sábado, 1 de fevereiro de 2025

Você conhece a história da "Dama da Caridade"?

 

Benedita Fernandes nasceu em 27 de junho de 1883, em Campos Novos de Cunha, São Paulo, filha de escravos. Teve infância pobre e difícil. Não se tem registros da data exata de quando, em desequilíbrio, abandonou a casa dos pais.

Em 1903, perambulava pelas ruas de Penápolis, São Paulo, causando tantos incômodos à população que, considerada louca, foi recolhida à cadeia pública. Nessa época, não existia nenhum cuidado ou tratamento específico aos loucos das ruas, senão a reclusão.

Portadora de pertinaz obsessão, recebeu os cuidados do carcereiro Padial, que a alimentava e protegia.  E João Marcheze, espírita e fundador do Centro Espírita Discípulos de Jesus, lhe aplicava passes, aliados aos ensinos da Doutrina Espírita.

Com esse tratamento, Benedita recobrou a consciência e partiu para Araçatuba, onde foi acolhida por um casal de amigos, que a ajudou quando completamente desorientada pela mediunidade que aflorava. Depois de uma forte crise psíquica, ela recebeu um chamado libertador, cuja voz dizia: “Benedita, se prometer consagrar-te inteiramente aos enfermos e pobres sairás curada daqui.”

Uniu-se então a outras mulheres simples da comunidade para a fundação do Centro Espírita Paz, Amor e Caridade e, em 1932, foi fundada a Associação das Senhoras Cristãs, tendo Benedita como presidente.

Depois, surgiram a Casa da Criança e o Asilo Dr. Jaime de Oliveira. Em 1933, por exigência dos órgãos governamentais essas instituições foram desativadas e transformadas em Sanatório. Ali havia uma tríade: associações filantrópicas, o movimento espírita, e a psiquiatria.

Benedita exerceu liderança política e social tanto no âmbito das associações filantrópicas quanto no movimento espírita local.

Foi responsável pela implementação das primeiras políticas públicas de saúde mental em Araçatuba e, provavelmente, a pioneira dos Hospitais Psiquiátricos Espíritas.

A mulher simples, filha de escravos e semianalfabeta se transformou em pioneira da assistência social espírita em toda a região Noroeste do Estado de São Paulo e quiçá de todo o Brasil, pois muitas de suas políticas foram usadas mais tarde em outras regiões.

As atividades lideradas por Benedita representaram um marco no movimento espírita de Araçatuba. Sua dedicação tornou-se conhecida e era grande o número de necessitados da região e até de lugares longínquos que a procuravam.

Aos domingos, passeava com as crianças pelas praças e ruas centrais da cidade.

Conta-se que, um dia, Benedita Fernandes viu jogado a um monturo, morto, e quase devorado por urubus, o corpo de um mendigo, seu conhecido. Jurou que jamais alguém ficaria sem o seu amparo. Passou a recolhê-los e abrigá-los, quando em crise. Os dementes avançavam para ela que se sentava, os acalmava com preces, passes, boas palavras. Eles ficavam calmos, pacificados pela força irresistível do amor.

O Prefeito da cidade passou a auxiliá-la com recursos financeiros, mas um dia, o dinheiro parou de chegar. Ela foi falar com ele, que lhe disse não ter mais verba. Benedita voltou para casa e liberou todos os loucos. Em breves horas, o problema estava resolvido, a verba voltou para que pudesse atender aos pobres e necessitados.

Certa feita, as crianças não tinham o que comer. Benedita explicou-lhes que se elas fossem ao portão, Jesus as auxiliaria. Elas se postaram à entrada do Lar. Passou um homem chamado Ricieri. Era um tripeiro, vendedor de vísceras de animais. Ele perguntou o que elas faziam ali: “Estamos esperando Jesus para nos dar de comer.” Ele lhes respondeu: “Digam para a mãezinha de vocês que Jesus chegou!”

Daquele dia em diante, com as sobras do tripeiro, não houve mais fome por lá. Ainda, ele falava aos fregueses daquele pequeno abrigo e muitos passaram a auxiliar.

Mãe Dita, como era conhecida, se dedicou, ainda, à mediunidade e evangelização das crianças.

Tornou-se uma das pioneiras do atual movimento de unificação dos espíritas quando fundou, aos 30 de agosto de 1940, a União Espírita Regional da Noroeste, sendo eleita sua presidente.

Mantinha correspondência com Cairbar Schutel, que publicava notícias sobre o trabalho dela, no jornal O Clarim. Era visitada por lideranças expressivas como João Leão Pitta e Leopoldo Machado.

Sentiu-se mal às 23 horas do dia 8 de outubro de 1947, quando conversava com as crianças, aconselhando-as. Desencarnou à uma hora e trinta minutos do dia 9, vítima de colapso por insuficiência cardíaca.

Retornou da Espiritualidade, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, oferecendo mensagens, que foram enfeixadas no livro Terapêutica de Emergência, editora LEAL.

Uma mulher tida como louca tornou-se a Dama da Caridade, marcou uma época e tornou-se referência histórica dos hospitais psiquiátricos espíritas.

 

Fonte: Jornal Mundo Espírita – setembro/2019


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O programa “Bem na hora” da SBT fez um documentário em 4 capítulos sobre a história desta benfeitora. Confira:



                        





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