quarta-feira, 11 de março de 2020
Campanha FEB em defesa dos livros espíritas

A Federação Espírita Brasileira lança a Campanha "Em Defesa dos Livros Espíritas - Diga não à pirataria" com o intuito de garantir a integridade das obras espíritas e a favor do conteúdo de qualidade. Participe você também deste movimento e auxilie preservando o patrimônio literário do Espiritismo. Acesse: https://febnet.org.br/portal/direitosautorais/ para obter mais informações sobre como aderir a esta Campanha em defesa dos livros espíritas.
Enfermidade
Ninguém poderá dizer que toda enfermidade, a rigor, esteja
vinculada aos processos de elaboração da vida mental, mas todos podemos
garantir que os processos de elaboração da vida mental guardam positiva
influenciação sobre todas as doenças.
Há moléstias que têm, sem dúvida, função preponderante nos
serviços de purificação do Espírito, surgindo com a criatura no berço ou
seguindo-a, por anos a fio, na direção do túmulo.
As inibições congeniais, as mutilações imprevistas e as
enfermidades dificilmente curáveis catalogam-se, indiscutivelmente, na tabela
das provações necessárias, como certos medicamentos imprescindíveis figuram na
ficha de socorro ao doente; contudo, os sintomas patológicos na experiência
comum, em maioria esmagadora, decorrem dos reflexos infelizes da mente sobre o
veículo de nossas manifestações, operando desajustes nos implementos que o
compõem.
Toda emoção violenta sobre o corpo é semelhante a martelada
forte sobre a engrenagem de máquina sensível, e toda aflição amimalhada é como
ferrugem destruidora, prejudicando-lhe o funcionamento.
Sabe hoje a medicina que toda tensão mental acarreta
distúrbios de importância no corpo físico.
Estabelecido o conflito espiritual, quase sempre as
glândulas salivares paralisam as suas secreções, e o estômago, entrando em
espasmo, nega-se à produção de ácido clorídrico, provocando perturbações
digestivas a se expressarem na chamada colite mucosa.
Atingido esse fenômeno primário que, muita vez, abre a porta
a temíveis calamidades orgânicas, os desajustamentos gastrintestinais repetidos
acabam arruinando os processos da nutrição que interessam o estímulo nervoso,
determinando variados sintomas, desde a mais leve irritação da membrana
gástrica até a loucura de abordagem complexa.
O pensamento sombrio adoece o corpo são e agrava os males do
corpo enfermo.
Se não é aconselhável envenenar o aparelho fisiológico pela
ingestão de substâncias que o aprisionem ao vício, é imperioso evitar os
desregramentos da alma que lhe impõem desequilíbrios aviltantes, quais sejam
aqueles hauridos nas decepções e nos dissabores que adotamos por flagelo
constante do campo íntimo.
Cultivar melindres e desgostos, irritação e mágoa é o mesmo
que semear espinheiros magnéticos e adubá-los no solo emotivo de nossa
existência, é intoxicar, por conta própria, a tessitura da vestimenta corpórea,
estragando os centros de nossa vida profunda e arrasando, consequentemente,
sangue e nervos, glândulas e vísceras do corpo que a Divina Providência nos
concede entre os homens, com vistas ao desenvolvimento de nossas faculdades
para a Vida Eterna.
Guardemos, assim, compreensão e paciência, bondade
infatigável e tolerância construtiva em todos os passos da senda, porque
somente ao preço de nossa incessante renovação mental para o bem, com o apoio
do estudo nobre e do serviço constante, é que superaremos o domínio da
enfermidade, aproveitando os dons do Senhor e evitando os reflexos letais que
se fazem acompanhar do suicídio indireto.
Emmanuel / Chico
Xavier – Livro: Pensamento e Vida
Herdeiros
“E se nós somos filhos, somos logo
herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros do Cristo.” Paulo (Romanos,
8:17)
Incompreensivelmente, muitas escolas religiosas, através de
seus expositores, relegam o homem à esfera de miserabilidade absoluta.
Púlpitos, tribunas, praças, livros e jornais estão repletos
de tremendas acusações.
Os filhos da Terra são categorizados à conta de réus da pena
última.
Ninguém contesta que o homem, na condição de aluno em
crescimento na Sabedoria Universal, tem errado em todos os tempos; ninguém
ignora que o crime ainda obceca, muitas vezes, o pensamento das criaturas
terrestres; entretanto, é indispensável restabelecer a verdade essencial. Se
muitas almas permanecem caídas, Deus lhes renova, diariamente, a oportunidade
de reerguimento.
Além disso, o Evangelho é o roteiro do otimismo divino.
Paulo, em sua epístola aos romanos, confere aos homens, com
justiça, o título de herdeiros do Pai e coerdeiros de Jesus.
Por que razão se dilataria a paciência do Céu para conosco,
se nós, os trabalhadores encarnados e desencarnados da Terra, não passássemos
de seres desventurados e inúteis? Seria justa a renovação do ensejo de
aprimoramento a criaturas irremediavelmente malditas?
É necessário fortalecer a fé sublime que elevamos ao Alto,
sem nos esquecermos de que o Alto deposita santificada fé em nós.
Que a Humanidade não menospreze a esperança.
Não somos fantasmas de penas eternas e sim herdeiros da
Glória Celestial, não obstante nossas antigas imperfeições. O imperativo de
felicidade, porém, exige que nos eduquemos, convenientemente, habilitando-nos à
posse imorredoura da herança divina.
Olvidemos o desperdício da energia, os caprichos da infância
espiritual e cresçamos, para ser, com o Pai, os tutores de nós mesmos.
Livro Vinha de Luz – Emmanuel por Chico Xavier – Lição 120
Epidemia da Ilha Maurício
Há alguns meses um dos nossos médiuns, o Sr. T., que frequentemente
cai em sonambulismo espontâneo, sob a magnetização dos Espíritos, nos disse que
naquele momento a ilha Maurício estava sendo devastada por uma terrível
epidemia, que dizimava a população. Esta previsão realizou-se, até com circunstâncias
agravantes. Acabamos de receber de um dos nossos correspondentes da ilha
Maurício uma carta, datada de 8 de maio, da qual extraímos as passagens
seguintes.
“Vários Espíritos nos anunciaram, uns claramente, outros em
termos proféticos, um flagelo destruidor prestes a nos fulminar. Tomamos estas
revelações do ponto de vista moral, e não do ponto de vista físico. De repente
uma moléstia estranha irrompe nesta pobre ilha; uma febre sem nome, que reveste
todas as formas, começa suavemente, hipocritamente, depois aumenta e derruba a todos
os que pode atingir. É agora uma verdadeira peste; os médicos não a entendem;
até agora, nenhum dos que foram atingidos se curaram. São terríveis acessos que
vos prostram e vos torturam durante doze horas no mínimo, atacando, cada um por
sua vez, cada órgão importante; depois o mal cessa durante um ou dois dias,
deixando o doente acabrunhado até o próximo acesso, e assim se vai, mais ou
menos rapidamente, para o termo fatal.
“Para mim, vejo em tudo isto um desses flagelos anunciados,
que devem retirar do mundo uma parte da geração presente, e destinados a operar
uma renovação tornada necessária.
(...)
“Eu mesmo fui atingido
pela epidemia e estou na quarta recaída. Arruíno-me com o quinino. Isto
prolonga a minha existência, mas, como receio, se as recaídas continuarem, caro
senhor, palavra de honra! É muito provável que em pouco tempo terei o prazer de
assistir como Espírito às vossas sessões parisienses e nelas tomar parte, se
Deus o permitir. Uma vez no mundo dos Espíritos, estarei mais perto de vós e da
Sociedade do que estou na ilha Maurício. Num pensamento transporto-me às vossas
sessões, sem fadiga e sem temer o mau tempo. Aliás, não tenho o menor receio,
eu vo-lo juro; sou muito sinceramente espírita para isto”.
“Enquanto espero, caro senhor, tende a bondade de pedir aos
meus irmãos da Sociedade Espírita que unam as suas às nossas preces pelas
infelizes vítimas da epidemia, pobres Espíritos muito materiais, na maioria, e
cujo desprendimento dever ser penoso e longo. Oremos também por aqueles, muito
mais infelizes que, ao flagelo da moléstia, juntam o da desumanidade”.
(...)
É preciso ser espírita de verdade para encarar a morte com
este sangue frio e essa indiferença, quando ela estende seus malefícios em
redor de nós e quando se sentem os seus ataques. É que, em semelhante caso, a
fé séria no futuro, tal qual só o Espiritismo pode dar, proporciona uma força
moral que, ela mesma, é um poderoso preservativo, como foi dito a propósito da cólera.
(Revista de novembro de 1865). Isto não quer dizer que nas epidemias os
espíritas sejam necessariamente poupados, mas, em tais casos eles têm sido, até
agora, os menos atingidos. Escusado dizer que se trata de espíritas de coração,
e não dos que só o são em aparência.
Os flagelos destruidores, que devem causar danos à Humanidade,
não sobre um ponto do globo, mas em toda parte, são em toda parte pressentidos
pelos Espíritos.
A seguinte comunicação, verbal e espontânea, foi dada sobre
o assunto, logo após a leitura da carta acima:
(Sociedade de Paris, 21 de junho de 1867 – Médium: Sr.
Morin, em sonambulismo espontâneo)
“Avança a hora, a hora marcada no grande e perpétuo relógio
do infinito, a hora na qual vai começar a operar-se a transformação de vosso
globo, para o fazer gravitar rumo à perfeição. Muitas vezes vos foi dito que os
mais terríveis flagelos dizimariam as populações; não é preciso que tudo morra
para se regenerar? Mas, o que é isto? A morte não é senão a transformação da
matéria; o Espírito não morre, apenas muda de habitação.
Observai e vereis começar a realização de todas essas
previsões.
Oh! Como são felizes aqueles que nessas terríveis provações
foram tocados pela fé espírita sincera! Permanecem calmos no meio da tormenta,
como o marinheiro aguerrido em meio à tempestade.
“Eu, neste momento personalidade espiritual, muitas vezes
sou acusado de brutalidade, de dureza e de insensibilidade pelas personalidades
terrestres!... É verdade, contemplo com calma todos esses flagelos
destruidores, todos esses terríveis sofrimentos físicos. Sim, atravesso sem me
comover todas essas planícies devastadas, juncadas de restos humanos! Mas se o
posso fazer, é que minha visão espiritual vai além desses sofrimentos e, antecipando-se
ao futuro, ela se apoia no bem-estar geral que será a consequência desses males
passageiros para a geração futura, para vós mesmos, que fareis parte dessa
geração e que, então, recolhereis os frutos que tiverdes semeado.
“Espírito de conjunto, olhando do alto de uma esfera onde
habita (muitas vezes ele fala de si na terceira pessoa), seu olhar fica em
branco; entretanto, sua alma palpita, seu coração sangra em face de todas as
misérias que a Humanidade deve atravessar, mas a visão espiritual repousa do
outro lado do horizonte, contemplando o resultado que será a sua consequência
certa.
“A grande emigração é útil e aproxima-se a hora em que deve
efetuar-se... ela já começa... A quem será fatal ou proveitosa?
Olhai bem, observadores; considerai os atos desses
exploradores dos flagelos humanos, e distinguireis, mesmo com os olhos do corpo,
os homens predestinados à decadência. Vede-os ávidos de honras, inflexíveis no
ganho, presos, como sua vida, a todas as posses terrenas, e sofrendo mil mortes
pela perda de uma parcela do que, entretanto, precisarão deixar... Como será
terrível para eles a pena de talião, porquanto, no exílio que os espera, lhes
recusarão um copo de água para estancar a sede!... Olhai-os e neles reconhecereis,
sob as riquezas que acumulam à custa dos infelizes, os futuros humanos
decaídos! Considerai seus trabalhos, e vossa consciência vos dirá se esses
trabalhos devem ser pagos lá no alto, ou aqui embaixo! Olhai-os bem, homens de
boa vontade, e vereis que o joio começa, desde esta Terra, a ser separado do
bom grão.
“Minha alma é forte, minha vontade é grande! – Minha alma é
forte porque sua força é o resultado de um trabalho coletivo de alma a alma;
minha vontade é grande porque tem como ponto de apoio a imensa coluna formada
por todos os sentimentos de justiça e de bem, de amor e de caridade. Eis por
que sou forte, eis por que sou calmo para olhar; eis por que seu coração, que
bate quase a estourar em seu peito, não se comove. Se a decomposição é o
instrumento necessário da transformação, assiste ó minha alma, calma e
impassível, a essa destruição!”
Revista Espírita – julho / 1867
sábado, 7 de março de 2020
COEZMUC 2020
Mais uma COEZMUC realizada sob as bênçãos de Jesus!
Confira momentos especiais da Confraternização de 2020 e o tema do próximo encontro.
sexta-feira, 6 de março de 2020
Homenagem à mulher espírita
No momento em que os valores humanos padecem injunções
lamentáveis e os postulados éticos em que se devem estruturar os ideais de
engrandecimento da criatura malogram no báratro das paixões, o Evangelho, como
ocorreu no passado, constitui a única bússola, a segura rota mediante a qual a
hodierna civilização poderá encontrar a solução para os múltiplos problemas e
os graves compromissos que pesam negativamente na economia da felicidade geral.
As Religiões, na sua feição de Instituições Organizadas,
disputando as primazias e mais preocupadas com a dominação e promoção
transitórias do que com o “reino de Deus” que é “tomado de assalto” e se
estabelece nas paisagens ignotas da alma, fracassaram lamentavelmente, no
tentame de consolar e conduzir a Jesus.
Os seus triunfos aparentes se fixam no terreno falso dos
destaques mundanos, faltando-lhes as estruturas morais legítimas e os
comportamentos espirituais relevantes com que seja possível pôr cobro à
anarquia social e ao desequilíbrio moral que grassam, voluptuosamente, tudo
conduzindo de roldão... Isto, porque os padrões em que ainda se firmam asfixiam
o espírito do Cristo que deveria viger nas suas expressões e serviços.
Sem dúvida em todas elas, como em qualquer lugar, a presença
do Amor e a manifestação da Divina Misericórdia constituem sinal de esperança.
Sem embargo, a necessidade da vivência evangélica se impõe urgente,
impostergável.
Em decorrência de tal malogro, aos cristãos novos, os
adeptos da Revelação Espírita, está reservado significativo ministério, relevante
apostolado: viver o Cristo e representá-Lo em atos ao aturdido viandante destes
dias.
Não assume esta uma tarefa de absurda possibilidade, exceto
se o candidato se recusar integração com fidelidade real ao programa de
recristianização da Terra.
Nesse sentido, à mulher espírita se reserva preponderante
atividade, ou seja, a de transformar-se, médium da vida que é, em mensageira da
dignificação moral, da santificação da sexualidade, da redenção espiritual...
Arrostando diatribes e espezinhamentos chulos, deverá volver
às bases nobres do amor com a consequente valorização da maternidade, reconstituindo
a família e elevando os sentimentos.
Programada pelo Pai para o sagrado compromisso de
cocriadora, a sua libertação, ao invés do nivelamento nos fossos das sórdidas
paixões dissolventes, se deve caracterizar pela própria grandeza, que a alça à
condição de modelo e paradigma da Humanidade, que se inicia no lar, onde deve
reinar, soberana e respeitada.
Organizada essencialmente para o amor, no seu mais nobre
significado, dela muito dependem as novas gerações, o homem do futuro.
Conclamá-la à abnegação e ao laboratório da caridade com
elevação de propósitos, inspirando-a ao incessante prosseguimento das
realizações cristãs primitivas, eis um dever que a todos nos cabe desempenhar.
Pouco importem os contributos de renúncia e de sacrifício.
Nesta arrancada para os novos tempos do amanhã, a mulher espírita desempenhará
superior desiderato porque modelada, como todas para ser mãe, mesmo que suas
carnes não se enfloresçam com as expressões dos filhos, far-se-á o anjo tutelar
dos filhos sem mães, mãe pelo coração e pela dedicação a todas as criaturas.
Joanna de Ângelis / Divaldo
Franco – Livro: Sementes de Vida Eterna.
Fortaleza
“Sabendo que a tribulação produz
fortaleza.” Paulo (Romanos, 5:3)
Quereis fortaleza? Não vos esquiveis à tempestade.
Muita gente pretende robustecer-se ao preço de rogativas
para evitar o serviço áspero. Chegada a preciosa oportunidade de testemunhar a
fé, internam-se os crentes, de maneira geral, pelos caminhos largos da fuga,
acreditando-se em segurança. Entretanto, mais dia menos dia, surge a ocasião
dolorosa em que abrem falência de si mesmos.
Julgam-se, então, perseguidos e abandonados.
Semelhantes impressões, todavia, nascem da ausência de
preparo interno.
Esquecem-se os imprevidentes de que a tempestade possui certas
funções regeneradoras e educativas que é imprescindível não menosprezar.
A tribulação é a tormenta das almas. Ninguém deveria olvidar-lhe
os benefícios.
Quando a verdade brilhar, no caminho das criaturas, ver-se-á
que obstáculos e sofrimentos não representam espantalho para os homens, mas sim
quadros preciosos de lições sublimes que os aprendizes sinceros nunca podem esquecer.
Que seria da criança sem a experiência? Que será do espírito
sem a necessidade?
Aflições, dificuldades e lutas são forças que compelem à
dilatação de poder, ao alargamento de caminho.
É necessário que o homem, apesar das rajadas aparentemente
destruidoras do destino, se conserve de pé, desassombradamente, marchando,
firme, ao encontro dos sagrados objetivos da vida.
Nova luz lhe felicitará, então, a esfera íntima, conduzindo-o,
desde a Terra, à gloriosa ressurreição no plano espiritual.
Escutemos as palavras de Paulo e vivamo-las!
Ai daqueles que se deitarem sob a tempestade! Os detritos
projetados do monte pelas correntes do aguaceiro poderão sufocá-los, arrastando-os
para o fundo do abismo.
Livro Vinha de Luz –
Emmanuel por Chico Xavier – Lição 119
O Espiritismo e a mulher
Encontram-se, em ambos os
sexos, excelentes médiuns; é à mulher, entretanto, que parecem outorgadas as
mais belas faculdades psíquicas. Daí o eminente papel que lhe está reservado na
difusão do novo Espiritualismo.
Malgrado às imperfeições
inerentes a toda criatura humana, não pode a mulher, para quem a estuda
imparcialmente, deixar de ser objeto de surpresa e algumas vezes de admiração.
Não é unicamente em seus traços pessoais que se realizam, em a Natureza e na
Arte, os tipos da beleza, da piedade e caridade; no que se refere aos poderes
íntimos, à intuição e adivinhação, sempre foi ela superior ao homem. Entre as
filhas de Eva é que obteve a antiguidade as suas célebres videntes e sibilas. Esses
maravilhosos poderes, esses dons do Alto, a Igreja entendeu, na Idade Média,
aviltar e suprimir, mediante os processos instaurados por feitiçaria. Hoje encontram
eles sua aplicação, porque é sobretudo por intermédio da mulher que se afirma a
comunhão com a vida invisível.
Mais uma vez se revela à
mulher em sua sublime função de mediadora, que o é em toda a Natureza. Dela
provém à vida; é ela a própria fonte desta, a regeneradora da raça humana, que
não subsiste e se renova senão por seu amor e seus ternos cuidados. E essa
função preponderante que desempenha no domínio da vida, ainda a vem preencher
no domínio da morte. Mas nós sabemos que a morte e a vida são uma, ou antes,
são as duas formas alternadas, os dois aspectos contínuos da existência.
Mediadora também é a mulher no
domínio das crenças. Sempre serviu de intermediária entre a nova fé que surge e
a fé antiga que definha e vai desaparecendo. Foi o seu papel no passado, nos
primeiros tempos do Cristianismo, e ainda o é na época presente. (...)
A antiguidade pagã teve sobre
nós a superioridade de conhecer e cultivar a alma feminina. Suas faculdades se
expandiam livremente nos mistérios. Sacerdotisa nos tempos védicos, ao altar
doméstico, intimamente associada, no Egito, na Grécia, na Gália, às cerimônias
do culto, por toda a parte era a mulher objeto de uma iniciação, de um ensino
especial, que dela faziam um ser quase divino, a fada protetora, o gênio do
lar, a custódia das fontes da vida. A essa compreensão do papel que a mulher
desempenha, nela personificando a Natureza, com suas profundas intuições, suas
percepções sutis, suas adivinhações misteriosas, é que foi devida a beleza, a
força, a grandeza épica das raças grega e céltica.
Porque, tal seja a mulher, tal
é o filho, tal será o homem. É a mulher que, desde o berço, modela a alma das
gerações. É ela que faz os heróis, os poetas, os artistas, cujos feitos e obras
fulguram através dos séculos. Até aos sete anos o filho permanecia no gineceu
sob a direção materna. E sabe-se o que foram as mães gregas, romanas e
gaulesas. Para desempenhar, porém, tão sagrada missão educativa, era necessária
a iniciação no grande mistério da vida e do destino, o conhecimento da lei das
preexistências e das reencarnações; porque só essa lei dá à vida do ser, que
vai desabrochar sob a égide materna, sua significação tão bela e tão comovedora.
Essa benéfica influência da
mulher iniciada, que irradiava sobre o mundo antigo como uma doce claridade,
foi destruída pela lenda bíblica da queda original. (...)
Durante longos séculos a
mulher foi relegada para segundo plano, menosprezada, excluída do sacerdócio.
Por uma educação acanhada, pueril, supersticiosa, a maniataram; suas mais belas
aptidões foram comprimidas, conculcado e obscurecido o seu caráter.
A situação da mulher, na
civilização contemporânea, é difícil, não raro dolorosa. Nem sempre a mulher
tem por si os usos e as leis; mil perigos a cercam, se ela fraqueja, se
sucumbe, raramente se lhe estende mão amiga. A corrupção dos costumes fez da
mulher a vítima do século. A miséria, as lágrimas, a prostituição, o suicídio –
tal é a sorte de grande número de pobres criaturas em nossas sociedades opulentas.
Uma reação, porém, já se vai
operando. Sob a denominação de feminismo, um certo movimento se acentua
legítimo em seu princípio, exagerado, entretanto, em seus intuitos; porque, ao
lado de justas reivindicações, enuncia propósitos que fariam da mulher, não
mais mulher, mas cópia, paródia do homem. O movimento feminista desconhece o
verdadeiro papel da mulher e tende a transviá-la do destino que lhe está natural
e normalmente traçado. O homem e a mulher nasceram para funções diferentes, mas
complementares. No ponto de vista da ação social, são equivalentes e
inseparáveis.
O moderno Espiritualismo,
graças às suas práticas e doutrinas, todas de ideal, de amor, de equidade,
encara a questão de modo diverso e resolve-a sem esforço e sem estardalhaço.
Restitui à mulher seu verdadeiro lugar na família e na obra social, indicando-lhe
a sublime função que lhe cabe desempenhar na educação e no adiantamento da
Humanidade. Faz mais: reintegra-a em sua missão de mediadora predestinada,
verdadeiro traço de união que liga as sociedades da Terra às do Espaço.
A grande sensibilidade da
mulher a constitui o médium por excelência, capaz de exprimir, de traduzir os
pensamentos, as emoções, os sofrimentos das almas, os altos ensinos dos
Espíritos celestes. Na aplicação de suas faculdades encontra ela profundas
alegrias e uma fonte viva de consolações. A feição religiosa do Espiritismo a
atrai e lhe satisfaz as aspirações do coração, as necessidades de ternura, que
se estendem, para além do túmulo, aos entes desaparecidos. O perigo para ela,
como para o homem, está no orgulho dos poderes adquiridos, na suscetibilidade
exagerada. O ciúme, suscitando rivalidades entre médiuns, torna-se muitas vezes
motivo de desagregação para os grupos.
Daí a necessidade de
desenvolver na mulher, ao mesmo tempo em que os poderes intuitivos, suas
admiráveis qualidades morais, o esquecimento de si mesma, o júbilo do
sacrifício, numa palavra, o sentimento dos deveres e das responsabilidades
inerentes à sua missão mediatriz.
O Materialismo, não ponderando
senão o nosso organismo físico, faz da mulher um ser inferior por sua fraqueza
e a impele à sensualidade. Ao seu contato, essa flor de poesia verga ao peso
das influências degradantes, se deprime e envilece.
Privada de sua função
mediadora, de sua imaculada auréola, tornada escrava dos sentidos, não é mais
que um ser instintivo, impulsivo, exposto às sugestões dos apetites mórbidos. O
respeito mútuo, as sólidas virtudes domésticas desaparecem; a discórdia e o
adultério se introduzem no lar; a família se dissolve, a felicidade se aniquila.
Uma nova geração, desiludida e céptica, surge do seio de uma sociedade em
decadência.
Com o Espiritualismo, porém,
ergue de novo a mulher a inspirada fronte; vem associar-se intimamente à obra
de harmonia social, ao movimento geral das ideias. O corpo não é mais que uma
forma tomada por empréstimo; a essência da vida é o espírito, e nesse ponto de
vista o homem e a mulher são favorecidos por igual. Assim, o moderno
Espiritualismo restabelece o mesmo critério dos celtas, nossos pais; firma a
igualdade dos sexos sobre a identidade da natureza psíquica e o caráter
imperecível do ser humano, e a ambos assegura posição idêntica nas agremiações
de estudo.
Pelo Espiritismo se subtrai a
mulher ao vértice dos sentidos e ascende à vida superior. Sua alma se ilumina
de clarão mais puro; seu coração se torna o foco irradiador de ternos
sentimentos e nobilíssimas paixões. Ela reassume no lar a encantadora missão
que lhe pertence, feita de dedicação e piedade, seu importante e divino papel
de mãe, de irmã e educadora, sua nobre e doce função persuasiva.
Cessa, desde então, a luta
entre os dois sexos. As duas metades da Humanidade se aliam e equilibram no
amor, para cooperarem juntas no plano providencial, nas obras da Divina Inteligência.
Léon Denis – Livro: No invisível
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