Senhor, deste-nos a verdade. Criamos a mentira.
Acendeste a luz. Disseminamos a treva.
Ensinaste o bem. Praticamos o mal.
Concedeste-nos o dom da vida. Semeamos o vírus da
morte.
Proclamaste a liberdade pela obediência aos eternos
desígnios. Instituímos o cativeiro através das paixões inferiores.
Aconselhaste que nos amemos fielmente uns aos outros.
Fizemos a separação e o sectarismo.
Cultivaste flores de amor. Alimentamos espinhos de
ódio.
Exaltaste a fraternidade. Intensificamos a sombra
homicida.
Traçaste campos de serviço promissor. Enfileiramos
cemitérios e ruínas.
Facilitaste-nos enxadas e charruas. Convertemo-las em
projetis e baionetas.
Mandaste-nos o enxofre que cura, o salitre que aduba e
o carvão que aquece. Transformamo-los na pólvora que mata.
Afirmaste que teus discípulos chegariam de todas as
partes do Planeta. Amaldiçoamos aqueles que não comungam conosco.
Organizaste caminhos de aproximação entre os homens.
Construímos trincheiras.
Criaste a chuva benéfica. Realizamos bombardeios.
Plantaste árvores benfeitoras. Fabricamos espadas
mortíferas.
Aceitaste a cruz da redenção. Levantamos a cruz do
crime.
Exemplificaste o sacrifício supremo. Disputamos o
campeonato do egoísmo.
Escalaste o monte da humildade. Descemos ao abismo do
orgulho.
Deste-nos todo o bem, renunciando. Menosprezamos tuas
bênçãos e dádivas, exigindo sempre.
Por isso mesmo, Senhor, porque envenenamos as fontes
de tua misericórdia, vemos a Civilização amargando angustiosa agonia.
Face ao passado delituoso, encarnados e desencarnados,
somos antigos mortos no crime, sepultados no cárcere de nossas próprias
fraquezas.
Hoje, pois, que os mortos da carne e os mortos que não
vivem muito distantes do sepulcro se reunirão, ao pé dos túmulos, e permutarão
saudades e preces, no santuário do espírito, ajuda-nos a compreender as
verdades da vida eterna.
Atende, Senhor, à nossa rogativa! Faze que teus
verdadeiros emissários esclareçam o nosso entendimento, para que sintamos a
extensão de nossos débitos.
Abre-nos os olhos espirituais, para que vejamos o
caminho. Enquanto a poeira da carne confunde os nossos irmãos no mundo, grandes
multidões, nos Planos inferiores, estão perturbadas pela poeira da sepultura.
Confessamos a nossa falência espiritual e reconhecemos
as nossas dívidas. Sabemos, porém, Senhor, que somos portadores da Consciência
Divina. Somos, contigo, herdeiros do Eterno Pai e não ignoramos que algo
esperas de nós, como esperamos de ti.
Atende-nos, pois, Mestre Amado, para que resistamos às
trevas e trabalhemos por nossa iluminação, à espera do milênio futuro!
Peregrinos esperançosos, reunimo-nos hoje, na estrada
da vida, suplicando a bênção do teu olhar. Comprimem-se turbas aflitas por
ver-te. As viúvas de Naim, os Jairos vacilantes, os centuriões atormentados, os
discípulos medrosos, os aleijados e os cegos, os coxos e os leprosos, as filhas
angustiadas de Jerusalém aguardam, de novo, a tua passagem!… Há também Lázaros
sepultados, desde mais de quatro dias, em túmulos caiados, esperando tuas
palavras de ressurreição para se levantarem!… Súplicas maternas aliam-se ao
choro das criancinhas…
Auxilia-nos, Senhor, a quebrar nossas velhas algemas!
Vidente Divino, ensina-nos a ver! Sol de Esperança,
ilumina os que se confundem na sombra!…
Dois de Novembro, dia de finados!..
Ó Estrela Gloriosa da Vida, mostra-te no cume da
montanha, clareando o caminho dos que vagueiam, sem rumo, nos extensos vales da
morte!
Irmão X (Humberto de
Campos) / Chico Xavier
Livro: Pontos e
contos