da qual a Humanidade transporá o abismo da ignorância e da morte.

É por este motivo, leitor amigo, que André Luiz vem, uma vez mais, ao teu encontro, para dizer-te algo do serviço divino dos “Missionários da Luz”, esclarecendo, ainda, que o homem é um Espírito Eterno habitando temporariamente o templo vivo da carne terrestre, que o perispírito não é um corpo de vaga neblina e sim organização viva a que se amoldam às células materiais; que a alma, em qualquer parte, recebe segundo as suas criações individuais; que os laços do amor e do ódio nos acompanham em qualquer círculo da vida; que outras atividades são desempenhadas pela consciência encarnada, além da luta vulgar de cada dia; que a reencarnação é orientada por sublimes ascendentes espirituais e que, além do sepulcro, a alma continua lutando e aprendendo, aperfeiçoando-se e servindo aos desígnios do Senhor, crescendo sempre para a glória imortal a que o Pai nos destinou.

Se a leitura te assombra, se as afirmativas do Mensageiro te parecem revolucionárias, recorre à oração e agradece ao Senhor o aprendizado, pedindo-lhe te esclareça e ilumine, para que a ilusão não te retenha em suas malhas. Lembra-te de que a revelação da verdade é progressiva e, rogando o socorro divino para o teu coração, atende aos sagrados deveres que a Terra te designou para cada dia, consciente de que a morte do corpo não te conduzirá à estagnação e sim a novos campos de aperfeiçoamento e trabalho, de renovação e luta bendita, onde viverás muito mais, e mais intensamente. 

Emmanuel

Pedro Leopoldo, 13 de maio de 1945.

Chico Xavier – Livro: Missionários da luz

Alguma coisa

 “Não necessitam de médico os que estão sãos, mas sim os que estão enfermos”. Jesus (Lucas, 5:31)

 

Quem sabe ler, não se esqueça de amparar o que ainda não se alfabetizou.

Quem dispõe de palavra esclarecida, ajude ao companheiro, ensinando-lhe a ciência da frase correta e expressiva.

Quem desfruta o equilíbrio orgânico não despreze a possibilidade de auxiliar o doente.

Quem conseguiu acender alguma luz de fé no próprio espírito, suporte com paciência o infeliz que ainda não se abriu a mínima noção de responsabilidade perante o Senhor, auxiliando-o a desvencilhar-se das trevas.

Quem possua recursos para trabalhar, não olvide o irmão menos ajustado ao serviço, conduzindo-o, sempre que possível, a atividade digna.

Quem estime a prática da caridade, compadeça-se das almas endurecidas, beneficiando-as com as vibrações da prece.

Quem já esteja entesourando a humildade não se afaste do orgulhoso, conferindo-lhe, com o exemplo, os elementos indispensáveis ao reajuste.

Quem seja detentor da bondade não recuse assistência aos maus, de vez que a maldade resulta invariavelmente da revolta ou da ignorância.

Quem estiver em companhia da paz, ajude aos desesperados.

Quem guarde alegria, divida a graça do contentamento com os tristes.

Asseverou o Senhor que os sãos não precisam de médico, mas, sim, os enfermos.

Lembra-te dos que transitam no mundo entre dificuldades maiores que as tuas.

A vida não reclama o teu sacrifício integral, em favor dos outros, mas, a benefício de ti mesmo, não desdenhes fazer alguma coisa na extensão da felicidade comum.

 

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 028

Rogativa de fé

 


Senhor Jesus:

Uma sementeira tão grande, uma tão escassa colheita de luz!

A gleba fértil e a plantação danificada.

O solo ubérrimo e o verdor fenecendo.

Dois mil anos de Cristianismo e tão pouca manifestação de bênçãos.

Até quando Te requereremos ajuda, por quanto tempo Te suplicaremos socorro, rogando a Tua misericórdia?

Convidaste-nos, Senhor, para o aprisco da fraternidade.

Chamaste-nos para o dever da solidariedade humana.

Penosamente detemo-nos a rés-do-chão, negando-nos a ascender na direção dos rumos felizes.

Apiada-te de nós, Amigo Bem-aventurado de todas as horas, e enriquece os vazios depósitos do nosso espírito com as messes fecundas da tua paz!    

Não somos outros, Senhor, senão aqueles atormentados, que volvemos ao Teu coração magnânimo a rogar.

Ainda repetimos a experiência sem êxito, de pedir sem doar, de rogar sem oferecer, de suplicar sem ajudar.

Apiada-te de nós e favorece-nos com os tesouros, apreciáveis das tuas mercês, para que Te possamos honrar os títulos de enobrecimento e de amor.

Neste momento de comunhão, em que confraternizamos, encarnados e desencarnados, em atitude reverente, nós Te pedimos, Amigo Divino, que nos abençoes, que mitigues a nossa sede de paz, que socorras as nossas necessidades, que amenizes as nossas aflições.

Despede-nos em paz, neste breve momento, Senhor, concedendo-nos a fortuna da harmonia íntima, nesta hora de tanta tecnologia e de tanta amargura, de tanto poder e de quanta mesquinhez!

No excesso de glórias e no acume de misérias, sê Tu a força que nos comande.

Seja a Tua a presença que nos harmonize.

Permaneça em nós, Amigo de todos, a Tua paz, a Tua bênção e a Tua caridade. 

Francisco Spinelli / Divaldo Franco – Livro: Terapêutica de emergência

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Deveres imediatos

 

Porque perseverem, no mundo, as separações discriminativas da sociedade, isolando as classes e as raças humanas e formando grupos infelizes; porque o abuso do poder propicie a subtração das liberdades e dos direitos humanos; porque o homem continue escravo do homem e as conjunturas econômicas respondam pela miséria das massas; porque o obscurantismo a respeito da cultura real domine verdadeiras multidões e o acesso às escolas que libertam e burilam o pensamento constitua um privilégio para as minorias dominantes, devemo-nos empenhar em esforço hercúleo para mudar as estruturas vigentes.

Enquanto a dor física desgaste a alma, ou os problemas psíquicos gerem enfermidades orgânicas, ou as conjunturas emocionais produzam distúrbios na economia espiritual dos homens; enquanto a indiferença dos ricos marginalize o sofrimento dos pobres e o menor esforço receba estipêndios vultosos num atentado ao sacrifício das classes trabalhadoras; enquanto a morte pela fome dizime centenas de milhões de vidas ou apenas uma vida, o homem necessita modificar a forma de comportar-se, na Terra, ampliando os recursos da solidariedade e do auxílio fraterno.

Viceje o vício, que ceifa a juventude e entenebrece a vida; predomine a corrupção, que envilece a criatura; permaneçam os promotores da degradação dos costumes; assente-se o triunfo nos pântanos da vergonha moral; prospere a injustiça, mascarada de direito; reinem a violência e a agressividade, atestando a situação de primitivismo e semibarbárie da civilização, faz-se imprescindível educar o ser humano e conscientizá-lo das superiores finalidades da sua vilegiatura no curto período do trânsito somático.

Desde que o egoísmo tenha prioridade no relacionamento entre os homens em face do êxito da intriga e da calúnia bem forjadas; diante da traição que se mascara de amizade; frente ao suborno da dignidade e da consciência, na disputa dos valores de monta insignificante, porque mui passageiros; perante a vitória da impunidade, da delinquência de qualquer espécie, a real cultura não se pode entorpecer pelos vapores do adesismo de frutos apodrecidos, mas levantar-se para profligar o abuso e exalçar as conquistas do bem, do verdadeiro e do belo.

Como ainda predomine o comércio de vidas, nos bordéis da licenciosidade e nos escritórios de luxo, que vendem "imagens" ao público ávido de sensações; desde que permanece o tráfico de drogas e de alucinógenos, enlouquecendo dezenas de milhões de vidas jovens e aniquilando-as sob os disfarces da insensatez e do prazer; porque sobreviva a chantagem moral e a financeira e a submissão indigna faça parte da metodologia de situações vantajosas, eleitas pelo equívoco dos aproveitadores, é justo que o silêncio acumpliciador das mentes e caracteres honrados seja substituído pelo verbo quente e pela ação repulsiva ao estado de decomposição moral em que se encontra a quase totalidade do organismo social.

A quietação do homem justo diante do disparate do crime é conivência inconsciente para com a delinquência.

A acomodação da dignidade responde pela prevalência da desordem.

A imoralidade não espera a anuência da virtude para assentar o seu quartel, antes impõe-se, chocante e intempestiva, produzindo, pela violência dos costumes, uma aceitação a princípio tímida e depois aplaudida.

Justo que os contornos da honra não fiquem diluídos em sombras, nem os deveres do bem cedam lugar às permissividades a pretexto de tolerância e progresso.

O código irrefragável do "amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo" tem preferência a quaisquer outras posturas, porque é uma síntese soberana da lei moisaica e do antigo direito romano, que ainda, teoricamente, serve de base à Justiça humana.

As débeis tentativas da persistência do bem e da ordem deverão fortalecer-se e amiudar-se tomando o terreno que foi arbitrariamente cedido às paixões nefastas para prejuízo da harmonia social.

O homem tem o dever de recompor-se moralmente para viver em harmonia consigo mesmo e com as leis que vigem em a Natureza, refletindo a ordem da Criação.

Nunca se fizeram tão necessários quanto hoje os esforços pelo bem geral das comunidades e jamais houve tão grande urgência para as lideranças enobrecidas.

Substituir os hábitos perniciosos por comportamentos corretos; gerar atitudes e compromissos salutares no relacionamento com as demais criaturas; promover o trabalho realizador e educar o povo; produzir leis justas e fomentar o respeito pela sua vigência são as tarefas do homem integrado na vera filosofia do Cristianismo, desvestido de arbitrariedades e sofismas, acomodações utilitaristas e dogmas absurdos, numa tentativa de restauração do otimismo, que cede lugar à angústia e à neurose, ao mesmo tempo antecipando o amanhã pacífico e ditoso da Humanidade.

 Victor Hugo / Divaldo Franco – Livro: Roteiro de libertação

Destruição e miséria

 “Em seus caminhos há destruição e miséria” Paulo (Romanos. 3:16)

 

Quando o discípulo se distancia da confiança no Mestre e se esquiva à ação nas linhas do exemplo que o seu divino apostolado nos legou, preferindo a senda vasta de infidelidade à própria consciência, cava, sem perceber, largos abismos de destruição e miséria por onde passa.

Se cristaliza a mente na ociosidade, elimina o bom ânimo no coração dos trabalhadores que o cercam e estrangula as suas próprias oportunidades de servir.

Se desce ao desfiladeiro da negação, destrói as esperanças tenras no sentimento de quantos se abeiram da fé e tece vasta rede de sombras para si mesmo.

Se transfere a alma para a residência escura do vício, sufoca as virtudes nascentes nos companheiros de jornada e adquire débitos pesados para o futuro.

Se asila o desespero, apaga o tênue clarão da confiança na alma do próximo e chora inutilmente, sob a tormenta de lágrimas destrutivas.

Se busca refúgio na casa fria da tristeza, asfixia o otimismo naqueles que o acompanham e perde a riqueza do tempo, em lamentações improfícuas.

A determinação divina para o aprendiz do Evangelho é seguir adiante, ajudando, compreendendo e servindo a todos.

Estacionar é imobilizar os outros e congelar-se.

Revoltar-se é chicotear os irmãos e ferir-se.

Fugir ao bem é desorientar os semelhantes e aniquilar-se.

Desventurados aqueles que não seguem o Mestre que encontraram, porque conhecer Jesus Cristo em espírito e viver longe dele será espalhar a destruição, em torno de nossos passos, e conservar a miséria dentro de nós mesmos. 

Emmanuel / Chico Xavier – Fonte Viva – FEB – cap. 027