sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Humildade


A humildade, por força divina, reflete-se, luminosa, em todos os domínios da Natureza, os quais expressam, efetivamente, o Trono de Deus, patrocinando o progresso e a renovação.
Magnificente, o Sol, cada dia, oscula a face do pântano sem clamar contra o insulto da lama; a flor, sem alarde, incensa a glória do céu. Filtrada na aspereza da rocha, a água se revela mais pura, e, em seguida às grandes calamidades, a colcha de erva cobre o campo, a fim de que o homem recomece a lida.
A carência de humildade, que, no fundo, é reconhecimento de nossa pequenez diante do Universo, surgem na alma humana doentios enquistamentos de sentimento, quais sejam o orgulho e a cobiça, o egoísmo e a vaidade, que se responsabilizam pela discórdia e pela delinquência em todas as direções.
Sem o reflexo da humildade, atributo de Deus no reino do “eu”, a criatura sente-se proprietária exclusiva dos bens que a cercam, despreocupada da sua condição real de espírito em trânsito nos carreiros evolutivos e, apropriando-se da existência em sentido particularista, converte a própria alma em cidadela de ilusão, dentro da qual se recusa ao contato com as realidades fundamentais da Vida.
Sob o fascínio de semelhante negação, ergue azorragues de revolta contra todos os que lhe inclinem o espírito ao aproveitamento das horas, já que, sem o clima da humildade, não se desvencilha da trama de sombras a que ainda se vincula, no plano da animalidade que todos deixamos para trás, após a auréola da razão.
Possuída pelo espírito da posse exclusivista, a alma acolhe facilmente o desespero e o ciúme, o despeito e a intemperança, que geram a tensão psíquica, da qual se derivam perigosas síndromes na vida orgânica, a se exprimirem na depressão nervosa e no desequilíbrio emotivo, na ulceração e na disfunção celular, para não nos referirmos aos deploráveis sucessos da experiência cotidiana, em que a ausência da humildade comanda o incentivo à loucura, nos mais dolorosos conflitos passionais.
Quem retrata em si os louros dessa virtude quase desconhecida aceita sem constrangimento a obrigação de trabalhar e servir, a benefício de todos, assimilando, deste modo, a bênção do equilíbrio e substancializando a manifestação das Leis Divinas, que jamais alardeiam as próprias dádivas.
Humildade não é servidão. É, sobretudo, independência, liberdade interior que nasce das profundezas do espírito, apoiando-lhe a permanente renovação para o bem.
Cultivá-la é avançar para a frente sem prender-se, é projetar o melhor de si mesmo sobre os caminhos do mundo, é olvidar todo o mal e recomeçar alegremente a tarefa do amor, cada dia.
Refletindo-a, do Céu para a Terra, em penhor de redenção e beleza, o Cristo de Deus nasceu na palha da Manjedoura e despediu-se dos homens pelos braços da cruz.

Emmanuel / Chico Xavier – Livro Pensamento e Vida.

sábado, 7 de dezembro de 2019

"Sexo e Destino" - Entrevista com Luciana Barbosa





A psicóloga, psicanalista e expositora espírita Luciana Barbosa fala sobre o livro “Sexo e Destino”, de autoria de André Luiz e psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira.

A obra completa 54 anos de lançamento em 2019 e é a décima segunda abordada pela Microcampanha “A Vida no Mundo Espiritual” - realizada pela União Espírita Mineira e Conselho Federativo Espírita de Minas Gerais (COFEMG).

Futuro do Espiritismo


Cada dia o Espiritismo estende o círculo de seu ensino moralizador. Sua grande voz ecoou de um extremo a outro da Terra. A sociedade se comoveu com ela e de seu seio partiram adeptos e adversários.
Adeptos fervorosos, adversários hábeis, mas cuja habilidade e renome serviram à própria causa que queriam combater, chamando para a doutrina nova a atenção das massas e lhes dando o desejo de conhecer os ensinos regeneradores, que seus adeptos preconizam, e que os faziam escarnecer e ridicularizar.
Contemplai o trabalho realizado e rejubilai-vos com o resultado! Mas que efervescência indizível não se produzirá entre os povos, quando seus mais amados escritores vierem juntar-se aos nomes mais obscuros ou menos conhecidos dos que se aglomeram em torno da bandeira da verdade!
Vede o que produziram os trabalhos de alguns grupos isolados, na maioria entravados pela intriga e pela malquerença, e julgai da revolução que se operará quando todos os membros da grande família espírita se derem as mãos e declararem, de fronte altiva e coração firme, a sinceridade de sua fé e de sua crença na realidade do ensinamento dos Espíritos.
As massas amam o progresso, buscam-no, mas não o temem. O desconhecido inspira um secreto terror aos filhos ignorantes de uma sociedade embalada em preconceitos, que ensaia os primeiros passos na via da realidade e do progresso moral. As grandes palavras de liberdade, de progresso, de amor, de caridade ferem o povo sem o comover; muitas vezes ele prefere seu estado presente e medíocre a um futuro melhor, mas desconhecido.
A razão desse pavor do futuro está na ignorância do sentimento moral num grande número, e do sentimento inteligente em outros. Mas, como disseram vários filósofos, divagando sobre uma concepção falsa da origem das coisas, inclusive eu – por que coraria de o dizer? Não poderia enganar-me? - não é verdade que a Humanidade seja má por essência. Não; aperfeiçoando a sua inteligência ela não dará um impulso maior às suas más qualidades. Afastai de vós esses pensamentos desesperadores, que repousam num falso conhecimento do espírito humano.
A Humanidade não é má por natureza; mas é ignorante e, por isso mesmo, mais apta a se deixar governar por suas paixões.
É progressiva e deve progredir para atingir os seus destinos; esclarecei-a; mostrai seus inimigos ocultos na sombra; desenvolvei sua essência moral, nela inata, e apenas adormecida sob a influência dos maus instintos e reanimareis a centelha da eterna verdade, da eterna presciência do infinito, do belo e do bom, que reside para sempre no coração do homem, mesmo o mais perverso.
Filhos de uma doutrina nova, reuni vossas forças; que o sopro divino e o socorro dos Espíritos bons vos sustentem, e fareis grandes coisas. Tereis a glória de haver posto as bases dos princípios imperecíveis, cujos frutos vossos descendentes recolherão.

Montaigne – Revista Espírita – fevereiro/1868

Como cooperas?


“Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o espírito que provém de Deus.” Paulo (I Coríntios, 2:12)

Lendo a afirmativa de Paulo, reconhecemos que, em todos os tempos, o discípulo sincero do Evangelho é defrontado pelo grande conflito entre as sugestões da região inferior e as inspirações das esferas superiores da vida.
O “espírito do mundo” é o acervo de todas as nossas ações delituosas, em séculos de experiências incessantes; o “espírito que provém de Deus” é o constante apelo das Forças do Bem, que nos renovam a oportunidade de progredir cada dia, a fim de descobrirmos a glória eterna a que a Infinita Bondade nos destinou.
Deus é o Pai da Criação.
Tudo, fundamentalmente, pertence a Ele.
Todo campo de trabalho é do Senhor, todo serviço que se fizer será entregue ao Senhor, mas nem todas as ações que se processam na atividade comum provêm do Senhor.
Coexistem nas oficinas terrestres, quaisquer que sejam, a criação divina e a colaboração humana. E cooperadores surgem que se valem da mordomia para exercer a dominação cruel, que se aproveitam da inteligência para intensificar a ignorância alheia ou que estimam a enxada prestimosa, não para cultivar o campo, mas para utilizá-la no crime.
O cientista, no conforto do laboratório, e o marinheiro rude, sob a tempestade, estão trabalhando para o Senhor; entretanto, para a felicidade de cada um, é importante saber como estão trabalhando.
Lembremo-nos de que há serviço divino dentro de nós e fora de nós. A favor de nossa própria redenção, é justo indagar se estamos cooperando com o espírito inferior que nos dominava até ontem ou se já nos afeiçoamos ao espírito renovador do Eterno Pai.

Livro Vinha de Luz – Emmanuel por Chico Xavier – Lição 106

Saudades de Jesus


No tumulto que assola em toda parte no planeta terrestre, desequilibrando o comportamento humano, parece não haver espaço para a harmonia, tampouco segurança para a vivência espiritual que dignifica e tranquiliza o Espírito.
As distrações confraternizam com as tragédias e os sorrisos misturam-se às lágrimas, numa paisagem de ilusão e dor, que empurram suas vítimas para o desencanto, a saturação, empobrecimento moral, o vazio existencial.
Multiplicam-se, assustadoramente, os agentes da hipnose do consumismo, em fuga espetacular da realidade, transformando-se em mecanismos impotentes para preencher as lacunas da alma sedenta de paz.
Ignorando-se como adquirir a harmonia íntima, a avalanche dos prazeres apresenta-se como a melhor maneira de desfrutar-se das horas que se vive, não conseguindo, porém, proporcionar bem-estar, por causa da sua fugacidade.
O número incontável de pessoas que não possui, porque desconhece, o sentido profundo da reencarnação, encanta-se com essas fantasias que logo são substituídas por outras, ansiosas e instáveis, que desaparecem na voragem dos conflitos em que sucumbem, sem consciência do que lhes acontece.
Os espetáculos de gozo imediato e fugidio apresentam-se, sempre, multiplicados, atraindo aficionados, que se tornam vítimas do seu fascínio, logo transformado em solidão e mentira.
Os deuses da economia alertam e aprisionam os apaixonados pelo ter e pelo poder nos seus cofres e máquinas de ações e de títulos, entusiasmando-os a ponto de se escravizarem aos jogos das bolsas e negócios variáveis que propõem, segundo eles, a felicidade.
Firmam o conceito de que aqueles que são aquinhoados com a fortuna desfrutam da plenitude porque podem adquirir tudo quanto emociona.
Paraísos de indescritível beleza são lhes oferecidos para os períodos de férias ou as permanentes férias com a ausência dos sentimentos elevados.
Olvidam que dinheiro nenhum consegue apagar a culpa no imo, oferecer afeto real e de profundidade.
Somente quando a razão abraça a emoção, em perfeita identidade de propósitos, é que o ser pode experimentar plenitude que não tem as aparências das satisfações fisiológicas e das apresentações exteriores em que o orgulho e a presunção destacam-se na sociedade.
O homem e a mulher necessitam de ideais engrandecedores para nutrir-se e crescer interiormente.
As aspirações meramente materiais, as que promovem o exterior, assim que conseguidas perdem o sentido e os abandonam sem consideração.
É nesse sentido que o Evangelho faz falta à sociedade moderna.
Quanta saudade de Jesus!
A Sua mensagem de ternura e amor, repassada de misericórdia, possui o condão mágico de alterar o significado de todas as existências.
A ingenuidade inserta na sabedoria dos Seus ensinamentos é um poema de atualidade em todos os tempos, que comove, propicia equilíbrio e restaura a compreensão em torno dos deveres que a todos cabe desempenhar.
Porque elegeu os infelizes, ergueu-os do caos em que se encontravam ao planalto da dignidade libertadora, fez-se o mais desafiador exemplo de bondade que o mundo conheceu, e tornou-se modelo para incontáveis discípulos fascinados pelo Seu exemplo, que tentaram repetir a incomparável façanha da compaixão e da caridade.
Revolucionou as convicções, nas quais predominavam o ódio e a vingança, e estabeleceu que o amor e o perdão constituem os elementos, únicos, aliás, para a completude individual e coletiva.
Utilizou-se de palavras simples para explicar os dramas complexos, assim como de imagens do cotidiano para elucidar os enigmas dos comportamentos em desvalor, que predominavam, e ninguém jamais falou conforme Ele o fez, emoldurando as palavras com as ações candentes da compreensão do sofrimento humano.
Ninguém valorizou a pobreza e os testemunhos de dor como instrumentos de elevação moral, como Ele o fez.
Nestes dias de complexas angústias, não são diferentes as aflições que necessitam da presença e do socorro de Jesus.
Pode-se afirmar que são mais afligentes, em razão das circunstâncias culturais e comportamentos alienantes, dos desafios e dos impositivos enfrentados, dos interesses em jogo, sob o domínio do ego.
Todos esses fatores, porém, têm as suas raízes no cerne do Espírito, resultado do seu atraso moral dos atos reprocháveis, do descaso pelos valores dignificantes que devem servir de roteiro seguro para a evolução.
Ante a ausência dos afetos que lenificam as aflições morais, dos desastres resultantes dos vícios e prisões emocionais, a figura inolvidável do Rabi faz muita falta aos deambulantes carnais.
Incontáveis mulheres equivocadas e criaturas endemoniadas encontram-se necessitadas do Seu amparo, cuja grandeza enfrentou a hipocrisia vigente em imorredouros testemunhos de afetividade.
Ricos, como Zaqueu, e miseráveis como todos aqueles que Lhe buscaram o auxílio enxameiam e movimentam-se sem norte ante a indiferença dos poderosos, não menos atormentados.
Quanta saudade de Jesus!
Refugia-te no Amigo que não teve amigos e deixa que Ele te conduza.
Nada te perturbe ou confunda a tua mente, face à corrosão do materialismo dominador.
Medita na Sua vida de dedicação a todos os infelizes, que somos quase todos nós, e propaga-a porquanto, jamais, como na atualidade, Jesus necessitou tanto ser conhecido, para que a existência humana passe a ter sentido na sua imortalidade.
  Joanna de Ângelis / Divaldo Franco - 25.5.2015
 Fonte: www.divaldofranco.com.br

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Jesus e você


Nosso Mestre não se serviu de condições excepcionais no mundo para exaltar a Luz da Verdade e a Bênção do Amor.
Em razão disso, não aguarde renovação exterior na vida diária, para ajudar.
Comece imediatamente a própria sublimação.
Jesus não tinha uma pedra onde recostar a cabeça.
Se você dispõe de mínimo recurso, já possui mais que Ele.
Jesus, em seu tempo, não desfrutou qualquer expressão social.
Se você detém algum estudo ou título, está em situação privilegiada.
Jesus esperou até aos trinta nos para servir mais decisivamente.
Se você é jovem e pode ser útil, usufrui magnífica oportunidade.
Jesus partiu aos trinta e três anos.
Se você vive na idade amadurecida e dispõe do ensejo de auxiliar, agradeça ao Alto, dando mais de si mesmo.
Jesus não contou com os familiares nas tarefas a que se propôs.
Se você convive em paz no recinto doméstico, obtendo alguma cooperação em favor dos outros, bendiga sempre essa dádiva inestimável.
Jesus não encontrou ninguém que o amparasse na hora difícil.
Se você recebe o apoio de alguém nos momentos críticos, saiba ser grato.
Jesus nada pôde escrever.
Se você consegue grafar pensamentos na expansão do bem, colabore sem tardança para a felicidade de todos.
Vemos, assim, que a vida real nasce e evolui no Espírito eterno e não depende de aparências para projetar-se no rumo da perfeição.
Jesus segue à frente de nós. Se você deseja acertar, basta apenas segui-lo.
Sigamo-lo pois.

André Luiz / Chico Xavier – Livro: O Espírito da Verdade

Paz do mundo e paz do Cristo

“A paz vos deixo, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá.” Jesus (João, 14:27.)

É indispensável não confundir a paz do mundo com a paz do Cristo.
A calma do plano inferior pode não passar de estacionamento.
A serenidade das esferas mais altas significa trabalho divino, a caminho da Luz Imortal.
O mundo consegue proporcionar muitos acordos e arranjos nesse terreno, mas somente o Senhor pode outorgar ao espírito a paz verdadeira.
Nos círculos da carne, a paz das nações costuma representar o silêncio provisório das baionetas; a dos abastados inconscientes é a preguiça improdutiva e incapaz; a dos que se revoltam, no quadro de lutas necessárias, é a manifestação do desespero doentio; a dos ociosos sistemáticos é a fuga ao trabalho; a dos arbitrários é a satisfação dos próprios caprichos; a dos vaidosos é o aplauso da ignorância; a dos vingativos é a destruição dos adversários; a dos maus é a vitória da crueldade; a dos negociantes sagazes é a exploração inferior; a dos que se agarram às sensações de baixo teor é a viciação dos sentidos; a dos comilões é o repasto opulento do estômago, embora haja fome espiritual no coração.
Há muitos ímpios, caluniadores, criminosos e indiferentes que desfrutam a paz do mundo. Sentem-se triunfantes, venturosos e dominadores no século. A ignorância endinheirada, a vaidade bem vestida e a preguiça inteligente sempre dirão que seguem muito bem.
Não te esqueças, contudo, de que a paz do mundo pode ser, muitas vezes, o sono enfermiço da alma. Busca, desse modo, aquela paz do Senhor, paz que excede o entendimento, por nascida e cultivada, portas a dentro do espírito, no campo da consciência e no santuário do coração.

Livro Vinha de Luz – Emmanuel por Chico Xavier – Lição 105

Os mártires do Espiritismo



A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número, também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes.
De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer.
É preciso ser uma religião para possuir seus mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? Os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
I
Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!... E durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida.
Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os Espíritos bons ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade!
Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!

Santo Agostinho – Revista Espírita – abril / 1862