Benedita Fernandes nasceu em 27 de junho de 1883, em
Campos Novos de Cunha, São Paulo, filha de escravos. Teve infância pobre e
difícil. Não se tem registros da data exata de quando, em desequilíbrio,
abandonou a casa dos pais.
Em 1903, perambulava pelas ruas de Penápolis, São
Paulo, causando tantos incômodos à população que, considerada louca, foi
recolhida à cadeia pública. Nessa época, não existia nenhum cuidado ou
tratamento específico aos loucos das ruas, senão a reclusão.
Portadora de pertinaz obsessão, recebeu os cuidados do
carcereiro Padial, que a alimentava e protegia.
E João Marcheze, espírita e fundador do Centro Espírita Discípulos de
Jesus, lhe aplicava passes, aliados aos ensinos da Doutrina Espírita.
Com esse tratamento, Benedita recobrou a consciência e
partiu para Araçatuba, onde foi acolhida por um casal de amigos, que a ajudou
quando completamente desorientada pela mediunidade que aflorava. Depois de uma
forte crise psíquica, ela recebeu um chamado libertador, cuja voz dizia: “Benedita,
se prometer consagrar-te inteiramente aos enfermos e pobres sairás curada
daqui.”
Uniu-se então a outras mulheres simples da comunidade
para a fundação do Centro Espírita Paz, Amor e Caridade e, em 1932, foi fundada
a Associação das Senhoras Cristãs, tendo Benedita como presidente.
Depois, surgiram a Casa da Criança e o Asilo Dr. Jaime
de Oliveira. Em 1933, por exigência dos órgãos governamentais essas
instituições foram desativadas e transformadas em Sanatório. Ali havia uma
tríade: associações filantrópicas, o movimento espírita, e a psiquiatria.
Benedita exerceu liderança política e social tanto no
âmbito das associações filantrópicas quanto no movimento espírita local.
Foi responsável pela implementação das primeiras
políticas públicas de saúde mental em Araçatuba e, provavelmente, a pioneira
dos Hospitais Psiquiátricos Espíritas.
A mulher simples, filha de escravos e semianalfabeta
se transformou em pioneira da assistência social espírita em toda a região
Noroeste do Estado de São Paulo e quiçá de todo o Brasil, pois muitas de suas
políticas foram usadas mais tarde em outras regiões.
As atividades lideradas por Benedita representaram um
marco no movimento espírita de Araçatuba. Sua dedicação tornou-se conhecida e
era grande o número de necessitados da região e até de lugares longínquos que a
procuravam.
Aos domingos, passeava com as crianças pelas praças e
ruas centrais da cidade.
Conta-se que, um dia, Benedita Fernandes viu jogado a
um monturo, morto, e quase devorado por urubus, o corpo de um mendigo, seu
conhecido. Jurou que jamais alguém ficaria sem o seu amparo. Passou a
recolhê-los e abrigá-los, quando em crise. Os dementes avançavam para ela que
se sentava, os acalmava com preces, passes, boas palavras. Eles ficavam calmos,
pacificados pela força irresistível do amor.
O Prefeito da cidade passou a auxiliá-la com recursos
financeiros, mas um dia, o dinheiro parou de chegar. Ela foi falar com ele, que
lhe disse não ter mais verba. Benedita voltou para casa e liberou todos os
loucos. Em breves horas, o problema estava resolvido, a verba voltou para que
pudesse atender aos pobres e necessitados.
Certa feita, as crianças não tinham o que comer.
Benedita explicou-lhes que se elas fossem ao portão, Jesus as auxiliaria. Elas
se postaram à entrada do Lar. Passou um homem chamado Ricieri. Era um tripeiro,
vendedor de vísceras de animais. Ele perguntou o que elas faziam ali: “Estamos
esperando Jesus para nos dar de comer.” Ele lhes respondeu: “Digam para a
mãezinha de vocês que Jesus chegou!”
Daquele dia em diante, com as sobras do tripeiro, não
houve mais fome por lá. Ainda, ele falava aos fregueses daquele pequeno abrigo
e muitos passaram a auxiliar.
Mãe Dita, como era conhecida, se dedicou, ainda, à
mediunidade e evangelização das crianças.
Tornou-se uma das pioneiras do atual movimento de
unificação dos espíritas quando fundou, aos 30 de agosto de 1940, a União
Espírita Regional da Noroeste, sendo eleita sua presidente.
Mantinha correspondência com Cairbar Schutel, que
publicava notícias sobre o trabalho dela, no jornal O Clarim. Era visitada por
lideranças expressivas como João Leão Pitta e Leopoldo Machado.
Sentiu-se mal às 23 horas do dia 8 de outubro de 1947,
quando conversava com as crianças, aconselhando-as. Desencarnou à uma hora e
trinta minutos do dia 9, vítima de colapso por insuficiência cardíaca.
Retornou da Espiritualidade, através da psicografia de
Divaldo Pereira Franco, oferecendo mensagens, que foram enfeixadas no livro
Terapêutica de Emergência, editora LEAL.
Uma mulher tida como louca tornou-se a Dama da
Caridade, marcou uma época e tornou-se referência histórica dos hospitais
psiquiátricos espíritas.
Fonte: Jornal Mundo Espírita – setembro/2019
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O programa “Bem na hora” da SBT fez um documentário em 4 capítulos sobre a história desta benfeitora. Confira:
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