“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos
Céus.” — Jesus (Mateus, 5:16)
“Brilhe vossa luz” — disse-nos o Mestre, — e muitas
vezes julgamo-nos unicamente no dever de buscar as alturas mentais.
E suspiramos inquietos pela dominação do cérebro.
Contudo, o Cristo foi claro e simples no ensinamento.
“Brilhe também a vossa luz diante dos homens para que
vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus.”
Não apenas pela cultura intelectual.
Não somente pela frase correta.
Nem só pelo verbo flamejante.
Não apenas pela interpretação eficiente das Leis
Divinas.
Não somente pela prece labial, apurada e comovedora.
Nem só pelas palavras e pelos votos brilhantes.
É indiscutível que não podemos menosprezar a educação
da inteligência, mesmo porque a escola, em todos os Planos, é obra sublime com
que nos cabe honrar o Senhor, mas Jesus, com a referência, convidava-nos ao
exercício constante das boas obras, seja onde for, pois somente o coração tem o
poder de tocar o coração, e, somente aperfeiçoando os nossos sentimentos,
conseguiremos nutrir a chama espiritual em nós, consoante o divino apelo.
Com o amor estimularemos o amor…
Com a humildade geraremos a humildade…
Com a paz em nós ajudaremos a construir a paz dos
outros…
Com a nossa paciência edificaremos a paciência alheia.
Com a caridade em nosso passo, semearemos a caridade
nos passos do próximo.
Com a nossa fé garantiremos a fé ao redor de nós
mesmos.
Atendamos, pois, ao nosso próprio burilamento,
porquanto apenas contemplando a luz das boas obras em nós é que os outros
entrarão no caminho das boas obras, glorificando a Bondade e a Sabedoria de
Deus.
Benedita Fernandes nasceu em 27 de junho de 1883, em
Campos Novos de Cunha, São Paulo, filha de escravos. Teve infância pobre e
difícil. Não se tem registros da data exata de quando, em desequilíbrio,
abandonou a casa dos pais.
Em 1903, perambulava pelas ruas de Penápolis, São
Paulo, causando tantos incômodos à população que, considerada louca, foi
recolhida à cadeia pública. Nessa época, não existia nenhum cuidado ou
tratamento específico aos loucos das ruas, senão a reclusão.
Portadora de pertinaz obsessão, recebeu os cuidados do
carcereiro Padial, que a alimentava e protegia.
E João Marcheze, espírita e fundador do Centro Espírita Discípulos de
Jesus, lhe aplicava passes, aliados aos ensinos da Doutrina Espírita.
Com esse tratamento, Benedita recobrou a consciência e
partiu para Araçatuba, onde foi acolhida por um casal de amigos, que a ajudou
quando completamente desorientada pela mediunidade que aflorava. Depois de uma
forte crise psíquica, ela recebeu um chamado libertador, cuja voz dizia: “Benedita,
se prometer consagrar-te inteiramente aos enfermos e pobres sairás curada
daqui.”
Uniu-se então a outras mulheres simples da comunidade
para a fundação do Centro Espírita Paz, Amor e Caridade e, em 1932, foi fundada
a Associação das Senhoras Cristãs, tendo Benedita como presidente.
Depois, surgiram a Casa da Criança e o Asilo Dr. Jaime
de Oliveira. Em 1933, por exigência dos órgãos governamentais essas
instituições foram desativadas e transformadas em Sanatório. Ali havia uma
tríade: associações filantrópicas, o movimento espírita, e a psiquiatria.
Benedita exerceu liderança política e social tanto no
âmbito das associações filantrópicas quanto no movimento espírita local.
Foi responsável pela implementação das primeiras
políticas públicas de saúde mental em Araçatuba e, provavelmente, a pioneira
dos Hospitais Psiquiátricos Espíritas.
A mulher simples, filha de escravos e semianalfabeta
se transformou em pioneira da assistência social espírita em toda a região
Noroeste do Estado de São Paulo e quiçá de todo o Brasil, pois muitas de suas
políticas foram usadas mais tarde em outras regiões.
As atividades lideradas por Benedita representaram um
marco no movimento espírita de Araçatuba. Sua dedicação tornou-se conhecida e
era grande o número de necessitados da região e até de lugares longínquos que a
procuravam.
Aos domingos, passeava com as crianças pelas praças e
ruas centrais da cidade.
Conta-se que, um dia, Benedita Fernandes viu jogado a
um monturo, morto, e quase devorado por urubus, o corpo de um mendigo, seu
conhecido. Jurou que jamais alguém ficaria sem o seu amparo. Passou a
recolhê-los e abrigá-los, quando em crise. Os dementes avançavam para ela que
se sentava, os acalmava com preces, passes, boas palavras. Eles ficavam calmos,
pacificados pela força irresistível do amor.
O Prefeito da cidade passou a auxiliá-la com recursos
financeiros, mas um dia, o dinheiro parou de chegar. Ela foi falar com ele, que
lhe disse não ter mais verba. Benedita voltou para casa e liberou todos os
loucos. Em breves horas, o problema estava resolvido, a verba voltou para que
pudesse atender aos pobres e necessitados.
Certa feita, as crianças não tinham o que comer.
Benedita explicou-lhes que se elas fossem ao portão, Jesus as auxiliaria. Elas
se postaram à entrada do Lar. Passou um homem chamado Ricieri. Era um tripeiro,
vendedor de vísceras de animais. Ele perguntou o que elas faziam ali: “Estamos
esperando Jesus para nos dar de comer.” Ele lhes respondeu: “Digam para a
mãezinha de vocês que Jesus chegou!”
Daquele dia em diante, com as sobras do tripeiro, não
houve mais fome por lá. Ainda, ele falava aos fregueses daquele pequeno abrigo
e muitos passaram a auxiliar.
Mãe Dita, como era conhecida, se dedicou, ainda, à
mediunidade e evangelização das crianças.
Tornou-se uma das pioneiras do atual movimento de
unificação dos espíritas quando fundou, aos 30 de agosto de 1940, a União
Espírita Regional da Noroeste, sendo eleita sua presidente.
Mantinha correspondência com Cairbar Schutel, que
publicava notícias sobre o trabalho dela, no jornal O Clarim. Era visitada por
lideranças expressivas como João Leão Pitta e Leopoldo Machado.
Sentiu-se mal às 23 horas do dia 8 de outubro de 1947,
quando conversava com as crianças, aconselhando-as. Desencarnou à uma hora e
trinta minutos do dia 9, vítima de colapso por insuficiência cardíaca.
Retornou da Espiritualidade, através da psicografia de
Divaldo Pereira Franco, oferecendo mensagens, que foram enfeixadas no livro
Terapêutica de Emergência, editora LEAL.
Uma mulher tida como louca tornou-se a Dama da
Caridade, marcou uma época e tornou-se referência histórica dos hospitais
psiquiátricos espíritas.
Quando, há mais de 2000 anos, palavras como: benevolência, indulgência e perdão ecoaram da boca do Mestre Jesus, não havia ainda na nossa intimidade os recursos necessários à sua real compreensão.
Com o advento do Espiritismo e sob a coordenação do próprio Cristo, as luzes do entendimento foram lançadas sobre a humanidade, facultando então maior compreensão aos ensinamentos outrora ministrados.
Assim, sob a perspectiva do Cristianismo Redivivo, o Evangelho de Jesus se torna mais compreensível aos nossos corações, nos convidando, entre outras oportunidades, ao estudo edificante e ao trabalho de dedicação aos irmãos mais necessitados.
E é nessa diretriz que também são coordenadas as atividades do Departamento de Assistência e Promoção Social Espírita do Centro Espírita Joseph Gleber. Um trabalho desenvolvido com muito amor, compromisso e dedicação, oferecendo assistência material e espiritual com base na mais elevada recepção fraterna, acrescida do esclarecimento oportuno sobre a mensagem espírita cristã.
Entre as atividades do DAPSE, podemos citar: a Campanha do Quilo, o Programa de Promoção das Famílias, a Campanha do Quilo no Supermercado, o Clube de Mães, o Bazar Beneficente, entre outras...
Se você possui boa vontade para ajudar, amor no coração e já compreende a importância da oportunidade do trabalho no nosso processo de crescimento espiritual, procure a coordenação das tarefas no domingo pela manhã e venha fazer parte do nosso Departamento.
Diante da palavra do Mestre, reportando-se ao espírito
de leviandade e defecção que o cercava, os discípulos perguntaram afoitos:
— “Porventura sou eu, Senhor?”
E quase todos nós, analisando o gesto de Judas,
incriminamo-lo em pensamento.
Por que teria tido a coragem de vender o Divino Amigo
por trinta moedas?
Entretanto, bastará um exame mais profundo em nós
mesmos, a fim de que vejamos nossa própria negação à frente do Cristo.
Judas teria cedido à paixão política dominante,
enganado pelas insinuações de grupos famintos de libertação do jugo romano… Teria
imaginado que Jesus, no Sinédrio, avocaria a posição de emancipador da sua
terra e da sua gente, exibindo incontestável triunfo humano…
E, apenas depois da desilusão dolorosa e terrível,
teria assimilado toda a verdade!…
Mas nós?
Em quantas existências e situações tê-lo-emos vendido
no altar do próprio coração, ao preço mesquinho de nosso desvairamento
individual?
Nos prélios da vaidade e do orgulho…
Nas exigências do prazer egoísta…
Na tirania da opinião…
Na crueldade confessa…
Na caça da fortuna material…
Na rebeldia destruidora…
No olvido de nossos deveres…
No aviltamento de nosso próprio trabalho…
Na edificação íntima do Reino de Deus, meditemos
nossos erros conscientes ou não, definindo nossas responsabilidades e débitos
para com a vida, para com a Natureza e para com os semelhantes e, em todos os
assuntos que se refiram à deserção perante o Cristo, teremos bastante força
para desculpar as faltas do próximo, perguntando, com sinceridade, no âmago do
coração:
— “Porventura existirá alguém mais ingrato para
contigo do que eu, Senhor?”
“Ele respondeu e disse: Dai-lhes vós, de comer…” — (Marcos,
6:37)
Em muitas ocasiões propomos a Benfeitores Espirituais
determinados serviços que, acima de tudo, são oportunidades de trabalho que o
Senhor, abnegado e vigilante, nos oferece.
Enunciamos rogativas e relacionamos diversos quadros
de ação para a caridade.
O doente de certa rua.
O parente necessitado.
O obsesso que sofre não distante.
A casa conflagrada do vizinho.
O companheiro algemado ao leito.
O amigo em prova inquietante.
Os obreiros da Espiritualidade movimentam-se e ajudam,
devotados e operosos; contudo, em suplicando o socorro alheio, não nos cabe
olvidar o socorro que podemos prestar por nós mesmos.
É indispensável acionar as possibilidades da nossa
cooperação fraterna, os recursos ainda que reduzidos de nossa bolsa, o nosso
concurso pessoal, o nosso suor e as nossas horas, a benefício daqueles que a
Sabedoria Divina situou em nossa estrada para testemunharmos a própria fé.
Diante da turba faminta, ouvindo as alegações dos
discípulos que lhe solicitavam a atenção para as necessidades do povo,
disse-lhes o Senhor: — “Dai-lhes vós, de comer…”
E os discípulos angariaram diminuta porção de
alimentos, antes que o Mestre a convertesse em pão para milhares.
A lição é expressiva.
Não basta rogar a intervenção do Céu, em favor dos
outros, com frases bem feitas, a fim de que venhamos a cumprir o nosso dever
cristão. Antes de tudo, é necessário fazer de nossa parte, quanto nos seja
possível, para que o bem se realize, de modo a entrarmos em sintonia com os
poderes do Bem Eterno.
“Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o
bem.” — Paulo (Romanos, 12:21)
Comumente empregamos a expressão “guerrear o mal”,
como se bastassem nossas atitudes mais fortes para exterminá-lo e vencê-lo.
Sem dúvida, semelhante conceituação não é de todo
imprópria, porque, em muitas circunstâncias, para limitá-lo não podemos
dispensar vigilância e firmeza.
Ainda assim, muitas vezes, zurzindo-lhe as
manifestações com violência, criamos outros males a se expressarem através de
feridas que apenas o bálsamo do tempo consegue cicatrizar.
O apóstolo, contudo, é claro na fórmula precisa ao
verdadeiro triunfo. “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.”
Perseguir, quase sempre, é fomentar.
O melhor processo de extinguir a calúnia e a
maledicência é confiar nosso próprio verbo à desculpa e à bondade. O recurso
mais eficiente contra a preguiça é o nosso exemplo firme no trabalho constante.
O meio mais seguro de reajustar aqueles que desajudam ao próximo é ajudar
incessantemente. O remédio contra a maldição é a bênção. Os antídotos para o
veneno da injúria são a paz do silêncio e o socorro da prece.
Por isso mesmo, Jesus ensinou:
“Amai os vossos inimigos.
“Bendizei os que vos maldizem.
“Orai por aqueles que vos maltratam e caluniam.
“Perdoai setenta vezes sete.
“Ofertai amor aos que vos odeiam.”
Podemos, pois, muitas vezes, combater o mal para
circunscrever-lhe a órbita de ação, mas a única maneira de alcançar a perfeita
vitória sobre ele será sempre a nossa perfeita consagração ao bem irrestrito.
Iniciada mais uma etapa de leitura do Projeto "Lendo e relendo André Luiz". Evolução em dois mundos - o 10º livro da coleção "A vida no mundo espiritual".