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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

A minha primeira iniciação no Espiritismo

 


Foi em 1854 que pela primeira vez ouvi falar das mesas girantes.

Encontrei um dia o magnetizador, Sr. Fortier, a quem eu conhecia desde muito tempo e que me disse: “Já sabe da singular propriedade que se acaba de descobrir no Magnetismo? Parece que já não são somente as pessoas que se podem magnetizar, mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem e caminhem à vontade.” “É, com efeito, muito singular” — respondi —; “mas, a rigor, isso não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e fazer que eles se movam.” Os relatos, que os jornais publicaram, de experiências feitas em Nantes, em Marselha e em algumas outras cidades, não permitiam dúvidas acerca da realidade do fenômeno.

Algum tempo depois, encontrei-me novamente com o Sr. Fortier, que me disse: “Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale.

Interrogada, ela responde.” “Isto agora” — repliquei-lhe —, “é outra questão. Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé”. (...)

Eu estava, pois, diante de um fato inexplicado, aparentemente contrário às Leis da Natureza e que a minha razão repelia. Ainda nada vira, nem observara; as experiências, realizadas em presença de pessoas honradas e dignas de fé, confirmavam a minha opinião, quanto à possibilidade do efeito puramente material; a ideia, porém, de uma mesa falante ainda não me entrara na mente.

No ano seguinte, estávamos em começo de 1855, encontrei-me com o Sr. Carlotti, amigo de 25 anos, que me falou daqueles fenômenos durante cerca de uma hora, com o entusiasmo que consagrava a todas as ideias novas. (...)  

Foi o primeiro que me falou na intervenção dos Espíritos e me contou tantas coisas surpreendentes que, longe de me convencer, me aumentou as dúvidas. “Um dia, o senhor será dos nossos”, concluiu. “Não direi que não”, respondi-lhe; “veremos isso mais tarde.”

Passado algum tempo, pelo mês de maio de 1855, fui à casa da sonâmbula Sra. Roger, em companhia do Sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrei o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que daqueles fenômenos me falaram no mesmo sentido em que o Sr. Carlotti se pronunciara, mas em tom muito diverso. O Sr. Pâtier era funcionário público, já de certa idade, muito instruído, de caráter grave, frio e calmo; sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, produziu em mim viva impressão e, quando me convidou a assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. Plainemaison, à Rua Grange-Batelière, 18, aceitei imediatamente. A reunião foi marcada para terça-feira,18 de maio às oito horas da noite.

Foi aí que, pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida. Assisti então a alguns ensaios, muito imperfeitos, de escrita mediúnica numa ardósia, com o auxílio de uma cesta. Minhas ideias estavam longe de precisar-se, mas havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.

Bem depressa, ocasião se me ofereceu de observar mais atentamente os fatos, como ainda o não fizera. Numa das reuniões da Sra. Plainemaison, travei conhecimento com a família Baudin, que residia então à Rua Rochechouart. (...)

 Os médiuns eram as duas senhoritas Baudin, que escreviam numa ardósia com o auxílio de uma cesta, chamada carrapeta e que se encontra descrita em O livro dos médiuns. Esse processo, que exige o concurso de duas pessoas, exclui toda possibilidade de intromissão das ideias do médium.

Aí, tive ensejo de ver comunicações contínuas e respostas a perguntas formuladas, algumas vezes, até perguntas mentais, que acusavam, de modo evidente, a intervenção de uma inteligência estranha. (...)

Foi nessas reuniões que comecei os meus estudos sérios de Espiritismo, menos, ainda, por meio de revelações do que de observações. Apliquei a essa nova ciência, como o fizera até então, o método experimental; nunca elaborei teorias preconcebidas; observava cuidadosamente, comparava, deduzia consequências; dos efeitos procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as dificuldades da questão.

Foi assim que procedi sempre em meus trabalhos anteriores, desde a idade de 15 a 16 anos. Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida. Era, em suma, toda uma revolução nas ideias e nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção, e não levianamente; ser positivista, e não idealista, para não me deixar iludir.

Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos, nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao grau, que haviam alcançado, de adiantamento, e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal. Reconhecida desde o princípio, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou alguns deles. (...)

Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior, meios de me informar, e não reveladores predestinados.

Tais as disposições com que empreendi meus estudos e neles prossegui sempre. Observar, comparar e julgar, essa a regra que constantemente segui. (...) Allan Kardec

                            

Extratos retirados do Livro Obras Póstumas – Segunda parte – págs. 225 a 230 – 41ª edição – FEB

sexta-feira, 22 de maio de 2020

O Espiritismo obriga


Espiritismo é uma ciência essencialmente moral.
Desde logo, os que se dizem seus adeptos não podem, sem cometer uma grave inconsequência, subtrair-se às obrigações que ele impõe.
Essas obrigações são de duas sortes: A primeira concerne ao indivíduo que, ajudado pelas claridades intelectuais que a doutrina espalha, pode compreender melhor o valor de cada um de seus atos, sondar melhor todos os refolhos de sua consciência, apreciar melhor a infinita bondade de Deus, que não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva; e, para lhe deixar a possibilidade de erguer-se de suas quedas, deu-lhe uma longa série de existências sucessivas, em cada uma das quais, levando a pena de suas faltas passadas, pode adquirir novos conhecimentos e novas forças, fazendo-o evitar o mal e praticar o que é conforme à justiça, à caridade. Que dizer daquele que, esclarecido quanto aos seus deveres para com Deus, para com seus irmãos, permanece orgulhoso, cúpido e egoísta? Não parece que a luz o tenha enceguecido, porque não estava preparado para recebê-la?
Desde então marcha nas trevas, não obstante em meio à luz; só é espírita de nome. A caridade fraterna dos que veem realmente deve esforçar-se por curá-lo dessa cegueira intelectual; mas, para muitos dos que se lhe assemelham, será preciso a luz que o túmulo traz, porque seu coração está muito preso aos gozos materiais e seu espírito não está maduro para receber a verdade. Em uma nova encarnação eles compreenderão que os planetas inferiores como a Terra não passam de uma espécie de escola mútua, onde a alma começa a desenvolver suas faculdades, suas aptidões, para em seguida as aplicar ao estudo dos grandes princípios de ordem, de justiça, de amor e de harmonia, que regem as relações das almas entre si, e as funções que desempenham na direção do Universo; eles sentirão que, chamada a uma tão alta dignidade, qual a de se tornar mensageira do Altíssimo, a alma humana não deve aviltar-se, degradar-se ao contato dos prazeres imundos da volúpia, das ignóbeis cobiças da avareza, que subtrai de alguns filhos de Deus o gozo dos bens que deu a todos; compreenderão que o egoísmo, nascido do orgulho, cega a alma e a faz violar os direitos da justiça, da Humanidade, desde que gera todos os males que fazem da Terra uma estação de dores e de expiações. Instruídos pelas duras lições da adversidade, seu espírito será amadurecido pela reflexão, e seu coração, depois de ter sido massacrado pela dor, tornar-se-á bom e caridoso. É assim que o que vos parece um mal por vezes é necessário para reconduzir os endurecidos. Esses pobres retardatários, regenerados pelo sofrimento, esclarecidos por esta luz interior, que se pode chamar o batismo do Espírito, velarão com cuidado sobre si mesmos, isto é, sobre os movimentos de seu coração e o emprego de suas faculdades, para os dirigir conforme as leis da justiça e da fraternidade. Compreenderão não apenas que eles próprios são obrigados a melhorar-se, cálculo egoísta que impede atingir o objetivo visado por Deus, mas que a segunda ordem de obrigações do espírita, decorrendo necessariamente da primeira e a completando, é a do exemplo, que é o melhor dos meios de propagação e de renovação.
Com efeito, aquele que está convencido da excelência dos princípios que lhe são ensinados, e a eles conformar a sua conduta, princípios que lhe devem proporcionar uma felicidade duradoura, não pode, se estiver verdadeiramente animado desta caridade fraterna, que está na essência mesma do Espiritismo, senão desejar que sejam compreendidos por todos os homens. Daí a obrigação moral de conformar sua conduta com sua crença e ser um exemplo vivo, um modelo, como o Cristo o foi para a Humanidade.
Vós, frágeis centelhas partidas do eterno foco do amor divino, certamente não podeis pretender uma tão vasta irradiação quanto à do Verbo de Deus encarnado na Terra, mas, na vossa esfera de ação, podeis espalhar os benefícios do bom exemplo.
Podeis fazer amar a virtude, cercando-a do charme dessa benevolência constante, que atrai, cativa e mostra, enfim, que a prática do bem é coisa fácil, promove a felicidade íntima da consciência que se colocou sob sua lei, pois ela é a realização da vontade divina, que nos fez dizer por seu Cristo: Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial.
Ora, o Espiritismo é a verdadeira aplicação dos princípios da moral ensinada por Jesus, e é apenas com o objetivo de fazê-la por todos compreendida, a fim de que, por ela, todos progridam mais rapidamente, que Deus permite esta universal manifestação do Espírito, vindo explicar o que vos parecia obscuro e vos explicar toda a verdade. Vem, como o Cristianismo bem compreendido, mostrar ao homem a absoluta necessidade de sua renovação interior pelas consequências mesmas que resultam de cada um de seus atos, de cada um de seus pensamentos; porque nenhuma emanação fluídica, boa ou má, escapa do coração ou do cérebro do homem sem deixar uma marca em algum lugar. O mundo invisível que vos cerca é para vós esse Livro de Vida, onde tudo se inscreve com uma incrível fidelidade, e a balança da Justiça Divina não é senão uma figura, a exprimir que cada um de vossos atos, de vossos sentimentos, é, de certo modo, o peso que carrega vossa alma e a impede de se elevar, ou o que traz o equilíbrio entre o bem e o mal.
Feliz aquele cujos sentimentos partem de um coração puro; espalha em seu redor como uma suave atmosfera, que faz amar a virtude e atrai os Espíritos bons; seu poder de irradiação é tanto maior quanto mais humilde for, isto é, mais desprendido das influências materiais que atraem a alma e a impedem de progredir.
As obrigações que impõe o Espiritismo são, pois, de natureza essencialmente moral; são uma consequência da crença; cada um é juiz e parte em sua própria causa; mas as claridades intelectuais a quem realmente quer conhecer-se a si mesmo e trabalhar em sua melhoria são tais que amedrontam os pusilânimes, razão por que é rejeitado por tão grande número. Outros tratam de conciliar a reforma que sua razão lhes demonstra ser uma necessidade, com as exigências da sociedade atual. Daí uma mistura heterogênea, uma falta de unidade, que faz da época atual um estado transitório. É muito difícil à vossa pobre natureza corporal despojar-se de suas imperfeições para revestir o homem novo, isto é, o homem que vive segundo os princípios de justiça e de harmonia determinados por Deus; não obstante, com esforços perseverantes lá chegareis, porque as obrigações impostas à consciência, quando estiver suficientemente esclarecida, têm mais força do que jamais terão as leis humanas, baseadas no constrangimento de um obscurantismo religioso que não suporta o exame. Mas se, graças às luzes do alto, fordes mais instruídos e compreenderdes mais, também deveis ser mais tolerantes e não empregar, como meio de propagação, senão o raciocínio, pois toda crença sincera é respeitável. Se vossa vida for um belo modelo, em que cada um possa encontrar bons exemplos e sólidas virtudes, onde a dignidade se alia a uma graciosa amenidade, regozijai-vos, porque tereis, em parte, compreendido a que obriga o Espiritismo.

Luís de França – Revista Espírita – maio/1866

sábado, 16 de maio de 2020

O Santuário sublime

Noutro tempo, as nações admiravam como maravilhas o Colosso de Rodes, os Jardins Suspensos da Babilônia, o Túmulo de Mausolo, e, hoje, não há quem fuja ao assombro, diante das obras surpreendentes da engenharia moderna, quais sejam a Catedral de Milão, a Torre Eiffel ou os arranha céus de Nova Iorque.
Raros estudiosos, no entanto, se recordam dos prodígios do corpo humano, realização paciente da Sabedoria Divina, nos milênios, templo da alma, em temporário aprendizado na Terra.
Por mais se nos agigante a inteligência, até agora não conseguimos explicar, em toda a sua harmoniosa complexidade, o milagre do cérebro, com o coeficiente de bilhões de células; o aparelho elétrico do sistema nervoso, com os gânglios à maneira de interruptores e células sensíveis por receptores em circuito especializado, com os neurônios sensitivos, motores e intermediários, que ajudam a graduar as impressões necessárias ao progresso da mente encarnada, dando passagem à corrente nervosa, com a velocidade aproximada de setenta metros por segundo; a câmara ocular, onde as imagens viajam, da retina para os recônditos do cérebro, em cuja intimidade se incorporam às telas da memória, como patrimônio inalienável do espírito; o parque da audição, com os seus complicados recursos para o registro dos sons e para fixação deles nos recessos da alma, que seleciona ruídos e palavras, definindo-os e catalogando-os na situação e no conceito que lhes são próprios; o centro da fala; a sede miraculosa do gosto, nas papilas da língua, com um potencial de corpúsculos gustativos que ultrapassa o número de 2.000; as admiráveis revelações do esqueleto ósseo; as fibras musculares; o aparelho digestivo; o tubo intestinal; o motor do coração; a fábrica de sucos do fígado; o vaso de fermentos do pâncreas; o caprichoso sistema sanguíneo, com os seus milhões de vidas microscópicas e com as suas artérias vigorosas, que suportam a pressão de várias atmosferas; o avançado laboratório dos pulmões; o precioso serviço de seleção dos rins; a epiderme com os seus segredos dificilmente abordáveis; os órgãos veneráveis da atividade genésica e os fulcros elétricos e magnéticos das glândulas no sistema endocrínico.
No corpo humano, temos na Terra o mais sublime dos santuários e uma das supermaravilhas da Obra Divina.
Da cabeça aos pés, sentimos a glória do Supremo Idealizador que, pouco a pouco, no curso incessante dos milênios, organizou para o espírito em crescimento o domicílio de carne em que alma se manifesta. Maravilhosa cidade estruturada com vidas microscópicas quase imensuráveis, por meio dela a mente se desenvolve e purifica, ensaiando-se nas lutas naturais e nos serviços regulares do mundo, para altos encargos nos círculos superiores.
A bênção de um corpo, ainda que mutilado ou disforme, na Terra, é como preciosa oportunidade de aperfeiçoamento espiritual, o maior de todos os dons que o nosso Planeta pode oferecer.
Até agora, de modo geral, o homem não tem sabido colaborar na preservação e na sublimação do castelo físico. Enquanto jovem, estraga-lhe as possibilidades, de fora para dentro, desperdiçando-as impensadamente, e, tão logo se vê prejudicado por si mesmo ou prematuramente envelhecido, confia-se à rebelião, destruindo-o de dentro para fora, a golpes mentais de revolta injustificável e desespero inútil.
Dia surge, porém, no qual o homem reconhece a grandeza do templo vivo em que se demora no mundo e suplica o retorno a ele, como trabalhador faminto de renovação, que necessita de adequado instrumento à conquista do abençoado salário do progresso moral para a suspirada ascensão às Esferas Divinas.


Chico Xavier / Emmanuel – Livro: Roteiro - cap.3

Renascimento


A vida morre ou se desestrutura nas moléculas que a expressam para logo depois renascer. Tudo se decompõe e volta a reconstituir-se.
O incessante fenômeno da transformação molecular é inerente à condição de transitoriedade de todas as formas e coisas. Morre uma expressão e surge outra. O movimento vida-morte-vida obedece ao fluxo ininterrupto da imortalidade.
Somente eterno é o Espírito, que transita entre uma e outra aparência orgânica para atingir a excelsa destinação que lhe está reservada.
Essa é a fatalidade estabelecida pelo Pai Criador para todas as expressões sencientes do Universo. Mediante os renascimentos em diferentes etapas, o princípio espiritual desenvolve a consciência adormecida e todos os conteúdos da imagem e semelhança de Deus.
A semente, que possui o germe da vida, a fim de fazê-la desabrochar em plenitude, necessita ser sepultada no solo para morrer, quando então desperta e faz-se exuberante.
Também para o Espírito, torna-se indispensável envolver-se na indumentária material, propiciando-se a renovação de energias para desatar a divindade que nele dorme e que o convida a ininterrupto crescimento.
Cada existência orgânica constitui uma etapa através da qual os valores internos fixam-se na consciência, facultando novos investimentos-luz para a viagem de sublimação.
Libertando-se das camadas mais toscas e grosseiras do primarismo por onde inicia a jornada evolutiva, alcança os patamares do sentimento e da razão, programando-se a conquista da angelitude que poderá desfrutar desde o momento que se lhe imponham as intenções de autossuperação.
Renascer da carne e do Espírito, conforme acentuou Jesus no seu momentoso diálogo com o doutor da Lei, Nicodemos, significa sim a imantação nas moléculas constitutivas da germinação que se encarrega de construir o zigoto, depois o feto e, por fim, o ser humano.
Condensando a água que vitaliza com energia a forma física, nela imprime os equipamentos que lhe são necessários, graças às experiências transatas que lhe facultaram aquisição de implementos morais e vivenciais para atingir a meta.
Renasce a planta após a devastação da tormenta. Renascem os rios e fontes depois do ardor do verão sob as bênçãos da chuva.
Renascem os sentimentos passadas as ocorrências dilaceradoras.
Renasce a vida em todos os fenômenos conhecidos ou não.
Renasce o Espírito no corpo físico buscando a grande luz.
A experiência evolutiva começa na noite do minério e ruma para a claridade estelar da arcangelitude. É necessário nascer, morrer e renascer, conquistando níveis de sabedoria nos quais o amor e o conhecimento confraternizem em clima de libertação.
Somente através dos instrumentos que facultam o renascimento do corpo, lapida-se o Espírito que faz desabrochar todas as potencialidades adormecidas para cuja finalidade encontra-se no processo de evolução da felicidade.
Necessário desalgemar-se das imperfeições, a fim de unir os sentimentos na construção da felicidade.
Há muita paisagem bela pelo caminho esperando contemplação.
No entanto, é necessário seguir adiante e vencer as muitas milhas que estão aguardando na estrada do progresso.
Quem se detém, seja por qual motivo for, transfere a oportunidade de conquistar o infinito. O hoje desempenha papel de fundamental importância na aquisição do futuro. Torna-se, portanto, indispensável investir em luz o que se possui em sombra, que deve ser transformada em claridade de amor e misericórdia.
São o amor e a misericórdia do Pai que facultam ao endividado resgatar o débito e ao calceta, o ensejo de reparar o delito. Da mesma maneira, cabe ao ser humano repartir a esperança, conceder ensejo de reparação, ampliar o perdão, a fim de que o seu próximo na retaguarda tenha acesso a outros patamares da emoção e da cultura, para saber, para discernir e para amar sem preconceito nem limitação.
O renascimento surge na árvore vergastada pela poda rude, abrindo-se em verdor, flores e frutos.
Sem qualquer ressentimento pelas ocorrências destrutivas que, em realidade, são apenas ocasiões transformadoras, a vida ressurge do pântano pela drenagem, do deserto pela fertilização, abençoando o mundo e todos os seres.
Morrer, desse modo, é conquistar novo campo vibratório para fortalecer as resistências e renascer crescendo na direção de Deus.
Nunca temas, nem a morte, nem a vida.
Renascerás após o trânsito espiritual conduzindo os tesouros que acumulaste na Terra e no mundo extracorpóreo, que te facultarão melhores investimentos em benefício próprio e da humanidade.
Todo renascimento é festa de compaixão pelo trânsfuga do dever. Renascendo, a paisagem está sempre rica de cor, de alimentos, de vida.
O renascimento na carne é a reconciliação do Espírito consigo mesmo, facultando-se ensejo novo para aprender e para viver melhor.
Quando a noite moral te envolver em sofrimentos inesperados e deixar-te em expectativas mais inquietadoras, não olvides que a semente que não morrer, não viverá, conforme acentuou Jesus.
Assim, todo aquele que não passar pela porta estreita do testemunho, não poderá contemplar a madrugada exuberante da imortalidade.
Jamais deixes que a esperança desapareça dos teus sentimentos.
Quando morram determinados objetivos, permanece no bem e renascerão todos eles em forma de novos desafios para o teu crescimento.


Divaldo Franco / Joanna de Ângelis – Livro: Nascente de Bênçãos

sábado, 4 de abril de 2020

Poema em homenagem a Chico Xavier


Permita que o meu verso aqui registre
A pura candidez de tuas ternuras
Muito embora o sofrer das amarguras
Que o chão da terra impõe se administre!

Por amor a Jesus tu te apagaste
Em meio à ignorância deste mundo
Sorvendo a taça escura do contraste
Num esforço sincero e mais fecundo.

Em vão a sombra espessa te envolveu
Acenando com híbridas quimeras…
Estandarte das novas primaveras
Tua fé não vacilou e nem tremeu.

Teu coração se fez em pouso santo
A iluminar os dias da descrença
A enxugar o mais pungente pranto
Dos pequenos do mundo em dor intensa.

A nova era enfim, Jesus de novo!
Trazendo pão e paz, luz e agasalho
Amar e esclarecer a alma do povo
É o ideal, teu lema de trabalho!

Por isto eu canto o pobre do meu verso
Sabendo que és tudo, menos cisco…
Para nós, tu serás sempre Francisco
O Cândido Xavier, do Universo.

Auta de Souza

Líderes espíritas opinam sobre Chico Xavier


FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER, um jovem de 17 anos residente na cidade de Pedro Leopoldo (MG), psicografou sua primeira mensagem na noite de 8 de julho de 1927. A partir daquele dia, iniciou um período de exercícios psicográficos.
Todavia, sua primeira obra Parnaso de além túmulo, saiu a lume nos idos de 1932, publicada pela Federação Espírita Brasileira. Desde então, sua produção mediúnica foi incessante, completando em nossos dias, cerca de 150 livros publicados¹³. Ao ensejo dos cinquenta anos de atividades psicográficas de Francisco Cândido Xavier, procuramos obter a opinião respeitável de alguns líderes espíritas.

Impacto das primeiras obras
P – Como os espíritas receberam as primeiras obras psicográficas de Chico Xavier?
R – Quando saíram as primeiras obras de Chico, eu ainda estava, a bem dizer, nos primeiros passos na seara espírita.
Justamente por isso, não posso responder bem a essa pergunta. Mas ainda me recordo de que, principalmente o Parnaso, objeto de comentários constantes, como outras obras de Chico empolgou muita gente nos primeiros tempos. Somente mais tarde, porém, depois de me haver familiarizado com Léon Denis e Gabriel Delanne, fui tomar conhecimento, diretamente, dos livros mediúnicos, a respeito dos quais ouvira apenas referências e elogios em discussões e conferências – Deolindo Amorim (presidente do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, Rio de Janeiro).
 (...)

A análise da obra
P – Seria lícito analisar-se a evolução do espiritismo no Brasil, dividindo-o nos períodos antes e depois de Chico Xavier?
R – Os ensinos dos espíritos são dosados na conformidade do progresso intelectual e moral, do amadurecimento espiritual dos homens terrenos. Três grandes revelações marcaram diferentes etapas, no curso dos milênios, na popularização do conhecimento das coisas espirituais. Na última delas – a espírita -, conforme foi recentemente abordado em editorial de Reformador (março, 1977), o próprio codificador reportou-se a três períodos distintos, balizando o desenvolvimento das ideias espiritistas: o da curiosidade (intensa e ruidosa fenomenologia); o do raciocínio e da filosofia (estudo e meditação sérios, então apenas no início); e o da aplicação e das consequências (que se seguiria, inevitavelmente, aos outros dois). A propósito da questão 160 de O Livro dos Espíritos, Emmanuel lembrou os períodos aludidos e denominou-os como de aviso, chegada e entendimento.
No Brasil, desde cedo, ainda no século XIX, foi dada ênfase ao sentido do terceiro período, da aplicação e das consequências (Allan Kardec) ou do entendimento (Emmanuel), que é o da vivência do Evangelho de Jesus Cristo, do aspecto religioso da Doutrina dos Espíritos, a que conduz a lógica das conclusões do estudo metódico e sistemático dos aspectos científico e filosófico, como muito bem elucida o próprio Espírito Emmanuel em O Consolador.
A elaboração dos trabalhos, no transcorrer de um século de vida do espiritismo no Brasil, em pleno período terceiro, como não podia deixar de ser, seguiria, como seguiu, orientação dos mesmos moldes dos outros dois: no sentido do esforço conjugado dos Planos Espiritual e Físico do planeta, da contribuição das humanidades invisível e visível que o povoam.
À luz dessa realidade, o pesquisador, o estudioso, o espírita laborioso encontrará sempre, e licitamente, pontos demarcantes da evolução do espiritismo, em nosso país e fora dele, todos importantes e necessários, como contributos da edificação comum da mentalidade cristã e das obras que decorrem das atividades dos seres desencarnados e encarnados, solidários entre si e perseguindo idênticos ideais na imensa seara do Senhor.
Nas linhas gerais do processo evolutivo da Doutrina dos Espíritos, no Brasil, se respeitadas as premissas alinhadas neste esforço, parece-nos perfeitamente justo identificar as múltiplas fases do trabalho para nelas situar esse ou aquele médium, como instrumento de equipes de espíritos a utilizarem-no com vistas ao atendimento das necessidades da programação de longo curso, a cumprir-se por partes, no tempo e no espaço.
Francisco Cândido Xavier, médium precedido por inúmeros outros, na obra do livro espírita, principalmente em Terras do Cruzeiro, contemporâneo de diversos medianeiros que também chegaram a ultrapassar a barreira de meio século de fecundas e continuadas realizações, e de outros já com alguns decênios de lutas e dedicações, é bem a expressão simples e confortadora da progressividade da revelação e do permanente cuidado e carinho de Deus para com os Seus filhos em duras experiências no mundo.
Analisar as realizações que se ligam, indissoluvelmente, ao valoroso espírita-cristão Chico Xavier, é tarefa que, a nosso ver, deveria ser mais propriamente delegada ao futuro imediato à sua desencarnação e aos decênios seguintes, porque, então, detentores do conhecimento pleno do inteiro patrimônio representado pelo seu mediunato, devidamente esquadrinhado, sem as interferências das emoções ainda próprias da condição de contemporaneidade, os espíritas melhormente – e sem preocupações de ferir a modéstia proverbial do querido médium – poderíamos compreendê-lo na verdadeira extensão e profundidade, na qualidade e na influência dos seus escritos.
A bibliografia mediúnica que foi acrescida à literatura espírita, nestes últimos cinquenta anos, nascida do lápis de Chico Xavier – e o espaço não nos permite, sequer, considerações ligeiras sobre a oriunda, em nosso plano, de suas páginas –, é vultosa, considerável. E qualitativamente admirável. Poderíamos, sem dificuldade, num exame sereno e com absoluta isenção, dividir a obra mediúnica, orientada por Emmanuel, igualmente em fases perfeitamente delineadas, dentro de duas grandes divisões: a primeira, provando a sobrevivência e a imortalidade do espírito (Parnaso de além-túmulo); a segunda, lembrando e confirmando os deveres dos espíritas, destinada a prepará-los para o trabalho no movimento (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, seguido de uma panorâmica da História Universal, A Caminho da Luz, e de alguns manuais de maior valor: Emmanuel – Dissertações mediúnicas, O Consolador, Roteiro, etc., etc.)
Enfim, muitos estudos interessantes e instrutivos virão, a seu tempo. E a obra toda de Francisco Cândido Xavier, criteriosamente traduzida, estará, tempestivamente, à disposição dos leitores do mundo inteiro, juntamente com a de Allan Kardec e da dos autores que cuidaram dos escritos subsidiários e complementares da codificação.
Mas, enquanto isso, e para que tudo ocorra com a tranquilidade que se almeja na difusão conscienciosa e responsável da doutrina dos espíritos, seria de bom alvitre que se não perdesse de vista o fato de que Chico Xavier jamais teria obtido êxito, como instrumento do Alto, se não tivesse buscado ser fiel, autêntico, perseverante, seguindo a rígida disciplina que lhe foi sugerida por Emmanuel, testemunhando e permanecendo na exemplificação do amor ao próximo e do amor a Deus, vivendo o Evangelho – Francisco Thiesen (presidente da Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro).

¹³Atualmente, vinte anos depois que escrevemos este artigo, passam dos 400 títulos.

 Antônio César Perri de Carvalho – Livro: Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

O céu e o inferno


A genialidade de Allan Kardec possibilitou a materialização da Doutrina Espírita na Terra. Originário da sabedoria dos Espíritos Superiores, o Espiritismo foi codificado pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail. Para assinar as obras básicas que revelariam a mensagem de renovação social da Humanidade, preferiu humildemente adotar o pseudônimo Allan Kardec. Este nome se deve a uma encarnação sua como druida na época de Jesus.
A nova doutrina atesta o caráter de revelação espiritual pelo registro em cinco livros. Como ocorreu com a primeira revelação da Justiça personificada em Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) e a segunda revelação do Amor personificada em Jesus (Evangelho segundo Mateus, Marcos, Lucas, João e Atos dos Apóstolos), assim também se deu com a terceira revelação da Verdade, de origem espiritual coletiva (O livro dos espíritos, O livro dos médiuns, O evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese). Todas registradas para a história em cinco livros principais, conhecidas como Torá, Pentateuco ou Obras Básicas.
A didática estruturação kardequiana da principal e primeira obra espírita, O livro dos espíritos (1. ed. 1857 e edição definitiva, a 2. ed., em 1860) deu origem aos outros quatro livros do Pentateuco kardequiano. Da segunda parte do LE surgiu O livro dos médiuns (1. ed. 1861 e edição definitiva, a 2. ed., em 1861). Da terceira parte, O evangelho segundo o espiritismo (1. ed. 1864 e edição definitiva, a 3. ed., em 1866). Da quarta, O céu e o inferno (1. ed. 1865 e edição definitiva, a 4. ed., em 1869). E a primeira parte deu origem ao livro A gênese (1. ed. 1868 e edição definitiva, a 5. ed., em 1872).
Todas as cinco obras são importantes. Entretanto, para destacar especificamente O céu e o inferno, podemos resumir assim:
É uma das cinco obras básicas da Codificação do Espiritismo. Seu principal escopo é explicar a Justiça de Deus à luz da Doutrina Espírita. Objetiva demonstrar a imortalidade do Espírito e a condição que ele usufruirá no Mundo Espiritual, como consequência de seus próprios atos. Divide-se em duas partes: A primeira estabelece um exame comparado das doutrinas religiosas sobre a vida após a morte. Mostra fatos como a morte de crianças, acidentes coletivos e uma gama de problemas que só a imortalidade da alma e a reencarnação explicam satisfatoriamente. Kardec procura elucidar temas como: anjos, céu, demônios, inferno, penas eternas, purgatório, temor da morte, a proibição mosaica sobre a evocação dos mortos, dentre outros. Apresenta, também, a explicação espírita contrária à doutrina das penas eternas. A segunda parte, resultante de um trabalho prático, reúne exemplos acerca da situação da alma durante e após a desencarnação. São depoimentos de criminosos arrependidos, de Espíritos endurecidos, de Espíritos felizes, medianos, sofredores, suicidas e em expiação terrestre.
Da primeira parte, destacamos o capítulo 7, que apresenta o Código Penal da Vida Futura, em 33 artigos. Ali, aprendemos que o sofrimento do Espírito é inerente a sua imperfeição. O uso inadequado do livre-arbítrio nos faz sofrer, mas o seu correto uso conduz-nos à felicidade como resultante de nossas escolhas acertadas. Kardec conclui o citado código com a assertiva de Jesus: “a cada um segundo as suas obras”, como prerrogativa da Justiça de Deus.
Com a palavra o Codificador no 33º artigo:
Em que pese à diversidade de gêneros e graus de sofrimentos dos Espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode resumir-se nestes três princípios: 1. O sofrimento é inerente à imperfeição. 2. Toda imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas consequências naturais e inevitáveis: assim, a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo. 3. Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade. A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra - tal é a lei da Justiça Divina.
A abertura da segunda parte traz um tratado sobre o passamento. Allan Kardec inicia com sua peculiar arguição, sensata e provocativa:
A certeza da vida futura não exclui as apreensões quanto à passagem desta para a outra vida. Há muita gente que teme não a morte, em si, mas o momento da transição. Sofremos ou não nessa passagem? Por isso se inquietam, e com razão, visto que ninguém foge à lei fatal dessa transição. Podemos dispensar-nos de uma viagem neste mundo, menos essa. Ricos e pobres, devem todos fazê-la, e, por dolorosa que seja a franquia, nem posição nem fortuna poderiam suavizá-la.
O estudo das obras de Allan Kardec nos dão segurança para o conhecimento da Doutrina Espírita em seus fundamentos. A leitura de O céu e o inferno possibilita-nos conhecer qual será a nossa situação no Mundo Espiritual após a desencarnação, e como nos preparar para a transição do fenômeno natural e inevitável da morte, que é o passaporte para a verdadeira Vida.

             Geraldo Campetti Sobrinho - vice-presidente da Federação Espírita Brasileira
Fonte: www.febnet.org.br




sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Conquistando a serenidade


Você já conhecia a prece da serenidade? É uma das orações mais difundidas pelo mundo, cuja autoria é atribuída ao teólogo americano Reinold Niebuhr, produzindo muitos benefícios àqueles que assimilaram o seu elevado significado moral e psicológico. É claro que essa prece não tem nenhuma conotação mágica; nada de palavras cabalísticas portadoras de uma suposta força mística. A forma não é nada, o pensamento é tudo. No entanto, pode-se assimilar o elevado propósito moral de uma oração e, neste particular, a prece da serenidade nos convida a preciosas reflexões. Vamos a elas. Em primeiro lugar, o autor da rogativa propõe o seguinte:
“Deus, conceda-me coragem para mudar o que eu posso mudar...”
Inicialmente, a prece nos convida a pedir coragem. Para quê? Para que possamos mudar aquilo que nos cabe mudar. Muitas vezes, a solução para as nossas dificuldades está em nossas mãos, não nas mãos de Deus, nem nas do padre, do pastor, do médium, dos espíritos, etc. Deus nunca fará a parte que nos cabe. Um professor não fará a prova no lugar do aluno; nem o médico tomará o remédio no lugar do paciente.
Nas situações em que já sabemos o que fazer, Deus não põe a mão.
Eu conheço uma pessoa que reza, há pelos menos trinta anos, pedindo a Deus que lhe tire o vício do tabaco.  E por que Deus não tira? Porque essa tarefa compete à pessoa.
Deus não vai tirar o cigarro da boca do fumante; tampouco o copo de bebida da boca do alcoólatra. São tarefas intransferíveis. Ninguém poderá alegar ignorância quanto aos prejudiciais efeitos do tabaco e do álcool. Então, como já sabemos o que fazer, Deus deixa que nós tomemos a atitude, respeitando o nosso livre arbítrio.
Isso não quer dizer que Deus abandonou os viciados, nem tampouco que nos abandona nos momentos de dificuldades. O Pai, por intermédio dos Espíritos do Bem, sempre estará oferecendo a ajuda necessária através, por exemplo, de sugestões de amigos encarnados e desencarnados a respeito das mudanças que devemos fazer. É um amigo que dá um conselho, a mulher que insistentemente lhe pede para parar de fumar, um livro que lhe chega às mãos, um sonho de advertência; enfim, inúmeras dicas que a Vida está lhe dando para que você realize as mudanças necessárias. E quando tomamos a atitude de renovação, somos apoiados pela Vida, a fim de que as mudanças sejam duradouras.
Quando você toma a atitude para o bem, o universo todo conspira a seu favor.
Já pensou nas mudanças que está precisando realizar? Examine com calma. Verifique quais as decisões que você talvez esteja adiando, esperando que Deus ou alguém faça a parte que é de sua responsabilidade. É preciso tomar atitudes necessárias para que as mudanças ocorram, seja no plano profissional, familiar ou pessoal. Adiar essas decisões acarretará ainda mais ansiedade e sofrimento.
A segunda parte da prece diz o seguinte:
“Conceda-me serenidade para aceitar o que eu não posso mudar...”
Quanta sabedoria há neste pensamento. De fato, se por um lado muitas soluções estão em nossas mãos, outras tantas independem da nossa vontade ou de nossa atuação concreta. Em algumas situações, só Deus poderá alterar o curso dos acontecimentos. Lembro-me de um caso narrado pelo Dr. Norman Vicente Peale, uma das maiores autoridades religiosas dos Estados Unidos. Ele conta que certa noite foi procurado por um casal de médicos, cuja filha estava gravemente enferma, vítima de crupe, uma doença que atinge a laringe e pode causar asfixia e morte. A medicina já havia retirado as esperanças de cura. Esperava-se a morte da criança, e seus pais, ateus, procuraram o Dr. Norman, como último recurso. Dirigindo-se à residência do casal, o famoso pregador encontra a menina ardendo de febre, prostrada. Mas, confiante nos desígnios superiores, o Dr. Norman pronuncia sentida oração. Ele narra que entrou num clima de profundo êxtase espiritual e não sabe dizer por quanto tempo ficou mergulhado na prece. Só se deu conta que, ao despertar, o dia amanhecia e que a menina já estava sem febre, dando sinais evidentes de recuperação. Os pais estavam maravilhados, pois como médicos viram a filha sair das sombras da morte e recuperar a vida, ficando completamente curada em poucos dias. Ficou a sublime lição:
Quando nada podemos fazer, Deus pode.
E Deus sempre fará o melhor por nós. Ele sempre atua quando não sabemos o que fazer ou quando já fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Victor Hugo teve o ensejo de escrever:
“Quando tiver feito tudo o que for possível, deite-se e vá dormir. Deus está acordado.”
E você, prezado amigo, tem entregue a Deus os seus insolúveis problemas? Tem confiado na Divina Providência, naquele Poder Infinito que tudo pode? Neste instante, proponho a você que abra seu coração, solte o nó da gravata, ponha-se diante de Deus e sinta que Ele o ama. Proponho que você escreva numa folha de papel os insolúveis problemas que o atormentam, colocando-os nas mãos do Criador para a solução mais adequada. Depois, pare de se preocupar com essas questões, pois Deus está cuidando do assunto.
Isso proporcionará muita paz ao seu coração.
Será que o amigo percebeu por que essa oração foi denominada de prece da serenidade? A razão é simples. Nós só conquistaremos a paz quando estivermos fazendo aquilo que nos compete fazer. Enquanto adiarmos, não teremos paz, pois o problema continua conosco. E se nada nos é possível fazer, a nossa parte vem da atitude de entrega ao Criador, que tudo sabe e tudo pode. Em regra, ficamos nervosos preocupados e ansiosos porque fazemos exatamente o contrário.
Naquilo que podemos fazer, esperamos que Deus ou as pessoas façam por nós. E naquilo que só Deus pode fazer, queremos agir por nossa própria conta, caindo em verdadeiro desespero em vista da inutilidade de nossas condutas.
É por isso que a prece termina com um pedido significativo:
Senhor, dai-me sabedoria para distinguir uma situação da outra.
“Saber a nossa parte e fazer. Saber a parte de Deus e esperar. Eis a expressão da serenidade.”
Vamos tentar?

José Carlos de Lucca – Fonte: Associação de Divulgação da Doutrina Espírita – www.adde.com.br