Continuação da postagem anterior...
|
Os novos dados
O
ensino de O Livro dos Espíritos se constitui da transmissão para os educandos
dos novos dados sobre o homem, a vida, a Natureza e o Universo que a Ciência
Espírita conseguiu obter através da pesquisa, da observação e da revelação. O
problema da revelação, que levanta suspeitas e objeções na área científica propriamente
dita, é explicado de maneira didática. Até Kardec a Revelação era divina e só
divina, e se escrevia assim como fizemos, com inicial maiúscula. Dela se
originava a Teologia, a Ciência de Deus... feita pelos homens. A partir de
Kardec a situação é outra.
Descartes,
inspirado pelo Espírito da Verdade já havia demonstrado no século XVII que à
Ciência Divina proveniente da Revelação se opunham as ciências humanas
provenientes da razão. Kardec foi além e demonstrou a existência de dois tipos
de revelação: a divina e a humana. A Ciência Espírita se apresentava como
produto da conjugação dessas duas formas. De um lado tínhamos a revelação
divina feita pelos Espíritos, de outro a revelação humana feita pelos homens.
Todo cientista capaz de descobrir novas leis naturais é um revelador, pois na
verdade revela uma realidade oculta.
A Ciência Espírita fundia a revelação divina com a revelação humana. Os
Espíritos revelavam no geral, os homens no particular.
Vamos a
um exemplo concreto. Os Espíritos revelaram a Kardec que muitos Espíritos não
sabiam que haviam morrido. Kardec estranhou e pôs em dúvida esse dado da
revelação. Mas para esclarecer o problema entregou-se à pesquisa e esta lhe
mostrou que os Espíritos tinham razão. Kardec poderia ter-se apoiado em pressupostos
da tradição espiritualista, inclusive da tradição judaica a respeito, mas não
procedeu assim porque o seu critério científico exigia a comprovação objetiva
dos fatos. Quem quiser consultar a coleção da Revista Espírita sobre esse assunto verá como Kardec conseguiu
objetivar esse problema subjetivo com a questão do desprendimento do espírito
durante o sono, com o problema da obsessão e também com o problema da
existência do corpo espiritual (períspirito), e assim por diante.
A
própria existência de Deus e a questão de sua imanência e transcendência, inacessíveis
à Ciência, segundo a tese kantiana, Kardec submeteu à observação e à lógica.
Depois dele o Prof. Ernesto Bozzano sugeriu a hipótese do Deus-Éter, mas Kardec
não se prendera ao campo das leis físicas, recorrendo ao princípio de causa e
efeito e firmando o princípio espírita de que: todo efeito inteligente tem uma causa inteligente.
A ideia
de evolução se infiltrara na Ciência e na Filosofia desde o século XVIII.
Kardec a recebeu dos Espíritos, mas também a submeteu à observação. No caso da
evolução do homem submeteu-a ainda à pesquisa através da mediunidade e
conseguiu demonstrar a sua realidade de maneira positiva.
Assim
os dados da nova ciência, que Kardec
chamou de ciência do espírito
ofereciam uma nova concepção do homem e do mundo que tinha de ser ensinada à
Humanidade. A transmissão desses dados coube à didática de Kardec em O Livro
dos Espíritos.
O novo homem
Esse
volume de informações novas que abriam novas perspectivas para o futuro humano,
Kardec, o pedagogo e professor, submeteu naturalmente ao controle pedagógico da
formação do novo homem. Surge aí, precisamente nesse ponto do processo
espírita, a conexão necessária (entendendo-se a necessidade no mais rigoroso
sentido lógico) do Espiritismo com o Cristianismo. Jesus também havia procedido
assim. Oferecera aos homens novos dados sobre a sua natureza e sobre a natureza
do Universo, provando através de demonstrações práticas a realidade do seu
ensino: os fatos espíritas que constam dos Evangelhos, os fenômenos físicos por
ele produzidos, os fenômenos de transfiguração e materializações ou aparições
tangíveis (como no Monte Tabor e os ocorridos com ele mesmo após a morte).
Por
outro lado, apoiando-se nesses dados, Jesus afirmara a necessidade de
transformação do homem velho em homem
novo e aplicará a sua pedagogia nesse sentido. Kardec dava continuação a
esse trabalho de Jesus e verificava que a moral evangélica preenchia todos os
requisitos da nova formação do homem a partir do século XIX.
O Livro
dos Espíritos não é apenas um repositório de informações a serviço da Didática
Espírita. É também um manual de aperfeiçoamento humano que culmina na sua
última parte, dedicada às leis morais. Nesse sentido a estrutura da obra é
clara: parte da questão da existência de Deus, examina o problema da Criação,
situa o homem no contexto universal, demonstra a sua natureza espiritual e não
sujeita à destruição da morte, investiga o mundo de após morte, revela a lei de
reencarnação progressiva e teológica, estuda as relações dos espíritos com os
homens, descobre a lei de adoração e explica o seu desenvolvimento, trata das
penas e recompensas futuras e aponta Jesus como modelo da perfeição humana,
dando à Humanidade a educação integral de que ela necessita.
O Livro
dos Espíritos é, pois, um manual de Educação Integral oferecido à Humanidade
para a sua formação moral e espiritual na Escola da Terra.
José Herculano Pires / Livro:
Pedagogia Espírita
|
|
18/04/2019 – 162 ANOS DA 1ª EDIÇÃO DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS