FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER, um jovem de 17 anos residente na
cidade de Pedro Leopoldo (MG), psicografou sua primeira mensagem na noite de 8
de julho de 1927. A partir daquele dia, iniciou um período de exercícios
psicográficos.
Todavia, sua primeira obra Parnaso de além túmulo, saiu a lume
nos idos de 1932, publicada pela Federação Espírita Brasileira. Desde então,
sua produção mediúnica foi incessante, completando em nossos dias, cerca de 150
livros publicados¹³. Ao ensejo dos cinquenta anos de atividades psicográficas
de Francisco Cândido Xavier, procuramos obter a opinião respeitável de alguns
líderes espíritas.
Impacto das primeiras obras
P – Como os espíritas receberam as primeiras obras
psicográficas de Chico Xavier?
R – Quando saíram as primeiras obras de Chico, eu ainda
estava, a bem dizer, nos primeiros passos na seara espírita.
Justamente por isso, não posso responder bem a essa
pergunta. Mas ainda me recordo de que, principalmente o Parnaso, objeto de
comentários constantes, como outras obras de Chico empolgou muita gente nos
primeiros tempos. Somente mais tarde, porém, depois de me haver familiarizado
com Léon Denis e Gabriel Delanne, fui tomar conhecimento, diretamente, dos
livros mediúnicos, a respeito dos quais ouvira apenas referências e elogios em
discussões e conferências – Deolindo
Amorim (presidente do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, Rio de Janeiro).
(...)
A análise da obra
P – Seria lícito analisar-se a evolução do espiritismo no
Brasil, dividindo-o nos períodos antes e depois de Chico Xavier?
R – Os ensinos dos espíritos são dosados na conformidade do
progresso intelectual e moral, do amadurecimento espiritual dos homens
terrenos. Três grandes revelações marcaram diferentes etapas, no curso dos
milênios, na popularização do conhecimento das coisas espirituais. Na última
delas – a espírita -, conforme foi recentemente abordado em editorial de
Reformador (março, 1977), o próprio codificador reportou-se a três períodos
distintos, balizando o desenvolvimento das ideias espiritistas: o da
curiosidade (intensa e ruidosa fenomenologia); o do raciocínio e da filosofia
(estudo e meditação sérios, então apenas no início); e o da aplicação e das
consequências (que se seguiria, inevitavelmente, aos outros dois). A propósito
da questão 160 de O Livro dos Espíritos, Emmanuel lembrou os períodos aludidos
e denominou-os como de aviso, chegada e entendimento.
No Brasil, desde cedo, ainda no século XIX, foi dada ênfase
ao sentido do terceiro período, da aplicação e das consequências (Allan Kardec)
ou do entendimento (Emmanuel), que é o da vivência do Evangelho de Jesus
Cristo, do aspecto religioso da Doutrina dos Espíritos, a que conduz a lógica
das conclusões do estudo metódico e sistemático dos aspectos científico e
filosófico, como muito bem elucida o próprio Espírito Emmanuel em O Consolador.
A elaboração dos trabalhos, no transcorrer de um século de
vida do espiritismo no Brasil, em pleno período terceiro, como não podia deixar
de ser, seguiria, como seguiu, orientação dos mesmos moldes dos outros dois: no
sentido do esforço conjugado dos Planos Espiritual e Físico do planeta, da
contribuição das humanidades invisível e visível que o povoam.
À luz dessa realidade, o pesquisador, o estudioso, o espírita
laborioso encontrará sempre, e licitamente, pontos demarcantes da evolução do
espiritismo, em nosso país e fora dele, todos importantes e necessários, como
contributos da edificação comum da mentalidade cristã e das obras que decorrem
das atividades dos seres desencarnados e encarnados, solidários entre si e
perseguindo idênticos ideais na imensa seara do Senhor.
Nas linhas gerais do processo evolutivo da Doutrina dos
Espíritos, no Brasil, se respeitadas as premissas alinhadas neste esforço,
parece-nos perfeitamente justo identificar as múltiplas fases do trabalho para
nelas situar esse ou aquele médium, como instrumento de equipes de espíritos a
utilizarem-no com vistas ao atendimento das necessidades da programação de
longo curso, a cumprir-se por partes, no tempo e no espaço.
Francisco Cândido Xavier, médium precedido por inúmeros
outros, na obra do livro espírita, principalmente em Terras do Cruzeiro,
contemporâneo de diversos medianeiros que também chegaram a ultrapassar a
barreira de meio século de fecundas e continuadas realizações, e de outros já
com alguns decênios de lutas e dedicações, é bem a expressão simples e
confortadora da progressividade da revelação e do permanente cuidado e carinho
de Deus para com os Seus filhos em duras experiências no mundo.
Analisar as realizações que se ligam, indissoluvelmente, ao
valoroso espírita-cristão Chico Xavier, é tarefa que, a nosso ver, deveria ser
mais propriamente delegada ao futuro imediato à sua desencarnação e aos
decênios seguintes, porque, então, detentores do conhecimento pleno do inteiro
patrimônio representado pelo seu mediunato, devidamente esquadrinhado, sem as
interferências das emoções ainda próprias da condição de contemporaneidade, os
espíritas melhormente – e sem preocupações de ferir a modéstia proverbial do
querido médium – poderíamos compreendê-lo na verdadeira extensão e
profundidade, na qualidade e na influência dos seus escritos.
A bibliografia mediúnica que foi acrescida à literatura espírita,
nestes últimos cinquenta anos, nascida do lápis de Chico Xavier – e o espaço
não nos permite, sequer, considerações ligeiras sobre a oriunda, em nosso
plano, de suas páginas –, é vultosa, considerável. E qualitativamente
admirável. Poderíamos, sem dificuldade, num exame sereno e com absoluta
isenção, dividir a obra mediúnica, orientada por Emmanuel, igualmente em fases
perfeitamente delineadas, dentro de duas grandes divisões: a primeira, provando
a sobrevivência e a imortalidade do espírito (Parnaso de além-túmulo); a
segunda, lembrando e confirmando os deveres dos espíritas, destinada a
prepará-los para o trabalho no movimento (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do
Evangelho, seguido de uma panorâmica da História Universal, A Caminho da Luz, e
de alguns manuais de maior valor: Emmanuel – Dissertações mediúnicas, O
Consolador, Roteiro, etc., etc.)
Enfim, muitos estudos interessantes e instrutivos virão, a
seu tempo. E a obra toda de Francisco Cândido Xavier, criteriosamente
traduzida, estará, tempestivamente, à disposição dos leitores do mundo inteiro,
juntamente com a de Allan Kardec e da dos autores que cuidaram dos escritos
subsidiários e complementares da codificação.
Mas, enquanto isso, e para que tudo ocorra com a
tranquilidade que se almeja na difusão conscienciosa e responsável da doutrina
dos espíritos, seria de bom alvitre que se não perdesse de vista o fato de que
Chico Xavier jamais teria obtido êxito, como instrumento do Alto, se não
tivesse buscado ser fiel, autêntico, perseverante, seguindo a rígida disciplina
que lhe foi sugerida por Emmanuel, testemunhando e permanecendo na
exemplificação do amor ao próximo e do amor a Deus, vivendo o Evangelho – Francisco Thiesen (presidente da Federação
Espírita Brasileira, Rio de Janeiro).
¹³Atualmente, vinte anos depois que
escrevemos este artigo, passam dos 400 títulos.
Antônio César Perri de Carvalho – Livro: Chico Xavier – o
homem, a obra e as repercussões
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