sexta-feira, 1 de março de 2024

Incêndio na serraria

 

I

O grupo de senhoras estava em prece.

Chamados a ouvi-las, nós, os desencarnados, tínhamos o coração enternecido.

Desejavam construir uma escola. E mentalizavam no doce requerimento o modesto edifício, limpo e alvo, que ofertariam aos pequeninos.

— Senhor, — dizia a mais experiente das quatro, — Senhor, inspirai-nos e protegei-nos. Agradecemos as dádivas que já recebemos em Vosso nome. O pedaço de terra, a pedra e a cal… Agora, Senhor, precisamos de madeira para dar início… Confiadas em Vosso amor, visitaremos a fábrica de móveis… Rogaremos auxílio, contando com Vossa bênção.

Em seguida, levantaram-se para sair. E, comovidos, junto delas, pusemo-nos igualmente em marcha. 

II

 O gerente da serraria oficina, importante empresa da grande cidade, recebeu a comissão cortesmente.

Contudo, o Dr. Alberto, — era ele engenheiro hábil, — ao ouvir a sucinta exposição, esfriou, desapontado.

Mas, mesmo assim, a conversação se fez viva.

— Não temos interesse algum em concessão semelhante, — disse.

— Doutor, mas é uma escola destinada às crianças menos felizes, — falou D. Rute, a maior responsável.

— As portas serão abertas em nome de Deus, — falou D. Constância.

— Contamos com o senhor — acentuou Dona Ester.

— Deus recompensará o que possa fazer aduziu D. Amália.

— E que temos a ver com Deus? — Falou ele, mordaz. — A educação é obra para governos. Não será lícito imiscuir o Criador em negócios que não lhe dizem respeito. Digo isso em consideração às senhoras, porque, de mim mesmo, sou materialista confesso. Ateu. Ateu puro.

D. Rute sorriu, delicada, mas não se deu por vencida. E aclarou:

— Decerto que esperamos do governo que nos dirige providências mais amplas a favor dos meninos. Entretanto, até que isso aconteça, não será compreensível fazer algo de nossa parte? O ensino será totalmente alheio ao ensino religioso.

— Mas, por que envolver Deus nesta história? — Resmungou o engenheiro, positivamente sarcástico.

— Por que não? — Ponderou D. Rute, paciente. — Respeitamos o seu ponto de vista, o seu modo de pensar… Mas cremos na força inteligente da vida. Admitimos a eterna bondade que orienta os sucessos do mundo. Sabedoria e amor que chegam de Deus. O senhor comanda uma fábrica. Conta dezenas de empregados. Dispõe de muitas máquinas. Entretanto, doutor, acreditamos que toda a matéria-prima, como sejam as árvores cortadas, os instrumentos em uso, o equilíbrio dos servidores e até mesmo a sua própria saúde são doações de Deus, que a todos nos sustenta.

— Quem é o dono real de tudo, senão Deus? — Falou D. Ester, com brandura e espontaneidade.

O Dr. Alberto mostrou-se mais irônico. Referiu-se à Natureza. Exibiu mapas e apontamentos sobre botânica. Comentou as vitórias da contabilidade, da técnica, da fiscalização, da higiene…

Por mais de uma hora falou e falou sobre os novos progressos da Humanidade. E acabou notificando que não daria peça alguma, nem mesmo um centavo.

As senhoras, apesar de sorridentes, levantaram-se acabrunhadas.

Tudo em vão.

Começaram as despedidas corretas, quando o inesperado aconteceu. 

III

 — Doutor Alberto! Doutor Alberto! — Gritou um operário, varando a porta do gabinete. — Depressa! Venha depressa! O fogo está devorando a seção de compensados!

Alarido interior. Campainhas vibrando. Corre-corre. Brados por socorro multiplicam-se angustiantes.

O engenheiro movimenta-se, espavorido.

As senhoras instintivamente lhe seguiram os passos. E nós também.

O incêndio nascera de violento curto-circuito.

Dr. Alberto, muito pálido, ordena e coopera. Há deficiência de pessoal. As senhoras, porém, corajosamente, tomam a dianteira do trabalho salvacionista, como se lhe fossem subalternas de muito tempo.

Empunham mangueiras. Deslocam móveis. Transferem tábuas pesadas. Combatem o fogaréu. E pulam. E sofrem queimaduras ligeiras. Estafam-se. E vencem. Finda meia hora de intensa luta, as chamas se extinguem. Ainda assim, esclarece o chefe de obras que duzentos mil cruzeiros de madeira compensada deviam estar perdidos. A casa não estava segurada contra incêndio.

O Dr. Alberto, todavia, agora calmo, aproxima-se das damas, quatro heroínas aos seus olhos e, cumprimentando a diretora da comissão, disse, gentil:

— Dona Rute, penso que Deus ganhou a questão de sua escola. Mudei de ideia. Mande buscar amanhã toda a madeira de que necessite. E mais o que precisar.

E, bem-humorado, acrescentou:

— Depois conversaremos sobre Deus, como dono desta oficina…

As senhoras, chamuscadas, com as vestes sujas e rasgadas, sorriram e retiraram-se.

Depois de dois meses, escola singela e branca recebia quarenta meninos. Doutor Alberto, presente à inauguração, contou a história do incêndio, e um garoto, em seguida, fez pequeno agradecimento, terminando com a bela exclamação:

— Que Deus nos abençoe! 

Hilário Silva / Waldo Vieira
Livro: A Vida Escreve



quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Palestras CEJG - Março/2024

 


Oração das meninas

 


Papai do Céu que nos dais

Carinho, bondade e amor,

Sede louvado, Senhor,

Na bênção de nossos pais.

 

Agradecemos em prece,

Cantando de gratidão,

O lar, a saúde, o pão,

A roupa que nos aquece,

O professor que nos guia,

A escola, o caminho, a fonte,

O Sol na paz do horizonte

— Nossa luz de cada dia —,

O orvalho, o perfume, o vento,

As árvores generosas,

A chuva, a canção, as rosas

E os astros do firmamento.

 

E vimos agradecer

Também a agulha, a peteca

E a nossa doce boneca

Que nos ensina a viver.

 

Pai Nosso que estais vivente

Na Terra, no Céu, na flor,

Guardai-nos em vosso amor,

Hoje, agora e eternamente.

 

Maria Celeste / Chico Xavier

Livro: Antologia dos Imortais




À mulher brasileira

 

Missionárias da Terra do Cruzeiro,

Companheiras de nobres semeadores,

Acendei a fé viva em resplendores,

Reconfortando o mundo sem roteiro.

 

O Brasil é o pacífico Celeiro

De nova luz aos povos sofredores,

Onde a fraternidade espalha as flores

Da imortal primavera do Cordeiro.

 

Mães, esposas e irmãs de nossa terra,

Cooperai contra o ódio, contra a guerra,

Nas tradições de paz de nossa história!

 

Sede no grande Lar Americano,

Vanguardeiras do Cristo Soberano,

Nas conquistas de amor da eterna glória.

 

Pedro de Alcântara / Chico Xavier

Livro: Nosso Livro



quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Saibamos cooperar

 

“Porque sem mim nada podeis fazer.” — Jesus. (João, 15:5)

 

O divino poder do Cristo, como representante de Deus, permanece latente em todas as criaturas. Todos os homens receberam dele sagrados dons, ainda que muitos se mantenham afastados do campo religioso.

Referimo-nos aqui, porém, aos cultivadores da fé, que iniciam o esforço laborioso e longo da descoberta dos valores sublimes que vibram em si mesmos.

Grande parte suspira por espetaculares demonstrações de Jesus em seus caminhos, e companheiros incontáveis acreditam que apenas cooperam com o Senhor os que se encontram no ministério da palavra, no altar ou na tribuna de variadas confissões religiosas.

Urge, entretanto, retificar esse erro interpretativo.

O Senhor está conosco em todas as posições da vida. Nada poderíamos realizar sem o influxo de sua vontade soberana.

Diz-nos o Mestre com clareza: — “Eu sou a videira, vós as varas.” Como produzir alguma coisa sem a seiva essencial?

Efetivamente, os aprendizes arguciosos poderão objetar que, nesse critério, também encontraremos os que praticam o mal, alicerçados nas mesmas bases. Respondendo, consideraremos somente que semelhantes infelizes enxertam cactos infernais na Videira Divina, por conta própria, pagando elevado preço, perante o Governo do Universo.

Reportamo-nos aos companheiros tímidos e vacilantes, embora bem-intencionados, para concluir que, em todas as tarefas humanas, podemos sentir a presença do Senhor, santificando o trabalho que nos foi cometido. Por isso, não podemos olvidar a lição evangélica de que seria abençoado qualquer esforço no bem, ainda que fosse apenas o de ministrar um copo de água pura em seu nome.

O Mestre não se encontra tão somente no serviço daqueles que ensinam a Revelação Divina, através da palavra acadêmica, instrutiva ou consoladora. Acompanha os que administram os bens do mundo e os que obedecem às ordenanças do caminho, concorrendo na edificação do futuro melhor, nas organizações materiais e espirituais. Permanece ao lado dos que revolvem o chão do Planeta, cooperando na estruturação da Terra Aperfeiçoada, como inspira os missionários da inteligência na evolução dos direitos humanos.

Saibamos cooperar, desse modo, nos círculos de serviço a que fomos chamados para o concurso cristão.

Faze, tão bem quanto esteja em tuas possibilidades, a obra parcial confiada às tuas mãos.

Por hoje, talvez te enganes, supondo servir às autoridades terrestres, no entanto, chegará o minuto revelador no qual reconhecerás que permaneces a serviço do Senhor. Une-te, pois, ao Divino Artífice, em espírito e verdade, porque o problema fundamental de nossa paz é justamente o de saber se vivemos nele tanto quanto ele vive em nós.

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Fonte Viva – Cap. 146



sábado, 24 de fevereiro de 2024

Mais Luz - Edição 671 - 25/02/2024

 


Confira nesta edição:

https://mailchi.mp/34f36bf632f5/guardai-vos-dos-ces

 

Pequeno curso de vigilância – André Luiz

Ante o Evangelho: Preces gerais – Capítulo XXVIII

Mensagem da Semana: Guardai-vos dos cães – Fonte Viva, 145

Poema: Mensagem de vigilância – Casimiro Cunha

Oração: Prece – Abel Gomes




sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Pequeno curso de vigilância

 

Diante do mal, santifica teus olhos.

Perante o bem, liberta a palavra.

Ante a ignorância, usa o entendimento.

Com os superiores, vigia teus modos.

Com os subordinados, guarda os ouvidos.

Na alegria, exerce a temperança.

Na dor, aprende a lição.

Na abastança, não te esqueças de dar.

Na escassez, não olvides o esforço próprio.

Na festa, evita os lugares destacados.

No círculo do sofrimento, estende mãos fraternas.

Em negócios do mundo, repara os teus meios.

Nos interesses da alma, não desdenhes a própria renúncia.

No trabalho, observa o tempo.

Na prece, vigia a atitude.

Na estrada, ajuda ao companheiro.

Na bênção, não te esqueças dos outros.

Em público, retifica o temperamento.

Em família, preserva a língua.

Quando sozinho, vigia o pensamento.

 

Cada estrela possui brilho peculiar.

Cada flor tem diverso perfume.

Cada criatura humana, centro de soberana inteligência, emite raios vivos dos sentimentos e propósitos que ambienta e reproduz, na intimidade de si mesma.

Em razão disso, ao discípulo do Evangelho se pede vigilância, não somente para dissolver a tentação de nossa própria inferioridade, mas também para que sejamos lâmpadas ativas da Luz Imortal.

 

André Luiz / Chico Xavier
Livro: Nosso livro


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Prece


Senhor, que a nossa humilde mão se estenda

Onde a sombra da Terra se abra em dores.

Que os nossos pés te sigam onde fores,

Levando o amor por mágica oferenda!…

 

Que o nosso coração te escute e atenda

Nos escuros caminhos tentadores,

Nas alegrias e nos amargores

Para amar-te e servir-te sem contenda!

 

Cura-nos, Mestre, o espírito enfermiço

E move a nossa vida ao teu serviço

Em sublime e ditoso cativeiro.

 

Seja o teu braço amigo que aprimora,

O timão que nos guie estrada afora,

Estendendo-te a glória ao mundo inteiro!


Abel Gomes / Chico Xavier

Livro: Palavras sublimes






Mensagem de vigilância

 

Se buscas em tua fé

Roteiros de paz e luz,

Afeiçoa a própria vida

Às instruções de Jesus.

 

Não vale apenas saber.

O aprendizado cristão

Reclama de todos nós

Esforço e edificação.

 

Palavras, prantos, discursos,

Merecem todo o respeito,

Mas são zero se lhes falta

Caminho nobre e direito.

 

Muitos sabem todo o texto

Que a Santa Escritura encerra,

Mas vivem segundo a carne,

Colados ao pó da terra.

 

Notamos por toda a parte,

Nos Templos do mundo inteiro,

Grandes lobos que se ocultam

Em fina lã de cordeiro.

 

Há serpes ao pé do altar

De mente escura e cruel,

Raposas que dão balidos

Gemendo com voz de mel.

 

Há vasos alabastrinos

Conservando essência impura.

E há venenos escondidos

Em cálices de ternura.

 

São almas que a sombra envolve

Em que a mentira faz centro.

Revelam flores por fora

Guardando abismos por dentro.

 

As teorias sem fatos

Ao povo faminto em prece

São promessas enganosas

De pão que desaparece.

 

Todos temos fantasias

De Caim, Judas, Pilatos,

Mas nunca seremos livres

Sem Jesus em nossos atos.

 

Façamos, pois, cada dia,

Bendita e nova cruzada,

Oferecendo ao Senhor

Nossa vida transformada.

 

Sem Cristo no pensamento,

Sem Evangelho na ação,

Jamais veremos na Terra

O dia da redenção.

 

Casimiro Cunha / Chico Xavier

Livro: Gotas de Luz



quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Guardai-vos dos cães

 

“Guardai-vos dos cães.” — Paulo. (Filipenses, 3:2)

Somos imensa caravana de seres, na estrada evolutiva, a movimentar-se, sob o olhar do Divino Pastor, em demanda de Esferas mais altas.

Em verdade, se prosseguimos caminho afora, magnetizados pelo devotamento do Condutor Divino, inegavelmente somos também assediados pelos cães da ignorância, da perversidade, da má-fé.

Referindo-se a cães, Paulo de Tarso não mentalizava o animal amigo, símbolo de ternura e fidelidade, após a domesticação. Reportava-se aos cães selvagens, impulsivos e ferozes. No rebanho humano, encontraremos sempre criaturas que os personificam. São os adversários sistemáticos do bem.

Atassalham reputações dignas.

Estimam a maledicência.

Exercitam a crueldade.

Sentem prazer com a imposição tirânica que lhes é própria.

Desfazem a conceituação elevada e santificante da vida.

Desarticulam o serviço dos corações bem-intencionados.

Atiram-se, desvairadamente, à substância das obras construtivas, procurando consumi-las ou pervertê-las.

Vomitam impropérios e calúnias.

Gritam, levianos, que o mal permanece vitorioso, que a sombra venceu, que a miséria consolidou o seu domínio na Terra, perturbando a paz dos servos operosos e fiéis.

E, quando o micróbio do ódio ou da cólera lhes excita a desesperação, ai daqueles que se aproximam, generosos e confiantes!

É para esse gênero de irmãos que Paulo solicita de nós outros a conjugação do verbo guardar. Para eles, pobres prisioneiros da incompreensão e da ignorância, resta somente o processo educativo, no qual podemos cooperar com amor, competindo-nos reconhecer, contudo, que esse recurso de domesticação procede originariamente de Deus.

Emmanuel / Chico Xavier – Livro: Fonte Viva – Cap. 145