Noutro tempo, as nações
admiravam como maravilhas o Colosso de Rodes, os Jardins Suspensos da
Babilônia, o Túmulo de Mausolo, e, hoje, não há quem fuja ao assombro, diante
das obras surpreendentes da engenharia moderna, quais sejam a Catedral de Milão,
a Torre Eiffel ou os arranha céus de Nova Iorque.
Raros estudiosos, no entanto,
se recordam dos prodígios do corpo humano, realização paciente da Sabedoria Divina,
nos milênios, templo da alma, em temporário aprendizado na Terra.
Por mais se nos agigante a
inteligência, até agora não conseguimos explicar, em toda a sua harmoniosa
complexidade, o milagre do cérebro, com o coeficiente de bilhões de células; o
aparelho elétrico do sistema nervoso, com os gânglios à maneira de interruptores
e células sensíveis por receptores em circuito especializado, com os neurônios
sensitivos, motores e intermediários, que ajudam a graduar as impressões necessárias
ao progresso da mente encarnada, dando passagem à corrente nervosa, com a
velocidade aproximada de setenta metros por segundo; a câmara ocular, onde as imagens
viajam, da retina para os recônditos do cérebro, em cuja intimidade se incorporam
às telas da memória, como patrimônio inalienável do espírito; o parque da audição,
com os seus complicados recursos para o registro dos sons e para fixação deles nos
recessos da alma, que seleciona ruídos e palavras, definindo-os e
catalogando-os na situação e no conceito que lhes são próprios; o centro da
fala; a sede miraculosa do gosto, nas papilas da língua, com um potencial de
corpúsculos gustativos que ultrapassa o número de 2.000; as admiráveis
revelações do esqueleto ósseo; as fibras musculares; o aparelho digestivo; o
tubo intestinal; o motor do coração; a fábrica de sucos do fígado; o vaso de
fermentos do pâncreas; o caprichoso sistema sanguíneo, com os seus milhões de
vidas microscópicas e com as suas artérias vigorosas, que suportam a pressão de
várias atmosferas; o avançado laboratório dos pulmões; o precioso serviço de
seleção dos rins; a epiderme com os seus segredos dificilmente abordáveis; os
órgãos veneráveis da atividade genésica e os fulcros elétricos e magnéticos das
glândulas no sistema endocrínico.
No corpo humano, temos na
Terra o mais sublime dos santuários e uma das supermaravilhas da Obra Divina.
Da cabeça aos pés, sentimos a
glória do Supremo Idealizador que, pouco a pouco, no curso incessante dos
milênios, organizou para o espírito em crescimento o domicílio de carne em que
alma se manifesta. Maravilhosa cidade estruturada com vidas microscópicas quase
imensuráveis, por meio dela a mente se desenvolve e purifica, ensaiando-se nas
lutas naturais e nos serviços regulares do mundo, para altos encargos nos
círculos superiores.
A bênção de um corpo, ainda
que mutilado ou disforme, na Terra, é como preciosa oportunidade de
aperfeiçoamento espiritual, o maior de todos os dons que o nosso Planeta pode
oferecer.
Até agora, de modo geral, o
homem não tem sabido colaborar na preservação e na sublimação do castelo
físico. Enquanto jovem, estraga-lhe as possibilidades, de fora para dentro,
desperdiçando-as impensadamente, e, tão logo se vê prejudicado por si mesmo ou
prematuramente envelhecido, confia-se à rebelião, destruindo-o de dentro para
fora, a golpes mentais de revolta injustificável e desespero inútil.
Dia surge, porém, no qual o
homem reconhece a grandeza do templo vivo em que se demora no mundo e suplica o
retorno a ele, como trabalhador faminto de renovação, que necessita de adequado
instrumento à conquista do abençoado salário do progresso moral para a
suspirada ascensão às Esferas Divinas.
Chico Xavier / Emmanuel – Livro: Roteiro - cap.3
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