(Paris, 18 de dezembro de 1867 -
Médium: Sr. Desliens)
O que importava satisfazer, antes de tudo, eram as
aspirações da alma; era encher o vazio deixado pela dúvida nas almas vacilantes
em sua fé. Essa primeira missão hoje está cumprida. O Espiritismo atualmente
entra numa nova fase. Ao atributo de consolador, alia o de instrutor e diretor
do Espírito, em Ciência e em Filosofia, como em moralidade. A caridade, sua
base inabalável, dele fez o laço das almas ternas; a ciência, a solidariedade,
a progressão, o espírito liberal dele, farão o traço de união das almas fortes.
Ele conquistou os corações amigos com as armas da doçura; hoje viril, é às inteligências
viris que se dirige. Materialistas, positivistas, todos os que, por um motivo
qualquer, se afastaram de uma espiritualidade cujas imperfeições suas
inteligências lhes mostrariam, nele vão encontrar novos alimentos para sua
insaciabilidade. A Ciência é sua senhora, mas uma descoberta chama outra, e o
homem avança sem cessar com ela, de desejo em desejo, sem encontrar completa
satisfação. É que o espírito tem suas necessidades, também ele; é que a alma
mais ateísta tem aspirações secretas, inconfessadas, e que essas aspirações
reclamam seu alimento.
A Religião, antagonista da Ciência, respondia, pelo
mistério, a todas as questões da filosofia cética. Ela violava as leis da
Natureza e as violentava a seu bel-prazer, para daí extrair uma explicação
capenga de seus ensinamentos. Vós, ao contrário, vos sacrificais à Ciência;
aceitais todos os seus ensinamentos sem exceção e lhe abris horizontes que ela
supunha intransponíveis. Tal será o efeito desta nova obra. Ela não poderá
senão assegurar mais os fundamentos da crença espírita nos corações que já a
possuem, e fará com que todos os dissidentes deem um passo à frente em busca da
unidade, à exceção, entretanto, daqueles que o são por interesse ou por
amor-próprio. Esses o veem com despeito sobre bases cada vez mais inabaláveis,
que os deixam para trás e os mergulham na sombra. Havia pouco ou nenhum terreno
comum onde eles pudessem se encontrar. Hoje o materialismo vos acotovela por
toda parte, porque estando em seu terreno, não estareis menos no vosso, e ele
não poderá fazer outra coisa senão aprender a conhecer os hóspedes que lhe traz
a filosofia espírita. É um instrumento de duplo efeito: uma sapa, uma mina que
ainda derruba algumas das ruínas do passado, e uma colher de pedreiro que
edifica para o futuro.
A questão de origem que se liga à Gênese é uma questão
causticante para todos. Um livro escrito sobre esta matéria deve, em
consequência, interessar a todos os Espíritos sérios. Por esse livro, como eu
vos disse, o Espiritismo entra numa nova fase e essa preparará o caminho para a
fase que se abrirá mais tarde, porque cada coisa deve vir a seu tempo.
Antecipar o momento propício é tão nocivo quanto deixá-lo escapar.
São Luís- Revista Espírita -
Jornal de Estudos Psicológicos - fevereiro/1868
06 de janeiro de 2022 – 154 anos
de lançamento do livro A Gênese