Enquanto a história relaciona a intervenção de fadas,
referindo–se aos gênios tutelares, aos palácios ocultos e às maravilhas da
floresta desconhecida, as crianças escutam atentas, estampando alegria e
interesse no semblante feliz.
Todavia, quando o narrador modifica a palavra, fixando-a
nas realidades educativas, retrai–se à mente infantil, contrafeita, cansada...
Não compreende a promessa da vida futura, com os seus
trabalhos e responsabilidades.
Os corações, ainda tenros, amam o sonho, aguardam
heroísmo fácil, estimam o menor esforço, não entendem, de pronto, o labor
divino da perfeição eterna e, por isso, afastam-se do ensinamento real,
admirados, espantadiços. A vida, porém, espera-os com as suas leis imutáveis e
revela-lhes a verdade, gradativamente, sem ruídos espetaculares, com serenidade
de mãe.
As páginas de André Luiz recordam essa imagem.
Enquanto os Espíritos Sábios e Benevolentes trazem a
visão celeste, alargando o campo das esperanças humanas, todos os companheiros encarnados
nos ouvem, extáticos, venturosos. É a consolação sublime, O conforto desejado.
Congregam-se os corações para receber as mensagens do céu. Mas, se os
emissários do plano superior revelam alguns ângulos da vida espiritual, falando-lhes
do trabalho, do esforço próprio, da responsabilidade pessoal, da luta
edificante, do estudo necessário, do autoaperfeiçoamento, não ocultam a
desagradável impressão.
Contrariamente às suposições da primeira hora, não
enxergam o céu das facilidades, nem a região dos favores, não divisa
acontecimentos milagrosos nem observam a beatitude repousante. Ao invés do
paraíso próximo, sente-se nas vizinhanças de uma oficina incansável, onde o
trabalhador não se elevará pela mão beijada do protecionismo e sim à custa de
si mesmo, para que deva à própria consciência a vitória ou a derrota. Percebem
a lei imperecível que estabelece o controle da vida, em nome do Eterno, sem
falsos julgamentos.
Compreendem que as praias de beleza divina e os palácios
encantados da paz aguardam o Espírito noutros continentes vibratórios do
Universo, reconhecendo, no entanto, que lhes compete suar e lutar, esforçar-se
e aprimorar-se por alcançá-los, bracejando no imenso mar das experiências.
A maioria espanta-se e tenta o recuo. Pretende um céu
fácil, depois da morte do corpo, que seja conquistado por meras afirmativas
doutrinais.
Ninguém, contudo, perturbará a lei divina; a verdade
vencerá sempre e a vida eterna continuará ensinando, devagarzinho, com
paciência maternal.
Ao Espiritismo cristão cabe, atualmente, no mundo,
grandiosa e sublime tarefa. Não basta definir-lhe as características veneráveis
de Consolador da Humanidade, são preciso também lhe revelar a feição de movimento
libertador de consciências e corações.
A morte física não é o fim. É pura mudança de capítulo no
livro da evolução e do aperfeiçoamento. Ao seu influxo, ninguém deve esperar
soluções finais e definitivas, quando sabemos que cem anos de atividade no
mundo representa uma fração relativamente curta de tempo para qualquer
edificação na vida eterna.
Infinito campo de serviço aguarda a dedicação dos
trabalhadores da verdade e do bem. Problemas gigantescos desafiam os Espíritos
valorosos, encarnados na época presente, com a gloriosa missão de preparar a
nova era, contribuindo na restauração da fé viva e na extensão do entendimento
humano.
Urge socorrer a Religião, sepultada nos arquivos
teológicos dos templos de pedra, e amparar a Ciência, transformada em gênio
satânico da destruição. A espiritualidade vitoriosa percorre o mundo,
regenerando-lhe as fontes morais, despertando a criatura no quadro realista de
suas aquisições. Há chamamentos novos para o homem descrente, do século XX,
indicando-lhe horizontes mais vastos, a demonstrar-lhe que o Espírito vive
acima das civilizações que a guerra transforma ou consome na sua voracidade de
dragão multimilenário.
Ante os tempos novos e considerando o esforço grandioso
da renovação, requisita-se o concurso de todos os servidores fiéis da verdade e
do bem para que, antes de tudo, vivam a nova fé, melhorando-se e elevando-se cada
um, a caminho do mundo melhor, a fim de que a edificação do Cristo prevaleça
sobre as meras palavras das ideologias brilhantes.
Na consecução da tarefa superior, congregam-se encarnados
e desencarnados de boa vontade, construindo a ponte de luz, através da qual a Humanidade
transporá o abismo da ignorância e da morte.
É por este motivo, leitor amigo, que André Luiz vem, uma
vez mais, ao teu encontro, para dizer-te algo do serviço divino dos
“Missionários da Luz”, esclarecendo, ainda, que o homem é um Espírito Eterno
habitando temporariamente o templo vivo da carne terrestre, que o perispírito
não é um corpo de vaga neblina e sim organização viva a que se amoldam às
células materiais; que a alma, em qualquer parte, recebe segundo as suas
criações individuais; que os laços do amor e do ódio nos acompanham em qualquer
círculo da vida; que outras atividades são desempenhadas pela consciência encarnada,
além da luta vulgar de cada dia; que a reencarnação é orientada por sublimes
ascendentes espirituais e que, além do sepulcro, a alma continua lutando e aprendendo,
aperfeiçoando-se e servindo aos desígnios do Senhor, crescendo sempre para a
glória imortal a que o Pai nos destinou.
Se a leitura te assombra, se as afirmativas do Mensageiro te parecem revolucionárias, recorre à oração e agradece ao Senhor o aprendizado, pedindo-lhe te esclareça e ilumine, para que a ilusão não te retenha em suas malhas. Lembra-te de que a revelação da verdade é progressiva e, rogando o socorro divino para o teu coração, atende aos sagrados deveres que a Terra te designou para cada dia, consciente de que a morte do corpo não te conduzirá à estagnação e sim a novos campos de aperfeiçoamento e trabalho, de renovação e luta bendita, onde viverás muito mais, e mais intensamente.
Emmanuel
Pedro Leopoldo, 13 de maio de
1945.
Chico Xavier – Livro: Missionários da luz
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