Nas
tarefas da noite de 10 de novembro de 1955, profunda alegria felicitou-nos o
grupo em prece.
Pela
vez primeira; o inolvidável companheiro Inácio Bittencourt visita-nos a casa.
Senhoreando as possibilidades do médium, o grande lidador do Espiritismo no
Brasil dirige-nos a sua palavra clara e incisiva, concitando-nos às
responsabilidades que nos competem na Doutrina de Luz que abraçamos.
Meus amigos: Louvado seja o Senhor.
Em minha última romagem no campo físico,
mobilizando os poucos préstimos de minha boa vontade, devotei-me ao serviço da
cura mediúnica; no entanto, desencarnado agora, observo que a turba de doentes,
que na Terra me feria a visão, aqui continua da mesma sorte, desarvorada e sofredora.
Os gemidos no reino da alma não são diferentes
dos gemidos nos domínios da carne.
E dói-me o coração reparar as filas imensas de
necessitados e de aflitos a se movimentarem depois do sepulcro, entre a
perturbação e a enfermidade, exigindo assistência.
É por esta razão, hoje reconhecemos, que acima
do remédio do corpo temos necessidade de luz no espírito.
Sabemos que redenção expressa luta. Que
resultados colheremos no combate evolutivo, se os soldados e obreiros das
nossas empresas de recuperação jazem desprevenidos e vacilantes, infantilizados
e trôpegos?
Nas vastas linhas de nossa fé, precisamos
armar-nos de conhecimento e qualidade que nos habilitem para a vitória nas
obrigações assumidas. Conhecimento que nasça do estudo edificante e metódico, e
qualidade que decorra das atitudes firmes na regeneração de nós mesmos.
Devotamento à lição que ilumine e à atividade
que enobreça.
Indubitavelmente, ignoramos por quanto tempo
ainda reclamaremos no mundo o concurso da medicina e da farmácia, do bálsamo e
do anestésico, da água medicamentosa e do passe magnético, à feição de socorro
urgente aos efeitos calamitosos dos grandes males que geramos na vida, cujas
causas nem por isso deixarão de ser removidas por nós mesmos, com a cooperação
do tempo e da dor.
Mas, porque disponhamos de semelhante alívio,
temporário embora; não será lícito olvidar que o presente de serviço é a
valiosa oportunidade de nossa edificação.
A falta de respeito para com a nossa própria
consciência dá margem a deploráveis ligações com os planos inferiores,
estabelecendo em nosso prejuízo, moléstias e desastres morais cuja extensão não
conseguimos sequer pressentir; e a ausência de estudo, acalenta em nossa
estrada os processos da ignorância, oferecendo azo às mais audaciosas incursões
da fantasia em nosso mundo mental, como sejam: a acomodação com fenômenos de
procedência exótica, presididos por rituais incompatíveis com a pureza de
nossos princípios, o indevido deslumbramento diante de profecias mirabolantes e
a conexão sutil com Inteligências desencarnadas menos dignas, que se valem da
mediunidade incauta e ociosa entre os homens, para a difusão de notícias e
mensagens supostamente respeitáveis, pela urdidura fantasmagórica, e que
encerram em si o ridículo finamente trabalhado, com o evidente intuito de
achincalhar o ministério da verdade e do bem.
A morte não é milagre e o Espiritismo desceu à
Humanidade terrestre com o objetivo de espiritualizar a alma humana.
Evitemos proceder como aquele artífice do
apólogo, que pretendia consertar a vara torta buscando aperfeiçoar-lhe a
sombra.
Iluminemos o santuário de nossa vida interior e
a nossa presença será luz.
Eis a razão por que, em nos comunicando
convosco, reportamo-nos aos quadros dolorosos que anotamos aqui, na esfera dos
ensinamentos desaproveitados, para destacar o impositivo daquela oração e
daquela vigilância, perenemente lembradas a nós todos pela advertência do nosso
Divino Mestre, a fim de que estejamos seguros no discernimento e na fé, na
fortaleza e na razão, encarando o nosso dever face a face.
Inácio Bittencourt / Chico Xavier / Livro: Vozes do grande Além