quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Futuro do Espiritismo

Depois de suas primeiras etapas, o Espiritismo, aguerrido, desembaraçando-se cada vez mais das obscuridades que lhe serviram de fraldas, em breve fará sua aparição na grande cena do mundo.
Os acontecimentos marcham com tal rapidez que não se pode ignorar a poderosa intervenção dos Espíritos que presidem aos destinos da Terra. Há como que um estremecimento íntimo nos flancos do vosso globo, em trabalho de gestação; novas raças saídas das altas esferas vêm rodopiar em torno de vós, esperando a hora de sua encarnação messiânica, e para isto se preparando pelo estudo das vastas questões que hoje agitam a Terra.
De todos os lados veem-se sinais de decrepitude nos usos e legislações, que não mais estão de acordo com as ideias modernas. As velhas crenças adormecidas há séculos parecem despertar de seu torpor secular e se admiram de se verem em luta com novas crenças, emanadas dos filósofos e dos pensadores deste e do século passado. O sistema degenerado de um mundo que não passava de um simulacro, se esboroa ante a aurora do mundo real, do mundo novo. A lei de solidariedade, da família passou aos habitantes dos Estados, para em seguida conquistar a Terra inteira; mas esta lei tão sábia, tão progressiva, essa lei divina, numa palavra, não se limitou a esse resultado único; infiltrando-se no coração dos grandes homens, ensinou-lhes não só que ela era necessária ao grande melhoramento da vossa habitação, mas que se estendia a todos os mundos do vosso sistema solar, para de lá se estender a todos os mundos da imensidade!
É bela essa lei de solidariedade universal, porque nela se encontra essa máxima sublime: Todos por um e um por todos.
Eis, meus filhos, a verdadeira lei do Espiritismo, a verdadeira conquista de um futuro próximo. Marchai, pois, imperturbavelmente em vossa estrada, sem vos preocupar com as zombarias de uns e o amor próprio ferido de outros. Estamos e ficaremos convosco, sob a égide do Espírito de Verdade, meu e vosso mestre.

Erasto – Revista Espírita – Fevereiro/1868

Nos diversos caminhos

“Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos.” Paulo (II Coríntios, 13:5)

Diversas atitudes caracterizam os estudantes da Revelação Nova.
Os que permanecem na periferia dos ensinamentos exigem novas demonstrações fenomenológicas, sem qualquer propósito de renovação interior.
Aqueles que se demoram na região da letra estimam as longas discussões sem proveito real.
Quantos preferem a zona do sectarismo, lançam-se às lutas de separatividade, lamentáveis e cruéis. Todos os que se cristalizam no “eu” dormitam nos petitórios infindáveis, a reclamarem proteção indébita, adiando a solução dos seus problemas espirituais.
Os que se retardam nos desvarios passionais rogam alimento para as emoções, mantendo-se distantes do legítimo entendimento.
Os que se atiram às correntes da tristeza negativa gastam o tempo em lamentações estéreis.
Aqueles que se consagram ao culto da dúvida perdem a oportunidade da edificação divina em si mesmos, convertendo-se em críticos gratuitos, ferindo companheiros e estraçalhando reputações.
Quantos se prendem à curiosidade crônica, borboleteiam aqui e ali, longe do trabalho sério e necessário.
Aqueles que se regozijam na presunção, passam o dia zurzindo o próximo, quais se fossem inquisidores permanentes do mundo.
Os que vivem na fé, contudo, acompanham o Cristo, examinam a si próprios e experimentam a si mesmos, convertendo-se em refletores da Vontade Divina, cumprindo-a, fielmente, no caminho da redenção.

Livro Vinha de Luz – Emmanuel por Chico Xavier – Lição 99

A educação de Jesus



Verificamos a importância da família observando a de Jesus; ele, que era um espírito de grande evolução, veio num meio familiar de uma moral irrepreensível. Os pais de Jesus eram pobres, mas honestos e trabalhadores; os familiares da criança eram especiais, como se o meio fosse auxiliar o ser frágil a se desenvolver, até poder se apresentar em toda a sua força moral.
O exemplo dos pais embalou o rebento e a vibração amorosa de Maria suavizou a sua caminhada na terra.
Na carpintaria do pai, Jesus aprendeu a trabalhar com as mãos, como que a exemplificar a importância do trabalho manual. Cercado pelos irmãos, trabalhando na oficina com seu pai, Jesus teve uma infância feliz.
O problema da profissão na época era facilmente resolvido, os filhos seguiam a do pai.
A educação judaica preparava o homem para servir a Deus; Jesus não nasceu entre os gregos, que educavam o cidadão ou o guerreiro, mas no meio de um povo que amava e procurava servir a um só Deus; isso mostra a importância do meio nas primeiras fases de vida do ser.
A instrução de Jesus, iniciada no lar, foi completada na Sinagoga.
O rabino dava as aulas numa sala bem iluminada e coberta de esteiras onde se sentavam os meninos. As aulas eram dadas através de cópias e decorações de textos. Aprendiam através das escrituras sagradas. Havia 23 letras no alfabeto hebraico e os alunos deviam escrevê-las e lê-las corretamente.
Jesus foi um excelente aluno, revelando conhecimento profundo dos textos sagrados.
Graças aos livros, ao Talmud e ao Mischna, Jesus integrou-se à cultura de seu tempo. O desenvolvimento foi realizado também na vertical; o povo judeu era profundamente espiritualizado.
O relacionamento dos pais com os filhos era considerado muito importante; as crianças e adolescentes acompanhavam os mais velhos em todas as ocasiões.
Jesus penetrou no espírito da Educação Judaica, rompendo os condicionamentos que amarram o ser aos vínculos da matéria, exemplificando um domínio completo sobre a carne.
Educado dentro dos moldes inflexíveis de uma educação Formalista, rompeu a casca da tradição e se abriu para o Cosmos.
Com Jesus compreendemos o homem como habitante do Universo; a solidariedade dos seres e dos mundos ganha novas cores, as dimensões da vida se abrem no infinito; não mais limitações, não mais preconceitos estéreis, não mais divisão de classes, nem barreiras de raças. O Ser Indestrutível se impõe ao mundo...
Não compreendendo o Mestre, fizemos da Educação Cristã uma repetição do modelo totalitário do judaísmo, criamos a Idade Média. O Cristianismo sufocou o espírito e repetimos os erros do passado. A religião novamente impediu a marcha do homem, que reagiu caindo no materialismo e criando uma educação leiga e pragmática preocupada em desenvolver o “ter” e não o “ser”. A Educação se converteu em simples instrução, só se exigindo dos educandos a capacidade de decorar. O homem virou servo da máquina e a luta pela sobrevivência, num mundo difícil, aumentou o seu egoísmo. O mundo se tornou cruel; o desemprego, a fome, a guerra, o materialismo, quase sufocaram as sementes plantadas pelo meigo Nazareno. Mas o trigo, apesar de sufocado pelo joio, continuou a brotar, embora com muita dificuldade. Uma nova educação se faz necessária, uma educação que proporcione estímulos para o desenvolvimento e a libertação do Ser.
A religião será a alavanca que conduzirá o indivíduo à transcendência, a integração em harmonia universal. Não a religião anestesiante, mas uma religião que caminha de mãos dadas com a ciência e a filosofia, os três caminhos do conhecimento, conduzindo o Ser para o “desenvolvimento de suas perfectibilidades”, como queria Kant.
Analisando o nascimento e a família de Jesus, pensamos nas dificuldades que o ser encontra para o seu desenvolvimento espiritual ao nascer em meios difíceis, mais primitivos, onde os indivíduos estão em suas primeiras fases de evolução. Provavelmente, foram atraídos por lei de afinidade, sintonia espiritual com os encarnados necessitados ali presentes. Vão necessitar de muita ajuda, de muito estímulo, para vencerem as dificuldades da nova encarnação; o trabalho de preparação para que saiam vencedores provavelmente continua no plano espiritual, durante as horas de sono. Todos vieram para a vitória; ninguém veio destinado ao fracasso. A importância da Escola e da Educação está exatamente aí: estimular o Ser a desenvolver as perfectibilidades, vencendo os problemas do meio; despertar no indivíduo o que há de melhor, dando-lhe as forças necessárias para superar os condicionamentos inferiores de outras encarnações. Se a família é deficiente, cabe à Escola suprir essas dificuldades.
Se Jesus, com toda a sua evolução espiritual, necessitou nas primeiras fases de um povo espiritualizado e de uma família especial, como os indivíduos menos evoluídos precisarão de estímulo, de alavancas propiciadas por uma Educação Espiritualista.
A Educação não só integrará o Ser no meio social onde vive, mas o auxiliará na superação de sua animalidade inferior. Essa é a função da Escola Espírita.
 Heloísa Pires  – Livro: Educação Espírita

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Evangelize!


"Evolução em Dois Mundos" - Entrevista com Cleber Gonçalves



Entrevista com o professor e expositor espírita Cleber Maurício Gonçalves sobre o livro "Evolução em Dois Mundos", de autoria de André Luiz. Teve parte trazida pela psicografia de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo/MG, e outra parte por Waldo Vieira, em Uberaba/MG.
A obra completa 61 anos de lançamento em 2019 e é a décima abordada pela Microcampanha “A Vida no Mundo Espiritual” - realizada pela União Espírita Mineira e Conselho Federativo Espírita de Minas Gerais (COFEMG).

A criança



Levantará o homem o próprio ninho à plena altura, estagiando no tope dos gigantescos edifícios de cimento armado...
Escalará o fastígio da ciência, povoando o espaço de ondas múltiplas, incessantemente convertidas em mensagens de som e cor.
Voará em palácios aéreos, cruzando os céus com a rapidez do raio...
Elevar-se-á sobre torres poderosas, estudando a natureza e movimento dos astros...
Erguer-se-á, vitorioso, ao cimo da cultura intelectual, especulando sobre a essência do Universo...
Entretanto, se não descer, repleto de amor, para auxiliar a criança, no chão do mundo, debalde esperará pela humanidade melhor.
Na infância, surge, renovado, o germe da perfeição, tanto quanto na alvorada recomeça o fulgor do dia.
Estende os braços generosos e ampara os pequeninos que te rodeiam.
Livra-os, hoje, da ignorância e da penúria, da preguiça e da crueldade, para que, amanhã, saibam livrar-se do crime e do sofrimento.
Filha de tua carne ou rebento do lar alheio, cada criança é vida de tua vida.
Aprende a descer para ajudá-la, como Jesus desceu até nós para redimir-nos.
Sem a recuperação da infância para a glória do bem, todo o progresso humano continuará oscilando nos espinheiros da ilusão e do mal.
Não duvides que, ao pé de cada berço, Deus nos permite encontrar o próprio futuro.
De nós depende fazê-lo trilho perigoso para a descida à sombra ou estrada sublime para ascensão à luz.
 Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Taça de Luz

A prece recompõe


“E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos.” (Atos, 4:31)

Na construção de simples casa de pedra, há que despender longo esforço para ajustar ambiente próprio, removendo óbices, eliminando asperezas e melhorando a paisagem.
Quando não é necessário acertar o solo rugoso, é preciso, muitas vezes, aterrar o chão, formando leito seguro, à base forte.
Instrumentos variados movimentam-se, metódicos, no trabalho renovador.
Assim também na esfera de cogitações de ordem espiritual.
Na edificação da paz doméstica, na realização dos ideais generosos, no desdobramento de serviços edificantes, urge providenciar recursos ao entendimento geral, com vistas à cooperação, à responsabilidade, ao processo de ação imprescindível. E, sem dúvida, a prece representa a indispensável alavanca renovadora, demovendo obstáculos no terreno duro da incompreensão.
A oração é divina voz do espírito no grande silêncio.
Nem sempre se caracteriza por sons articulados na conceituação verbal, mas, invariavelmente, é prodigioso poder espiritual comunicando emoções e pensamentos, imagens e ideias, desfazendo empecilhos, limpando estradas, reformando concepções e melhorando o quadro mental em que nos cabe cumprir a tarefa a que o Pai nos convoca.
Muitas vezes, nas lutas do discípulo sincero do Evangelho, a maioria dos afeiçoados não lhe entende os propósitos, os amigos desertam, os familiares cedem à sombra e à ignorância; entretanto, basta que ele se refugie no santuário da própria vida, emitindo as energias benéficas do amor e da compreensão, para que se mova, na direção de mais alto, o lugar em que se demora com os seus.
A prece tecida de inquietação e angústia não pode distanciar-se dos gritos desordenados de quem prefere a aflição e se entrega à imprudência, mas a oração tecida de harmonia e confiança é força imprimindo direção à bússola da fé viva, recompondo a paisagem em que vivemos e traçando rumos novos para a vida superior.

Livro Vinha de Luz – Emmanuel por Chico Xavier – Lição 98